O governo dos Estados Unidos anunciou hoje que está retirando a Líbia da lista de países que patrocinam o terrorismo. A medida abre caminho para o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países depois de 26 anos.
Na noite de 14 para 15 de abril de 1986, no governo Ronald Reagan, a Força Aérea dos EUA bombardeou o quartel-general do coronel Muamar Kadafi, homem-forte da Líbia, em represália contra um atentando terrorista contra uma discoteca freqüentada por soldados americanos na Alemanha.
Dois anos depois, quando um atentado terrorista explodiu no ar um Jumbo da companhia aérea americana PanAm sobre Lockerbie, na Escócia, matando as 259 a bordo e mais 11 em terra, as principais suspeitas recaíram sobre grupos palestinos radicados na Síria e apoiados pelo Irã. Afinal, os EUA haviam derrubado por engano um Airbus iraniano com 290 pessoas a bordo, quando protegiam as rotas de suprimento de petróleo no Golfo Pérsico, no final da Guerra Irã-Iraque (1980-88).
Mas o ditador iraquiano, Saddam Hussein, invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990. Para atacar o Iraque, os EUA queriam o apoio da Síria e a neutralidade do Irã. Assim, a Líbia foi acusada pelo atentado de Lockerbie, nunca totalmente esclarecido.
A Líbia foi alvo de sanções econômicas e dois de seus agentes condenados pelo ataque ao Jumbo da PanAm.
Isolado diplomaticamente, o regime do coronel Kadafi, que domina a Líbia desde 1969, ainda estava sob ameaça do fundamentalismo muçulmano, que superou o nacionalismo pan-árabe do qual Kadafi e Saddam eram alguns dos últimos representantes como ideologia dominante.
Depois de negociações secretas, a Líbia anunciou em 2003 que estava abandonando seus programas de armas de destruição em massa. Isto consolidou sua reaproximação com o Ocidente, a quem se aliara no combate ao jihadismo dos fundamentalistas muçulmanos. Em troca, o Ocidente terá mais acesso ao petróleo líbio.
Para quem acredita que o petróleo domina amplamente as relações do Ocidente com o mundo árabe, o programa de armas de destruição em massa de Kadafi nunca teve grande importância. O que estaria por trás da reabilitação da Líbia, antes acusada de ser um país-pária, seria o petróleo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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