No aniversário dos 70 anos da explosão da bomba atômica em Hiroxima, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, prometeu hoje reiniciar os esforços para abolir as armas nucleares. Mas paradoxalmente a ameaça de destruição total, o equilíbrio do terror nuclear, ajudou a impedir novas guerras mundiais.
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, não houve guerras entre grandes potências. Em 9 de agosto, os Estados Unidos jogaram a segunda bomba atômica, na cidade de Nagasaque. Seis dias depois, o Japão se rendeu.
Durante quatro anos, os EUA detiveram o monopólio do poderio nuclear. Em 1949, no começo da chamada Guerra Fria, a União Soviética explodiu a sua primeira arma atômica, dando início à corrida armamentista nuclear. O Reino Unido, a França e a China também fizeram a bomba antes do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), de 1968, dificultar o acesso de outros países à mais poderosa de todas as armas.
O momento mais quente da Guerra Fria foi a Crise dos Mísseis Soviéticos em Cuba, de 14 a 27 de outubro de 1962, quando o governo John Kennedy descobriu a presença dos mísseis e obrigou a URSS a retirá-los em troca de um compromisso implícito de não invadir a ilha comunista, situada a 144 quilômetros da Flórida.
Nos anos seguintes, a URSS recuperou o atraso no desenvolvimento de mísseis nucleares balísticos intercontinentais. O mundo vivia sob o equilíbrio do terror nuclear, a certeza de que uma guerra mundial seria arrasadora e não teria vencedores.
Com a ascensão de Mikhail Gorbachev a secretário-geral do Partido Comunista, em 1985, começaram as negociações com o presidente americano Ronald Reagan para acabar com a Guerra Fria.
Se a guerra é, como definiu o estrategista alemão Carl von Clausewitz, a continuação da política por outros meios, a guerra nuclear não serve para atingir objetivos políticos. A destruição seria total. Ao vencedor, restaria uma terra arrasada - e não apenas em território inimigo. Não restaria nada a conquistar. Seria a destruição mutuamente assegurada, em inglês mad, que significa louco.
Assim, as armas nucleares até agora ajudaram a evitar a guerra. Por mais condenável que seja perante o julgamento da história, o bombardeio de Hiroxima e Nagasaque forçou a rendição do Japão, evitando o elevadíssimo custo em vidas que seria necessário para invadir as quatro principais ilhas do arquipélago japonês. A Batalha de Iwo Jima custara as vidas de 20 mil japoneses e 6,8 mil fuzileiros navais dos EUA.
Desde que fizeram bombas atômicas, nos anos 1970s, a Índia e o Paquistão não entraram mais em guerra, embora se enfrentam em choques esporádicos na cordilheira do Himalaia. Quando acabou o regime segregacionista do apartheid, a África do Sul democrática abriu mão das armas nucleares.
Em 1989, o Brasil e a Argentina assinaram um acordo nuclear renunciando ao uso militar da energia atômica. Os dois países abriram suas instalações nucleares a inspeções mútuas e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Mas a ameaça de guerra nuclear voltou - e não só no Oriente Médio, onde o programa nuclear do Irã pode deflagrar uma corrida armamentista, e na Península Coreana, onde a Coreia do Norte já fez três testes nucleares.
Ao intervir militarmente na Ucrânia, o protoditador russo Vladimir Putin reiniciou o conflito com o Ocidente. Como no tempo da Guerra Fria, aviões bombardeiros estratégicos da Rússia voltam a sobrevoar ameaçadoramente a Europa Ocidental, as frotas de guerra russas fazem manobras conjuntas, inclusive com a China, e o governo Putin revigora a indústria bélica, inclusive as armas atômicas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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