A Guerra do Iraque cobra um preço alto dos líderes que a iniciaram. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, tentam posar como líderes fortes e destemidos, decididos a livrar o mundo da praga do terrorismo internacional. Mas no último ano os problemas da ocupação do Iraque e as questões domésticas transformaram a parceria Bush-Blair no que a revista inglesa The Economist desta semana chama de "eixo dos fracos" em sua capa.
Enquanto a popularidade de Bush caiu para 31% e seu Partido Republicano corre o risco de perder a maioria nas duas casas do Congresso depois de 12 anos, Blair é o mais impopular primeiro-ministro trabalhista da história britânica. Com apenas 26% de apoio popular, superou Harold Wilson, que depois de desvalorizar a libra esterlina tinha apoio de 27% do eleitorado, em maio de 1968.
É cada vez maior o coro de descontentes do Partido Trabalhista britânico que pede a substituição de Blair, que o levou a três vitórias consecutivas após 18 anos na oposição, na liderança do partido e do governo. Eles exigem sua substituição pelo ministro das Finançcas, Gordon Brown.
Nunca foi uma parceria de iguais. Ao assumir, Bush foi primeiro ao México, indicando que a Europa não estava entre suas prioridades. Depois dos atentados de 2001, não precisava de apoio externo para mobilizar a abalada opinião pública americana. Mas Blair, o elo mais fraco, aproveitou a oportunidade para reconstruir a "relação especial" com os EUA, que é mais especial para britânicos do que para americanos. Mostrou-se o aliado leal que os EUA precisavam para chancelar internacionalmente a reação de Bush.
Se Blair cair, não haverá maior impacto para a política externa americana. Mas será mais um dos líderes que apoiaram a invasão do Iraque a sair de cena, depois do espanhol José María Aznar, do português José Manuel Durão Barroso e do italiano Silvio Berlusconi.
Cada vez mais acuado dentro dos EUA, Bush ficará ainda mais sozinho internacionalmente.
A aliança entre o conservador Bush e Blair, um trabalhista mais para liberal, sempre pareceu estranha. Mas o apoio incondicional da Grã-Bretanha à sua ex-colônia convertida em superpotência é uma política de Estado. Não depende do governo do dia, como no caso da Espanha, Itália e Portugal, em que governos de direita apoiaram a guerra de Bush.
Apesar das divergências ideológicas, Bush e Blair concordam quanto à necessidade de combater o terrorismo internacional e a proliferação de armas nucleares, por medo de que caiam nas mãos de terroristas. Movidos em parte por um moralismo cristão, ambos vêem no jihadismo de Ossama ben Laden uma ameaça semelhante ao nazismo de Hitler nos anos 30. Invocam Winston Churchill, primeiro-ministro britânico de 1940 a 1945 para justificar suas atitudes no que consideram uma nova guerra mundial.
Sem Blair, a imagem de novos Churchill ficará abalada. Mas os problemas internacionais que desafiam os EUA não desaparecerão: como sair do Iraque? O que fazer diante do programa nuclear do Irã? Como negociar a paz entre israelenses e palestinos para desarmar uma das principais motivações do terrorismo? Como conter a Rússia, cada vez mais agressiva em relação a seus vizinhos e falando em se armas? Como negociar com a China, a superpotência emergente?
Com um presidente debilitado na Casa Branca, o mundo será mais ou menos seguro? Sempre há o risco de que Bush queira dar uma nova demonstração de força, desta vez tendo o Irã como alvo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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