O arcebispo aposentado de Joanesburgo Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, acusou o governo da África do Sul de humilhar o povo com as obras de US$ 24 milhões na mansão do presidente Jacob Zuma em Nkandla, informou o sítio de notícias sul-africano News24.
"Quando o governo sul-africano negou visto a Sua Santidade o Dalai Lama para participar de uma Cúpula de Laureados do Prêmio Nobel na Cidade do Cabo no ano passado, eu os chamei de um banco de puxa-sacos", declarou em nota o bispo Tutu. "O desempenho do ministro da Polícia ao eximir o presidente de qualquer responsabilidade sobre os gastos Nkandla dão novo sentido à palavra."
Em 2014, o Escritório do Protetor Público, encarregado de investigar irregularidades da administração pública em todos os níveis do governo, concluiu que Zuma havia se "beneficiado indevidamente" com as obras em sua residência privada em Nkandla, que incluem um galinheiro, um curral para o gado, um anfiteatro e um centro para visitantes. Recomendou que o presidente devolvesse parte do dinheiro, 246 milhões de rands sul-africanos.
Na quinta-feira passada, o ministro da Polícia, Nkosinathi Nhleko, declarou que o inquérito concluiu que o presidente não precisa devolver nem um centavo do dinheiro público porque as obras serviram apenas para aumentar sua segurança como chefe de Estado.
Dentro desta lógica, a piscina da mansão seria apenas um reservatório de água a ser usada em caso de incêndio. A galinheiro e o curral manteriam os animais nos lugares apropriados, evitando que sua livre movimentação disparasse os alarmes de segurança.
O arcebispo ficou indignado com o chamado Nkandlagate: "Em vez de dar o bom exemplo, nossos representantes públicos estão humilhando a si mesmo, ao nosso país e ao nosso povo ao tentar defender o indefensável." Refutar as recomendações do Protetor Público, acrescenteu, "é especialmente ruim para o futuro da boa governança. É uma inconsciência gastar centenas de milhões de rands nas necessidades de segurança espúrias do presidente."
Tutu, um dos heróis na luta contra o regime segregacionista branco do apartheid, vê implicações de longo prazo na tolerância com a corrupção: "O poder do governo de manipular a Justiça tem um alto custo para sua reputação, nosso potencial de desenvolvimento e nossa duramente conquistada autoconfiança. Sinto uma tristeza profunda."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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