quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Iraque está em guerra civil, diz estudo americano

O Iraque já está em guerra civil, e o principal desafio é evitar que o conflito se amplie para uma conflagração regional de conseqüências imprevisíveis para o mundo inteiro, adverte um estudo da Brookings Institution, um importante centro de pesquisas conservador.

"A cada dia o Iraque se afunda mais profundamente no abismo da guerra civil", constata o relatório, assinado por Kenneth Pollack e David Byman, ex-analistas de Oriente Médio para o governo dos Estados Unidos. "Perguntar quem ganha com este tipo de conflito é como perguntar quem ganhou com o terremoto em São Francisco".

Na busca de soluções para o caos no Iraque, o relatório chamado O Desmoronamento: como conter as conseqüências da guerra civil no Iraque examina como as guerras civis no Líbano, no Afeganistão, na Bósnia-Herzegovina, em Ruanda, na Chechênia, no Tajiquistão e no Congo transformaram-se em conflitos internacionais.

Seus resultados foram crises de refugiados, aumento do terrorismo internacional, radicalização de países vizinhos, tentativas de secessão, grandes prejuízos econômicos, inclusive para os países vizinhos, e intervenção militar dos países vizinhos ou de potências regionais e mundiais.

"Muito poucas nações conseguiram evitar que uma guerra civil degenere num conflito total", admitem os autores, para em seguida fazer um 'mea culpa' pela nação americana: "Foi a arrogância diante da História que nos fez pensar que poderíamos invadir o Iraque sem preparar a ocupação. Deveríamos mostrar muito mais humildade ao aceitar as lições para enfrentarmos o que tememos possa ser a próxima fase trágica da História do Iraque".

Na opinião dos autores, "a única coisa que evita uma guerra civil devastadora como as do Líbano (1975-90) e da Bósnia (1992-95) é a presença no Iraque de 140 mil soldados americanos. A não ser que os EUA e o governo do Iraque adotem uma ação radical para mudar o rumo dos acontecimentos, a guerra civil será uma ameaça para todas as monarquias petroleiras do Golfo Pérsico".

Como foi a invasão americana que provocou o caos ao derrubar a ditadura de Saddam Hussein e destruir a máquina do Estado iraquiano, os EUA não podem se eximir de sua responsabilidade, adverte o documento: "O Iraque está caindo rapidamente rumo uma guerra civil total. Desafortunadamente, os EUA não poderão simplesmente fugir do caos. Mesmo esquecendo o pesadelo humanitário que se produziria, uma guerra civil em grande escala não se limitaria ao Iraque: historicamente este tipo de conflito tem efeitos muito nocivos nos países vizinhos e em outros. Um contágio da guerra civil iraquiana seria um desastre. Os EUA têm interesses demais no Oriente Médio para ignorar as conseqüências. É imperativo que os EUA elaborem um plano para evitar uma guerra civil total no Iraque".

Outro analista observou que o poder dos EUA no Oriente Médio atingiu o pico em março de 2005, depois das eleições no Iraque. Naquele momento, falava-se de reformas democráticas na Arábia Saudita, no Egito e na Jordânia, e os protestos contra ao assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri pressionavam a Síria a retirar suas forças do Líbano depois de 30 anos.

Hoje, o Iraque afunda numa guerra civil e no caos da segurança pública, o movimento de Resistência Islâmica (Hamas) ganhou as eleições palestinas, fala-se na formação de um crescente xiita unindo o Irã aos xiitas iraquianos com tentáculos chegando até a milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus), que resistiu a uma ofensiva israelense em julho e agosto, e agora tenta derrubar o governo do Líbano. O Irã foi o maior beneficiário da invasão do Iraque e avança em seu programa nuclear, apesar das sanções moderadas impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Para evitar uma guerra civil total no Iraque e uma conflagração regional no Oriente Médio, o estudo da Brookings Institution faz 13 recomendações ao governo dos EUA:
• não tentar escolher um vencedor, ou seja, não apoiar nenhuma facção;
• evitar a divisão do Iraque, que aumentaria as expulsões e a "faxina étnica" contra minorias;
• não deixar o problema nas mãos das Nações Unidas;
• retirar as forças dos EUA dos grandes centros populacionais, a não ser que se empreguem 450 mil soldados;
• ajudar os países vizinhos;
• reforçar a estabilidade regional;
• dissuadir os países vizinhos de intervir;
• indicar limites claros ao Irã;
• criar um grupo de contato para negociações diplomáticas;
• preparar-se para crises no suprimento de petróleo;
• conter os curdos, evitando que declarem a independência;
• atacar as bases terroristas; e
• estabelecer zonas de segurança nas fronteiras do Iraque.

Além das questões humanitárias, a guerra civil no Iraque ameaça alterar a composição étnica e religiosa dos países vizinhos por causa de migrações forçadas, provocando um contágio, especialmente do conflito entre sunitas e xiitas, e novas guerras civis que desestabilizem outros países criando uma situação de anarquia que contribui para a instalação de bases terroristas.

As conseqüências econômicas também costumam ser desastrosas para toda a região. No caso do Oriente Médio, como principal fonte do petróleo importado pelo resto do mundo, os efeitos negativos podem provocar um novo choque na economia internacional.

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