Diante da euforia com o acordo nuclear histórico do Irã com as grandes potências das Nações Unidas, a advogada defensora dos direitos humanos Chirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2003, lançou um desafio ao presidente Hassan Rouhani: liberte os presos políticos do país.
No sábado, os Estados Unidos e a União Europeia suspenderam as sanções ao Irã depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que a república islâmica está cumprindo o acordo. O Irã soltou quatro iraniano-americanos presos e os EUA libertaram sete iranianos.
Aproveitando a oportunidade, Ebadi enviou a seguinte carta aberta ao presidente:
"Senhor Rouhani, respeitável presidente do Irã,
"A entrada em vigor do acordo nuclear e o início do levantamento das sanções são um passo importante e eu espero que o povo iraniano possa se beneficiar de suas consequências mesmo se os bilhões de dólares gastos em programas errôneos deixarem um profundo desgosto nos iranianos.
"Uma nova era se abre com a suspensão das sanções econômicas. O que me levou a vos escrever esta carta é a boa notícia da libertação de quatro iraniano-americanos detidos pela República Islâmica sob pretextos sem fundamento. Estou feliz que a animosidade que reinava durante anos na política externa iraniana - com efeitos negativos sobre as situações econômica e política do Irã - tenha chegado ao fim e que o fruto desta reconciliação seja a libertação de prisioneiros políticos, em outras palavras, de reféns das relações bilaterais. No entanto, no Irã, os prisioneiros políticos e ideológicos são privados de um julgamento justo, na ausência de tribunais imparciais. Para falar a verdade, eles são reféns dos agentes dos serviços secretos.
"Atualmente, uma questão se põe para muitos cidadãos: quando chegará enfim o momento de uma reconciliação com o povo iraniano para que os reféns do Ministério da Informação - o estudante Omid Kavakebi, o advogado Abdolfattah Soltani, a militante pelos direitos civis Narguess Mohammadi e dezenas de outros presos - sejam libertados?
"O poder iraniano se reconcilia com seu inimigo de 35 anos [os EUA] e fico surpresa de ver que não se reconcilia com seu próprio povo. Se o Conselho de Segurança Nacional pode libertar um jornalista [Jason Rezaian, correspondente do jornal The Washington Post] tomado como refém para festejar a reconciliação com os americanos, por que não libertar um professor universitário [o ex-primeiro-ministro e ex-candidato a presidente Hossein Mussavi, em prisão domiciliar desde 2011]? Fico desolada porque os prisioneiros que só tem a nacionalidade iraniana devem ficar na prisão de maneira injusta.
"Senhor Presidente, o senhor esqueceu o juramento de defender a Constituição? Que os prisioneiros políticos e ideológicos do Irã devem ser julgados publicamente diante de um júri?
"Espero que chegue o dia da reconciliação com o povo iraniano e que possamos testemunhar a abertura das portas das prisões e a libertação de todos os presos políticos e ideológicos."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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