Se o extraordinário crescimento da China e da Índia já aqueceu o mercado de produtos primários, a recuperação da segunda maior economia do mundo, o Japão, deve manter os preços das commodities em níveis elevados e tendência de alta. Isto é bom para a América Latina, uma região rica em recursos naturais que ainda não deu o salto de qualidade para uma indústria competitiva internacionalmente, como a Ásia.
Algumas mercadorias importantes como petróleo e cobre apresentam demanda quase igual à oferta. No caso do petróleo, com os problemas políticos em diversos países exportadores (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Venezuela, Nigéria e Chade), o mercado está tenso e nervoso, com preços no patamar de US$ 70.
O Japão deve crescer 2% a 3% ao ano, em contraste com os 9% da China. Não terá o mesmo apetite da China por estradas, prédios e fábricas porque já tem uma excelente infra-estrutura e gasta energia com muito mais eficiência. Mas a economia japonesa é duas vezes maior do que a chinesa. Seu poderoso parque industrial precisa de gás natural liquefeito e de urânio para suas usinas nucleares, além de matérias-primas como cobre e ferro.
Um plano estratégico sobre energia concluído na semana passada recomenda que empresas japonesas sejam donas de pelo menos 40% do petróleo importado pelo país, contra apenas 15% hoje. Isto significa que as companhias japonesas terão de ser agressivas para fazer aquisições no setor energético, o que a China faz cada vez mais.
O Japão é o terceiro maior consumidor mundial de petróleo, depois dos EUA e da China, e o primeiro de gás natural liquefeito. No ano passado, importou 58 milhões de toneladas, mais do que o dobro da Coréia do Sul, segundo maior importador. Até 2011, o consumo japonês de GNL deve crescer 70%. O país também consome 30% do carvão metalúrgico importado no mundo inteiro e é responsável por 20% das importações de minério de ferro. No ano passado, seu consumo de aço aumentou 5%.
Depois de um extraordinário crescimento nos anos 60, 70 e 80, quando se tornou a segunda maior economia do mundo, o estouro da bolha especulativa nos mercados imobiliário e de ações no início dos anos 90 provocou uma estagnação prolongada no Japão. Só agora, depois da reestruturação das empresas, de um longo período de juros negativos e impulsionado pelo desenvolvimento da China, o país se recupera.
Em um exemplo do que a competição por recursos energéticos escassos significa, no ano passado, três companhias japoneses de serviços públicos derrotaram concorrentes chinesas para garantir seu suprimento de gás no projeto Gorgon, realizado na Austrália pela Chevron. Os japoneses levaram a melhor porque pagaram mais. A China tem poucas opções para ter acesso a uma fonte de GNL em grande quantidade nos próximos anos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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