segunda-feira, 30 de junho de 2014

Futebol fez parte da luta pela libertação da Argélia

Com 2.381.741 km2, a República Democrática e Popular da Argélia é o maior país da África depois da divisão do Sudão, em julho de 2011, e o 10º maior do mundo. O futebol desempenhou um papel revolucionário na luta pela independência.

A Argélia fica na região do Magreb, no Norte da África, e é banhado pelo Mar Mediterrâneo, ao norte. Faz fronteira com a Tunísia a nordeste; a Líbia a leste; o Níger a sudeste; o Mali, a Mauritânia e o Saara Ocidental a sudoeste; e o Marrocos a Leste.

A maioria dos seus 38,7 milhões de habitantes (estimativa para 2014) vive perto da costa. O país se estende ao sul pelo inóspito Deserto do Saara, onde foram registradas as temperaturas mais quentes da Terra. Cerca de 80% da Argélia ficam no Saara.

ECONOMIA
Com produto interno bruto nominal estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2014 em US$ 219 bilhões, a Argélia é o 50º país mais rico do mundo. A renda média é de US$ 5,672 mil por habitante por ano.

O petróleo e o gás são a base da economia, responsáveis por 30% do PIB, 60% da arrecadação de impostos e 95% das exportações. A Argélia tem a 10º maior reserva de gás natural. É o sexto maior país exportador mundial de gás.

HISTÓRIA
Desde o século 12 antes de Cristo, o território atual da Argélia foi dominado por fenícios, romanos, vândalos germânicos, árabes, espanhóis, turcos e finalmente os franceses, em 1830. Com a exceção da França, nenhum invasor dominou as tribos bérberes do interior.

Sua história, língua, costumes e religião são heranças da expansão árabe a partir da criação do islamismo na Arábia, no século 7 depois de Cristo. Dos séculos 8 a 16, a atual Argélia foi governada pelos árabes. Depois, foi conquistada pelo Império Otomano.

Com o declínio otomano, o país teve um breve período de independência até 1830, quando a França iniciou uma guerra de conquista.

DOMÍNIO FRANCÊS
A ocupação francesa foi brutal. Durante 15 anos, os argelianos resistiram com uma “guerra santa islâmica”, sob a liderança de Abdel Kadir.

Os franceses tomaram as terras férteis próximas ao Mediterrâneo e as entregaram primeiro a colonos e depois a grandes empresas agrícolas da França. O êxodo rural inchou as grandes cidades, como Argel e Orã, com populações miseráveis.

Em 1881, a Argélia foi transformada numa província da França. O ensino do francês passou a ser obrigatório em todas as escolas.

O nacionalismo nasce na Primeira Guerra Mundial e adota várias formas de luta, da resistência pacífica a greves e a luta armada.

Quando a França saiu enfraquecida, a rebelião estourou. Na festa da vitória sobre o nazismo, em maio de 1945, os colonos franceses foram atacados. A Argélia entrava na onda de descolonização do pós-guerra. Numa repressão violenta, o Império Francês matou 17 mil argelianos.

GUERRA DA INDEPENDÊNCIA
 Em 1º de novembro de 1954, a Frente de Libertação iniciou a guerra pela independência. Foi o primeiro movimento de libertação nacional africano a usar técnicas de guerrilha, atacando num primeiro momento mais de 70 alvos militares e econômicos do do governo colonial francês.

Começava uma das guerras de libertação mais sangrentas do continente, que matou 300 a 500 mil argelianos, e 27 mil militares e 5 a 6 mil civis franceses. A Batalha de Argel, um filme magnífico de Gillo Pontecorvo de 1966, conta parte dessa história. Denuncia a brutalidade e o terrorismo de Estado da contrainsurgência francesa.

Até na França, houve revolta. Em 1957, os pieds noirs, os colonos franceses, tentaram derrubar o governo francês. Eles exigiram a volta ao poder do general Charles de Gaulle.

O líder da resistência ao nazismo na Segunda Guerra Mundial foi a Argel, deu plena cidadania aos muçulmanos da Argélia, prometeu saúde, educação e empregos no serviço público. Mas percebeu que a vitória da FLN era inevitável.

Em discurso diante da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 1959, De Gaulle reconheceu que os argelianos tinham direito à autodeterminação. Os colonos lançaram nova rebelião, em janeiro de 1960, frustrada em nove dias.

Nos acordos de Evian, em março de 1962, De Gaulle deu independência à Argélia. Depois da aprovação em referendo, o país nasceu em 5 de julho de 1962.

TRAGÉDIAS
A história da Argélia moderna é trágica. Depois de uma Guerra da Independência brutal contra a França, o país adotou um regime socialista linha-dura de partido único, Quando os preços do petróleo caíram, no fim dos anos 1980s, o país ficou altamente endividado.

Uma breve tentativa de liberalização do regime terminou com um golpe militar em janeiro de 1992, quando a Frente Islâmica de Salvação se encaminhava para obter maioria absoluta no Parlamento. A frustração explodiu numa violenta guerra civil em que 100 mil pessoas foram mortas.

FUTEBOL
O futebol foi um instrumento do nacionalismo argeliano muito antes da Guerra da Independência da Argélia (1954-62). Em 1921, foi fundado o Moloudia Club. Com seu nome árabe, as camisetas verdes em homenagem ao Islã e sua sede na Casbá (Cidadela) de Argel, foi uma expressão da revolta latente contra o colonialismo europeu.

Já nos anos 1920s, as autoridades franceses decidiram vigiar de perto os clubes, que se tornaram focos de dissidência. A partir de 1928, todo clube argeliano tinha por lei a obrigação de ter ao menos três jogadores europeus. Em 1935, esse número foi elevado para cinco.

Os clubes franceses aproveitam os jogadores argelianos talentosos. O primeiro presidente da Argélia Ahmed ben Bella, jogou pelo Olympique de Marselha em 1939, quando prestava serviço militar na cidade. O goleiro Abder Ibrir jogou seis vezes pela seleção da França em 1949 e 1950.

Quando estourou a Guerra da Independência, as eliminatórias para a Copa de 1958 deram uma oportunidade para os argelianos reafirmarem o sentimento nacionalista. Nove jogadores argelianos abandonaram seus clubes franceses para dar uma mensagem clara: a Argélia não era parte da França. Eles fugiram para a Tunísia e formaram a base da primeira seleção da Argélia.

Dois jogadores, Rachid Mekhloufi e Mustapha Zitouni, estavam convocados para a seleção da França que seria derrotada pelo Brasil por 5-2 na semifinal da Copa da Suécia.

Depois da independência, em 1962, os clubes do colonizador foram extintos. A Argélia entrou para a FIFA e organizou seu próprio campeonato nacional. A seleção nacional chegou à primeira Copa do Mundo em 1982.

SEGUNDA GERAÇÃO
As relações futebolísticas com a França se inverteram nos anos 1980s e 1990s, quando uma nova geração de filhos de imigrantes argelianos começou a se destacar no futebol francês.

O mais famoso foi Zinedine Zidane, nascido em 1972 em Marselha, líder do time que venceu o Brasil por 3-0 na final da Copa de 1998 e autor dos dois primeiros gols da partida. Uma seleção multiétnica deu o primeiro e único título mundial à França. Foi uma resposta eloquente ao crescente neofascismo da Frente Nacional, partido de extrema direita que venceu em 2014 as eleições para oParlamento Europeu.

Quando Zidane perdeu o controle e deu uma cabeçada no italiano Marco Materazzi, na final da Copa de 2006, mais uma vez vozes anti-imigrantes responsabilizaram o machismo árabe por sua atitude. O italiano o provocara falando mal da irmã de Zidane.


Em 2013, o craque da atual seleção da França na Copa, Karim Benzema, declarou que jamais cantou a Marselhesa, o hino nacional francês, para indignação da ultradireita. Logo, ficou-se sabendo que Zidane também nunca cantou a Marselhesa.

Outros, como Sofiane Feghouli, nascido em Levallois-Perret; Yacine Brahimi, de Paris; Faouzi Ghoulam, de Saint-Priest-en-Jarez; e Saphir Taïder, de Castro, na França; optaram por defender a Argélia.

COPAS DO MUNDO
A Argélia se classificou para as Copas do Mundo de 1982, 1986, 2010 e 2014. Chega pela primeira vez à segunda fase.

Na estreia, em 1982, foi zebra. Venceu a poderosa Alemanha Ocidental, então campeã da Europa, por 2-1, com gols de Madjer, talvez o melhor jogador argeliano de todos os tempos, que foi campeão mundial de clubes pelo Porto, de Portugal, e Belloumi.

Depois, a Argélia perdeu por 2-0 para a Áustria e ganhou do Chile por 3-2, com dois gols de Assad e um de Bansoula. Para tirar a Argélia da segunda etapa do torneio, a Alemanha Ocidental e a Áustria fizeram um dos acordos mais vexaminosos da história das Copas.

Como 1-0 para a Alemanha classificava os dois países, a Alemanha atacou até fazer 1-0 aos 11 min. A partir daí, os times se arrastaram em campo. Saíram vaiados. A Argélia foi eliminada.

Em 1986, enfrentou o Brasil na fase de grupos. Perdeu por 1-0, gol de Careca. Desde 1982, não vencia uma partida em Copas do Mundo.


Nesta Copa, a Argélia perdeu por 2-1 para a Bélgica, ganhou da Coreia do Sul por 4-2 e empatou em 1-1 com a Rússia, classificando-se para enfrentar a Alemanha nas oitavas de final.

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