quinta-feira, 18 de maio de 2006

A batalha pelo futuro da América Latina

A revista inglesa The Economist desta semana traz como matéria principal 'A batalha pela alma da América Latina'. Começa citando o presidente americano Richard Nixon (1969-74), que dizia: "A América Latina não tem importância... As pessoas não estão nem aí para a América Latina".

Em editorial, a revista observa que depois de duas décadas de democratização e de reformas econômicas liberalizantes um espectro ronda o subcontinente: uma esquerda nacionalista e antiamericana. Neste semana, o Equador expropriou uma companhia de petróleo americana, a Occidental, levando os Estados Unidos a suspender as negociações sobre um acordo de livre comércio.

Há outros sinais preocupantes, acrescenta o Economist, citando os ataques do crime organizado contra a polícia de São Paulo, num conflito que provocou mais de 100 mortes. Uma onda de migrantes sem esperança tenta entrar nos EUA. Isto levou o presidente George W. Bush a colocar mais 6 mil guardas na fronteira com o México e a construir um muro para dificultar a imigração ilegal. Também proibiu a venda de armas à Venezuela porque o presidente Hugo Chávez não estaria cooperando no combate ao terrorismo.

Na opinião da revista, a grande batalha é pelo futuro da região, travada por liberais-democratas de direita e de esquerda contra populistas autoritários. A tentativa de fazer a democracia funcionar, distribuindo melhor os frutos do progresso para incorporar as massas excluídas sofreu, diz o Economist, um duro entre 1998 e 2002, quando o subcontinente sofreu com crises financeiras e estagnação econômica.

Os eleitores culparam as reformas liberalizantes e votaram em massa na esquerda. Mas há duas esquerdas muito diferentes na América Latina: de um lado, social-democratas moderados como os governos do Brasil, Chile e Uruguai; do outro, populistas radicais como Chávez e o presidente da Bolívia, Evo Morales. "Os populistas gritam e alegam estão ajudando os pobres com o controle estatal do gás e do petróleo", afirma a revista.

The Economist admite que os programas sociais de Chávez estão começando a reduzir a pobreza na Venezuela, que atinge 40% da população. Entende que não poderia ser diferente, tendo em vista a arrecadação extra obtida com o grande aumento nos preços do petróleo. Mas ressalva que Chávez está destruindo a riqueza do país.

Enquanto o Brasil, o Chile, a Colômbia e o México estão reduzindo a pobreza, no futuro a Venezuela pode não virar uma Cuba mas uma Nigéria, um país petroleiro falido. A solução, aponta, é aumentar o ritmo de crescimento econômico da região, o que exigiria reformas para melhorar a eficiência do Estado.

A revista comenta ainda que muitos acusam o presidente Bush de "perder a América Latina". Mas acrescenta que os EUA podem ajudar mais, fazendo acordos comerciais e parcerias para o desenvolvimento econômico.

Mais importante, conclui, é que os democratas do mundo inteiro definam claramente sua posição: "Restaurar a democracia na América Latina custou muito sangue para esta conquista ser jogada fora."

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