Os ministros das Finanças do Grupo do Euro rejeitaram hoje um pedido para prorrogar por um mês o programa de ajuda econômica à Grécia. O governo esquerdista grego não aceitou as propostas de seus sócios na Zona do Euro, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE), preferindo convocar um referendo em que vai recomendar o voto contrário a um acordo.
A Grécia foi excluída da segunda parte da reunião de hoje, em que os ministros dos outros países da Eurozona estão examinando um plano B para a hipótese de um calote cada vez mais provável no pagamento de uma dívida de 1,6 bilhão de euros com vencimento em 30 de junho de 2015.
O presidente do Grupo do Euro, Jeroen Dijsselbloem, justificou a exclusão alegando que "a Grécia fechou todas as portas para um acordo".
Em pronunciamento na televisão ontem à noite, o primeiro-ministro Alexis Tsipras convocou um referendo para o eleitorado decidir em 5 de julho se aceita se submeter às imposições das instituições internacionais. A alternativa é uma provável saída da Eurozona e talvez até da União Europeia, como advertiu o Banco Central da Grécia na semana passada, com consequências catastróficas como o colapso da economia do país.
Sem condições de refinanciar sua dívida pública no mercado desde 2009, a Grécia recebeu desde então empréstimos de 240 bilhões de euros. Em troca, foi obrigada a aceitar um programa de cortes de gastos públicos e aumentos de impostos que agravou a crise, provocando uma depressão.
Nos últimos seis anos, o produto interno bruto grego caiu 25%, o desemprego está em 27% para a população em geral e em 58% entre os jovens. Milhares de empresas fecham a cada mês. E os gregos correm para os caixas eletrônicos para sacar bilhões de euros com medo de que a moeda se esgote.
Nesse ambiente econômico de terra arrasada, a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) venceu as eleições de 25 de janeiro de 2015 com a promessa de acabar com o programa de austeridade fiscal. Quer negociar uma redução da dívida e um plano de ajuste fiscal baseado no crescimento econômico. Mas não tem dinheiro para isso.
"Não temos um mandato para aceitar esta proposta", alegou hoje o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis. "Se o povo grego disser que sim, assinamos a linha pontilhada."
Ao defender o voto não, o governo grego praticamente inviabiliza o ajuste fiscal, argumentou o presidente do Grupo do Euro: "É um programa que exige sacrifícios. Se o próprio governo que tem de aplicar o plano é contra, a possibilidade de sucesso é menor."
O governo radical de esquerda da Grécia apostou claramente numa solução política, pressionando sem ceder até o último minuto. Varoufakis manteve o desafio hoje, alertando que o euro e a própria UE serão abalados ao não acatar a decisão democrática do eleitorado grego contra o ajuste fiscal.
Em seu blefe, Varoufakis alegou que os tratados constitucionais da UE não preveem a saída de nenhum país da Eurozona: "É preciso reescrever os tratados antes de expulsar a Grécia." O problema é que os eleitores dos outros países não querem pagar a conta.
Depois da reunião ministerial, o ministro das Finanças da França, Michel Sapin, declarou que quer manter a Grécia na Eurozona, mas no momento as duas partes parecem inflexíveis.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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