Com a inflação de 2015 projetada em 180%, queda do produto interno bruto de 10% e desabastecimento de 75% dos produtos básicos, as pesquisas sobre as eleições parlamentares de 6 de dezembro dão uma vantagem de 23 pontos percentuais à oposição na Venezuela. O presidente Nicolás Maduro fechou a fronteira com a Colômbia e declarou estado de exceção na região de Cúcuta. Pode fazer o mesmo em outras regiões do país, dando um autogolpe para adiar ou anular as eleições.
Em pesquisa da empresa Datanalisis, 87% dos venezuelanos consideraram a situação do país "má ou muito má" e 70% reprovaram o governo Maduro.
Sem a menor chance de vencer eleições livres e honestas, o regime chavista está disposto a tudo para não entregar o poder. Se a oposição conquistar maioria na Assembleia Nacional, o próximo passo será convocar um referendo revogatório para acabar com o governo Maduro e o pesadelo chavista.
Por isso, o governo vetou as candidaturas dos principais líderes da oposição sob o argumento de que estão sendo processados, embora não haja culpa formada na maioria dos casos. Também se nega a aceitar a presença de observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia.
O Centro Jimmy Carter, que fiscaliza eleições pelo mundo afora, saiu recentemente da Venezuela. Maduro só aceita a presença da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que em nenhum momento foi capaz de mediar a crise venezuelana. É submissa aos governos autoritários da Argentina, da Bolívia, do Equador e da Venezuela, todos aliados do chavismo, assim como o governo Dilma Rousseff.
Cabe ao Brasil, como eterno a candidato a líder de uma região sem rumo, devastada por crises políticas e econômicas, que está crescendo menos do que a África, assumir a responsabilidade e deixar o eleitorado venezuelano decidir os destinos do país.
Se não quiser uma guerra civil no vizinho do Norte, o governo brasileiro deveria agir logo. Mas sua calamitosa política externa e a conivência de setores de esquerda que ainda sonham com a revolução bolivarista, a começar pelo assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, apontam para o imobilismo e a incompetência. O compromisso com a democracia não vale para os aliados.
Desde que sucedeu o falecido caudilho Hugo Chávez, por falta de liderança e carisma, Maduro mais do que triplicou a indicação de militares para cargos civis como forma de comprar a lealdade das Forças Armadas. Há hoje mais de 900 militares em cargos da administração pública. É difícil que o fracassado regime chavista ceda o poder sem resistência.
Seu discurso vai no sentido contrário, afugentando investidores e não conversando com opositores. Maduro nada faz para pôr fim à crise. Prefere botar a culpa dos seus próprios erros em conspirações nacionais e internacionais.
A Venezuela tem hoje uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo em países que não estão em guerra, atrás apenas de Honduras e El Salvador. A responsabilidade é do chavismo, que negligenciou a segurança pública. Mas o governo acusa a oposição de todo o crime violento.
"Crescem as suspeitas de que o governo quer criar um clima de caos como desculpa para anular as eleições", declarou a cientista política Maria Teresa Romero.
No início da semana, o governo apresentou um vídeo em que um suspeito de assassinar e esquartejar uma mulher, José Pérez Venta, acusa o senador americano Marco Rubio, o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe, a atriz María Conchita Alonso e líderes da oposição de lhe pagar para desestabilizar a Venezuela.
Maduro decretou estado de emergência em Cúcuta em 22 de agosto e fechou a fronteira com a Colômbia, depois de um incidente em 19 de agosto, quando atiradores não identificados feriram três soldados, sob o pretexto de combater o contrabando e a infiltração de paramilitares colombianos pode ser estendido a outras regiões do país. Mais de mil colombianos foram expulsos da Venezuela.
Sob o estado de emergência, os manifestantes precisam pedir autorização para protestar com 15 dias de antecedência, o governo pode invadir residências e os militares assumem o controle de todas as atividades civis.
Como o estado de emergência não é a forma adequada para combater a criminalidade e o contrabando, que não são novidades, a suspeita é de preparação de um golpe de Estado contra as eleições. O governo examina a possibilidade de estender o estado de exceção aos estados de Mérida e Zulia. Em discurso na televisão há três, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o número dois do regime, declarou que o Poder Legislativo está pronto para aprovar novos estados de emergência.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Maduro apela para o estado de emergência
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