Em 18 de junho de 1815, depois de mais de cem vitórias, um dos maiores generais de todos os tempos, Napoleão Bonaparte, sofria sua derrota final na Batalha de Waterloo, hoje parte da Bélgica, para exércitos do Reino Unido, da Prússia, da Holanda e de vários principados alemães.
As monarquias vitoriosas da Áustria, Prússia, Reino Unido e Rússia desmancharam o império napoleônico e criaram no Congresso de Viena o Concerto da Europa, uma primeira tentativa de institucionalização do continente, uma instituição internacional pioneira, que precede à Liga das Nações, à Organização das Nações Unidas e à União Europeia.
Essa história começa em 1789, quando o povo da França, a maior e mais importante potência do continente na época se rebelou. Em meio a uma crise econômica oriunda da derrota para o Reino Unido na Guerra dos Sete Anos (1756-63) e agravada por invernos rigorosos que reduziram as safras agrícolas, os franceses derrubaram a monarquia e guilhotinaram o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta.
Os reis foram executados na segunda fase da Revolução Francesa, o período da Convenção Nacional (1792-95), que foi também o Período do Terror. A monarquia foi abolida e os inimigos do regime, exterminados em massa, a ponto de ser necessária a criação de uma máquina de matar, a guilhotina, para garantir que os condenados fossem efetivamente mortos.
Com a queda de seu líder mais radical, Maximiliano Robespierre em 27 de julho de 1794, o poder da convenção entrou em declínio. No fim do ano seguinte, ela foi substituída pelo diretório, dominado pela burguesia em ascensão.
Era o fim do furor revolucionário, que seria a partir de então dirigido para fora da França, numa reação contra as monarquias que tentaram acabar com a nascente república francesa.
Como a cúpula militar, toda ela proveniente da aristocracia, havia sido expurgada e degolada pela revolução, abriu-se o caminho para a ascensão de um jovem e ambicioso cabo do Exército filho da antiga nobreza da Toscana cujas famílias havia emigrado para a Córsega no século 16.
Dois anos antes do nascimento de Napoleão, em 1769, a Córsega passou a ser possessão francesa. Com apenas 19 anos, ele comandou o exército de massas da França revolucionária e derrotou sucessivas vezes a Áustria, a Prússia e a Rússia de 1798 até 1805.
Numa traição à república criada pela Revolução Francesa, em 18 de maio de 1804, Napoleão foi coroado imperador. Em 1810, havia construído um império continental na Europa que incluía Espanha e Portugal, de onde a família real fugira para o Brasil em 1807.
A ambição sem limites levou Napoleão a invadir a Rússia em junho de 1812 e ver o seu Grande Exército de 680 mil soldados ser destroçado pelo General Inverno e o contra-ataque de forças russas durante a trágica retirada. Só 120 mil saíram vivos da Rússia.
Napoleão rearticulou seu Exército, mas foi derrotado pela primeira vez no campo de batalha na Batalha das Nações, em Leipzig, em 1813, e voltou à França. Depois de uma invasão dos aliados, foi forçado a abdicar ao trono em 1814 e exilado na ilha de Elba, no Mar Mediterrâneo.
Diante da resistência dos franceses à volta da monarquia pré-revolução, Napoleão voltou do exílio em abril de 1815 e governou por um breve período de cem dias até ser derrotado definitivamente em Waterloo. Preso pelos russos em 19 de junho de 1815, Napoleão foi condenado ao desterro em Santa Helena, uma ilha isolado do Oceano Atlântico onde morreu em 5 de maio de 1821.
As monarquias vencedores convocaram então o Congresso de Viena, em 1815, que criou o Concerto da Europa, dando início a um período conhecido como os Cem Anos de Paz até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Houve guerras cruéis nesse período como a da Crimeia, além das primeiras revoltas populares de inspiração socialista, mas não uma conflagração continental como a promovida pelas guerras napoleônicas.
O grande beneficiário foi o Império Britânico, que havia iniciado sua Revolução Industrial no século 18 e aproveitou a relativa paz na Europa para se tornar uma superpotência econômica.
A nova ordem internacional foi interrompida pela ascensão da Alemanha. Foram necessárias duas guerras mundiais arrasadoras a Europa decidir resolver seus conflitos pacificamente com a criação em 1957 da Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Derrota de Napoleão forjou a Europa moderna
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