Quase oito anos depois da intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na guerra civil entre a Sérvia e a maioria albanesa da província sérvia do Kossovo, os Estados Unidos e seus aliados europeus decidiram apoiar a independência do Kossovo, sob supervisão internacional, informa hoje o jornal americano The Washington Post.
O novo país pode ser criado nos próximos meses, mas um diplomata estrangeiro supervisionará o processo, com autoridade para vetar a nomeação de funcionários e de revogar leis consideradas prejudiciais à pacificação. As forças da OTAN continuarão patrulhando o Kossovo, devendo ser retiradas gradualmente.
A aliança militar liderada pelos EUA quer encerrar assim um capítulo trágico de guerras que destruíram a antiga Iugoslávia nos anos 90.
Foi no Kossovo, em 1987, que o então novo líder do Partido Comunista iugoslavo, Slobodan Milosevic, trocou a decadente ideologia comunista pelo nacionalismo sérvio. Em visita à província onde 90% da população é de origem albanesa, Milosevic declarou que os sérvios jamais seriam humilhados.
Era a primeira faísca que provocou uma grande explosão. Em 1989, Milosevic tirou a autonomia do Kossovo, entregando sua administração à minoria sérvia. Esse conflito seria abafado, em 1991, pelas guerras de independência de duas outras repúblicas iugoslavas: a Croácia e a Eslovênia.
Pior ainda seria a guerra na Bósnia-Herzegovina, uma província dividida etnicamente, com 44% de bósnios, 31% de sérvios e 21% de croatas. Sarajevo foi sitiada durante três anos. A guerra só acabou, em 1995, com a intervenção militar da Otan.
Os EUA levaram os presidentes da Bósnia-Herzegovina, Alija Izetbegovic, da Croácia, Franjo Tudjman, e da Sérvia, Milosevic, para uma base militar em Dayton, no estado americano de Ohio, e forçou-os a assinar um acordo de paz, em novembro de 1995. Mas a chamada "limpeza étnica", a expulsão de minorias, continuou no Kossovo.
Isto levou ao surgimento do Exército de Libertação do Kossovo, em fevereiro de 1996, do Exército de Libertação do Kossovo, para defender a maioria albanesa, jogando a província numa guerra civil com a cruel repressão sérvia.
Depois de grande pressão internacional, ignorada por Milosevic, em 24 de março de 1999, quando festejava 50 anos, a OTAN iniciou uma campanha aérea de 78 dias para expulsar as forças sérvias do Kossovo.
Em 5 de outubro de 2000, diante de denúncias de fraude na eleição presidencial sérvia, uma revolução derrubou Milosevic, que seria enviado pelo novo governo sérvio para o tribunal das Nações Unidas para os crimes de guerra cometidos na antiga Iugoslávia, em Haia, na Holanda, onde ele morreu no ano passado.
Um problema para a independência é que o Kossovo ocupa uma posição central no mito fundador da nação sérvia. Foi na Batalha do Kossovo, em 28 de junho de 1389, que a Sérvia foi derrotada pelos turcos do Império Otomano, perdendo sua independência até o Congresso de Berlim, em 1878. Como os albaneses são majoritariamente muçulmanos, representam no imaginário sérvia uma herança da dominação otomana.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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