Depois de dois meses de protestos e manifestações de rua, 39 mortes e muita censura, o apresentador de televisão Rudy Chávez Perche pediu demissão no ar ontem da Globovisión, uma rede de televisão privada que fazia oposição mas agora pertence a aliados do regime chavista da Venezuela.
"Respeitados telespectadores. São sete da noite. Estamos no ar para um novo boletim de notícias da Globovisión que será particularmente emocionante para mim, Rudy Chávez Perche. Será meu último dia de trabalho nesta emissora por razões contra a minha vontade e diferença de valores", declarou jornalista, citado pelo jornal inglês The Independent.
Desde que a Globovisión foi comprada por aliados do governo, acusou Chávez, o telejornalismo parou de cobrir as notícias mais importantes e os repórteres foram proibidos de usar palavras e expressões como barricadas, repressão e escassez de alimentos.
Quando ocorreram as primeiras mortes nos conflitos de rua, em 12 de fevereiro de 2014, acrescentou, a Globovisión não noticiou: "Só pudemos falar do assunto quando a procuradora-geral fez um pronunciamento oficial na TV, então o que fizemos foi pôr no ar o sinal da VTV", a estatal venezuelana.
Em entrevista à CNN em espanhol, a diretora de jornalismo da Globovisión, Mayela Leon, afirmou que procura fazer uma cobertura equilibrada e criticou o ex-subordinado: "Não foi uma boa atitude. É uma afronta ao trabalho jornalístico que fazemos todos os dias para pôr nossos programas no ar."
Rudy Chávez alegou ter "perdido a paciência com a maneira como as coisas eram feitas lá. Eles estavam fazendo muitas coisas que me disseram para não fazer no curso de jornalismo."
Com a inflação mais alta do mundo, escassez de 28% dos produtos encontráveis normalmente em supermercados e índice de homicídios entre os maiores do mundo, a Venezuela vive sua pior crise em 25 anos. A incompetência do atual presidente Nicolás Maduro agravou os problemas herdados do "socialismo do século 21" do finado caudilho Hugo Chávez Frías, que dividiu o país, destruiu suas instituições, estatizou e desorganizou a economia, e não deixou nenhum herdeiro se criar sob sua sombra.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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