Altos assessores do governo George Walker Bush, inclusive a secretária de Estado, Condoleezza Rice, traçaram uma nova estratégia para lidar com o programa nuclear da Coréia do Norte que inclui a negociação de um tratado de paz enquanto os Estados Unidos tentam evitar que o país, um dos últimos regimes comunistas do mundo, fabrique armas atômicas.
Até agora, Bush insistia em isolar política, econômica e diplomaticamente a Coréia do Norte até que ela abrisse mão de seu programa nuclear. O regime linha-dura de Pionguiangue já anunciou ter a bomba atômica mas nunca fez os testes que comprovariam a alegação.
Com os problemas na Guerra do Iraque e a crise gerada pelo programa nuclear do Irã, os outros países que Bush colocou num "eixo do mal" no discurso sobre o Estado da União em 2002, o governo americano tenta agora uma abordagem diferente da questão norte-coreana.
Desde o fim da Guerra da Coréia (1950-53), a Coréia do Norte cobra dos EUA um acordo de paz que substitua o armistício mas se nega a negociar diretamente com a Coréia do Sul, que considera oficialmente um país-fantoche dos EUA. Nos últimos anos, com o colapso do comunismo em quase todo o mundo, a Coréia do Norte enfrenta uma série crise econômica. Usaria o programa nuclear, entre outras coisas, para barganhar concessões econômicas, numa chantagem atômica.
Por outro lado, a Coréia do Sul, tendo em vista as dificuldades da reunificação da Alemanha, não quer o colapso do regime comunista do Norte, que forçaria uma reunificação imediata.
Dos seis países envolvidos nas negociações, as duas Coréias, os EUA, o Japão, a China e a Rússia, nenhum tem interesse num conflito que desestabilizaria seriamente a região que mais cresce no mundo.
A Coréia do Norte tem condições de arrasar Seul, capital da Coréia do Sul, usando apenas armas convencionais. Se o regime comunista desenvolver armas atômicas, o Japão, inimigo histórico que ocupou a península coreana de 1910 a 1945, poderia produzir suas próprias bombas nucleares. Isto não interessa aos EUA, que jogou duas bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaque no final da Segunda Guerra Mundial, nem da China, outra inimiga do Japão na mesma guerra.
Assim, se o Iraque foi tratado com invasão e o Irã é ameaçado de sanções e até de um possível bombardeio aéreo contra suas instalações nucleares, no caso da Coréia do Norte o melhor método é a democracia. O país com maior poder de pressão sobre o regime de Pionguiange é a China, que junto com a Coréia do Sul o sustenta economicamente.
Os chineses não têm interesse numa solução rápida da crise norte-coreana. Desta maneira, guardam uma carta na manga para negociar com Washington.
A grande preocupação dos estrategistas americanos é que a Coréia do Norte fabrique a bomba e sirva de exemplo para o Irã como um país nuclear capaz de resistir às pressões externas. No seu primeiro mandato, Bush insistia que não iria "tolerar" uma Coréia do Norte nuclearizada.
Sua estratégia baseava-se na "mudança de regime", a mesma que tentou aplicar à Palestina, ao Iraque e ao Irã. Mas como adverte o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, uma das cabeças pragmáticas do Partido Republicano, de Bush, "focar na mudança de regime como caminho para a desnuclearização confunde as coisas". Ele defendeu "o engajamento periódico em alto nível".
Um informe secreto que circulou no início do ano entre altos funcionários americanos afirmava que desde o início do governo Bush a Coréia do Norte produziu combustível para mais de seis bombas atômicas e que continua fabricando plutônio suficiente para fazer uma bomba por ano. O documento não esclarece se o país já tem a bomba.
A nova estratégia proposta por Condoleezza Rice e um de seus principais assessores, Philip Zelikov, substitui a linha dura imposta pelo vice-presidente Dick Cheney no primeiro governo Bush. A idéia central é que é muito difícil atacar de frente a questão nuclear. Seria melhor primeiro acabar com um estado de guerra permanente que perdura 53 anos depois do armistício. A paz seria firmada pelas duas Coréias, os EUA e a China, que entrou na Guerra da Coréia ao lado do Norte, no final de 1950, quando as forças da ONU lideradas pelos americanos estavam prestes a unificar a península coreana e empurrou os americanos para baixo do paralelo 38º Norte.
De tempos em tempos, a Coréia do Norte retira-se das negociações fazendo declarações agressivas. É o estilo de seu governo ditatorial, que faz uma espécie de chantagem atômica. Seu último protesto foi contra sanções financeiras impostas pelos EUA, que pressionaram pelo fechamento de bancos norte-coreanos em Macau, na China, e outros lugares da Ásia.
Os EUA alegam que são "medidas defensivas" para impedir a falsificação de dólares. Alguns agentes americanos dizem que a reação foi dura porque as medidas afetam a Unidade 39, usada pelo ditador King Jong Il consegue dinheiro para financiar seus hábitos de consumo extragantes e comprar a lealdade das altas autoridades norte-coreanas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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