Pelo menos cinco países altamente dependentes das exportações de petróleo podem enfrentar grave instabilidade econômica com a queda nos preços internacionais do produto: a Rússia, o Irã, a Venezuela, a Argélia e a Nigéria.
Ao bloquear as propostas de corte na produção diária da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) abaixo do volume atual de 30 milhões de barris, a Arábia Saudita e as monarquias petroleiras árabes aliadas visavam sobretudo concorrer com a exploração de óleo de xisto betuminoso nos Estados Unidos. Mas acabaram atingindo em cheio os países mais dependentes do petróleo.
O Irã, que negocia o futuro de seu programa nuclear com as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sob o peso de sanções internacionais, está ainda mais pressionado a aceitar as condições impostas pelos EUA.
Diante do fracasso das negociações nucleares, que deveriam ter sido concluídas em 24 da novembro de 2014, o rial iraniano sofreu forte valorização nos últimos dias, obrigando o governo a aumentar o preço do pão em 30% em 1º de dezembro.
Com a economia estagnada e o rublo em queda por causa da intervenção militar na Ucrânia, a Rússia tenta minimizar o impacto das sanções internacionais alegando para o público interno que será uma oportunidade para desenvolver a produção interna.
"O gás e o petróleo representam 52% das receitas orçamentárias", lembra Mikhail Krutikhine, especialista da empresa de consultoria RusEnergy, e o orçamento foi calculado com base num barril de petróleo a US$ 100. Está em torno de 70% e a Arábia Saudita acredita que chegue a US$ 60. "Quando o presidente Vladimir Putin assumiu, no ano 2000, a dependência era de apenas 8% a 9%. Várias jazidas de exploração difícil têm custo de produção acima dos preços atuais."
Pior ainda é a situação da Venezuela, com inflação de 80% ao ano e contração da economia em 3% ao ano, o dólar oficial em 6,30 bolívares e no mercado negro em 150 bolívares. Sua dependência de 96% da receita do petróleo e um orçamento baseado num barril a US$ 120, o regime chavista está à beira do colapso, dilacerado pelas divisões internas e pela incompetência do presidente Nicolás Maduro.
Para o candidato derrotado por Maduro em 2013, Henrique Capriles, a crise é "o produto da inépcia, da mediocridade e da maneira obtusa de governar de um grupo de privilegiados que destruiu o país". As eleições legislativas de 2015 serão uma oportunidade para a oposição.
Na Argélia, onde o gás e o petróleo representam 97% da receita das exportações e 40% do produto interno bruto, a queda nos preços é igualmente devastadora. "A Argélia aguenta um novo choque petrolífero?", pergunta o jornal El Watan. O orçamento previa que o preço do barril ficasse em US$ 110, bem acima dos atuais US$ 70.
Além da guerra civil movida pela milícia extremista muçulmana Boko Haram no Nordeste do país, a Nigéria enfrenta a queda nos preços do petróleo. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA decidiram diversificar suas fontes de importação para diminuir a dependência do petróleo do Oriente Médio. A África Ocidental tornou-se importante.
Com a exploração do gás de xisto nos EUA, os maiores importadores de petróleo nigeriano hoje são o Brasil e a Índia. O petróleo representa 70% das receitas públicas e 97% das exportações da Nigéria. No último trimestre, a moeda nacional, a naira, perdeu 11% do valor.
Se o preço do petróleo continuar em baixa, o governo da Nigéria terá de fazer cortes orçamentários drásticos às vésperas da eleição presidencial de fevereiro de 2015, em que o atual presidente Goodluck Jonathan já se apresentou como candidato, apesar da crise política e econômica, e da impotência das forças de segurança no combate ao jihadismo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Se o pré-sal ficar inviável, será o fim do governo Dilma. que mico!
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