Numa onda de transportes sem precedentes, militares do Exército, da Marinha e da Força Aérea da Bolívia protestaram hoje pelo terceiro dia consecutivo nas ruas de La Paz exigindo aumentos salariais e benefícios sociais. O movimento ainda é pequeno, mas revela desunião e insatisfação nas Forças Armadas seis meses antes da eleição presidencial de outubro de 2014.
Várias centenas de militares fizeram as primeiras marchas no dia 22 de abril em La Paz e Santa Cruz de la Sierra, e grupos menores nos departamentos (equivalentes aos estados no Brasil) de Beni, Chuquisaca, Potosí, Oruro e Tarija.
Os manifestantes exigem a reabilitação de quatro oficiais removidos de seus postos há três por liderar o movimento por salários maiores e melhoria nas condições de habitação, assistência médica, além de oportunidades para estudar e ascender dentro da carreira militar. Também querem uma lei para proibir a discriminação racial nas Forças Armadas da Bolívia.
A Bolívia tem uma história trágica marcada por 192 tentativas de golpe de Estado. Depois do sangrento golpe de 1982, naquele mesmo ano, com a redemocratização do país, foi eleito Hernán Siles Suazo, que não conseguiu completar o mandato por causa da quarta maior hiperinflação da história, de 27.000% ao ano.
No início do século 21, o esgotamento das políticas econômicas liberais usadas para controlar a inflação, que não produziram o desenvolvimento social prometido, levaram a uma onda de manifestações de protesto e à queda, em 2003, do presidente Gonzalo Sánchez de Losada, acusado de fazer um acordo com o Chile para vender gás boliviano para os Estados Unidos. O Chile é o inimigo histórico que tomou a saída da Bolívia para o mar, na Guerra do Pacífico (1879-83).
Desde então, o país viveu uma era de instabilidade até a eleição, em dezembro de 2005, de Evo Morales, o primeiro indígena a governar um país da América Latina desde Benito Juárez, no México (1858-64).
Aliado do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Morales estatizou o petróleo e o gás natural bolivianos, chegando a ocupar militarmente instalações da Petrobrás para isso, sem maior reação do governo brasileiro. Sem a riqueza do petróleo da Venezuela, Evo faz uma política econômica austera para manter o equilíbrio das contas públicas. Os militares estão cobrando sua parte.
Diante da repressão ao movimento, os manifestantes exigem a demissão do ministro da Defesa e dos comandantes das três armadas e a abertura de uma negociação direta com o presidente. Não há nenhum sinal de ameaça imediata a Morales, mas ele terá de dar uma resposta antes da eleição de outubro, quando será candidato à reeleição. Até agora, o governo se nega a iniciar um diálogo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Militares da Bolívia marcham contra baixos salários
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