terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Senado dos EUA acusa CIA de tortura

A Agência Central de Inteligência (CIA), o serviço secreto da Presidência dos Estados Unidos, usou técnicas de interrogatório que caracterizam tortura na luta contra o terrorismo deflagrada pelos atentados de 11 de setembro de 2001 sem obter informações relevantes sobre ataques iminentes por causa disso, está denunciando neste momento em Washington a senadora Dianne Feinstein, do Partido Democrata, presidente da Comissão de Inteligência do Senado. Os abusos foram mais amplos e mais brutais do que divulgado anteriormente, sem qualquer supervisão crítica.

O relatório de 6 mil páginas, resultado de cinco anos de investigações, teve trechos vazados com antecedência e foi objeto de espionagem da CIA contra o próprio Senado dos EUA. "Não podemos apagar esta mancha, mas podemos mostrar que o país aprende com seus erros, é uma sociedade justa e legalista", observou Dianne Feinstein.

Em 1999, o Senado dos EUA havia ratificado a Convenção Internacional contra a Tortura, comprometendo-se a não recorrer à tortura como método de interrogação não importa que tipo de desafios enfrentasse. O ataque às Torres Gêmeas de Nova York e o Pentágono levaram ao emprego de "técnicas coercitivas e robustas de interrogatório", na descrição pasteurizada do governo George Walker Bush.

O programa incluiu a detenção e o transporte ilegal de suspeitos para países que toleram a tortura, onde eles foram submetidos a interrogatórios violentos com nudez, sufocamento com jatos d'água, proibição de dormir, frio, posições estressantes e outros métodos de tortura. Empresas privadas e psicólogo foram contratados para torturar  a um custo de milhões de dólares. Das 119 detenções examinadas, pelo menos 26 prisões foram consideradas ilegais pela própria agência.

A CIA não só deteve muito mais suspeitos do que revelado anteriormente. Usou métodos "muito piores" do que admitiu e não teria conseguido informações relevantes dos presos torturados: "Os métodos muitas vezes levaram os interrogados a forjar respostas falsas", diz o relatório, e a agência acabou seguindo pistas erradas. Esta conclusão é contestada por alguns deputados e senadores republicanos.

O próprio presidente Bush, o vice-presidente Dick Cheney e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, teriam sido enganados sobre a extensão das práticas. Bush teria sentido "desconforto" ao conhecer detalhes sobre a tortura. Várias gravações de interrogatórios foram apagadas para evitar que fossem divulgadas publicamente.

Alguns presos reclamaram que não puderam dormir durante uma semana. "Múltiplas técnicas de torturas foram usadas repetidamente sem parar contra determinados suspeitos durante dias e até semanas", afirmou a senadora. Ela citou o caso de Abu Zubaida, um saudita preso no Paquistão em 2002 e levado para o centro de detenção ilegal na base naval de Guantânamo, um enclave americano em Cuba.

Zubaida, diretor de um campo de treinamento da rede terrorista Al Caeda no Afeganistão, foi sufocado com jatos d'água pelo menos 83 vezes, foi deixado nu, impedido de dormir, não recebeu alimentos sólidos e foi obrigado a ficar em posições estressantes. As gravações de seu interrogatório foram destruídas em 2005. Dois anos depois, o tribunal militar que examinou seu caso concluiu ele não era um líder importante como a CIA supunha.

A CIA alardeou ter evitado atos terroristas com base em informações obtidas sob tortura, mas a comissão parlamentar de inquérito do Senado não identificou um único caso capaz de confirmar a alegação. Essa conclusão, contestada por republicanos, foi apoiada pelo senador John McCain, candidato derrotado pelo presidente Barack Obama na eleição de 2008, que ocupou a tribuna depois de senadora Feinstein.

McCain desprezou a alegação de que a divulgação do relatório agora, quando os EUA estão em guerra contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, incentivaria novos ataques a americanos: "Eles não precisam de desculpas para nos atacar."

Na opinião do senador, um veterano de guerra que ficou cinco anos e meio preso no Vietnã, o que está em jogo é a imagem dos EUA e o compromisso com o respeito à dignidade humana: "Nossos inimigos agem sem consciência. Nós não podemos fazer isso."

ESTADO DE ALERTA
No mundo inteiro, embaixadas, consulados, bases militares e até mesmo empresas dos EUA estão em estado de alerta temendo retaliações por causa das denúncias de tortura.

Nenhum comentário: