O Banco Popular da China manteve a promessa de deixar a moeda flutuar de acordo com a orientação do mercado, dentro da margem estreita de 2% para não perder o controle, fechando em queda pelo segundo dia seguido.
Depois de chegar 6,3231 iuanes por dólar na terça-feira, com queda de 1,97%, a maior em mais de duas décadas para a moeda chinesa, o banco central fixou a cotação de hoje em 6,3306, 1,6% abaixo do valor de ontem.
Para os economistas, é um sinal de que o regime comunista chinês está promovendo uma desvalorização competitiva para revigorar o setor exportador, responsável por centenas de milhões de empregos. Tudo o que o Partido Comunista não quer é um aumento do desemprego capaz de abalar sua legitimidade, assentada hoje sobre o milagre econômico chinês.
Enquanto oficialmente o governo insiste na proposta de reorientar a economia para o mercado interno, a depreciação da moeda, a maior desde 1994, indica a decisão de manter o modelo exportador tão bem-sucedido nas últimas décadas como garantia do emprego e da renda de sua formidável força de trabalho.
As bolsas do mundo inteiro caíram ontem com a baixa na moeda chinesa, interpretada como um sintoma de fraqueza da segunda maior economia do mundo, de US$ 10 trilhões por ano. Hoje, uma nova onda de choque atinge os mercados.
Se a queda do iuane por dois dias seguidos for um sinal de uma lenta desvalorização a longo prazo, deverá deflagrar uma nova rodada de desvalorizações competitivas ou guerras cambiais de países preocupados em preservar seu espaço no mercado internacional.
Nos Estados Unidos, a medida desencoraja o Comitê de Mercado Aberto da Reserva Federal (Fed) a aumentar as taxas básicas de juros da economia americana em setembro. Isto valorizaria ainda mais o dólar, ameaçando a recuperação dos EUA.
Sem aumento real nos salários e pressões inflacionárias, o banco central dos EUA pode deixar o reinício da normalização da política monetária, com uma alta de juros, para 2016.
Para o Brasil, o possível adiamento da alta de juros nos EUA parece positivo, assim como a determinação das autoridades chinesas de manter um crescimento forte, dentro da meta de 7% ao ano. A China é hoje a maior parceira comercial do país, grande importadora de produtos primários como soja, carvão e minério de ferro.
Ao mesmo tempo, um guerra cambial pode abalar a recuperação da economia mundial depois da crise financeira de 2008-9. A Crise da Ásia de 1997-8 foi causada por um desajuste de moedas atreladas ao dólar depois de uma desvalorização competitiva de 1993 comparada com a baixa desses dois dias.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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