No seu último Discurso sobre o Estado da União, a prestação de contas anual e apresentação de planos do presidente dos Estados Unidos ao Congresso, Barack Obama defendeu seu legado e a fé no futuro do país, mas admitiu que a campanha eleitoral tornará o ano pouco produtivo para o governo federal.
Sem maioria no Congresso, Obama tem pouca expectativa de aprovar projetos num ano eleitoral.
"Porque vimos oportunidades onde outros viam perigos, saímos fortes da crise", disse há pouco o presidente dos EUA. "São o otimismo e a diversidade que fazem a nossa força. Assim, revigoramos nosso setor de energia e demos maior cobertura a nossos veteranos e a outros." (Aplausos).
"Mas esse progresso não é inevitável. Como vamos responder aos novos desafios? Fechando-nos como nação e desconfiando uns dos outros", acrescentou o presidente, numa crítica aos discursos radicais na disputa pela candidatura da oposição republicana à Casa Branca em novembro de 2016.
"Há quatro questões a responder: 1. Como dar a todos oportunidades nesta nova economia? 2. Como fazer a tecnologia trabalhar para nós, ajudando a combater a mudança do clima? 3. Como manter os EUA e o mundo seguros? 4. Como fazer nossa política refletir o que há de melhor em nós e não o que há de pior?"
Em seguida, citou o mais longo período de geração de empregos, o melhor ano da história da indústria automobilística. o corte do déficit orçamentário em 75%. "Quem diz que a economia dos EUA está em decadência está errado", afirmou Obama.
"Devemos recrutar mais grandes professores para nossos filhos e precisamos tornar a universidade mais acessível para todos os americanos", defendeu o presidente. "Vou continuar lutando" por isso. "Mas a educação não é tudo o que precisamos na nova economia. Precisamos de benefícios e garantias previdenciárias, a não ser para quem está nesta Casa há décadas."
O presidente defendeu seu programa de saúde a preços acessíveis, dizendo que é adequado para quando alguém perde o emprego ou está em dificuldades. (Aplausos só da bancada democrata)
"Se um americano perde o emprego, deve ter condições de receber treinamento para mudar de profissão e ter um salário suficiente para poupar para a aposentadoria", argumentou Obama.
Ao mesmo tempo, como gosta a oposição republicana, o presidente reafirmou que o setor privado é a base da economia americana e que há um excesso de regulamentações que devem ser revogadas, recebendo aplausos de todo o Congresso.
"Sessenta anos atrás, estávamos atrás dos soviéticos quando eles lançaram o Sputnik. Não negamos a realidade. Construímos um programa espacial e 12 anos depois estávamos caminhando na Lua. Isso é o que somos, Thomas Edison e os irmãos Wright", falou Obama, citando grandes inventores dos EUA.
Num tom triunfalista, "vamos tornar os EUA no país que venceu o câncer de uma vez por todas". A ciência, argumentou, deve estar a serviço do combate à mudança do clima. "Podem continuar negando a mudança do clima, mas estejam preparados para um longo debate com quase toda a comunidade científica e a maioria do resto da população. Mas mesmo que 2014 não tivesse sido o ano mais quente até que 2015 fosse ainda mais quente, deveríamos aproveitar a oportunidade para desenvolver as energias limpas, solar e eólica. Em vez de subsidiar o passado, devemos investir no futuro."
Os preços dos combustíveis fósseis devem refletir o custo real e ajudar a financiar o desenvolvimento de meios de transporte mais limpos e menos poluentes, propôs Obama: "Os empregos criados, o dinheiro, o dano ambiental evitado, vão deixar um mundo melhor para nossos filhos."
A referência ao poderio militar americano também era inevitável: "Os EUA são o país mais poderoso da Terra. Ponto final! Não estão nem perto. Gastamos mais com os militares do que os oito países seguintes juntos. Ninguém vai nos atacar nem nossos aliados. Quando eles precisam de liderança, não ligam para a Rússia ou a China. Estamos menos ameaçados hoje por impérios do mal do que por Estados falidos."
Depois da rede Al Caeda, o Estado Islâmico é a nova ameaça terrorista e "a Internet envenena as mentes dos jovens no nosso país. Enquanto nos concentramos para destruir o EI, alegações exageradas de que esta é a Terceira Guerra Mundial é fazer o jogo deles. Massas de guerreiros na caçamba de picapes e almas pervertidas conspirando em apartamentos e garagens são uma enorme ameaça a civis, mas não ameaçam nossa segurança nacional."
Sua estratégia consiste em bombardear forças, líderes e bases econômicas do Estado Islâmico, e combater sua ideologia assassina sem responsabilizar a religião muçulmana por seus crimes.
"Mesmo sem Al Caeda, grandes regiões do mundo viverão sob instabilidade nas próximas décadas, onde podem surgir grupos terroristas", advertiu. "Não podemos reconstruir cada país que entrar em colapso, derramando sangue de americanos. Esta é a lição do Vietnã, a lição do Iraque, que já deveríamos ter aprendido."
Em questões globais, os EUA devem mobilizar coalizões e usar a diplomacia, alegou Obama, defendendo seu acordo nuclear com o Irã para "evitar uma nova guerra". Também pediu a aprovação da Parceria Transpacífica para que "nós, não a China, imponhamos as regras do jogo" e o fim do embargo americano a Cuba, "reconhecendo que a Guerra Fria acabou".
"Esta é a força dos EUA, nossa força está no nosso exemplo. Por isso, vou continuar lutando para fechar a prisão de Guantânamo. Devemos rejeitar qualquer política que ataque pessoas por sua raça ou religião", sustentou, cutucando o aspirante republicano Donald Trump.
"Eles nos respeitam por nossa liberdade e nossa coragem. Quando políticos insultam muçulmanos e mesquitas são vandalizadas, não ficamos mais seguro. Está errado. Diminui nossa imagem no mundo. Prejudica nossos objetivos. Trai o país. Nós, o povo, assim começa nossa Constituição, três palavras que significam todos nós. Só assim vamos aperfeiçoar nossa União", discursou o presidente.
"O futuro que queremos, um planeta sustentável para nossos filhos, está a nosso alcance, mas só vai acontecer se trabalharmos juntos, se tivermos debates construtivos e melhorarmos nossa política. Não temos de concordar. Somos um grande país. Nossos fundadores esperavam que debatêssemos sobre segurança, o sentido da liberdade, mas a democracia exige laços de confiança. Não funciona se acharmos que nossos adversários são maliciosos ou querem prejudicar o país", são traidores da pátria.
"Se ouvimos apenas aqueles com que concordamos, nossa vida pública fica mais fraca. A democracia se rompe quando o pequeno cidadão percebe que sua voz não conta. Uma das poucas coisas que lamento em meu governo é o rancor político. Se vocês querem uma boa política", disse o presidente, dirigindo-se aos telespectadores, "precisamos mudar o sistema."
A seguir, citou questões fundamentais de uma reforma política: "É preciso acabar com a manipulação dos distritos eleitorais para que os eleitores escolham o candidato e não o contrário. É preciso reduzir a força do dinheiro na política para que algumas famílias ricas não tenham influência exagerada. Precisamos tornar votar mais fácil e não mais difícil."
Por fim, Obama afirmou que o futuro depende de cada cidadão, especialmente dos mais frágeis, que "precisam votar, precisam reclamar e reivindicar seus direitos. Só assim nossa vida pública vai mostrar sua decência. Quando deixar a Presidência, estarei ao lado de vocês, não como brancos, negros ou latinos, gays ou não, republicanos ou democratas", prometeu.
"Vejo nosso futuro se desdobrando nos atos cotidianos de seus cidadãos. Vejo no pesquisador que vira a noite para concluir seu projeto... Vejo no soldado que dá tudo para salvar seus irmãos. Vejo na mulher idosa que enfrenta a fila e nos jovens eleitores. Esta é os EUA que conheço, arrojados, destemidos, certos de que o amor incondicional é a força que nos une. Por isso", concluiu, "sou otimisma e estou certo de que o Estado da União é forte."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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