O rei Abdullah, da Arábia Saudita, fez uma velada advertência ao Irã para que não tente converter os sunitas ao xiismo nem assumir a liderança no Oriente Médio. Em entrevista a um jornal do Kuwait publicada no sábado, o sultão declarou ter alertado um enviado iraniano de que seu país coloca em risco a região do Golfo Pérsico, numa referência aos conflitos entre o Irã e os Estados Unidos por causa do Iraque e do programa nuclear iraniano.
Ao governar a Arábia Saudita, onde ficam as cidades sagradas de Meca e Medina, onde Maomé fez a peregrinação que marca o nascimento do Islamismo, a dinastia de Saud tem o compromisso de defender a fé. Adota o wahabismo, uma versão puritana do sunismo que rejeita a música e a dança, entre outras coisas. A polícia religiosa saudita treinou a dos talebã, no Afeganistão.
"Estamos atentos ao proselitismo xiita, observando para ver até onde vai", comentou o rei Abdullah. "Mas não acredito que atenda a seu objetivo porque a imensa maioria dos muçulmanos é sunita e não vai mudar de fé e de seita... Estamos conscientes do nosso papel como país onde a mensagem do Islã começou".
Em novembro, o sultão advertiu o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, de que a Arábia Saudita interviria se os sunitas iraquianos continuassem sendo massacrados por milícias xiitas com a suposta conivência do novo governo do Iraque, majoritariamente xiita.
Para os países árabes, o Irã, que é persa e tem uma longa tradição nacionalista, manipula as questões palestina e libanesa. Os recados foram dados ao principal negociador nuclear iraniano, Ali Larijani, que esteve em Riad neste mês pedindo a mediação saudita no conflito nuclear com os EUA. A Arábia Saudita é um dos principais aliados americanos no Oriente Médio.
"Os árabes devem resolver sozinhos a questão palestina", disse o sultão, indicando que o Irã, que é persa, não deve explorar politicamente o problema. "Não queremos mais ninguém negociando nossas questões e se fortalecendo com isso".
Abdullah negou que haja divisões na família real saudita, que tem 22 mil príncipes sustentados com dinheiro público, muitos deles simpáticos ao fundamentalismo muçulmano. Até hoje, só governaram o país seu fundador, o sultão Abdel Aziz ben Saud e alguns de seus 44 filhos. Atualmente, o príncipe herdeiro é Sultan, meio-irmão do rei.
Diante do conflito entre os grupos palestinos Fatah e Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), o rei convidou ambos para uma reunião na cidade sagrada de Meca, apontando-a como o lugar ideal para negociar a paz.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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