quinta-feira, 18 de junho de 2015

Papa Francisco lança primeira encíclica verde

Num duro ataque à ganância e ao sistema capitalista, o papa Francisco lançou a primeira encíclica papal dedicada prioritariamente ao meio ambiente, responsabilizando o homem pelo aquecimento global, a poluição, a destruição da natureza, o extermínio de espécies animais e de povos primitivos.

O papa ativista pressiona as grandes potências econômicas a chegar a um acordo para conter o agravamento do efeito estufa na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, marcada para 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015, em Paris.

A mobilização de Sua Santidade não surpreende.  Francisco se notabilizou por emitir opiniões sobre temas polêmicos como homossexualidade, pobreza, ganância do setor financeiro, o Genocídio Armênio cometido pelo Império Otomano na Primeira Guerra Mundial e a atual perseguição aos cristãos no Oriente Médio.

Francisco é um jesuíta. Sua ordem foi criada como um instrumento da Igreja Católica na chamada Contrarreforma, uma reação do Vaticano à Reforma Protestante iniciada pelo monge alemão Martinho Lutero, em 1517.

A Companhia de Jesus, fundada em 1534, foi sempre reformista, ativista e fortemente envolvida com a educação. Teve um papel fundamental na evangelização da América Latina e do Brasil, com personagens destacados como os padres José de Anchieta e Antônio Vieira.

Um encíclica papal é uma carta em que o Sumo Pontífice lança as políticas oficiais da Igreja para guiar os outros líderes da Igreja Católica e os fiéis em questões relevantes. Esta foi lançada dias depois do fracasso da conferência preparatória de Berlim, na Alemanha, encerrada em 11 de junho de 2015 sem avançar rumo a um acordo a ser fechado em Paris.

Com pouco mais de seis meses à frente, é improvável que se chegue a um acordo amplo e implementável capaz de conter o aumento da temperatura média do planeta em dois graus centígrados. Acima disso, os cientes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima temem um aumento significativo de catástrofes naturais como secas, enchentes, furacões e tornados.

Ao longo da história, os papas exerceram papéis negativos e positivos. Sua influência diminui depois da importância de João Paulo II, o papa da Polônia, na fase final da Guerra Fria.

Como argentino e primeiro papa não europeu, Francisco tem influência considerável na América Latina, onde vivem cerca de 40% dos 1,1 bilhão de católicos do mundo. Só o Brasil em 12% dos católicos. Mas nada disso basta para garantir um acordo generoso para combater o aquecimento global.

Uma das primeiras respostas ao papa, antes mesmo da divulgação da encíclica, veio do Partido Republicano dos Estados Unidos, grande defensor da negação de que o homem seja responsável pelo aumento da temperatura da Terra, sob pressão das grandes companhias de petróleo, e do ex-governador da Flórida Jeb Bush, filho e irmão de ex-presidentes e candidato à Casa Branca em 2016.

"Não vou à igreja em busca de orientações políticas e econômicas", declarou Jeb durante a campanha.

Apesar dos esforços do papa Francisco, qualquer acordo a ser fechado em Paris será fraco, sem força para conter a emissão de gases carbônicos, que agravam o efeito estufa e aumentam a temperatura média do planeta.

No momento, com a maioria republicana no Senado, não existe a menor chance de um acordo de redução de emissões ser aprovado nos EUA. E se os EUA não se mexerem, a China, hoje a maior poluidora mundial, também não fará nenhuma concessão.

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