As negociações para acabar com a guerra civil na Síria começam em 29 de janeiro, anunciou hoje o enviado especial das Nações Unidas para mediação do conflito, Staffan de Mistura, citado pela Agência France Presse (AFP).
O diálogo pela paz deveria ter começado hoje em Genebra, na Suíça. Foi adiado por desentendimento sobre quem serão os representantes das oposições.
As negociações devem durar seis meses. Duas tentativas anteriores fracassaram porque a ditadura de Bachar Assad se negou a fazer qualquer concessão, desqualificando como terroristas todos os grupos de oposição.
Com as enormes divergências entre os diferentes atores, será difícil chegar a um acordo. O desgaste de todos numa guerra civil brutal que já dura 4 anos e 10 meses e a intervenção militar da Rússia em defesa do regime de Assad, que mudou a realidade no campo de batalha, favorecem o acordo.
Nos últimos anos, os Estados Unidos e a Europa insistiram na saída de Assad, que nunca ofereceu mais do que novas eleições controladas pelo regime. Hoje, restam no campo de batalha as milícias jihadistas. Os rebeldes moderados apoiados pelo Ocidente como o Exército da Síria Livre não têm força real.
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante e a Frente al-Nusra, braço armado da rede Al Caeda no conflito sírio, estão fora, mas a Arábia Saudita, o Catar e a Turquia exigem a participação dos grupos Ahrar al-Sham e Jaish al-Islam, que têm a mesma ideologia salafista mas são apoiados por eles.
Do outro lado, o regime de Assad e seus aliados, a Rússia e o Irã, acusam esses dois grupos de terrorismo. Com as sucessivas vitórias do governo com o apoio dos bombardeios russos, Assad fortalace sua posição negociadora e não está disposto a deixar a Presidência da Síria, como disse ao presidente Vladimir Putin.
Os EUA e a Europa já estão dispostos a aceitar a manutenção de Assad no poder por um período de transição de um ano e meio. No fim do processo, haveria eleições. Nada indica que o atual ditador não pretenda se reeleger mais uma vez.
Por trágica ironia do destino, o ditador que iniciou uma guerra civil brutal e há quase cinco anos massacra seu próprio povo, deflagrando uma onda de refugiados que não se via na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, pode ganhar a parada e continuar no poder. As alternativas são ainda piores.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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