sábado, 14 de junho de 2014

Colômbia: um país em busca da paz

A República da Colômbia é um país unitário situado no Noroeste da América do Sul, com 32 departamentos e a capital em Bogotá, situada na Cordilheira dos Andes, a 2.640 metros de altitude. É a terceira capital mais alta do mundo, depois de La Paz, na Bolívia, e Quito, no Equador.

É a maior nação sul-americana de língua espanhola, a mais católica proporcionalmente (90%), a maior potência industrial da região dos Andes, o segundo país mais biodiverso do mundo depois do Brasil e o único país do continente batizado em homenagem ao descobridor, Cristóvão Colombo. Acaba de superar a Argentina, tornando-se a segunda maior economia da América do Sul, atrás apenas do Brasil.

Apesar da história marcada pela violência política, a Colômbia só foi governada por militares durante seis anos de sua história independente e realiza eleições presidenciais democráticas sem interrupção desde 1958.

A Colômbia tem um sério problema de violência, com poderosos cartéis que contrabandeiam drogas para os EUA, recentemente suplantados pelos do México. É o último país do continente com grupos guerrilheiros de esquerda significativos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), que estão negociando a paz com o governo, além de grupos paramilitares de direita.

Desde 1948, o total de mortos na guerra civil colombiana é estimado em até 500 mil. Nas últimas quatro décadas, cerca de 30 mil colombianos “desapareceram”. Desde 1985, 5,2 milhões fugiram de casa.

GEOGRAFIA
Único país da América do Sul com costas nos Oceanos Atlântico e Pacífico, a Colômbia é cercada a nordeste pelo Panamá, ao norte pelo Atlântico, a leste pela Venezuela e o Brasil, ao sul pelo Peru e o Equador e a oeste pelo Oceano Pacífico. Tem limites marítimos com Equador, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Haiti, Jamaica e República Dominicana.

Com 1,142 milhão de quilômetros quadrados, a Colômbia é duas vezes maior do que a França e um pouco menor do que o estado do Pará. Inclui parte da Amazônia e as ilhas de San Andrés e Providência, no Mar do Caribe, numa região de mar territorial disputada com a Nicarágua.

Quando entra na Colômbia, a Cordilheira dos Andes, a mais longa cadeia de montanhas do mundo e a mais alta fora da Ásia, se divide em três. Há uma cordilheira central, uma cordilheira ocidental, uma cordilheira oriental e dois vales centrais. Tudo isso e mais as montanhas nevadas perto do Mar do Caribe fazem da Colômbia um dos países mais lindos do continente.

CLIMA
Por causa do clima equatorial, não há grandes variações de temperatura ao longo do ano. O microclima de cada região depende mais da altitude e do volume de chuva.

Bogotá, que fica a 2.640 metros acima do nível do mar, tem uma temperatura média de 14ºC. Nos páramos, acima de 3 mil metros, a média cai para 10ºC.

POPULAÇÃO
A população, estimada em 45,746 milhões (CIA World Factbook, 2013), a torna o maior país de língua espanhola da América do Sul, o terceiro da América Latina, depois de Brasil e México, e o 29º do mundo.

É também percentualmente o mais católico (90%) do continente, com 3,5% de evangélicos e 2% de ateus. Cerca de 60% admitem não praticar ativamente a religião.

Cerca de 58% dos colombianos são mestiços (brancos + índios), 20% brancos de origem europeia, 14% mulatos, 4% negros e 1% de índios. Como a imigração nunca foi estimulada, há pequenas minorias do Leste da Ásia e do Oriente Médio.

Três quartos (75%) moram em cidades. As maiores são Bogotá (7,2 milhões), Medelim (3,5 milhões), Cáli (2,35 milhões), Barranquila (1,84 milhão) e Bucaramanga (1,065 milhão). Bogotá é a 4ª maior cidade da América do Sul, depois de São Paulo, Buenos Aires e Rio de Janeiro.

A idade média da população colombiana é de 28 anos e meio. O crescimento populacional está em 1,1% ao ano. Cada mulher tem em média 2,1 filhos. A expectativa de vida é de 75 anos.

SAÚDE
Os gastos com saúde representam 7,6% do produto interno bruto. Há 1,35 médicos para cada mil habitantes e um leito hospitalar para cada mil pessoas.

Há problemas com doenças infecciosas e diarreia infantil em áreas carentes, dengue, malária e febre amarela em regiões de floresta.

Cerca de 17% dos adultos são obesos.

Os gastos com educação equivalem a 4,5% do PIB.

GOVERNO
O Congresso é bicameral, com 102 senadores e 166 deputados, todos eleitos diretamente para mandatos de quatro anos.

O presidente é o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, eleito em 2010 para um mandato de quatro anos e reeleito no segundo turno, em 15 de junho de 2014. Ele venceu Óscar Zuluaga, apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, numa campanha eleitoral centrada nas negociações de paz com a guerrilha.

Depois de reduzir sensivelmente o poder militar da guerrilha e de apoiar a eleição de Santos, Uribe passou a criticá-lo por supostamente fazer concessões demais a grupos sem legitimidade democrática e lançou Zuluaga como alternativa. Mas Santos ganhou um mandato para concluir as negociações de paz com a guerrilha.

ECONOMIA
Com produto interno bruto estimado pelo FMI em US$ 382 bilhões em 2013, a Colômbia é o 30º país mais rico do mundo, com renda per capita de US$ 8.400 por ano.

A economia tradicionalmente era baseada na agricultura, com produção de café, flores e frutos. Hoje também é grande produtora de cana-de-açúcar, sorgo, milho, arroz, batata e aipim. Mas o setor agropecuário mais forte depois do cafeeiro é o de laticínios.

A agricultura, a pecuária e a pesca representam 6,8% do PIB e empregam 18% da mão de obra.

A Colômbia é o país mais industrializado da região andina. A produção industrial alcançou US$ 80 bilhões em 2010.

Mineração petróleo e energia representam 12,5% do PIB. A Colômbia é o terceiro maior país exportador de petróleo da América Latina para os EUA e o maior fornecedor de carvão importado para os americanos. Tem reservas de 2,38 bilhões de barris e produziu em março de 2013 1 milhão de barris de petróleo por dia.

Em 2012, os serviços representavam 55% da economia colombiana e empregavam 68% da mão de obra.

CRESCIMENTO
As políticas liberais de abertura econômica e promoção de acordos de livre comércio aumentaram a competitividade e a resistência a choques externos. A Colômbia assinou ou negocia acordos comerciais com EUA, Canadá, Chile, China, Coreia do Sul, Costa Rica, Israel, Japão, México, Panamá, Suíça, Turquia e União Europeia.

De 2009 a 2012, em plena crise mundial, a Colômbia cresceu em média mais de 4% ao ano. O investimento externo direto, voltado especialmente para os setores de gás e petróleo, chegou a US$ 10 bilhões. Caiu para US$ 7,2 bilhões em 2009 sob o peso da crise mundial. Voltou a subir e atingiu o recorde de US$ 16 bilhões em 2012.

As três principais agências de classificação de risco (Moody’s, Fitch e S&P) elevaram a nota de crédito da dívida pública da Colômbia para grau de investimento, considerando-a uma aplicação segura.

PRÉ-HISTÓRIA
Os primeiros homens chegaram ao atual território colombiano entre 15 mil e 10 mil anos atrás.

DESCOBRIMENTO
Quando os espanhóis chegaram à América, os índios caraíbas habitavam o litoral e os chibchas o planalto da região onde hoje fica a Colômbia.

Em 1499, Alonso de Ojeda chegou ao Cabo da Vela, hoje no Departamento de Guajira, depois de passar por São Domingos. O navegador florentino Américo Vespúcio estava a bordo.

Ojeda fundou em 1509 o primeiro assentamento espanhol na atual Colômbia com o nome de São Sebastião de Urabá. Em 1510, onde hoje é o Panamá, que até 1903 era parte da Colômbia, Vasco Núñez de Balboa descobriu o Oceano Pacífico.

A cidade de Cartagena das Índias, fundada em 1533 por Pedro de Heredia, tornou-se um porto exportador de ouro e prata no Atlântico, um dos pilares do Império Espanhol na América Latina.

De 9 a 11 de fevereiro de 1586, no início de uma Guerra Anglo-Espanhola, a cidade foi atacada pelo corsário inglês Sir Francis Drake, que a tomou, cobrou um resgate equivalente a US$ 200 milhões de hoje e saqueou a cidade até partir, em 12 de abril de 1586. Drake foi subcomandante da esquadra inglesa que derrotou a Armada Invencível da Espanha em 1588, impedindo a invasão da Inglaterra.

Alvo de frequentes ataques, Cartagena foi fortificada pela Espanha com uma muralha de 20 metros de espessura. A construção começou em 1586. Em 1608, as partes voltadas para o mar estavam protegidas.  A cidade começou a ser cercada de muros em 1631, mas isso só terminou em 1796. Foram 208 anos para fazer 11 quilômetros de muralha.


SANTO OFÍCIO
Em 5 de fevereiro de 1610, o rei Felipe II, da Espanha, mandou instalar um Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, em Cartagena. O Palácio da Inquisição ficaria pronto em 1710.


Quando Cartagena declarou independência, em 1811, os inquisidores foram expulsos. Voltaram com a reconquista em 1815, mas foram expulsos definitivamente com as vitórias de Simón Bolívar, um dos grandes libertadores da América.

NOVA GRANADA
Os territórios pertencentes hoje a Colômbia, Equador, Venezuela e Panamá formaram, em 1564, a colônia de Nova Granada, subordinada ao Vice-Reino do Peru, que controlava todas as possessões espanholas na América do Sul.

Com a introdução da agricultura de exportação, os espanhóis passaram a usar escravos nas plantações de café, bananas, algodão e tabaco.

VICE-REINO
Em 1718, a colônia de Nova Granada é elevada a Vice-Reino, com capital em Santa Fé, hoje Bogotá.

Durante a Guerra da Orelha de Jenkins (1739-48), houve outra grande batalha naval entre os impérios Britânico e Espanhol, em Cartagena das Índias, no vice-reino de Nova Granada, de março a maio de 1741. 

Em 1731, na Flórida, uma patrulha espanhola tinha cortado a orelha de Robert Jenkins, capitão de um navio mercante inglês acusado de contrabando. A orelha decepada de Jenkins acabou no Parlamento Britânico, que aprovou a expedição naval punitiva.

BATALHA DE CARTAGENA
A Batalha de Cartagena foi a maior batalha anfíbia da história até a invasão da Normandia pelos aliados em 6 de junho de 1944, na Segunda Guerra Mundial.

Os britânicos reuniram na Jamaica uma esquadra de 186 navios (30 a mais do que a Armada Invencível da Espanha, derrotada pela Inglaterra em 1588), com 27 mil homens e 2.620 peças de artilharia. A Espanha tinha 4 mil soldados, sendo 600 arqueiros indígenas e 6 navios, além das fortalezas ao longo da costa.

A frota britânica chegou a Cartagena em 4 de março. O cerco durou 67 dias. Os britânicos perderam pelo menos 9,5 mil homens e 50 navios. A Espanha perdeu 800 homens. Com a vitória, a Espanha garantiu a supremacia militar e seu império na América por mais um século.

REVOLTA CRIOULA
A Revolta dos Comuneros, em 1781, contra os impostos cobrados pela coroa espanhola, é considerada a primeira manifestação de uma identidade crioula, um movimento precursor da independência da Colômbia.

Em abril de 1781, os rebeldes formaram uma junta de governo chamada El Común. Entre seus líderes, estavam o crioulo Juan Francisco de Berbeo e o mestiço José Antonio de Galán. No fim daquele ano, Galán foi preso. Em 1782, foi enforcado e esquartejado. Seus restos mortais foram exibidos publicamente para aterrorizar os revoltosos e seus simpatizantes.

Os comuneros foram desarticulados, mas inspiraram rebeliões por toda a América Espanhola.

INDEPENDÊNCIA
Em 11 de novembro de 1811, Cartagena declarou sua independência. Em 1815, a cidade foi cercada durante cinco meses por uma esquadra espanhola sob o comando de Pablo Murillo até se render no mês de dezembro. O reino de terror de Murillo, que venceu a cidade pela fome, foi um dos momentos trágicos da história da cidade.

A independência viria com a Declaração de Angostura, de Simón Bolívar, em 15 de fevereiro de 1819, proclamando a Lei Fundamental da República da Grã-Colômbia, que seria ratificada pelo Congresso de Cúcuta, sendo conhecida como Constituição de Cúcuta.

VITÓRIAS DE BOLÍVAR
Depois de vencer militarmente os espanhóis nas batalhas de Boyacá, em 7 de agosto de 1819, de Carabobo, em 24 de junho de 1821, e de Cartagena, em 1º de outubro de 1821, Bolívar foi eleito presidente da Grã-Colômbia pelo Congresso em dezembro de 1821.

Com as declarações de independência da Venezuela, em 1829, e do Equador, em 1830, ano da morte de Bolívar, nasceu a República de Nova Granada (1831-58), que depois virou a Confederação Granadina (1858-63) e os Estados Unidos da Colômbia (1863-86).

GUERRAS CIVIS
Entre 1839 e 1885, houve uma série de seis guerras civis, que acabaram consolidando a hegemonia política do Partido Conservador. No século 19, foram nove guerras civis.

Em 1861, os liberais separaram a Igreja do Estado e confiscam terras do clero, mas seus privilégios são restabelecidos pelos conservadores em 1886.

A Constituição de 5 de agosto de 1886 aboliu a autonomia dos estados, transformando-os em departamentos com governadores nomeados pelo presidente. O nome do país passou a ser República da Colômbia, mas o relevo acidentado e a dificuldade de integração física mantiveram uma autonomia regional.

GUERRA DOS MIL DIAS
Desde 1839, o país foi marcado pela violência política entre conservadores e liberais, que levou a vários conflitos como a Guerra dos Mil Dias (1899-1902).

A situação foi agravada por uma queda nos preços internacionais do café. Denúncias de fraude eleitoral levaram à uma insurreição liberal em 17 de outubro de 1899.

A guerra durou três anos e arruinou a Colômbia. Os conservadores ganharam a Batalha do Magdalena, em 20 de outubro de 1899, mas se dividiram entre históricos e nacionalistas.

Na sangrenta Batalha de Palonegro, em 26 de maio de 1900, os conservadores pararam a ofensiva inimiga. Derrotados, os liberais se dividiram em pacifistas e guerreiros.

Quando o comandante conservador José Manuel Marroquín cortou a ajuda da Venezuela aos liberais, que estavam sendo derrotados pelo general conservador Juan Tovar, o general liberal Rafael Uribe Uribe começou a pensar em negociar a rendição.

O tratado de paz foi assassinado em 24 de outubro de 1902, depois de um total de mortes estimado entre 60 e 130 mil.

SEPARAÇÃO DO PANAMÁ
A guerra civil terminou no Panamá, na época parte da Colômbia, e enfraqueceu o país. Em 1903, os EUA tentaram negociar um leasing de 100 anos para construir um canal ligando o Atlântico ao Pacífico e evitar assim a longa volta dos navios pelo tenebroso Cabo dos Chifres (Cape Horn), no extremo sul da América.

Quando o Senado da Colômbia não ratificou o acordo, o presidente Theodore Roosevelt enviou uma frota dos EUA para apoiar a independência do Panamá, onde os americanos construíram o canal de 1904-14.

REPÚBLICA LIBERAL
O Partido Conservador governou a Colômbia de 1886 a 1930. Pela primeira vez em quase meio século, um liberal ganhou a eleição presidencial, dando início a um período de 16 anos de governos do partido conhecido como a República Liberal (1930-46).

Com a divisão do Partido Liberal entre o candidato oficial Gabriel Turbay e o dissidente Jorge Eliécer Gaitán, os conservadores voltaram ao poder em 1946, elegendo Mariano Ospina Pérez. Mas Gaitán despontou como mais votado nas grandes cidades. Era um advogado que ficara famoso defendendo trabalhadores contra a companhia bananeira americana United Fruit, que ficaria conhecida por apoiar golpes de Estado como o de 1954 na Guatemala.

Gaitán se tornaria líder do Partido Liberal em 24 de outubro de 1947.

MORTE DE GAITÁN
Em 7 de fevereiro de 1948, Gaitán liderou mais de 100 mil pessoas na Marcha do Silêncio, um protesto contra a violência política. Em 15 de fevereiro, ele fez a Oração aos Humildes, em homenagem a 20 liberais massacrados no Departamento de Caldas. Em 18 de março, Gaitán rompeu com o governo e pede a demissão de todos os ministros liberais.

Quando saía de seu escritório a uma da tarde para almoçar, em 9 de abril de 1948, Gaitán foi baleado três vezes por Juan Roa Sierra e morreu minutos depois. O assassino foi perseguido por uma multidão e linchado. O cadáver foi deixado diante do palácio presidencial.

BOGOTAÇO
A morte do Dr. Gaitán provocou uma explosão de violência na capital colombiana conhecida como Bogotaço (aportuguesando o espanhol Bogotazo). Uma onda de saques, depredações, incêndios e assassinatos sacudiu Bogotá, deixando 2 a 3 mil mortos e 142 prédios destruídos, entre eles os palácios do governo e do Congresso, os ministérios da Educação, do Interior e das Relações Exteriores, a chefiatura de polícia da capital, igrejas católicas, a Nunciatura Apostólica, a Embaixada dos EUA, os correios, o jornal conservador El Siglo.

O crime aconteceu quando a Guerra Fria chegava à América Latina. Em 1947, fora assinado no Rio de Janeiro o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que autorizava ações militares conjuntas tendo como alvo principal o comunismo.

Estavam em plena realização em Bogotá a 9ª Conferência Pan-Americana, que levaria à criação da Organização dos Estados Americanos (OEA), e o Congresso Latino-Americano de Estudantes, organizado por um estudante de direito cubano chamado Fidel Castro com financiamento do governo argentino de Juan Domingo Perón para protestar contra o intervencionismo dos EUA.

Fidel teria visitado o escritório da Gaitán na véspera de sua morte. Ficou de organizar uma manifestação que terminaria com um discurso do líder liberal.

GUIMARÃES ROSA IGNOROU
Vários jornalistas estrangeiros cobriam a Conferência Pan-Americana, entre eles os grandes repórteres brasileiros Joel Silveira e Antonio Callado. O escritor João Guimarães Rosa se refugiu na residência do embaixador brasileiro. Callado ficou surpreso. Os dois escritores travaram o seguinte diálogo, reproduzido por Callado:
– Mas você não viu o que aconteceu em Bogotá? Puxa, parecia a história de Augusto Matraga [personagem de GR] de tanto que mataram gente… Isso aconteceu no meio da rua, o tempo todo!
– Ora, Callado, o que tenho que escrever já está tudo aqui na minha cabeça. Não preciso ver coisa alguma.
– Mas Rosa, olha, eu garanto que você ficaria impressionado. Foi um espetáculo terrível… O que você fez durante todos esses dias?
– Eu reli Proust.

JOEL SILVEIRA FAREJOU
Silveira, considerado um dos melhores repórteres brasileiros de todos os tempos, farejou a explosão de violência e contou sua história:

“Estive no Cemitério Central de Bogotá, em afazer de repórter, para ter uma ideia aproximada do saldo de mortos deixado pela explosão popular. Nunca, em toda minha vida, nem mesmo nos meses de guerra, estive diante de mortos tão mortos”, observou o ex-correspondente que cobrira a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.

“Somente aquele menino – não mais de oito anos – morrera cândido, de olhos abertos, um começo de sorriso nos lábios. Os olhos vazios fixavam o céu de chumbo. As mãos de unhas sujas e compridas pendiam sobre a laje dura – como os remos inertes de um pequeno barco.

“Um funcionário qualquer aproximou-se, olhou por alguns segundos o menino morto, procurou sem achar alguma coisa que ele deveria trazer nos bolsos. Tentou em seguida fechar com os dedos os olhos abertos, mas não conseguiu. Abertos e limpos, os olhos do menino morto pareciam maravilhados com o que somente eles viam, com o que queriam ver para sempre.”

LA VIOLENCIA
O Bogotazo dá início a um período da História da Colômbia conhecido como La Violencia, que vai até o começo dos anos 60, com um total de mortes estimado em 300 mil e mais de 1 milhão de deslocados.

Liberais e socialistas foram para a clandestinidade lutar contra o Partido Conservador.

Apesar da guerra civil, por causa de sua aliança com os EUA, a Colômbia foi o úno país da América Latina a enviar tropas para a Guerra da Coreia (1950-53)

DITADURA
Em 13 de junho de 1953, em plena guerra civil, um golpe derrubou o presidente ultraconservador Laureano Gómez e levou ao poder o general Gustavo Rojas Pinilla. Meses depois, em 15 de setembro, as guerrilhas liberais assinaram um cessar-fogo, mas vários guerrilheiros que entregaram as armas foram assassinados depois.

Um acordo entre liberais e conservadores cria a Frente Nacional para pôr fim à ditadura de Rojas Pinilla. Uma junta militar organizou eleições e desde então os dois grandes partidos se alternam no poder.

GUERRILHAS DE ESQUERDA
Mas a Guerra Fria e La Violencia jogaram na clandestinidade as forças políticas de esquerda, que não tinham espaço político e aderiram à luta armada ou simplesmente resistiram àquelas décadas brutais.

Em 1964, nasceram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), braço armado do Partido Comunista Colombiano, de orientação soviética; também em 1964, o Exército de Libertação Nacional, castrista; em 1967, o Exército Popular de Libertação, maoísta; em 1984, o Movimento Armado Quintín Lame, indigenista; e, em 19 de abril de 1970, o Movimento 19 de Abril, o M-19, nacionalista de esquerda.

No fim dos anos 1980s, havia mais de 300 grupos armados irregulares em atuação na Colômbia, os mais importantes aliados na Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolívar. Sua ousadia não tinha limites. Em 6 de dezembro de 1985, 35 guerrilheiros do M-19 tomaram o Palácio da Justiça, fazendo 350 reféns.

Depois de 27 horas e 98 mortes, inclusive de 11 juízes, o Exército retomou o prédio. O episódio é conhecido na História da Colômbia como o Holocausto do Palácio da Justiça.

AVALANCHE MORTAL
A geografia acidentada e montanha cria outros riscos. Em 13 de novembro de 1985, a erupção do vulcão Nevado del Ruiz, que fica a 129 km de Bogotá, provocou uma avalanche de lava e lama que matou 23 mil pessoas.

O Nevado del Huila entrou em erupção em 2007. Há outros vulcões ativos na Colômbia.

CARTÉIS DA DROGA
Com a guerra civil e a anarquia nas zonas rurais e de selva, nos anos 1970s e 1980s formaram-se na Colômbia grandes máfias do tráfico de drogas, que concentraram no país a fabricação de cocaína produzida com folhas de coca cultivadas principalmente no Peru e na Bolívia para vender nos EUA.

Essas máfias ofereciam uma oportunidade aos camponeses de ganhar mais dinheiro, em contraste com a promessa vaga de um paraíso socialista depois da vitória da revolução feita pelos grupos de esquerda, além de proteção, fundamental num país violento como a Colômbia.

Logo se destacaram dois cartéis, de Medelim (do espanhol Medellín) e de Cáli, associados a grupos paramilitares de direita patrocinados por fazendeiros, as Autodefesas da Colômbia, responsáveis pela morte de índios, sindicalistas e militantes de esquerda que acusavam de colaborar com a guerrilha.

Seu lema era “prata ou chumbo”. Quem não aceitasse suborno, juízes, promotores, deputados, senadores, policiais, seria morto.

REAÇÃO DOS EUA
O Cartel de Medelim chegou a ser responsável por 80% da cocaína vendida nos EUA. As drogas representavam 7% a 10% da economia da Colômbia, que não teve crise da dívida externa nos anos 1980s, como a maior parte da América Latina. Não faltavam dólares no país.

Os EUA reagiram, passaram a financiar uma guerra contra as drogas na Colômbia, no Peru e na Bolívia, e assinaram um tratado para extraditar para os EUA traficantes colombianos que exportassem drogas para lá mesmo sem nunca ter estado no país.

Vendo pela primeira vez uma ameaça real a seus negócios bilionários, os traficantes reagiram com toda a força das armas que conseguiram comprar com os narcodólares.

EXTRADITÁVEIS
Em 1982, surgiram nos jornais colombianos matérias pagas de página inteira assinadas por Os Extraditáveis, com o seguinte lema: “Preferimos um túmulo na Colômbia à prisão nos EUA”.

Ao mesmo tempo em que tentavam sensibilizar a opinião pública, as máfias do tráfico declaravam guerra ao Estado colombiano. O assassinato do ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, em 30 de abril de 1984, foi decisivo para o governo entrar na guerra.

Em 4 de fevereiro de 1987, foi preso Carlos Lehder Rivas, que dizia que “a cocaína é a bomba atômica da América Latina”. Foi condenado a prisão perpétua mais 135 anos nos EUA. Por colaborar com o processo contra o ditador do Panamá Manuel Noriega, sua pena foi reduzida para 55 anos.

Outro grande chefão do tráfico, José Gonzalo Rodríguez Gacha, o Mexicano, foi morto num ataque de helicópteros contra sua fazenda, em 15 de dezembro de 1989.

PRESIDENCIÁVEL ASSASSINADO
Foi a resposta a uma ofensiva narcoterrorista. Entre outras ataques, um caminhão-bomba com cem quilos de explosivos explodiu diante do jornal El Espectador. O senador Luis Carlos Galán, líder do Novo Liberalismo, franco favorito para a eleição presidencial de 1990, foi assassinado, em 18 de agosto de 1989.

Na época, a morte de Galán foi comparada à de Jorge Eliécer Gaitán, um político jovem e ambicioso a um passo da Presidência da Colômbia.

PABLO ESCOBAR
O mais temido de todos os chefões colombianos, Pablo Escobar Gaviria, chegou a se oferecer para pagar a dívida externa da Colômbia, de US$ 17 bilhões, em 1988.

Escobar se entregou em 1991, mas fugiu da prisão e foi morto em 2 de dezembro de 1993 no telhado de uma casa em Medelim depois de uma perseguição de um ano e meio.

Era um dos criminosos mais procurados do mundo, acusado de cerca de 10 mil mortes. Sua organização explodiu mais de 250 bombas, que deixaram 1.142 mortos. Ele tinha uma fortuna avaliada em US$ 9 bilhões, inclusive uma fazenda com encanamentos de ouro e um zoológico particular com animais selvagens da África.

CARTEL DE CÁLI
Em 1995, foram presos os irmãos Gilberto e Miguel Orejuela, chefões do menos violento Cartel de Cáli.

A prisão dos maiores chefes não abalou o tráfico. A Colômbia ainda é responsável pela maior parte da produção de cocaína do mundo. Como questionou o traficante Juan Carlos Ramírez Abadía no fim de um interrogatório de nove horas na Polícia Federal, "o Sr. acredita, Dr., que a minha prisão vai mudar um milímetro a realidade nas ruas?"

CUSTO DA GUERRA
Apesar dessas duas guerras, contra as guerrilhas de esquerda e as máfias do tráfico, a Colômbia não tinha grandes problemas macroeconômicos, em parte porque a renda das drogas injetava dólares no país.

Essa situação começa a mudar na segunda metade dos anos 1990s, com a desaleceração do crescimento. Cerca de 3 milhões de pessoas estavam desempregadas e 1,5 milhão deslocadas pela guerra.

De 1991-96, o financiamento da guerra custou 1,5% do produto interno bruto ao governo da Colômbia. A paz traria dividendos de US$ 920 milhões por ano, estimou o Banco Mundial no ano 2000. As vítimas de sequestro e extorsão estavam pagando US$ 400 milhões por ano em resgate.

Se a violência na Colômbia tem raízes na pobreza, na desigualdade e na exclusão social, foi exacerbada nos anos 1980s e 1990s pela violência do tráfico, dos guerrilheiros de esquerda e dos paramilitares de direita. A paz exigiria reformas, desenvolvimento econômico e justiça social, recomendou o Banco Mundial.

NEGOCIAÇÕES DE PAZ
Desde 1982, os governos colombianos alternam estratégias militares e de negociação para tentar controlar os grupos guerrilheiros esquerdistas.

O ataque do M-19 ao Palácio da Justiça foi uma ruptura dos Acordos de Corinto, de 24 de agosto de 1984, que os guerrilheiros disseram ter sido violados pelo governo Belisário Betancur (1982-86).

Em 1990, o presidente Virgilio Barco fechou acordos com o M-19, o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, o EPL e o MAQL.

UNIÃO PATRIÓTICA
Uma das razões do fracasso do processo de paz foi o assassinato sistemático em campanha terroristas de militantes que esquerda que abandonaram a luta armada para lutar pelo poder pacificamente.

Só um partido, a União Patriótica, fundada em 1985, teve mais de 5 mil militantes mortos por paramilitares, forças de segurança e traficantes, inclusive dois candidatos a presidente, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, 21 parlamentares, 11 prefeitos e 70 vereadores.

Em 9 de julho de 2013, o Conselho de Estado voltou a reconhecer a UP como partido político. Ela tinha perdido o registro ao não conseguir representação no Congresso nas eleições de 2002. Há um documentário disponível na Internet, Memória dos Silenciados: o Baile Vermelho, sobre o massacre da UP.

ESFORÇO DE PAZ
O esforço de paz foi retomado com mais vigor pelos governos Ernesto Samper (1994-98) e Andrés Patrana (1998-2002).

Samper aprovou leis para criar o marco de negociações com a guerrilha, proteger menores de conflitos armados, dar atendimento às vítimas da violência, conceder anistia e fazer reforma agrária usando terras apreendidas de traficantes de drogas.

SÍNDROME DE ESTOCOLMO
Antes de ser prefeito de Bogotá (1988-90) e presidente, Pastrana foi sequestrado pelo Cartel de Medelim, que se infiltrara em sua campanha, em 18 de janeiro de 1988, na luta para evitar a extradição de um de seus chefões, Jorge Luis Ochoa. Seu pai, o ex-presidente Misael Pastrana Borrero (1970-74), era na época o maior expoente do conservadorismo na Colômbia.

No dia da libertação de Pastrana, 25 de janeiro de 1988, o cartel matou o procurador-geral da República, Carlos Mauro Hoyos.

Pastrana saiu do sequestro com uma espécie de Síndrome de Estocolmo, o fenômeno pelo qual reféns criam laços e empatia com seus sequestradores. Durante a campanha, fez contatos com as FARC. Chegou a ser fotografado junto de Pedro Antonio Marín, mais conhecido pelo nome de guerra, Manual Marulanda, e pelo apelido de Tirofijo (Tiro Certeiro), comandante supremo do maior grupo guerrilheiro colombiano.

ZONA DESMILITARIZADA
Eleito, Pastrana abriu imediatamente negociações, oferecendo à guerrilha em 8 de outubro de 1998 uma zona desmilitarizada de 42 mil km2 em quatro municípios da bacia do Rio Caguán, nos departamentos de Caquetá e Meta. Em 7 de novembro de 1998, as forças de segurança deixaram a área.

Com o fim da União Soviética e do mundo comunista, as guerrilhas de esquerda perderam os patrocinadores e passaram a se associar ao narcotráfico, cobrando “impostos” e “pedágio” nas “zonas liberadas". Depois, passaram até mesmo a explorar diretamente o negócio

Isso lhes dava uma renda de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões por ano. Considerando o destino trágico de tantos militantes esquerdistas que abandonaram as armas, passaram à vida civil e foram mortos, não havia grande estímulo ao processo de paz.

PLANO COLÔMBIA
Enquanto negociava sem sucesso com as FARC e o ELN, Pastrana fechou um acordo com o governo Bill Clinton para receber ajuda militar e econômica dos EUA a fim de combater as guerrilhas esquerdistas e o tráfico de drogas no Plano Colômbia.

Pastrana o descreveu como um Plano Marshall (ajuda dos EUA para reconstrução da Europa depois da Segunda Guerra Mundial) “para desenvolver grandes projetos e investimentos no campo social para que os agricultores tenham alternativa às culturas ilícitas”.

AJUDA MILITAR
Na sua versão original, o Plano Colômbia seria dividido em 55% de ajuda militar e 45% de ajuda ao desenvolvimento. No primeiro ano, foram 78% para as Forças Armadas e a Polícia Federal; depois, esse percentual caiu para 68%.

Outra crítica foi à fumigação das plantações de coca, capaz de causar danos ao meio ambiente e à saúde das populações locais.

Até hoje, os EUA deram cerca de US$ 8 bilhões ao Plano Colômbia.

Por força de um acordo de outubro de 2009, a Colômbia cedeu sete bases militares em seu território para uso pelas Forças Armadas dos EUA, sob protesto dos outros países da América do Sul, inclusive o Brasil.

NEGOCIAÇÃO FRACASSA
Em fevereiro de 2002, Pastrana suspendeu as negociações de paz com os grupos guerrilheiros e a senadora franco-colombiana Íngrid Betancour foi sequestrada quando fazia campanha eleitoral para presidente pelo Partido Verde na zona desmilitarizada de El Caguán.

Íngrid acusou o governo Pastrana de não oferecer a segurança necessária a uma campanha presidencial. Um de seus sequestradores diria mais tarde que o sequestro não foi planejado. Ela foi de carro até uma barreira das FARC.

Nos próximos seis anos e meio, Íngrid Betancur foi a refém mais valiosa da guerrilha colombiana.

SEGURANÇA DEMOCRÁTICA
Com o fracasso das negociações de paz, em 26 de maio de 2002, foi eleito Álvaro Uribe Vélez com 53% dos votos, primeiro candidato a ganhar a eleição presidencial no primeiro turno desde que esse sistema foi adotado, na Constituição de 1991.

Sua plataforma eleitoral, chamada de programa de Segurança Democrática, defendia o enfrentamento armado da guerrilha, negando legitimidade a “uns caras que estão há 40 anos escondidos no meio do mato dando tiros”.

VIGILANTES
Em entrevista na Embaixada da Colômbia em Londres, o presidente eleito afirmou que seu país precisa de uma “vigilância da vizinhança”, a exemplo do que existe em países como os EUA.

Como num país violento ninguém denuncia ninguém ser ter proteção, a declaração foi interpretada como um apoio aos grupos paramilitares de direita, as Autodefesas Unidas da Colômbia, que haviam se unido no fim dos anos 1990s.

TERROR NA POSSE
Três bombas explodiram em Bogotá horas antes da posse de Uribe, em 7 de agosto de 2002, matando 19 pessoas e ferindo outras 60. O governo culpou as FARC.

O presidente deixou claro que só negociaria com grupos armados que cessassem as hostilidades e as atividades “terroristas”, negando mais uma vez legitimidade à luta armada. Quando ele chegou ao poder, até mesmo uma curta viagem de ônibus poderia terminar em extorsão e sequestro.

PARAMILITARES
Depois de perder um referendo sobre medidas de austeridade em 2003, Uribe negociou a desmobilização das AUC. Até 2006, mais de 31 mil abandonaram as armas. A Corte Suprema mandou prender parlamentares ligados a paramilitares.

Em 2004, pela primeira vez, o Estado colombiano estava presente em todos os 1.099 municípios do país.

QUEDA NA VIOLÊNCIA
De 2002 a 2008, o número de homicídios caiu 44%, o de sequestros 88%, o de atos terroristas 79% e os ataques à infraestrutura do país 60%. As ações armadas contra cidades do interior diminuíram 91% de 2002 a 2005.

O sucesso na política de linha dura levou à reeleição de Uribe no primeiro turno com 62% votos, em 2006, e a atritos com os presidentes esquerdistas de países vizinhos, Hugo Chávez, da Venezuela; e Rafael Correa, do Equador.

ATAQUE NO EQUADOR
A tensão chegou ao máximo quando um ataque da Colômbia matou o subcomandante-chefe das FARC, Raúl Reyes, em 1º de março de 2008, em território do Equador, sem pedir autorização ao país vizinho, gerando uma crise internacional resolvida no âmbito da OEA com importante mediação do Brasil.

Ainda em março de 2008, as FARC perderam seu comandante histórico e outros chefes. Manuel Marulanda morreu de ataque cardíaco, e o comandante Iván Ríos foi assassinado por um traidor subornado pelo governo Uribe.

ÍNGRID LIBERTADA
Em 2 de julho de de 2008, uma operação militar resgatou Íngrid Betancourt, além de três cidadãos americanos e 11 soldados do Exército da Colômbia sequestrados havia mais de 10 anos pelas FARC.

Com as sucessivas derrotas, o total de guerrilheiros das FARC caiu sob Uribe de cerca de 19 mil para 8 mil.

SEM REELEIÇÃO
Os partidários de Uribe chegaram a propor um referendo para que ele pudesse concorrer a um terceiro mandato. Em 26 de fevereiro de 2010, a Corte Suprema rejeitou a proposta de realização da consulta popular.

O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, foi eleito presidente no segundo turno, em 20 de junho de 2010, com 69% dos votos, contra 27,5% do ex-prefeito verde de Bogotá Antanas Mockus.

NEGOCIAÇÃO COM GUERRILHA
Sob protesto de Uribe, em 27 de agosto de 2012, Santos anunciou a abertura de negociações de paz com as FARC, iniciadas 18 de outubro do mesmo. O presidente também abriu diálogo com o ELN.

Santos gostaria de concluir as negociações até novembro de 2013 para submeter os acordos de paz a referendos paralalemente à eleição presidencial de maio de 2014.

As FARC são contra o referendo. Exigem uma reforma agrária e a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Mais uma vez, as negociações estão ameaçadas. O ex-presidente linha dura Álvaro Uribe acusa o presidente Juan Manuel Santos, seu ministro da Defesa, de se render às FARC e ao ELN.

IMPASSE
Até agora, o único compromisso importante foi a promessa do governo de realizar uma reforma agrária, uma reivindicação das FARC desde que nasceram como uma guerrilha rural de resistência durante o período de La Violencia.

As negociações emperraram no segundo ponto, a reintegração dos guerrilheiros à vida civil. As FARC exigem condições especiais, como acesso aos meios de comunicação e reserva de vagas no Congresso que são inaceitáveis para a maioria do eleitorado e não têm a menor chance de aprovação em referendo.

Os outros itens na pauta são o fim das hostilidades, o combate ao tráfico de drogas e os direitos das vítimas do conflito. As FARC queriam incluir temas como modelo econômico e reforma do Estado, que o governo rejeitou, considerando-os inaquedados para um acordo de paz.

Santos não garantiu anistia aos rebeldes e o Congresso já aprovou um referendo, repudiado pela guerrilha porque é extremamente impopular. Cerca de 76% dos colombianos não acreditam que os guerrilheiros queiram mesmo a paz e 67% não acreditam num acordo.

RELAÇÕES COM O BRASIL
Os dois países são vizinhos na Amazônia, uma região problemática do lado colombiano por causa da guerrilha e do tráfico de drogas, com uma fronteira comum de 1.643 km.

O Brasil sempre adotou uma posição de absoluta neutralidade em relação aos conflitos internos da Colômbia, tentando evitar qualquer tipo de ingerência. Isso o qualificou como mediador, por exemplo, nas negociações para libertar reféns dos grupos rebeldes.Várias vezes foram utilizados helicópteros do Exército Brasileiro.

COOPERAÇÃO EM DEFESA
Antes de tomar posse, em 7 de agosto de 2002, o presidente Álvaro Uribe pediu a ajuda do governo Fernando Henrique Cardoso e do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), propondo uma cooperação no combate ao tráfico de drogas.

Em 17 de janeiro de 2012, os ministros da Defesa do Brasil, Celso Amorim, e da Colômbia, Juan Carlos Pinzón, criaram uma Comissão Binacional de Defesa para combater o crime transnacional, troca de informações entre os serviços secretos e fortalecimento da indústria bélica.

COMÉRCIO BILATERAL
De 2002 a 2010, o comércio bilateral passou de US$ 747 milhões para US$ 3,27 bilhões, um crescimento de quase 16,5% ao ano.

No mesmo período, as exportações brasileiras passaram de US$ 638,5 milhões para US$ 2,19 bilhões, em 2010, enquanto as colombianas saltaram de US$ 108,49 milhões para US$ 1,07 bilhão.

O Brasil exporta pricipalmente caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e elétricos (19,5%), ferro e aço (8,1%), veículos, automóveis e tratores (7,1%) e cereais (5,9%).

 O Brasil importa mais combústíveis, óleos e ceras minerais (36,8%), plásticos (24,4%), borracha e derivados (9,3%) e ferro fundido, ferro e aço (4,5%).

O estoque de investimentos brasileiros na Colômbia é da ordem de US$ 3 bilhões de dólares.

Os EUA são o maior parceiro comercial da Colômbia, com cerca de 30% de seu comércio exterior. O Brasil é o 9º com 2%.

CULTURA
As culturas pré-colombianas, do colonizador espanhol e dos escravos africanos formaram a cultura colombiana, hoje fortemente influenciada pelos Estados Unidos. Geográfica e culturalmente, a Colômbia é um país dividido em regiões com identidades distintas.

Enquanto cidades como Barranquilla e Cartagena, no Mar do Caribe, tem uma cultura alegre e tropicalista, com forte influência africana e um carnaval famoso, metrópoles do altiplano como Bogotá, Cáli e Medelim tem uma cultura mais europeia e introvertida.

Desde o período colonial, Santa Fé de Bogotá foi um grande centro cultural, a “Atenas da América do Sul”.

ARTES PLÁSTICAS
O mais importante artista plástico colombiano é o pintor e escultor Fernando Botero, que partiu de uma temática local para adquirir caráter universal.

Outros pintores importantes, estão Andrés de Santa María, Ricardo Acevedo Bernal, Darío Morales, Débora Arango e Ignacio Gómez Jaramillo.

Na escultura, os destaques são Rodrigo Arenas Betancourt e Nadín Ospina. Há ainda os pintores e escultores como Botero, Enrique Grau, Francisco Antonio Cano, Julio Abril, Beatriz González e Luis Alberto Acuña.

Em 1949, o colombiano Leo Matiz Espinosa foi eleito um dos dez melhores fotógrafos do mundo.

MÚSICA
Além dos gêneros tradicionais como o bambuco, a cúmbia e o vallenato, a cantora colombiana Shakira é o maior fenômeno da música pop latino-americana. Outro colombiano, o cantor Juanes, é o maior ganhador de Grammys Latinos.

As radios tocam do rock, jazz e pop a baladas românticas e ritmos regionais como a salsa e o merengue dominicano.

Bogotá, Barranquila, Cáli e Medelim organizam seus próprios festivas de jazz. Cada uma tem sua orquestra sinfônica.

LITERATURA
A Colômbia criou em 1871 a primeira academia nacional de língua espanhola da América Latina. Sua literatura vem do período colonial, com Hernando Domínguez Camargo, autor de um poema épico em homenagem a Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem dos jesuítas, Juan Rodríguez Freyle e a monja Francesca Josefa del Castillo.

Depois da independência, destacaram-se Antonio Nariño, José Fernández Madrid, Camilo Torres e Rafael Pombo. No século 20, o poeta Jorge Rojas e Gonzalo Arango, que criou o movimento nadaísmo em protesto durante o período de guerra civil conhecido como La Violencia (1946-64).

GARCÍA MÁRQUEZ
O maior nome da literatura colombiana é Gabriel García Márquez, considerado um dos mestres do “realismo mágico” latino-americano. É autor de Cem Anos de Solidão (1967), que lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, O Outono do Patriarca, Ninguém Escreve ao Coronel, O Amor nos Tempos de Colera, Notícia de um Sequestro, Minhas Tristes Putas, entre outras obras

Cem Anos de Solidão foi lançado em 1967 em Buenos Aires com uma tiragem de 8 mil exemplares. Já vendeu 30 milhões de cópias em 36 línguas. Foi considerado pelo jornal francês Le Monde um dos 100 melhores livros do século 20.

A essência de um país belo e trágico está na sua literatura: “Quando Aureliano Buendía voltou ao povoado, a guerra civil havia terminado. Talvez não restasse ao novo coronel nada que lembrasse a áspera peregrinagem. Restava-lhe apenas o título militar e uma vaga inconsciência de seu desastre. Mas lhe restava também a metade da morte do último Buendía e uma ração inteira contra a fome. Restava-lhe a nostalgia da vida doméstica e o desejo de ser dono de uma casa tranquila, aconchegante, sem guerra, que tivesse um portal alto para receber o sol e uma rede no quintal, estendida entre duas forquilhas.”

O sucesso de García Márquez abriu espaço para outros escritores colombianos, como Eduardo Caballero Calderón, Manuel Mejía Vallejo e Álvaro Mutis, único colombiano ganhador dos prêmios espanhóis Cervantes e Príncipe de Astúrias – além de Fernando Vallejo e Germán Castro Caycedo, quem mais vende livros na Colômbia depois de Gabo.

GASTRONOMIA
Num país com divisões regionais tão claras, a gastronomia segue esta tendência. Na Amazônia, um dos pratos típicos é a patarashca, um peixe temperado com alho, cebola e pimenta, e assado envolto em folha de bananeira. Acompanham banana frita e farinha de mandioca.

No montanhoso Departamento de Antióquia, com capital em Medelim, é tradicional a bandeja paiça, com carne, arroz, feijão, uma fritura e banana. O pegado é feito com restos raspados de paneladas e tachos e o requentado feito com restos do dia anterior.

Outro pratos típicos da região são o mondongo antioquenho e o sancocho antioqueño, um cozido com várias variedades de carnes (boi, frango e porco, podendo ser uma só), batata, cenouro e banana engrossado com aipim.

Nos departamentos de Boyacá e Cundinamarca, fazem-se o puchero (cozido) boyacense, o caldo de batatas, as sopas de alho com legumes ou tubérculos

Nas planícies orientais, o prato típico é o terneiro assado. O caldo de cana também é popular na região. Outra iguaria do Leste do país é o leitão tolimense, assado em forno de barro.

A culinária do Vale do Rio Cauca produz cozidos de galinha, a lulada, os tamales de farinha de milhos, a sopa de tortilhas, o pão de aipim e o pão de bono, feito com farinha de milho, mandioca fermentada, ovo e queijo, o que o torna parecido com o pão de queijo brasileiro.

Na costa do Oceano Pacífico, há uma ampla variedade de pratos com peixes e mariscos, como o ceviche de camarões, os pastéis de forno (empanadas) de peixe e a caldeirada de frutos do mar.

Da mesma forma, na costa e nas ilhas do Mar do Caribe, é grande o consumo de pescados, geralmente acompanhados de arroz como o de coco e feijão preto. As carnes de animais selvagens como coelho, pato e tatu também são apreciadas.

ESPORTE
O boxe é o esporte que deu mais títulos mundiais à Colômbia, a começar pelo lendário Antonio Cervantes, duas vezes campeão na categoria meio-médio-ligeiro, de 1972 a 1976, recuperando depois o título em 1977; Rodrigo Rocky Valdez, duas vezes campeão na categoria peso médio, em 1974 e 1977; e Miguel Happy Lara Escudero, campeão mundial na categoria peso galo, a mesma que deu fama a Éder Jofre, de 1985 a 1988.

O beisebol é muito popular na costa do Mar do Caribe, como em Cuba e na Venezuela, por causa da influência dos EUA. Lá, em Cartagena, a seleção colombiana ganhou a Copa Mundial em 1947 e 1965. Cinco colombianos jogam na liga profissional dos EUA.

Outro esporte popular é o ciclismo. Desde os anos 1980s, os colombianos se destacam em provas de estradas como as voltas ciclísticas da Espanha, da França e da Itália, entre eles Luis Herrera, Fabio Parra, Santiago Botero, Nairo Quintana e Rigoberto.

OLIMPÍADAS
Ao lado do halterofilismo, o ciclismo é o esporte que mais deu medalhas olímpicas à Colômbia. Ao todo, foram duas de ouro, seis de prata e 11 de bronze.

A primeira medalha foi de prata para Helmut Bellingrodt no tiro ao alvo em Munique 1972. O primeiro ouro foi para a halterofilista María Isabel Urrutia na categoria até 75 kg em Sídnei 2000.

Também ganharam medalha para a Colômbia em Jogos Olímpicos o atletismo, boxe, judo, luta grego-romana e tae kwondo.

CICLISMO
No ciclismo, foram premiados: Mariana Pajón, ouro em BMX em Londres 2012; Rigoberto Urán, prata em ciclismo de estrada em Londres 2012 e vice-campeão do Giro de Italia 2013; María Luisa Calle, bronze em ciclismo de rua em Atenas 2004; e Carlos Mario Oquendo, bronze em BMX em Londres 2012.

Martín Emilio Cochise Rodríguez foi recordista mundial da hora em  1970 e campeão mundial da perseguição individual em 1971.

ATLETISMO
No atletismo, vários colombianos ganharam a corrida rústica São Silvestre, disputada tradicionalmente nas ruas de São Paulo em 31 de dezembro, Álvaro Mejía (1966), Domingo Tibaduiza (1977) e o supercampeão Víctor Mora (1972, 1973, 1975 e 1981).

Caterine Ibargüen foi medalha de prata no salto triplo feminino com 14,80 m  nos Jogos de Londres, em 2012, e campeã mundial em Moscou, em 2013, com 14,85 m. Sua melhor marca, 14,99 m, é de 13 de agosto de 2011, em Bogotá.

Na patinação em velocidade, a Colômbia é a maior potência mundial, com 11 títulos, três vice-campeonatos, dois terceiros e dois quartos lugares em campeonatos mundiais.

A Colômbia tem também dois títulos mundiais de futsal (2000, 2011).

FUTEBOL
O futebol é o esporte mais popular do país. A seleção colombiana disputou as Copas de 1962, 1990 (empatou com a campeã, Alemanha), 1994, 1998 e 2014, com participação discreta.

Sua maior conquista foi a Copa América de 2001, batendo o México na final em Bogotá por 1-0, gol de Iván Ramiro Córdoba.

BRASIL X COLÔMBIA
Os dois países se enfrentaram 24 vezes desde o primeiro jogo, em Santiago do Chile, pela Copa América, em 1945, vencido pelo Brasil por 3-0. Só disputaram partidas oficiais em eliminatórias da Copa do Mundo e pela Copa América.

O Brasil ganhou 15 vezes, empatou sete e perdeu apenas duas, em 1985, em amistoso em Bogotá, por 1-0 e, na Copa América 1991, em Santiago do Chile, por 2-0.

GERAÇÃO DE OURO
A geração de ouro, com Carlos Valderrama, Faustino Asprilla, Freddy Rincón e René Higuita, ganhou de 5-0 da Argentina em Buenos Aires diante de 75 mil pessoas no estádio Monumental de Núñez, em 1993, nas eliminatórias para a Copa de 1994. Chegou a ser apontada como favorita por Pelé. Não passou da primeira fase.

Na volta à Colômbia, o zagueiro Andrés Escobar, que fez um gol contra no jogo com os EUA, foi assassinado em Medelim, em 2 de julho de 1994.

SEGUNDO LUGAR
A atual seleção se classificou em segundo lugar na chave sul-americana com 30 pontos, atrás apenas da Argentina. Seu grande craque, Radamel Falcao García, batizado em homenagem a Paulo Roberto Falcão. Ele começou em 1999 nos Lanceros, de Boyacá, passou pelo River Plate (2005-9), Porto (2009-11), Atlético de Madrid (2011-13), agora defende o Mónaco e estaria sendo cotado pelo Real Madrid. Em 49 partidas pela seleção colombiana, marcou 19 gols.

A transferência de Falcão García para o Mónaco, que disputa o Campeonato na França, custou 60 milhões de euros. Ele assinou contrato por cinco anos para ganhar 14 milhões de euros por temporada. É um dos jogadres mais bem pagos do mundo.

CLUBES
No futebol colombiano, os grandes rivais são o Milionários e o Santa Fé, em Bogotá; Nacional e Deportivo Independiente, em Medelim; América e Deportivo, em Cáli. Os clubes de futebol foram usado para lavar o dinheiro sujo do tráfico de drogas nos anos 1980s.

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