A Conselho de Segurança das Nações Unidas exigiu ontem uma trégua humanitária para levar ajuda de emergência ao campo de refugiados palestinos de Yarmouk, na periferia de Damasco. O campo onde dias atrás havia 18 mil pessoas, sendo 3,5 mil crianças, é cenário de mais uma batalha na sangrenta guerra civil da Síria.
Há seis dias, milicianos do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) invadiram o campo, que fica a dez minutos de ônibus do centro da capital síria e seria uma excelente base para atacar a sede do governo. Em 2 de abril, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), maior partido islamita palestino, anunciou ter recuperado o controle do campo com a ajuda de milícias jihadistas sírias. Mas o combate não cessou.
"O resultado da Batalha de Yarmouk pode significar uma virada para áreas ao redor de Damasco. Há dois anos, o Estado Islâmico tentava conquistar um reduto sem muito sucesso", observou Hassan Hassan no jornal The National, dos Emirados Árabes Unidos. "Ao contrário de outras regiões, outros grupos rebeldes, especialmente Jaysh al-Islam (Exército do Islã), lutaram tenazmente para impedir o EIIL de estabelecer uma base. A maioria do campo agora está sob o controle do EIIL."
Para Jan Egeland, do Conselho de Refugiados da Noruega, "o governo da Síria, e com freqüência alguns países vizinhos, continuam a atrapalhar o trabalho humanitário ao impor barreiras burocráticas e restringir a passagem através de fronteiras e linhas de frente, tornando difícil o acesso de civis à ajuda. O agravamento das condições de segurança e a falta de respeito pelo trabalho humanitário nos impedem ainda mais de levar ajuda a muitos dos que mais necessitam dela."
Antes da guerra, havia cerca de 160 mil palestinos no campo de Yarmouk, fundado para receber os refugiados da Guerra de Independência de Israel, em 1948. O próprio Hamas mantinha sua liderança no exílio na Síria.
Quando começou a guerra civil, em 15 de março de 2011, os grupos sunitas islamitas e não islamitas lideraram a rebelião contra Assad, um alauíta, um dos ramos do xiismo, apoiado pelo Irã e a milícia extremista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus).
O Hamas, filho da Irmandade Muçulmana do Egito, o mais antigo fundamentalista do mundo, ficou contra a ditadura de Bachar Assad, que iniciara a guerra ao atacar manifestações inicialmente pacíficas. Seu líder máximo, Khaled Mechal, foi para o Catar. A maioria dos refugiados deixou Yarmouk. O campo passou a ser considerado inimigo.
Durante os últimos dois anos, os bombardeios do governo sírio mataram centenas de refugiados em Yarmouk. A queda do campo para o Estado Islâmico levou a uma intensificação dos bombardeios nos últimos dias. Por isso, a ONU está exigindo uma trégua e abertura de um corredor seguro para levar ajuda humanitária.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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