A crise do processo de integração latino-americana frustrou a 4a. Conferência de Cupula da União Européia, América Latina e Caribe, afirma neste sábado o jornal espanhol El País, que a atribui ao protagonismo cada vez maior do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e sua ascendência sobre o presidente da Bolívia, Evo Morales.
O líder indígena boliviano nega-se a compensar as empresas estrangeiras pela estatização do gás e do petróleo. A comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferreiro-Waldner, advertiu que isto provocará "uma redução do investimento, que por sua vez levará à diminuição do crescimento e do emprego".
Só no último momento, acrescenta o jornal, foi acertada a abertura de negociações entre a UE e a Comunidade Andina de Nações, da qual Chávez acaba de se retirar porque a Colômbia e o Peru fecharam acordos de livre comércio com os Estados Unidos. Mas o presidente do Peru, Alejandro Toledo, duvida que Morales compareça na data marcada. A delegação boliviana adiantou que ele irá "para se despedir".
A Declaração de Viena anuncia esforços comuns contra o terrorismo, o tráfico de drogas e a pobreza, pela cooperação energética (o que parece piada neste momento), para criar estratégias conjuntas sobre imigração e o estabelecimento de relações com o Parlamento Europeu.
Apesar da crise do Mercosul, abalado pelo conflito entre a Argentina e o Uruguai, que ameaça deixar o bloco, renova-se "o mandato dos negociadores para que intensifiquem seus esforços com o fim de avançar no processo de negociação" de um acordo de livre comércio com a UE que está estagnada.
Aliás, a chamada 'guerra das papeleiras' provocou a cena insólita da reunião de cúpula, quando Evangelina Carrozo, uma militante argentina do grupo ecológico Greeenpeace, apareceu quase nua durante a foto oficial com um cartaz de protesto contra a instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem uruguaia do Rio Uruguai.
Também há uma referência para retomar as negociações de liberalização comercial da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. Mas não houve nenhum avanço real no que verdadeiramente interessa ao Mercosul, que é o protecionismo agrícola europeu.
Na entrevista de encerramento, Toledo pediu a volta da Venezuela à Comunidade Andina. Mas ninguém acredito nisso.
O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, encontrou-se com Evo Morales, que acusou a Espanha na discussão sobre a estatização do gás e do petróleo da Bolívia. A companhia espanhola Repsol-YPF era a segunda maior no setor na Bolívia, depois da Petrobrás. Lula estará hoje com Morales.
Já o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, pediu realismo a Chávez e Morales. Duas empresas do Reino Unido, a British Gas e a British Petroleum, também foram atingidas. Mas eles estão mais interessados em fazer seu discurso antiamericano, antiimperalista e anticapilista do que em investimentos estrangeiros.
Um dos alvos mais freqüentes de Chávez, o presidente do México, Vicente Fox, ponderou que "o populismo é uma saída falsa" e "um obstáculo no combate à pobreza" na América Latina. "Há um desespero entre os cachorros do Império", respondeu Chávez.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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