domingo, 3 de abril de 2016

Vazamento revela milhões de documentos sobre lavagem de dinheiro

Um vazamento sem precedentes de 11,5 milhões de documentos da companhia panamenha Mossack Fonseca, especialista na criação de empresas de fachada em paraísos fiscais, revela como 12 chefes de Estado ou de governo, outros 128 políticos e altos funcionários, 29 bilionários, grandes empresas e celebridades do esporte e da cultura, com a ajuda de mais de 500 bancos, esconderam fortunas para não pagar impostos, informa o jornal francês Le Monde.

Os Papéis do Panamá foram obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e 109 meios de comunicação de vários países. Cobrem um período de 1977 a 2015. É o maior vazamento de dados da história do jornalismo, 1,5 mil vezes maior do que os do WikiLeaks, e a maior revelação sobre o mundo obscuro dos paraísos fiscais e da lavagem de dinheiro. São 2,6 terabytes de dados.

Entre os figurões com firmas e contas secretas no exterior, estão os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da Ucrânia, Petro Porochenko; do Azerbaijão, Ilham Aliev; da Síria, Bachar Assad; da África do Sul, Jacob Zuma; da Argentina, Mauricio Macri; e do México, Enrique Peña Nieto; o sultão da Arábia Saudita, Salman Abdulziz al-Saud; o ex-presidente do Egito Hosni Mubarak, os primeiros-ministros da Islândia, Sigmundur Davío Gunnlaugsson; e do Paquistão, Nawaz Sharif; o craque argentino Lionel Messi, o ex-vice-presidente da FIFA Jérôme Valcke e o ex-jogador francês e ex-presidente da UEFA (União Europeia de Futebol Associativo) Michel Platini.

Só o grupo ligado a Putin teria movimentado US$ 2 bilhões, foco principal da cobertura do jornal inglês The Guardian. A lista completa será divulgada até maio. O boletim argentino Infobae fez uma lista inicial dos políticos.

No Brasil, a Mossack Fonseca foi citada na Operação Lava Jato como uma máquina de fabricar lavanderias de dinheiro sujo. A companhia criou para 57 indivíduos citados na investigação, entre elas 16 offshores para para seis grandes empresas e famílias acusadas na Lava Jato, ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Shahin, Queiroz Galvão, Feffer e Walter Faria. A gerente Renata Pereira Britto foi presa na 22ª parte da operação.

"O cliente interessado na constituição de uma empresa offshore recebe uma lista contendo diversos nomes de empresas já existentes e escolhe qualquer a um custo de US$ 2,5 mil mais US$ 1.877 de anuidade", explicou a gerente da Mossack Fonseca Brasil.

Um dos personagens revelados no vazamento é banqueiro David Muino, "gestor das contas que pertenceriam ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha", informa o blogue do jornalista Fernando Rodrigues. Apesar das evidências enviadas pela Procuradoria-Geral da Suíça, Cunha nega ter contas no exterior.

Desde sua fundação, em 1977, a Mossack Fonseca criou 214 mil empresas de fachada em 21 paraísos fiscais a pedido de clientes de mais de 200 países e territórios. Em contraste com vazamentos anteriores de determinados bancos, como os suíços HSBC e UBS, ou de um país, caso de Luxemburgo, os Papéis do Panamá traçam um mapa global da ocultação de patrimônio.

Em 2015, uma fonte anônima começou a enviar os documentos para o jornal liberal alemão Süddeutsche Zeitung. O objetivo era demonstrar a participação da Mossack Fonseca em fraudes fiscais cometidas pelo Commerzbank, o segundo maior banco da Alemanha.

Diante da massa formidável de dados, o jornal alemão pediu ajuda ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que tem experiência em investigações sobre transações financeiras internacionais suspeitas.

Sob pressão, a Mossack Fonseca atribuiu a responsabilidade pela lavagem de dinheiro a 14 mil intermediários como bancos, corretoras de valores, escritórios de advocacia, contadores e companhias de gestão de fortunas. Em entrevista à televisão panamenha, Ramón Fonseca, fundador da empresa, a comparou a uma "fábrica de automóveis", que não tem responsabilidade sobre crimes cometidos com seus carros.

O Panamá resiste à pressão da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para aderir à luta contra a evasão e a fraude fiscal com um controle maior das empresas offshore. Para Le Monde, não faltam leis contra a lavagem de dinheiro. Falta maior aplicação na sua fiscalização.

2 comentários:

Anônimo disse...

operação mãos limpas em nível mundial. será possível se imaginar como será os novos tempos?

Nelson Franco Jobim disse...

Há desde 11 de setembro de 2001 uma pressão contra paraísos fiscais, já que o dinheiro do terrorismo e do crime organizado circula por meios subterrâneos.