Se quiser levar avante seu projeto de integração da América do Sul, o Brasil precisa proporcionar oportunidades econômicas para os países vizinhos, afirmou hoje o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB), em palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.
Ao falar sobre os desafios da integração, o deputado ponderou que "é difícil sustentar o argumento mantendo superávits comerciais" com os países vizinhos, "enquanto em outro pólo [os Estados Unidos] lhes são oferecidas oportunidades imediatas. É preciso abrir perspectivas de desenvolvimento econômico e social, dar condições materiais aos vizinhos. Sem isso, o Mercosul não resiste".
Na sua opinião, isto precisa se apoiar em dois princípios:
• o respeito à democracia; e
• a reciprocidade no respeito aos interesses de cada país.
O presidente da Câmara citou como exemplo deste esforço o Fundo de Estruturação e Investimento do Mercosul, com dotação prevista de US$ 200 milhões anuais, 70% vindos do Brasil.
Aldo Rebelo observou que "a globalização condiciona a ação das instituições no nosso país. Tudo hoje passa pela política externa", que, depois da nacionalização do gás e petróleo pela Bolívia, com prejuízos para a Petrobrás, pode ser até tema da campanha eleitoral para a Presidência da República.
"O Brasil faz parte da América Latina, mais especificamente da América do Sul", constatou o deputado. "Temos 17 mil quilômetros de fronteira com sete países de línguas espanhola e com as três guianas. Somos resultado da mesma expansão colonial marítima. Nossa independência e formação do Estado Nacional aconteceram na mesma época."
Ele defendeu a melhora das relações com os EUA, "sem submissão nem unilateralismo". Mas argumentou que, "com a Europa, temos vínculos civilizatórios mais profundos e maior confiança". Disse ainda que "é preciso olhar o mundo como um todo, para a China e a Rússia. Já somos próximos do Japão".
Rebelo reconheceu que a crise com a Bolívia complicou o processo de integração, advertindo para "não deixar a retórica contaminar as relações nem a recorrência à História, trazendo de volta fatos passados já resolvidos", como a conquista do Acre, citada pelo presidente boliviano, Evo Morales, como exemplo das injustiças históricas que acredita terem sido cometidas contra seu país.
Na questão energética, "devemos lutar pela interdependência", ponderou o presidente da Câmara.
Para Aldo Rebelo, a chamada "guerra das papeleiras", o conflito entre Uruguai e Argentina sobre a instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem oriental do Rio Uruguai, sob protesto dos argentinos, é mais "um conflito comercial". Ele admitiu que o Mercosul precisa se institucionalizar mas, neste caso específico, que levou o Uruguai a ameaçar deixar o bloco, propôs uma solução negociada entre os líderes e não a criação de regras ambientais comuns para a instalação de papeleiras em todo o Mercosul, como sugeriram as oposições do Uruguai e da Argentina.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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