O assassinato do ex-espião russo Alexander Litvinenko, envenenado em Londres com Polônio-210, um elemento radioativo, como no tempo da Guerra Fria (1945-89), deixou uma trilha de contaminação que inclui 12 lugares em Londres, um avião que voou na rota para Moscou e duas pessoas.
Para a polícia britânica, estas pistas leverão ao assassino. Mas já há quem diga que o assassino ou o mandante do crime queriam mesmo que Litvinenko deixasse um rastro para saber por onde ele andava e talvez contaminar seus contatos.
A maior suspeita recai sobre o Serviço Federal de Segurança (FSB, do inglês) da Rússia, sucessor do antigo KGB (Comitê de Defesa do Estado), a polícia política da extinta União Soviética. O presidente Vladimir Putin dirigia o FSB antes de ser indicado primeiro-ministro e depois presidente por Boris Yeltsin, em 1999.
Naquele ano, houve uma série de atentados contra edifícios de apartamentos em Moscou atribuídos a terroristas chechenos. Os rebeldes chechenos liderados por Chamil Bassaiev tinham atacado em agosto a república vizinha da Inguchétia.
Os atentados de Moscou serviram de pretexto para uma nova e violenta guerra na Chechência. Desta vez, a Rússia ganhou, com uma política de terra arrasada. Putin, o homem-forte que vinha para restaurar o poder imperial russo, foi eleito presidente em março de 2000.
Litvinenko, que foram designado guarda-costas do bilionário Boris Berezovski, inimigo de Putin, disse que na verdade recebeu ordens para matá-lo. Em livro, acusou o serviço secreto russo pelos atentados de Moscou e fugiu para a Inglaterra.
No dia 1º de novembro, Litvinenko tinha um encontro com um contato que prometia lhe passar informações incriminando o governo russo pela morte, em outubro, da jornalista Anna Politkovskaya.
O assassino teria errado na dose, que não matou rapidamente, provocando uma agonia de 23 dias em que o caso foi exposto ao mundo, ou teria mesmo a intenção de rastrear as atividades do ex-espião assassinado.
Em carta divulgada após sua morte, Litvinenko acusou o presidente Putin por sua morte.
Além da viúva de Litvinenko pelo menos um amigo do espião, o acadêmico italiano Mario Scaramella, foi contaminado pelo polônio-210, um material fácil de contrabandear porque é difícil detectá-lo, a não ser que se esteja procurando especificamente por ele.
O ex-primeiro-ministro russo Yegor Gaidar (1991-91) também foi contaminado, durante uma viagem à Irlanda.
Analistas suspeitam que estes ataques faça parte do pesado jogo político para as próximas eleições parlamentares e presidenciais na Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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