A Assembléia Nacional do Iraque aprovou neste sábado o primeiro governo iraquiano permanente desde a queda do ditador Saddam Hussein, em 9 de abril de 2003, após uma invasão americana. Por enquanto, serão 36 ministros. Os ministérios fundamentais para a pacificação do país, Defesa, Interior e Segurança Pública, não foram preenchidos porque não houve acordo entre xiitas, sunitas e curdos. Mas o primeiro-ministro Nuri al-Maliki prometeu "destruir a tirania e o terrorismo".
Para o jornal americano The New York Times, falta coesão ao novo governo para combater a guerrilha e a violência generalizada que tomaram conta do país. Os três ministérios vagos são essenciais para restabelecer a ordem. Mas as novas forças de segurança do Iraque têm sido usadas como milícias que acabam fomentando a violência sectária entre os diferentes grupos étnicos e religiosos, em vez de combatê-la.
Neste clima de tiroteio verbal entre os políticos e de guerra de verdade nas ruas, o primeiro-ministro designado, Nuri al-Maliki, da Aliança Iraque Unido, xiita, vencedora das eleições de 15 de dezembro passado, pediu ao parlamento que aprovasse o nome dos outros ministros. Quinze deputados sunitas da coalizão de governo se retiraram em protesto. Mas o vice-presidente Tarik al-Hachemi e o vice-primeiro-ministro Salam al-Zubaie, ambos sunitas, ficaram.
Durante séculos, desde que o Iraque caiu sob o controle do Império Otomano, em 1638, até a queda de Saddam, o país foi governado pela minoria sunita, que hoje é 20% da população iraquiana, de cerca de 25 milhões. A democratização transferiu parte do poder político para a maioria xiita, que representa 60%. Os sunitas formam o grosso da resistência contra a ocupação americana. Engajar os sunitas, que tinham boicotado eleições anteriores, é considerado chave para tirar legitimidade do terror.
Em busca da união nacional contra o terrorismo, o novo governo inclui representantes dos diferentes grupos étnicos, inclusive um vice-presidente e um vice-primeiro-ministro sunitas. É a etapa final do processo político de democratização do Iraque programado pelo governo dos Estados Unidos para normalizar o país e iniciar a retirada das forças que invadiram o Iraque em março de 2003.
O presidente George Walker Bush gostaria de retirar os primeiros soldados americanos antes das eleições de 7 de novembro, que marcam a metade do seu segundo mandato. Com a popularidade de Bush em queda, os republicanos correm o risco de perder a maioria na Câmara e no Senado, depois de 12 anos. Trazer alguns garotos de volta para casa garantiria muitos votos.
Três anos depois da queda de Saddam Hussein, o Iraque tem uma Constituição democrática que criou um Estado federal com forte influência islâmica e um parlamento com 275 deputados, maioria xiita e mandato de quatro anos. Mas sua autoridade é limitada e depende das forças de ocupação americanas. A votação foi realizada num auditório ultraprotegido onde um dia Saddam assistiu a uma peça sobre uma invasão americana, dentro da altamente fortificada Zona Verde.
A esperança dos EUA e dos líderes iraquianos é que o primeiro-ministro indique os três ministros fundamentais para a pacificação do país em uma semana.
Por enquanto, o próprio Maliki vai supervisionar o Ministério do Interior. O vice-primeiro ministro sunita, Salam al-Zubaie, fica provisoriamente com a Defesa e o vice-primeiro-ministro curdo, Barham Salih, com a Segurança Pública.
O governo Maliki terá 17 ministros xiitas, sete sunitas, sete curdos e cinco da coalizão secularista liderado pelo ex-primeiro-ministro Ayad Allawi. Os xiitas fizeram o ministro das Finanças, Bayan Jaber, ex-ministro do Interior, e o do Petróleo, Hussein al-Chahristani, the new oil minister. Os curdos indicaram Hochyar Zebari para ministro das Relações Exteriores.
Ao apresentar seu programa, o primeiro-ministro disse que "este governo têm três desafios: o terrorismo e os terroristas que estão matando pessoas ao acaso, sem qualquer respeito pela vida humana; a corrupção em todos os níveis, que está roubando a riqueza da nação; e fornecer serviços para a população". Nem o abastecimento de água e energia foi normalizado depois da queda de Saddam.
Seu maior desafio é restaurar a ordem e a segurança pública. Os atentados matam 20 a 30 pessoas por dia no Iraque. No site Iraq Body Count, o número de civis iraquianos mortos em conseqüência da invasão americano fica de 37.813 a 42.180. Além disso morreram 2.454 militares americanos e 214 dos outros países que lutam ao lado dos EUA.
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger advertiu para o risco de uma retirada prematura do Iraque, que se tornou um foco de atração de terroristas muçulmanos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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