sábado, 14 de junho de 2014

Uruguai: onde o gado chegou antes do colono

A República Oriental do Uruguai é um país do sudeste da América do Sul com 178 mil quilômetros quadrados cobertos por campos que fazem parte do pampa, que começa no Rio Grande do Sul e se estende até a Argentina.

A fronteira com a Argentina é marcada pelos dos rios Uruguai e da Prata. A fronteira com o Brasil, sem acidentes geográficos que a definam claramente, foi incerta e disputada durante séculos.

É o segundo menor país da América Latina. “No mapa, cercado por grandes vizinhos, o Uruguai parece pequeno”, observa o jornalista e escritor Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina. “Mas temos cinco vezes mais terra do que a Holanda e cinco vezes menos habitantes. Temos mais terras cultiváveis do que o Japão e uma população 40 vezes menor.”

POPULAÇÃO
A grande maioria dos  3,369 milhões de uruguaios (estimativa de 2011 do Banco Mundial) é de origem europeia (88%), principalmente espanhola e italiana. Há minorias mestiça (8%) e negra (4%).

Quase 95% dos uruguaios moram em cidades. Mais da metade (1,8 milhão) vive em Montevidéu. Mais de 98% são alfabetizados.

Cerca de 65% são cristãos, sendo 70% destes católicos; 34% são ateus ou declaram não ter religião.

GOVERNO
O regime político é república presidencialista, com um Congresso bicameral, formado por uma Câmara com 99 deputados e um Senado com 30 cadeiras. O país é dividido em 19 departamentos, com um total de 89 municípios.

O atual presidente é o ex-guerrilheiro José Mujica, da Frente Ampla, de esquerda, que acabou em 2005 com o tradicional duopólio do Partido Colorado e do Partido Nacional (blanco). Ele cumpre um mandato de cinco anos iniciado em 2010, sem direito à reeleição.

DESCOBRIMENTO
O primeiro navegador europeu a chegar à costa do Uruguai foi o piloto português João Dias de Solis, a serviço da coroa espanhola. Foi morto e comido pelos índios, em 1516, diante da ilha de Martín García, no Rio da Prata.

Em 1520, em sua tentativa de dar a volta ao mundo, o português Fernão de Magalhães teria dado o nome de Monte Vidi ao cerro onde hoje fica a capital uruguaia.

Em 1527, a expedição de Sebastião Cabot fundou a primeira povoação espanhola em território uruguaio, logo destruída pelos índios.

POVOAMENTO
Até o início do século 17, a margem oriental do Rio da Prata era habitada por índios charruas, chanaés, minuanos e guaranis. Em 1624, os espanhóis fundaram uma colônia em Soriano.

Durante o domínio espanhol (1580-1640), período da União Ibérica, em que o Brasil foi governado pela Espanha, os portugueses e os bandeirantes avançaram muito além do limite fixado pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Em 1680, portugueses criaram a Colônia do Sacramento, do outro lado do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires.

Os espanhóis reagiram. Retomaram a Colônia do Sacramento em 1705, mas a perderam no Tratado de Utrecht (1713), que pôs fim à Guerra da Sucessão Espanhola (1701-13).

Em 1726, o governador espanhol de Buenos Aires, Bruno de Zabala, fundou a cidade de São Felipe e Santiago de Montevidéu. A Colônia trocou de mãos várias vezes até ser entregue à Espanha pelos Tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777).

Em 1776, a Banda Oriental, como o Uruguai era chamado na época, passou a fazer parte do Vice-Reino do Prata, com capital em Buenos Aires.

FORMAÇÃO
A região do Rio da Prata foi a única em que os impérios da Espanha e de Portugal entraram em conflito na América. O Brasil e a Argentina herdaram essa rivalidade, e o Uruguai ficou espremido entre dois países muito maiores. Mas o rio e o porto o abriram para o mundo, comercial e culturalmente.

O clima temperado e úmido, o solo fertil e a água abundante de rios, lagos e arroios explicam seu “destino natural” de criador de gado.

O gado chegou antes do colono. O governador de Buenos Aires, Hernán Arias Saavedra, um crioulo nascido em Assunção, introduziu o gado bovino no Uruguai entre 1611 e 1617. As reses se multiplicaram numa reserva de milhões de animais livres e sem dono. O mesmo aconteceu no Rio Grande do Sul. Eram os Campos da Vacaria.

GAÚCHO
No campo semidesértico, viviam o gado silvestre e homens tão livres como os animais. Os gaúchos ou gaudérios apareceram em toda a Bacia do Prata no início do século 18, frutos da mestiçagem de europeus, índios e negros.

Com seus cavalos, corriam livremente pelo pampa sem cerca nem autoridades, caçando vacas para se alimentar. Da venda de couro, tiravam dinheiro para comprar tabaco, cachaça e roupas.

A falta de cercas e a abundância de gado livre e solto dificultaram a implantação da propriedade privada, criando um clima de medo e insegurança na campanha até o fim do século 19, época do fechamento das fazendas.

PORTO
Montevidéu era o primeiro porto profundo e protegido do estuário do Prata. Logo a cidade foi convertida em fortaleza militar e centro comercial. Era a base naval espanhola. Com a abundância de gado no pasto, no fim do século 18, Montevidéu era rival de Buenos Aires.

Foi de Montevidéu que partiu, em 1806, a expedição para libertar Buenos Aires, ocupada pelos ingleses no mesmo ano. Os ingleses se voltaram contra Montevidéu e a tomaram por vários meses em 1807, e aproveitaram para fazer campanha contra o colonialismo espanhol, ajudando a plantar o desejo de independência.

JUNTA
Expulsos os ingleses, em setembro de 1807, o espanhol Francisco Javier de Elío assumiu o governo de Montevidéu e entrou em conflito com o vice-rei do Prata, Santiago de Liniers, considerado “afrancesado” e ambíguo em relação a Napoleão Bonaparte, que invadiu a Península Ibérica em 1808.

Destituído, Elío se rebelou e criou em 21 de setembro de 1808 a Junta de Montevidéu, a primeira da América, em desafio à coroa espanhola.

Apesar do fracasso, a junta quebrou a unidade do vice-reino e desafiou o poder imperial. Em 25 de maio de 1810, o primeiro governo autonomo foi instalado em Buenos Aires. Mas a Revolução de Maio não atravessou logo o Rio da Prata.

GRITO DE ASSÊNCIO
Em 28 de fevereiro de 1811, o Grito de Assêncio deflagrou um levante dos caudilhos mais importantes, como José Fructuoso Rivera e Juan Antonio Lavalleja. Eles aderiam à revolução de Buenos Aires contra os impostos e o autoritarismo do governo espanholista de Montevidéu.

Na mesma época, o capitão José Artigas desertou de sua guarnição do Exército colonial espanhol na Colônia do Sacramento e se apresentou à junta de Buenos Aires para “levar o estandarte da liberdade até os muros de Montevidéu”.

ÊXODO
Artigas liderou uma insurreição armada e tomou quase todo o que hoje é o Uruguai, menos Montevidéu, defendida pela esquadra espanhola. Cercado, Elío pediu ajuda aos portugueses. Sem querer se submeter ao vice-rei, Artigas liderou o Êxodo do Povo Oriental e se exilou no Paraguai.

Em 1816, por ordem de Dom João VI, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, com sede no Rio de Janeiro, toma a Banda Oriental, anexada ao Brasil em 1821 como Província Cisplatina.

ARTIGAS
O grande herói da independência do Uruguai sonhava em transformar as Províncias Unidas do Prata numa grande federação. Foi boicotado pelo Brasil e pela Argentina.

Artigas chegou a articular apoios do Paraguai e das províncias argentinas de Córdoba, Corrientes, Entre Ríos e Santa Fé. Foi traído ao anexar a Província Oriental à Argentina. Buenos Aires e o Rio de Janeiro tramavam sua queda.

Em 20 de janeiro de 1817, as tropas portuguesas vindas do Rio Grande do Sul ocuparam Montevidéu. Artigas apelou ao líder venezuelano Simón Bolívar, um dos libertadores da América, e ao presidente dos EUA, James Monroe, sem sucesso.

Para o escritor Edmundo Narancio, a revolução de Artigas apresentou o federalismo como solução para acomodar as diferenças regionais, conteve os portugueses na Banda Oriental, derrubou as pretensões monárquicas e impôs a república, defendendo a ideia de uma América democrática. Apesar de toda a resistência, foi o fundador do Uruguai, por cima de todos os elementos sociais, históricos e culturais que se opunham a isso.

Desiludido, Artigas refugiou-se em 1822 no Paraguai, onde morreu em 1850.

INDEPENDÊNCIA
Em 1825, a invasão dos 33 Orientais liderados por Lavalleja e a declaração de Independência do Uruguai deflagraram o reinício da guerra entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Prata.

Diante do impasse no campo de batalha, o ministro da Guerra do Império Britânico, Lorde Palmerston, que como ministro do Exterior ajudara a família real portuguesa a fugir de Napoleão em 1807-8, teria convencido o Brasil a ceder o Uruguai para consolidar a conquista da Amazônia, do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul.

Como o Brasil era o único império no continente americano, havia o risco de que as repúblicas de língua espanhola se unissem para retomar as terras perdidas com a expansão do império português para oeste. O caudilho argentino Juan Manuel de Rosas teria feito a proposta ao libertador Simón Bolívar, que a rejeitou.

Pelo Tratado de Montevidéu, de 27 de agosto de 1828, o Brasil e a Argentina reconheciam a independência do Uruguai, A Constituição foi aprovada em 18 de julho de 1830. O país tinha na época 74 mil habitantes.

GUERRA GRANDE
A independência não acabou com a luta pela afirmação da identidade nacional. Deflagrou a Guerra Grande (1839-51) entre os colorados, partidários do primeiro presidente do Uruguai, José Fructuoso Rivera, e os blancos, seguidores do terceiro presidente, Manuel Oribe. Sem Artigas, o Uruguai se afundou no caudilhismo.

Com o apoio do ditador argentino Rosas, os blancos cercaram Montevidéu de 1843 a 1851. Os colorados eram aliados da França, da Inglaterra, dos unitários argentinos, inimigos de Rosas, e depois do Brasil.

Quando a guerra acabou sem uma vitória clara, o Uruguai estava arrasado e sua independência em dúvida. Desde a derrota de Rosas em Monte Caseros, em 1852, o Brasil nunca mais entrou em guerra com a Argentina.

GUERRA DO PARAGUAI
Em 1865, os colorados liderados pelo general Venancio Flores derrubaram os blancos com o apoio do Exército Brasileiro. A intervenção foi muito criticada pelo ditador paraguaio Francisco Solano López, o que ajudou a consolidar a Tríplice Aliança de Brasil, Argentina e Uruguai na Guerra do Paraguai (1864-70).

Na visão paraguaia da guerra, o uruguaio Venancio Flores é um dos vilões da sua Guerra Grande.

A longa guerra civil uruguaia só termina em 1905, sob o presidente colorado José Battle y Ordóñez, depois da morte do caudilho Aparício Saraiva. Foi um século de guerra desde a invasão britânica.

SOCIAL-DEMOCRACIA
Com a riqueza crescente gerada pela carne, couro, lã e cereais – produtos em que até hoje o Uruguai tem uma vantagem competitiva –, Battle fez profundas reformas que criaram a social-democracia que o país é hoje.

O Uruguai aboliu a pena de morte, introduziu o divórcio, deu direitos a crianças nascidas fora do casamento, ampliou os direitos trabalhistas, expandiu a educação pública e reduziu a influência da Igreja, apontando o tendência para o liberalismo social e o secularismo da sociedade uruguaia. Chegou a ser chamado de Suíça sul-americana.

GUERRAS MUNDIAIS
As duas guerras mundiais do século 20 e a Guerra da Coreia aumentaram a procura pelos produtos de exportação do Uruguai gerando períodos de crescimento e euforia.

No fim dos anos 1950s, com a crise econômica, rompeu-se o frágil equilíbrio entre uma capital moderna, europeizada e social-democrata e o interior atrasado e oligárquico .

GUERRILHA
Em 1963, surge um movimento de esquerda, o Movimento de Libertação Nacional – Os Tupamaros, que lutava para criar uma sociedade socialista no modelo cubano-soviético. Quando o presidente Jorge Pacheco Areco decretou estado de emergência em 1968 e suspendeu as garantias individuais, os tuparamos aderiram à luta armada.

Entre outras ações, os tupamaros sequestram o cônsul brasileiro Aloyso Dias Gomide e sequestram e matam o agente americano Dan Mitrione, acusado de ser instrutor de tortura. Esse episódio é contado no filme Estado de Sítio, do cineasta grego Costa-Gavras.

No livro A Ditadura Derrotada, o jornalista Elio Gaspari diz que “os tupamaros, com 3 mil militantes, fizeram coisas nunca vistas e até mesmo difíceis de imaginar. Suas ações, iniciadas em 1968, eram românticas, vingativas e pirotécnicas. Eles assaltaram um cassino e devolveram a gorjeta aos crupiês. Depenaram a mansão de um plutocrata e divulgaram que nela havia US$ 400 mil em dinheiro e barras de ouro”.

Em setembro de 1971, o presidente Jorge Pacheco Areco entrega ao Exército a luta contra os Tupamaros.

ELEIÇÕES DE 1971
Quando parecia que a Frente Ampla, de esquerda, iria ganhar as eleições de novembro de 1971, a ameaça de golpe de Estado provocada pela luta guerrilheira aumentou.

O colorado Juan María Bordaberry venceu por uma pequena margem o blanco Wilson Ferreira Aldunate com a ajuda de outros candidatos do partido que concorreram em sublegendas e de uma fraude arquitetada junto com o Brasil. A Frente Ampla teve apenas 18% dos votos.

Em 1972, Bordaberry assumiu. Os tupamaros foram derrotados militarmente.

DITADURA
Em 27 de junho de 1973, sob pressão das Forças Armadas, Bordaberry fechou o Congresso, dando início a uma ditadura cívico-militar que aterrorizaria o Uruguai até 1985. Só no período final, de 1981 a 1985, o poder foi exercido diretamente pelo comandante do Exército, general Gregorio Álvarez.

Um de cada 500 uruguaios foi preso e torturado ou saiu do país. Mais de cem morreram na prisão; 174 desapareceram. O poeta Mario Benedetti escreveu sobre a ditadura uruguaia: “Há uma prisão que se chama Liberdade/Aqui, quando alguém está em Liberdade,/Pode estar condenado a 30 anos de prisão”.

DEMOCRATIZAÇÃO
Em 1980, os militares convocaram um plebiscito sobre uma reforma constitucional sem permitir um debate público por causa da censura – e perderam.

As primeiras eleições democráticas são realizadas em novembro de 1984. Em março de 1985, assume o colorado Mario Sanguinetti. Em 1990, foi a vez do blanco Luis Alberto Lacalle. Sanguinetti voltou em 1995. Foi sucedido em 2000 por Jorge Battle, neto de José Battle y Ordóñez, que pacificara o país no início do século passado.

ESQUERDA NO PODER
A Frente Ampla chegou ao poder em 2005 com Tabaré Vázquez, um médico moderado, rompendo a hegemonia histórica de blancos e colorados. Desde 2010, o presidente é o ex-tuparamo José Mujica, também da Frente Ampla, conhecido internacionalmente por políticas sociais arrojadas como o apoio ao casamento gay e a liberação da maconha, que tornou o Uruguai pioneiro.

Em 2007, a Justiça abriu os primeiros processos contra militares pelos crimes cometidos durante a ditadura. O ex-ditador Gregório Álvarez foi condenado a 25 anos de prisão.

GUERRA DAS PAPELEIRAS
Em 2005, os moradores da cidade argentina de Gualeguaychú se mobilizaram com o apoio do presidente Néstor Kirchner para protestar contra a instalação de uma fábrica de papel e celulose no Uruguai, alegando que poluiria o Rio Uruguai.

Os manifestantes chegaram a bloquear o trânsito entre os dois países por meses. Como a Argentina rejeitou a mediação do Mercosul, o Uruguai apelou ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas, com sede em Haia, na Holanda, que autorizou a instalação da fábrica. Mas o protesto do movimento ecológico continua.

ECONOMIA
O Uruguai é por natureza um país exportador de produtos agrícolas: carnes de gado e ovelha, laticínios, lã, arroz, trigo, milho, cevada, soja, sorgo, sementes de girassol e cana-de-açúcar. Mas os serviços são hoje 73,4% da economia uruguaia, com destaque para bancos e o setor financeiro. O Uruguai é um paraíso fiscal.

Carnes e lã representam 40% das exportações, mas o setor primário (agropecuária, pesca e extrativismo) é responsável por apenas 9,5% do produto interno bruto.

Suas principais industrias são frigoríficos, fábricas de laticínios, têxteis, de papel e celulose, fertilizantes e de cimento. O setor industrial produz 15,3% do PIB.

CRESCIMENTO
O produto interno bruto de 2012 foi estimado em US$ 52 bilhões. A renda média por pessoa, de quase US$ 15,5 mil por ano, uma das maiores da América Latina ao lado de Argentina, Chile e México. A moeda é o peso uruguaio (R$ 1 = 10,35 pesos).

Depois de um rápido crescimento nos anos 90, o Uruguai entrou numa profunda recessão de 1999 a 2002, causada pelas crises da desvalorização do real no Brasil e o colapso da dolarização da economia argentina.

A recuperação foi abalada pela crise financeira internacional de 2008. Em 2009, o crescimento caiu para 2,4%. Em 2010, recuperou-se, avançando 8,5%. Em 2011, desacelerou para 5,7% e, em 2012, para 3,9%.

RELAÇÕES COM O BRASIL
Como Brasil e Uruguai tem uma fronteira seca, para ir de Santana do Livramento para Rivera basta atravessar a rua, no passado, era comum que políticos descontentes se refugiassem no país vizinho, de onde tramavam guerras e revoluções.

Depois de uma história marcada por guerras, invasões e até mesmo a tentativa de anexação do Uruguai como Província Cisplatina, a democratização da América Latina e a crise da dívida externa dos anos 1980s levaram ao processo de integração reagional e à criação do Mercosul, em 1991.

Quando Brasil e Argentina resolveram fechar um acordo de livre comércio, Paraguai e Uruguai entenderam que não poderiam ficar de fora.

Com a crise no Brasil e na Argentina e a omissão do bloco na guerra das papeleiras, o Uruguai ameaçou deixar o Mercosul e fazer um acordo de livre comércio com os EUA, mas o presidente Tabaré Vázquez recuou na última hora.

CULTURA
O Uruguai tem uma cultura europeia transplantada da Europa pelos colonizadores espanhóis e pelos imigrantes italianos, temperada pela cultura do campo criada por sua vocação agropecuária e dos escravos africanos.

Apesar da população negra ser pequena, o candombe, religião de origem africana, está firmemente estabelecida, com suas músicas e danças.

A cultura do campo está na música gauchesca e na milonga, uma trova típica do pampa.

MÚSICA
A influência da Argentina e de Buenos Aires como centro cultural também é enorme. O Uruguai disputa com a Argentina a paternidade de Carlos Gardel, o rei do tango, que na verdade nasceu em Toulouse, na França.

Quando morreu, Gardel usava um passaporte uruguaio dizendo que ele nascera em Tacuarembó. Teria sido falsificado para evitar que ele fosse convocado pelo Exército da França.

O famoso tango La Cumparsita foi composto em 1917 pelo uruguaio Gerardo Matos Rodríguez.

O cantor e compositor Jorge Drexler foi o primeiro e único uruguaio a ganhar um Oscar até hoje. Em 2004, sua música Al otro lado del río, do filme Diários de Motocicleta, do diretor brasileiro Walter Salles, sobre a vida de Che Guevara , ganhou o prêmio de melhor música original.

ARQUITETURA
O arquiteto Carlos Ott, um uruguaio radicado no Canadá, ganhou em 1983 a concorrência para construir a Ópera da Bastilha, em Paris, derrotando 743 colegas do mundo inteiro.

Hoje, Ott tem escritórios em Toronto, Quebec, Xangai, Dubai e Montevidéu.

LITERATURA
O modernista José Enrique Rodó é considerado o mais importante escritor uruguaio. Seu livro Ariel, de 1900, que defende a supremacia do espírito sobre a matéria e defende a resistência cultural diante dos EUA e da Europa até hoje influencia novos autores.

Também são destaques o dramaturgo Florencio Sánchez, as histórias psicológicas de Juan Carlos Onetti e Mario Benedetti, talvez o mais conhecido escritor uruguaio contemporâneo, ao lado do jornalista Eduardo Galeano.

ALIMENTAÇÃO
A carne é a base da alimentação do Uruguai, em todas as suas formas, especialmente como bife ou assado, geralmente feito na parrilla, uma chapa quente. Outros pratos populares são sanduíches feitos de carne e derivados, cereais e massas. O leite e seus derivados também são importantes na dieta uruguaia.

O mate é uma bebida nacional, vinda da tradição gauchesca. Ao contrário dos sul-rio-grandenses, que preferem o mate amargo, argentinos e uruguaios costumam adoçá-lo com açúcar

VESTUÁRIO
Como mais de 90% dos uruguaios vivem em cidades, o estilo de se vestir é o mesmo da Europa e dos EUA. No campo, são comuns as roupas tradicionais do gaúcho como as calças largas, as bombachas, as botas, os ponchos e os chapéus de barbicacho.

Com o resgate da cultura tradicional feito nos últimos anos pela juventude em busca da identidade perdida num mundo globalizado, muitos uruguaios urbanos usam com orgulho as roupas tradicionais.

ESPORTE
O futebol é uma paixão e um símbolo da afirmação da identidade nacional do Uruguai. É o único país pequeno, com poucos milhões de habitantes, que já foi campeão do mundo – e duas vezes.

Na primeira participação do país em Olimpíadas, em 1924, o Uruguai ganhou a medalha de ouro no futebol, derrotando Iugoslávia, EUA, França, Holanda e Suíça. Em 1928, o Uruguai foi bicampeão do torneio olímpico de futebol, vencendo a Holanda, a Alemanha, a Itália e a Argentina na segunda final; a prieira terminou empatada.

Por causa destas duas vitórias, a seleção de futebol do Uruguai é conhecida como Celeste Olímpica.

Esse sucesso qualificou o país para organizar a primeira Copa do Mundo, em 1930. Para realizar a competição, o Uruguai construiu o Estádio Centenário, uma homenagem ao centenário da independência, já que a primeira Constituição do país foi aprovada em 1830.

Para afirmar sua independência, nada melhor para um país pequeno do que vencer seus vizinhos maiores e mais poderosos. Dentro de campo, o Uruguai bateu a Argentina em 1930 e o Brasil em 1950.

Outros esportes populares são basquete, rugby, tênis, boxe, ciclismo, hipismo e turfe.

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