Numa rara crítica aos dirigentes do passado comunista, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, condenou o pai da União Soviética, Vladimir Ilich Ulianov (Lenin) e o regime bolchevique pela repressão brutal e pelo modelo federalista, que responsabilizou pelo fim da União Soviética.
Durante um encontro de militantes de seu partido, Rússia Unida, na cidade de Sevastopol, Putin abandonou ontem uma cautela atribuída ao desejo de evitar críticas aos comunistas para não perder votos. O atual homem-forte do Kremlin condenou a execução do último czar e sua família, as mortes de milhares de padres e acusou Lenin de armar uma "bomba-relógio" sob o Estado, noticiou o jornal inglês The Guardian.
Ao traçar fronteiras administrativas e introduzir o federalismo ao criar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1922, o regime bolchevique deu a elas em tese o direito de se separar. Se isso era praticamente impossível no período stalinista, tornou-se uma possibilidade com a crise econômica do país e a tentativa de golpe contra o presidente Mikhail Gorbachev, em 1991.
Como exemplo desse federalismo destrutivo de Lenin, Putin citou o vale do Rio Don, no Leste da Ucrânia, onde Moscou fomentou uma guerra civil a partir de abril de 2014, um mês depois da anexação ilegal da Crimeia, com mais de 9 mil mortes desde então. Lenin teria incluído a região para aumentar a população proletária na Ucrânia.
Putin afirmou ainda que Lenin estava errado numa disputa com o futuro ditador Josef Vissarianovich Djugachvili (Stalin), que defendia um Estado unitário. No passado, o atual líder russo condenou as perseguições políticas e milhões de mortes do stalinismo, mas reconheceu seu papel na vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
Outra crítica de Putin foi ao acordo de paz firmado pelos bolcheviques com a Alemanha na Primeira Guerra Mundial, cedendo parte do território russo meses antes da rendição alemã: "Perdemos para o lado derrotado, um caso único na história."
Na mesma ocasião, o presidente russo afastou a possibilidade de retirar a múmia embalsamada de Lenin de seu túmulo na Praça Vermelha, descartando "qualquer medida capaz de dividir a sociedade".
Ex-agente do Comitê de Defesa do Estado (KGB), a temida polícia política da URSS, Putin considerou o fim do país "a maior catástrofe geopolítica do século 20" e se empenha para restaurar pelo menos parte do poder imperial soviético.
O dirigente russo disse que acreditava na ideologia comunista e nas promessas de uma sociedade mais justa que "se assemelhava muito à Bíblia", mas admitiu que "o país não parecia a Cidade do Sol" idealizada pela utopia socialista.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Putin, bem que poderia abrir os arquivos dos crimes soviéticos e alçar o comunismo no mesmo nível do nazismo. e liquidar, definitivamente, os regimes totalitários.
Putin é um produto do regime soviético, um ex-agente da polícia política, e suas soluções são sempre autoritárias. Não é um democrata.
Postar um comentário