segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

América Latina enfrenta desafio do crescimento acelerado sustentável

A América Latina cresceu no ano passado 4,5%, pelos cálculos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e 5,3%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão das Nações Unidas. Com aumento das exportações, inflação média de 6% e razoável equilíbrio nas contas públicas, a situação econômica do subcontinente é a melhor em décadas.

Mas não há muito para festejar. No mundo globalizado, é preciso se comparar com a concorrência. É a região do mundo de menor crescimento econômico e de ritmo mais lento de desenvolvimento social.

O crescimento médio latino-americano é a metade do asiático, está abaixo do Oriente Médio, da Europa Oriental e até mesmo da África, que cresceu em média 1,5 ponto percentual a mais do que a América Latina nesta década.

Assim, adverte o Banco Mundial, a América Latina é a região com maior desigualdade e a que menos está reduzindo a pobreza. Pelos dados da Cepal, 205 milhões de latino-americanos, 38,5% do total, vivem na pobreza. Como em 2005 este percentual era de 39,8%, a redução da pobreza em apenas 1,3 ponto percentual é muito pequena diante do crescimento médio de pelo menos 4,5% ao ano.

A pobreza absoluta – renda inferior a um dólar por dia – atinge 79 milhões de pessoas, 14,7% da população, 0,7 ponto a menos do que em 2005.

O grande sucesso das exportações serve para mostrar que o crescimento acelerado sustentável depende do aproveitamento das oportunidades oferecidas pelo comércio internacional. As exportações 46% na Bolívia, apesar da crise política do país, 37% no Peru, 27% no Equador, 26% na Venezuela, 20% no México, 20% no Uruguai, 16% no Brasil, 15% na Colômbia, 14% na Argentina e 13% no Paraguai.

Com 12%, Cuba registrou o maior índice de crescimento econômico, seguida pela Venezuela com 10% e a Argentina com 8,5%. Nos dados da Cepal, Uruguai, Colômbia e Equador cresceram acima da media (5,3%), o México (4,8%) ligeiramente abaixo, e a Bolívia e o Equador, 5%. O Brasil ficou em último, com 2,8%.

Em vez de ser a locomotiva econômica da região, o que afirmaria sua liderança regional, o Brasil é um paquiderme que se arrasta lentamente.

Enquanto o Chile negociava acordos bilaterais de comércio com países de outros continentes, Colômbia, Peru, Panamá e Uruguai fecharam acordos com os Estados Unidos que ainda dependem da aprovação do Congresso americano.

DÉFICIT EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Em longo prazo, o grande problema para o desenvolvimento econômico latino-americano está em ciência, tecnologia e educação. No ranking mundial das universidades publicado pelo jornal ingles The Times, só há uma universidade latino-americana entre as melhores duzentas, observa o analista político argentino Rosendo Fraga: a Universidade Autônoma do México, em 74º lugar. Os melhores acadêmicos são facilmente atraídos por universidades estrangeiras, sobretudo dos EUA.

A Internet, no final de 2006, chegava a 16% dos latino-americanos, exatamente a média mundial, mas o crescimento é muito mais rápido nos países pobres da Ásia.

No plano político, a eleição de Michelle Bachelet no Chile e a reeleição do presidente Lula consolidam uma esquerda moderada e social-democrata da qual faz parte também o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.

Mais à esquerda, a Aliança Bolivarista para as Américas, inicialmente constituída pela Venezuela e Cuba, foi engrossada pela Bolívia, o Equador e a Nicarágua, reforçando o prestígio e a liderança do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de sua “revolução bolivarista” e de seu “socialismo do século 21. Diante da agressividade de Chávez, o Brasil exerce cada vez mais um papel moderador.

Mas surgiu uma terceira força, de centro-direita, com as vitórias de Felipe Calderón no México e do ex-presidente Alan García no Peru.

Com a morte do ex-ditador chileno Augusto Pinochet e o afastamento por doença do ditador cubano Fidel Castro, é o fim de um ciclo de mais de meio século em que ditaduras militares e guerrilhas de esquerda impediram a consolidação da democracia na América Latina.

A série de eleições presidenciais revela a maturidade da democracia latino-americana. Diante da desigualdade social que marca a região, é natural a eleição de governos de esquerda ou identificados com causas populares e reformas sociais.

O desafio é fazer a democracia funcionar para todos, promovendo o desenvolvimento socioeconômico. De um lado, há o modelo chavista, que aposta na estatização e no papel do Estado como agente econômico. Do outro, um keynesianismo liberal em que o Estado tenta corrigir as distorções do mercado.

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