Com pistolas e fuzis Kalachnikov, pelo menos 20 milicianos financiados e armados pelo Kremlin tomaram a chefiatura de polícia de Slaviansk, no Leste da Ucrânia, a 150 quilômetros da Rússia, aprofundando a crise entre os dois países no momento em que o presidente Vladimir Putin ameaça deflagrar mais uma guerra do gás, cortando o suprimento ao país vizinho, por onde passam 15% do gás importado pela União Europeia.
Os milicianos arriaram a bandeira ucraniana, substituindo-a pela da Rússia e roubaram as armas estocadas. Moradores os ajudaram a armar barricadas antes da chegada de reforços policiais, informou a agência Reuters.
Por telefone, o ministro do Exterior da Ucrânia, Andriy Deschitsia, pediu ao colega russo, Serguei Lavrov, o "fim das provocações". Ontem, Lavrov afirmara que depois de tomar a península da Crimeia, a Rússia não tinha intenções de anexar outras regiões ucranianas.
A crise começou em novembro de 2013, quando o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, cedeu às pressões de Moscou e abandonou as negociações de um acordo de associação com a UE. Em protesto, manifestantes a favor da aproximação com a Europa tomaram a Praça da Independência e enfrentaram a tropa de choque, que matou centenas de pessoas.
Sob pressão, Yanukovich fugiu do país, foi para a Rússia e pediu uma intervenção militar ao Kremlin sob o pretexto de proteger as populações étnica e culturalmente russas. Putin não precisava do sinal de seu vassalo para atacar.
No fim de fevereiro, milicianos russos tomaram a assembleia regional da Crimeia e, sob a mira de fuzis Kalachnikov, instalaram no poder um governo-fantoche pró-Rússia liderado por um mafioso aliado do Kremlin que convocou um plebiscito realizado em 16 de março para a Crimeia sair da Ucrânia e ser anexada à Rússia.
Com a alegação de que o governo provisório da Ucrânia é ilegal, fruto de um "golpe de Estado", Putin rompeu o Memorando de Budapeste, assinado em 1994 para que a Rússia ficasse com todas as armas nucleares da extinta União Soviética.
Os EUA e a UE reagiram impondo sanções a políticos e empresários russos e ucranianos responsáveis pela anexação da Crimeia. Não basta para parar o homem-forte do Kremlin, que vive um breve momento de glória em seus delírios de grandeza de restaurar o poder imperial soviético.
A estratégia russa é clara: boicotar as eleições convocadas para 25 de maio e qualquer tentativa da Ucrânia de entrar para a UE.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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