terça-feira, 1 de abril de 2014

China toma US$ 14,5 bilhões de família de ex-dirigente

Na campanha anticorrupção deflagrada pelo presidente Xi Jinping, o regime comunista da China apreendeu US$ 14,5 bilhões de parentes e sócios do ex-chefe dos serviços secretos do país e membro do círculo íntimo do poder Zhou Yongkang, num dos maiores escândalos de corrupção no país desde a vitória da revolução comunista, em 1949, revelou a agência de notícias Reuters.

Mais de 300 parentes, sócios, aliados políticos, protegidos e funcionários de Zhou foram presos ou interrogados nos últimos quatro meses. Os investigadores congelaram depósitos bancários, confiscaram bônus, ações e outros títulos negociados no mercado financeiro, 300 casas e apartamentos, objetos de arte, antiguidades, bebidas caras, ouro, prata, joias e dinheiro em várias moedas.

O volume de recursos e o número de suspeitos investigados mostra a escala da campanha anticorrupção, uma jogada de Xi, na presidência há um ano, para consolidar o poder. Ao combater os abusos com dinheiro público, corre o risco de atrair a ira de outros dirigentes beneficiados por negócios escusos.

Hoje com 71 anos, Zhou foi responsável pelo setor de gás e petróleo e presidente da empresa estatal de petróleo antes de se tornar de 2007 a 2012 membro do Comitê Permanente do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista, um dos nove imperadores (hoje são sete) que realmente mandavam na China. É o mais alto dirigente do partido derrubado por corrupção até hoje. Ainda não foi acusado formalmente, mas está em prisão domiciliar desde o fim do ano passado.

Zhou se opôs ao expurgo e condenação à prisão perpétua de Bo Xilai, o líder em ascensão da esquerda neomaoísta que caiu em desgraça há dois anos. Bo ambicionava a liderança do partido e do governo. Seu caso foi o processo de maior peso político na China desde o julgamento da Gangue dos Quatro, liderada por Jiang Ching, a viúva de Mao Tsé-tung, em 1981.

Em dezembro de 2013, Xi criou uma força-tarefa para investigar Zhou. Nem os órgãos de investigação do PC nem a família do ex-dirigente confirma. No regime comunista chinês, às vezes uma investigação leva meses e até anos até ser noticiada.

Zhou Yongkang não admite nada e se nega a colaborar com o inquérito. Considera-se vítima de perseguição política e da luta pelo poder. Há dois anos, era um dos homens mais poderosos da China. Administrava um orçamento de US$ 100 bilhões, maior do que o das Forças Armadas.

Xi Jinping prometeu pegar de "tigres de alto nível até moscas que voam baixo". Pegou um peso-pesado.

No ano passado, o jornal The New York Times publicou reportagens denunciando o enriquecimento ilícito de parentes e associados de altos dirigentes comunistas chineses, a começar pelo então primeiro-ministro Wen Jiabao, com fortuna estimada em US$ 2,7 bilhões.

O ex-presidente Jiang Zemin, um dos hierarcas do regime, criticou a campanha, que estaria afetando veteranos líderes do partido. Jiang, que deixou o poder em 2003, teria mandado um recado no mês passado ao presidente Xi: "As pegadas de sua campanha anticorrupção não podem ser grandes demais." Abalariam as redes de patronagem e apoio político criadas pelos membros da cúpula do partido.

Outro ex-presidente, Hu Jintao, antecessor de Xi, pediu calma ao sucessor.

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