Ao encerrar a campanha para a eleição presidencial de amanhã, em que é franco favorito, o presidente Hugo Chávez afirmou que não existe proposta alternativa à sua "revolução bolivarista" na Venezuela e que "o socialismo do século 21 está apenas começando. Ele deve ser eleito pela terceira vez e já fala em emendar a Constituição para permitir a reeleição indefinidamente, o que pode deixar o caudilho venezuelano no poder até 2031.
As pesquisas lhe dão ampla vantagem, de pelo menos 20 pontos percentuais, sobre o principal candidato da oposição, Manuel Rosales. Chávez promete arrasar o adversário como um "furacão".
Depois de liderar uma frustrada tentativa de golpe militar em 1992, quando era coronel de uma tropa de elite de pára-quedistas, Chávez chegou ao poder em 1998, num momento de profunda crise, quando, abalados pela crise asiática, os preços do petróleo, principal riqueza venezuelana, caíram para cerca de US$ 10.
Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe em 12 de abril de 2002, a uma greve geral, inclusive no setor petrolífero, à oposição da mídia, da Igreja Católica e da maioria das elites e do empresariado venezuelano, usando a riqueza do petróleo para criar diversos programas sociais.
Num país de 27 milhões de habitantes onde 34% sobrevivem com apenas R$ 200/mês, 16 milhões de eleitores estão aptos a votar. O voto não é obrigatório.
A maior parte da votação do presidente vem dos pobres e trabalhadores de baixa renda. A classe média está dividida e a elite é basicamente anti-Chávez, acusado de corrupção e de fazer um capitalismo de compadres, favorecendo os amigos do regime.
Em política externa, aproximou-se de Fidel Castro, radicalizou o discurso antiamericano, especialmente depois da tentativa de golpe, apoiada pelos Estados Unidos, e passou a interferir ativamente nas eleições em outros países da América Latina, apoiando os vitoriosos Evo Morales, na Bolívia; Daniel Ortega, na Nicarágua; e Rafael Correa, no Equador. Mas perdeu com Ollanta Humala, no Peru; e Andrés Manuel López Obrador, no México.
Com a desmoralização dos partidos políticos tradicionais, Chávez conseguiu eleger, há um ano, uma Assembléia Nacional formada apenas por deputados aliados. Como reforçou o controle sobre as Forças Armadas depois do golpe e da companhia estatal Petroleos de Venezuela (PdVSA) depois da greve, e mudou a composição do Tribunal Supremo, tem hoje um domínio quase total sobre a máquina do Estado venezuelana.
Talvez a grande notícia desta eleição seja o surgimento de uma oposição, encarnada por Rosales, que promete manter os programas sociais financiados pelo petróleo mas somente na Venezuela, cortando o envio de petróleo subsidiado para Cuba e a ajuda a outros governos latino-americanos. Ele foi prefeito de Maracaibo e governador de Zulia, o estado mais rico da Venezuela.
O desafio da oposição é impor controles democráticos a Chávez, impedindo que ele se torne cada vez mais um caudilho autoritário.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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