terça-feira, 11 de agosto de 2015

Primárias deixam em aberto eleição presidencial na Argentina

O candidato oficial Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires, venceu a eleição primária para a Presidência da Argentina realizada no último domingo, mas tudo indica que deve haver segundo turno. A eleição para valer será em 25 de outubro de 2015.

Com 98% dos votos apurados, Scioli, da Frente para a Vitória, está na frente com 38,41% contra 30,07% da coalizão Mudemos, liderada pelo prefeito da capital, Mauricio Macri, e 20,63% do deputado Sergio Massa, que se qualifica como terceira via, observou o boletim de notícias Infolatam.

Todos cantaram vitória. "Tomamos este triunfo com humildade e gratidão aos 8 milhões de argentinos que nos deram seu respaldo", declarou o governador. "Vamos trabalhar arduamente para convocar, convencer e persuadir a maior quantidade de argentinos possíveis", acrescentou, destacando a vantagem de 14 pontos na disputa pessoal com Macri.

A coalizão Mudemos englobava as candidaturas de Mauricio Macri (24,24%), representante do liberalismo do governo Carlos Menem (1989-99), da direita peronista; de Ernesto Sanz (3,45%), da União Cívica Radical (UCR), segundo maior partido tradicional argentino; e da esquerdista Elisa Carrió (2,34%), da Afirmação por uma República Igualitária.

Scioli foi vice-presidente de Néstor Kirchner. Representa o peronismo de esquerda e o continuísmo, mas não vai manter as políticas antiliberais e antimercado de Cristina Kirchner, que arruinaram a economia argentina.

Quando chega à Casa Rosada, o presidente da Argentina costuma atropelar ou descartar até mesmo antigos aliados que possam se atravessar no seu caminho. Foi assim com Néstor Kirchner. Ele foi indicado como candidato da esquerda peronista contra Menem pelo presidente interino Eduardo Duhalde (2002-3), que assumiu em meio ao colapso da economia do país e o levou até a eleição presidencial de 2003.

Em 2005, Néstor Kirchner promoveu a candidatura da mulher, Cristina Kirchner, a senadora pela província de Buenos Aires, disputando contra Hilda Chiche Duhalde, mulher do aliado convertido em inimigo político.

Do Senado, Cristina Kirchner chegou à Casa Rosada em 2007. Deveria devolver a faixa presidencial ao marido, que morreu do coração em 27 de outubro de 2010. Com a tragédia pessoal e uma economia em crescimento, Cristina conseguiu em 2011 54% dos votos no primeiro turno, a maior vitória já obtida numa eleição presidencial argentina pós-ditadura.

O desafio de Scioli agora é se distanciar da pesada herança econômica do kirchnerismo para captar o voto apartidário que vai definir a eleição.

Ao comentar o resultado, o prefeito de Buenos Aires afirmou: "Não é o cenário que queriam. Ficou claramente estabelecido que vai haver segundo turno."

O maior problema de Macri é se livrar da imagem de candidato conservador, herdeiro político de Menem, ligado à "pátria financeira" pelo discurso político kirchnerista.

Pelas regras peculiares das eleições presidenciais em dois turnos na Argentina calibradas por Menem, para ganhar no primeiro turno não é necessária a maioria absoluta. Bastam 45% dos votos válidos ou 40% dos votos válidos e uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.

Diante dos resultados de domingo, parece improvável que Scioli consiga a vitória no primeiro turno. Isso aumenta o cacife eleitoral do deputado Sergio Massa, ex-prefeito de Tigre e ex-ministro-chefe da Casa Civil de Cristina Kirchner em 2008-9.

Como o apoio de Massa pode ser decisivo, ele está sendo cortejado pelos dois lados. Sonha em ser a terceira via entre o kirchnerismo e um suposto retorno ao menemismo.

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