sábado, 21 de junho de 2014

Nigéria é o país mais rico da África

A Nigéria é um país de 924 mil quilômetros quadrados, pouco maior do que o estado do Mato Grosso, situado no Leste da África, na região do Golfo da Guiné. A bacia do Rio Níger, que lhe deu o nome, abrange quase todo o território, fertilizando o solo e mantendo 51% da população no campo, mas há regiões áridas no Norte do país, que fica no sul do Deserto do Saara.

A atividade agrícola é intensa, mas a base da economia nigeriana é o petróleo, responsável por 90% das exportações. A Nigéria é o maior produtor de petróleo da África e 12º do mundo, com cerca de 2,5 mil barris por dia, e o 9º maior exportador mundial.

País mais rico da África negra ou subsaariana, que acaba de ultrapassar a África do Sul depois de revisar o cálculo do produto interno para incluir novos setores da economia, a Nigéria é líder da Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental. Tem forte relação com o Brasil. De lá, vieram a cultura iorubá e o candomblé, a principal religião afro-brasileira.

No momento, o país enfrenta uma violenta rebelião de extremistas muçulmanos do grupo Boko Haram, que raptou em abril mais de 280 meninas de um internato de segundo grau.

Em janeiro de 2014, a Nigéria assumiu uma das vagas temporárias reservadas à África no Conselho de Segurança das Nações Unidas por um período de dois anos.

GOVERNO
A República Federal da Nigéria é formada por 36 estados e o distrito federal. Em 1991, a capital foi transferida de Lagos, a maior cidade e principal centro econômico, para Abuja, construída no centro do país para promover o equilíbrio entre o Sul rico e o Norte pobre.

Desde a independência do Império Britânico, em 1º de outubro de 1960, a Nigéria enfrentou uma das mais violentas guerras civis da História da África. Sofreu sete golpes de Estado. Foi governada por ditaduras militares durante 28 anos. Três presidentes nigerianos foram mortos no exercício do cargo.

O atual presidente, Goodluck Jonathan, um cristão sulista do Partido Democrático Popular, assumiu o cargo com a morte do presidente Umaru Yar’Adua por problemas cardíacos, em 2010. Jonathan foi reeleito em 2011 para um mandato de quatro anos, rompendo um acordo tácito que prevê um rodízio entre cristãos e muçulmanos na Presidência e é candidato à reeleição em 2015.

POPULAÇÃO
Com 177 milhões de habitantes, a Nigéria é o sétimo país mais populoso do mundo.  Tem a maior população da África e a maior população negra do mundo. O Brasil vem em segundo lugar.

A Nigéria tem a segunda maior diversidade étnica e linguística do mundo, depois da Indonésia. São mais de 300 povos que falam mais de 400 línguas diferentes.

Os três maiores grupos étnicos – hauçás-fulânis, iorubás e ibos – representam 70% do total.

Cerca de 45% dos nigerianos são muçulmanos, 45% são cristãos e os outros 10% professam religiões africanas. O candomblé tem origem na cultura iorubá.

Mais de 2 milhões de nigerianos têm curso superior. É a maior e mais qualificada elite negra do continente, e a com maior poder aquisitivo.

“A Nigéria está cheia de inflação, corrupção, injustiça, assassinato, assaltos, má administração, tráfico de drogas, fome, safadeza, desonestidade e estupidez… Mas ainda assim é um país abençoado.” (Ken Saro-Wiwa, escritor, jornalista e ativista ambiental preso e enforcado pela ditadura do general Sani Abacha).

PRÉ-HISTÓRIA
O homem habita o que hoje é a Nigéria há milhares de anos. Os fósseis humanos mais antigos, encontrados em Iwo Eleru, são de 9 mil antes de Cristo. Há várias coleções de objetos da Idade da Pedra.

A primeira sociedade organizada foi produto da cultura Nok, uma das mais avançadas civilizações da África Ocidental. Ela se desenvolveu ao redor da cidade de Nok de 500 AC até 200 DC e produziu belas esculturas em barro.

O Norte se converte ao islamismo a partir do século 11, com o comércio de caravanas que circulavam entre o Egito e o Golfo da Guiné.

ESCRAVIDÃO
Os iorubás do Sul da Nigéria, de tanta influência na cultura afro-brasileira, são descendentes da cultura Nok. A partir do século 16, eles enriqueceram com o tráfico de escravos. Se os europeus buscavam escravos na costa, os próprios africanos os capturavam no interior do continente e vendiam seus inimigos aos brancos.

Com o fim do tráfico de escravos no século 19, perderam riqueza e poder.

Na luta com Portugal pelo controle do tráfico de escravos, a Inglaterra domina o litoral da África Ocidental no século 16, mas só começa a ocupação efetiva no século 19, quando a industrialização da Europa exigia ainda mais recursos naturais da África, loteada entre as potências europeias na Conferência de Berlim (1884-85).

BATISMO E UNIÃO
O nome Nigéria foi dado por Flora Shaw, jornalista do jornal The Times, de Londres, casada com o administrador colonial britânico Frederick Lugard, que juntou em 1914 a Nigéria do Norte com a Nigéria do Sul.

Ao reunir tribos com culturas muito distintas, o Norte muçulmano com o Sul cristão e animista, Lugard selou a divisão que até hoje atormenta a Nigéria. Também criou uma administração indireta, delegando poderes a chefes locais.

A criação de assembleias regionais pela Constituição de 1946 dificultou ainda mais o processo de unificação do país.

INDEPENDÊNCIA
Nos anos 1920s, começa a surgir um movimento pan-africano pelo fim do racismo e do colonialismo europeu. Em 1923, Herbert Macaulay funda o primeiro partido político do país, o Partido Democrático Nacional Nigeriano.

O Movimento da Juventude Nigeriana surge em 1934. Em 1940, mais de 40 grupos formam o Conselho Nacional da Nigéria e de Camarões sob a liderança de Macauley e Nnamdi Azikiwe.

Os britânicos reagiram autorizando a criação, em 1951, de uma Câmara dos Deputados e de uma federação, em 1954.

Com a independência, em 1º de outubro de 1960, a Nigéria adota um regime parlamentarista com um primeiro-ministro eleito e um chefe de Estado com função cerimonial. Três anos depois, a Nigéria se transforma numa república. Azikiwe assume a presidência.

DEMOCRACIA FRACASSA
Depois da euforia inicial com a independência, os desequilíbrios econômicos regionais, tribais e religiosos desencadearam uma série de conflitos. A fraude nas eleições de outubro de 1965 levou a um colapso da ordem pública no Leste da Nigéria.

Em janeiro de 1966, um grupo de jovens do povo ibo tentou dar um golpe de Estado, matando o primeiro-ministro Balewa e dois governadores regionais. A tentativa do general Johnson Aguiyi Ironsi de abolir as regiões e impor um governo unitário causou violentos protestos contra os ibos no Norte.

Em julho de 1966, um grupo de oficiais do Norte da Nigéria deu um contra-golpe. Ironsi foi assassinado. O coronel Yakubu Gowon tomou o poder. Uma série de massacres interétnicos, em outubro de 1966, agravou a situação. O Sul, rico em petróleo, ameaçava se separar.

Numa última tentativa de manter a paz, o governo militar dividiu as quatro regiões do país em 12 estados, enquanto a Assembleia Consultiva do Leste autorizava o coronel Odumegwu Ojukwu a criar uma república independente.

GUERRA CIVIL
Em 30 de maio de 1967, Ojukwu declarou a independência de três estados do Leste, fundando a República de Biafra com o apoio da França. O governo federal da Nigéria, apoiado pelo Reino Unido, rejeitou a independência de Biafra.

Os combates, iniciados em julho de 1967, logo degeneraram numa guerra civil total. Os ibos cruzaram o Rio Níger, tomaram a cidade de Benin e marchavam rumo a Lagos quando foram detidos na cidade de Ore. Em seguida, o contra-ataque federal chegou a Enugu, a capital de Biafra.

FOME EM MASSA
Os próximos dois anos foram marcados pelo cerco e a paulatina redução do enclave de Biafra, com pesadas perdas entre a população e uma fome em massa. As imagens dos ibos de Biafra morrendo de fome são comparáveis às que o mundo veria em Bangladesh em 1971, na Etiópia em 1984 e na Somália em 1992.

Quando Biafra estava reduzida a um sexto de seu território, sem munição e sem comida, em 24 de dezembro de 1969, as tropas federais lançaram o assalto final. Em 15 de janeiro de 1970, depois da fuga de Ojukwu para a Costa do Marfim, Biafra se rendeu.

PACIFICAÇÃO
Mais de um milhão de pessoas foram mortas no mais sangrento conflito tribal da História da África antes da guerra civil na República Democrática do Congo, onde se estima que 5,4 milhões de pessoas morreram entre 1996 e 2002, na chamada Primeira Guerra Mundial Africana, que reuniu nove exércitos e centenas de grupos armados irregulares.

Por mais sangrenta que tenha sido a guerra civil de Biafra, a pacificação é considerada um modelo para acabar com guerras tribais na África. Se houvesse massacres e assassinatos em massa, talvez Biafra tivesse até hoje um grupo guerrilheiro.

Ao anunciar a vitória, o agora general Gowon declarou que “não há vencedores nem vencidos” e prometeu: “Eu solenemente repito nossas garantias de anistia geral para todos os que foram enganados a participar da rebelião. Eu garanto pessoalmente a segurança de quem se submeter à autoridade federal”.

Não foram permitidas retaliações de jovens oficiais que queriam se vingar nem exigidas compensações dos ibos. Não foram dadas medalhas e condecorações aos vencedores.

“Como resultado da guerra, acredito que a Nigéria aprendeu que um movimento político etnocêntrico não seria viável”, admitiu Emeka Ojukwu, líder da revolta e presidente de Biafra, em entrevista ao jornalista americano Blaine Harden, autor do livro África: despachos de um continente frágil, que aponta a Nigéria como uma das grandes esperanças da África negra.

CRISE DO PETRÓLEO
O boicote árabe à venda de petróleo ao Ocidente em resposta ao apoio ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, deflagrou a primeira crise do petróleo. Imediatamente os preços internacionais do produto quadruplicaram. Continuaram subindo nos anos seguintes e mais ainda quando uma revolução islâmica derrubou o Xá do Irã em 1979.

Nos anos 1970s e 1980s, US$ 100 bilhões entraram nos cofres do governo da Nigéria, mais do que qualquer país da África jamais tinha visto.

O custo econômico da euforia do petróleo foi maior do que o da Guerra de Biafra. Quando os preços do petróleo baixaram, no fim dos anos 1980s, a Nigéria acumulava uma dívida externa de US$ 29,2 bilhões.

O petróleo superou a agricultura como fonte de riqueza. As exportações agrícolas caíram de 90% para 3% do total. A população urbana passou de 15% para 30%; hoje está em 49%.

EUFORIA E CORRUPÇÃO
O acesso ao dinheiro público tornou-se o principal caminho para a fortuna. Centenas de milhares de nigerianos se apresentavam como “contratantes”, intermediários especializados em negociar qualquer coisa com o governo em troca de propina.

No auge da euforia do petróleo, dois de cada três dólares que entravam na Nigéria saíram para pagar importações. O país chegou a ser o maior importador mundial de champanhe.

Em 1975, a Nigéria encomendou 20 toneladas de cimento importado, embora seus portos tivessem capacidade de desembarcar apenas duas toneladas por ano.

DESPERDÍCIO
No romance sobre essa época de euforia e desperdício O Prisioneiro de Jebs, o jornalista, escritor e intelectual Ken Saro-Wiwa escreveu: “De todos os países que tinham o ouro negro, a Nigéria foi o único que não fez absolutamente nada com isso.

“Os árabes usaram seu petróleo não apenas para dar educação ao povo e uma grande parte para melhorar o nível de vida, eles também investiram seu dinheiro na Europa e nos EUA. Mas os nigerianos não investiram em nada. Absolutamente nada. Gastaram todo o dinheiro comprando comida importada que consumiram ou jogaram fora e no pagamento de navios que esperavam em alto mar para entregar comida.”

Em 1977, o general-presidente Olusegun Obasanjo, um dos heróis da Guerra de Biafra, que voltaria a ser presidente pelo voto popular, declarou que “a Nigéria é um lugar onde as pessoas estão preparadas para destruir tudo e acobertar qualquer crime, se isso promover seus interesses econômicos ou poder.”

Em 1979, com a eleição de Shehu Shagari, há um breve período democrático. Vai até 1983, quando Shagari é reeleito e deposto pelo general Muhammed Buhari, destituído por sua vez pelo general Ibrahim Babangida em 1985.

CAPITALISMO PIRATA
A democracia fracassou em 1966 por incompetência e em 1983 por ganância, afirma o jornalista Blaine Harden. Mas, acrescenta, nem uma cleptocracia é capaz de torrar US$ 100 bilhões sem resultados positivos.

O número de crianças nas escolas primárias triplicou. Em 1985, mais de 100 mil famílias nigerianas tinham filhos estudando no exterior.

Se a Guerra de Biafra mostrara que os conflitos tribais ameaçavam dividir o país, o “capitalismo pirata”, na visão do economista americano Sayre Schatz, ajudou a formar uma burguesia nacional em vez de regional ou tribunal.

 Isolado internacionalmente, Babangida convoca uma eleição presidencial para 1993, vencida pelo empresário oposicionista e líder iorubá Moshood Abiola, conhecido como Chefe Abiola. Babangida anula a eleição e transfere o poder a Ernest Shonekan.

DITADURA
Ainda em 1993, o ministro da Defesa, general Sani Abacha, derruba o governo, dissolve o Parlamento e impõe mais uma ditadura cruel à Nigéria. Abiola foi preso em 1994 por alegar que era o presidente legítimo da Nigéria e morreu na prisão, em 1998, por se negar a renunciar ao mandato. Sua mulher, que fazia campanha pela sua libertação, tinha sido assassinada em 1996.

Em O Prisioneiro de Jebs, Saro-Wiwa faz mais um terrível diagnóstico: “A Nigéria está cheia de inflação, corrupção, injustiça, assassinatos, roubos armados, má administração, tráfico de drogas, fome, safadeza, desonestidade e estupidez pura e simples… Mas ainda assim é um país abençoado.”

Na ditadura de Sani Abacha, Saro-Wiwa pagou com a vida por sua militância pacífica contra a contaminação ambiental do Delta do Rio Níger pela indústria do petróleo e pela melhor distribuição da riqueza gerada pelo petróleo. Em 1995, foi preso e enforcado.

MORTE SUSPEITA
A ditadura do general Abacha terminou subitamente. Em 8 de junho de 1998, ele morreu de um ataque cardíaco altamente suspeito. Nas fofocas diplomáticas que abundam no continente africano, diz-se que o ditador foi envenenado com um comprimido falsificado de medicamento contra a impotência sexual quando se divertia com duas prostitutas.

A partir das 8h, os ministros convocados para uma reunião ministerial marcada para as 9h foram orientados a voltar para casa. Abacha foi enterrado no mesmo dia, seguindo a tradição muçulmana, sem a realização de autópsia.

DEMOCRACIA
Assumiu o poder o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, general Abdulsalam Abubakar, que convocou eleições.

Em 1999, foi eleito o general Olusegun Obasanjo, herói da Guerra de Biafra. O Congresso foi reaberto e uma nova Constituição promulgada. Desde então, a democracia resiste na Nigéria.

Em 2003, o Partido Democrático Popular obteve maioria no Congresso e Obasanjo, um iorubá cristão do Sul, foi reeleito com 62%, vencendo outro ex-ditador, o general Muhammed Buhari, nortista e muçulmano.

Em 2007, o Senado vetou uma reforma constitucional para permitir que Obasanjo concorresse ao terceiro mandato. Foi eleito Umaru Yar’Adua, um muçulmano nortista, tendo como vice-presidente Goodluck Jonathan.

Com sérios problemas do coração, Yar’Adua foi se tratar na Arábia Saudita em novembro de 2009 e nunca mais reassumiu o cargo. Voltou à Nigéria em fevereiro de 2010 e morreu no início de maio do mesmo ano.

Jonathan foi reeleito em 2011. Tem planos de ser candidato em 2015, mas os muçulmanos do Norte devem exigir a Presidência da Nigéria, alegando que chegou sua vez. A rebelião do grupo muçulmano Boko Haram complica seus planos de reeleição.

REBELIÕES
O governo da Nigéria enfrenta duas revoltas populares. No Sul do país, o Movimento pela Emancipação do Delta do Rio Níger (MEND, do inglês), luta contra a poluição causada pela exploração de petróleo na região e pela melhor distribuição da riqueza do petróleo.

Depois do enforcamento do jornalista, escritor e ambientalista Ken Saro-Wiwa, muitos militantes do Delta do Níger decidiram abandonar os protestos pacíficos e partir para a luta armada.

O primeiro ataque do MEND matou nove italianos da companhia de petróleo italiana ENI em 2006. O grupo está ativo até hoje. Em 5 de maio de 2013, matou oito militantes acusados de colaborar com o governo.

JIHADISMO
A situação é mais grave no Norte da Nigéria. Desde 2009, o grupo Boko Haram (Educação ocidental é pecado, no idioma hauçá-fulâni) matou mais de 15 mil pessoas em sua luta para impor a lei islâmica, adotada por alguns estados do Centro e do Norte, a todo o país.

Nos últimos meses, a milícia atacou terminais de ônibus de Abuja para mostrar que está pronta para agir em todo o país. Vários suspeitos de pertenecer ao grupo foram presos recentemente a caminho da região petrolífera
do Sul da Nigéria.

Sua ação recente de maior impacto foi o rapto de mais de 280 meninas internadas numa escola do ensino médio no Nordeste do país. Apesar da forte reação internacional, até agora o governo nigeriano se mostra impotente.

O presidente Goodluck Jonathan chegou a oferecer uma anistia, ignorada pelos jihadistas, ideologicamente ligados à rede terrorista Al Caeda, talvez porque o presidente seja um cristão sulista.

Cientistas políticos nigerianos acreditam que o grupo só será controlado com a ajuda de clérigos muçulmanos que os proíbam de fazer a guerra santa (jihad). Mas políticos muçulmanos do Norte têm interesse no conflito para se apresentarem como solução, alegando que só um presidente muçulmano pode resolver o problema.

Em janeiro de 2012, surgiu a Vanguarda para a Proteção de Muçulmanos na África Negra (Ansaru), uma dissidência do Boko Haram que promete só atacar estrangeiros.

GUERRA AO TERROR
Superado o tribalismo, a religião tornou-se o maior foco de conflitos na Nigéria. A situação se agravou desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e da subsequente guerra dos EUA contra o terrorismo, e mais ainda com a intervenção militar da França, em janeiro de 2013, para combater jihadistas no Mali.

A Nigéria deveria dar o maior contingente da missão de paz africana que deve substituir os franceses com o aval do Conselho de Segurança da ONU, mas aparentemente reluta em se envolver num conflito com possíveis consequências internas.

ESPERANÇA
“Apesar de tudo, a Nigéria – horrível, feia, pretensiosa, louca por golpes e autodestrutiva – é a principal esperança da África negra para um futuro que não seja despótico, desesperado e dependente. Se o continente mais pobre do mundo for a algum lugar, é provável que a Nigéria chegue lá antes. Duas razões são tamanho e riqueza”, concluiu o jornalista Blaine Harden.

ECONOMIA
Em abril de 2014, o governo nigeriano anunciou uma elevação do produto interno bruto de US$ 273 bilhões em 2012 para US$ 510 bilhões em 2013, de acordo com uma nova metodologia de cálculo adotada para incluir novos setores da economia como informática, serviços e as indústrias de cinema e de automóveis.

Assim, a Nigéria superou a África do Sul para se tornar a maior economia da África, como registrou o jornal inglês The Guardian. Alguns economistas calculam que seria 40% maior se fosse computada a economia informal.

Em 2013, a economia nigeriana 6,2%, desacelerando-se em relação aos 6,6% de 2012. Nos últimos anos, apesar da crise internacional, a Nigéria cresceu 7% em 2009, 6% em 2008, 7% em 2009, 8% em 2010, 7,2% em 2011 e 7,1% em 2012.

A renda média por habitante é de US$ 2.923 mil por ano. A taxa de poupança foi de 15,5% do PIB em 2013, insuficiente para os investimentos necessários ao desenvolvimento do país. A inflação ficou em 8,7%.

Cerca de 45% dos 167 milhões de nigerianos vivem na miséria. Por causa da corrupção, o Banco Mundial acredita que só 1% se beneficia da riqueza do petróleo. O governo fica com 80%.

PETRÓLEO
Maior produtor de petróleo da África e 12º do mundo, com cerca de 2 milhões de barris por dia, a Nigéria é o 9º maior exportador mundial, apesar dos ataques guerrilheiros no Delta do Níger, que já a fizeram cair para o segundo lugar na África, atrás de Angola. Tem a 12ª maior reserva mundial de petróleo comprovada e a 8ª maior de gás natural.

O petróleo e o gás natural são responsáveis por 95% das exportações e 80% da arrecadação do governo. Outros produtos de exportação são cacau, bauxita, alumínio, tabaco e borracha.

Com expectativa de vida média de 52 anos e cinco anos e dois meses de escolaridade para a população adulta, é o 153º país pelo índice de desenvolvimento humano da ONU.

A produção agrícola, responsável por 39% do PIB e dois terços do emprego, é a maior da África e sexta maior do mundo.

Em 2005, o economista Jim O’Neill, que havia criado a sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China em 2001 para dizer que esses países seriam os grandes motores da economia mundial na primeira metade do século 21, colocou a Nigéria num grupo que chamou de Próximos Onze, as próximas onze economias emergentes do mundo globalizado ao lado de Bangladesh, Coreia do Sul, Egito, Filipinas, Indonésia, Irã, México, Paquistão, Turquia e Vietnã.

PIRATARIA NO MAR
Como a Nigéria é grande produtora de petróleo mas não tem refinaria, há um intenso movimento de entrada e saída de petroleiros de seus portos, exportação ilegal e contrabando de derivados. Por causa disso, o Golfo da Guiné e a Nigéria superaram o Chifre da África e a Somália como região com mais atos de pirataria no mar no mundo inteiro, com mais de 900 casos registrados em 2012.

A Marinha do Brasil, preocupada com a segurança no Atlântico Sul e com as reservas de petróleo da camada pré-sal, observa esse quadro com atenção

RELAÇÕES COM O BRASIL
Hauçás e iorubás, inimigos mortais na Nigéria, tornaram-se aliados no Brasil para lutar contra a escravidão. A cultura iorubá deu ao Brasil a religião do candomblé graças a Martiniano Elyseu do Bonfim. Seu nome iorubá era Òjélàdé.

Filho de escravos que tinham comprado sua liberdade, Martiniano nasceu livre na Bahia em 1859. Em 1875, ele foi enviado pelo pai para estudar em Lagos, onde ficou 11 anos, aprendeu inglês e iorubá, a estudou a religião dos orixás.

CANDOMBLÉ
De volta a Salvador, Martiniano fundou em 1910 com a ialorixá (mãe de santo) Mãe Aninha o Axé Opô Afonjá, primeiro terreiro de candomblé do Brasil.

Quando intelectuais como o escritor Jorge Amado começaram a frequentar o terreiro, o candomblé deixou de ser visto como uma crendice primitiva de negros tolos e ignorantes. Passou a ser considerado uma contribuição africana importante para a cultura brasileira.

CULINÁRIA
No sexto maior produtor agrícola do mundo, a cozinha é rica, variada, colorida e apimentada, parecida com a baiana, com moquecas e ensopados. Usa muito leite de coco e azeite de dendê, carnes de animais domésticos e de caça, aves, peixes e frutos do mar.

Entre os pratos mais pedidos de um restaurante iorubá no Rio de Janeiro, estão o ebulu fulô, peixe com leite de coco, camarão defumado e purê de banana-da-terra.

A Nigéria é um dos maiores produtores mundiais de mandioca, a comida dos pobres na África.

MÚSICA
Quando a escravidão foi finalmente abolida na América, no fim do século 19, muitos escravos libertos voltaram para a África, levando consigo a influência da música do Brasil e de Cuba. Desse cruzamento nasceu a música juju, misturando a tradicional percussão iorubá com ritmos importados do Brasil e da região do Mar do Caribe.

Um dos grandes expoentes da música juju é o nigeriano King Sunny Adé.

Outro nome importante da música nigeriana é Fela Kuti, pioneiro do Afrobeat
e defensor dos direitos humanos que morreu de aids, outra tragédia nacional (dois terços dos casos de aids do mundo foram registrados na África), em 1997. Seu filho mais velho, Femi Kuti, dá continuidade à sua obra e à defesa dos direitos humanos.

CINEMA
Com a realização de mais de mil filmes por ano, a Nigéria superou a Índia e os EUA no início do século 21 para se tornar o maior país produtor de cinema do mundo. É uma produção na maioria das vezes amadorística, de baixa qualidade, muito inferior à da Índia, mas serve para reafirmar a identidade nacional.

A indústria audiovisual, conhecida como Nollywood, produz em média 200 vídeos por mês para o mercado interno, faturando US$ 250 milhões por ano, informou a televisão americana CNN.

LITERATURA
O escritor que traduziu a África do século 20, Chinua Abebe, era um ibo, povo que ocupa as terras do Sudeste da Nigéria entre os rios Níger e Cross. Ele transformou o idioma do colonizador numa arma de inconformidade, rebeldia e resistência.

Wole Soyinka, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1986, é iorubá.

Em O Mundo se Despedaça, de 1958, seu livro mais famoso, Abebe conta como a chegada do colonizador destruiu a sociedade tradicional africana.

Depois da independência, da descolonização da África, uma época de euforia e esperança, Abebe escreve A Flecha de Deus, em 1964.

Mais tarde, dá testemunho do desencanto, da indignação e da tristeza. Em Os Formigueiros na Savana, de 1986, inédito no Brasil, denuncia a falência dos políticos e intelectuais da África.

Meses antes de morrer, Abebe lançou um livro de memórias, Houve um País, que fala sobre a tentativa dos ibos de se separar da Nigéria e criar um país independente, que terminou numa guerra civil cruel e impiedosa de dois anos e meio, a Guerra de Biafra.

“Sem justificar nem perdoar os crimes cometidos durante o conflito, Abebe, que atuou com dedicação em favor de Biafra, reconciliou-se com a Nigéria e nela reencontrou sua pátria – uma pátria em que o afligiam a inépcia e a ignorância”, afirma o embaixador Alberto Costa e Silva, o maior africanista brasileiro.

ROTA DO TRÁFICO
Com o controle cada vez maior sobre as rotas do tráfico de drogas que saem da América Latina para a Europa e os EUA, a Nigéria se tornou um dos grandes pontos de conexão.

Um em cada seis africanos presos no mundo por tráfico de drogas é nigeriano.

AUTOIMAGEM
Todos esses problemas, uma longa história de conflitos e golpes militares, e o relativo empobrecimento depois da euforia do petróleo, criaram uma autoimagem negativa. Os nigerianos adoram se queixar de si mesmos e do país.

Em discurso no Oxford and Cambridge Club em Lagos no início dos anos 1990s, o ditador Ibrahim Babangida diagnosticou os problemas da Nigéria: “As piores atitudes da elite nigeriana nas últimas três décadas ou mais incluem: faccionalismo, competição destrutiva, ganância extrema, egoísmo, indolência e abandono da busca da excelência. De fato, desenvolveu-se um culto da mediocridade – profundo e persistente – e com ele uma busca continua e universal.”

A autocrítica está nos jornais e em livros como Outra Esperança Traída, O Problema da Nigéria e Sempre um Perdedor. Uma manchete de jornal chegou a dizer: “Não seria nigeriano se funcionasse”.

ORGULHO E PRECONCEITO
Há um misto de orgulho diante dos estrangeiros com autodepreciação entre nigerianos. Na Europa, os imigrantes nigerianos entram em conflito com jamaicos e outros negros latino-americanos, discriminados por serem descendentes de escravos.

Gbola Ajao, professor da Faculdade de Medicina de Ibadã, a segunda maior cidade do país, comentou: “Há alguns anos, discutíamos o desenvolvimento de uma indústria do turismo na Nigéria. Que piada! Como um estrangeiro em juízo perfeito vai querer tirar férias num lugar como a Nigéria? Mesmo quem nasce aqui está sempre buscando uma desculpa para sair.”

GUERRA CONTRA INDISCIPLINA
Em 1984, a ditadura militar lançou a “guerra contra a indisciplina” para combater a grosseria, a intolerância e a violência.

Por todo o país, cartazes pediam às pessoas que respeitassem filas, não jogassem lixo nem urinassem nas ruas, não dormissem no trabalho, parassem de brigar, de traficar drogas e de praticar assaltos à mão armada.

AUTOCRÍTICA
O escritor Chinua Abebe deu sua contribuição a essa autoflagelação: “A Nigéria não é um grande país. É uma das nações mais desorganizadas do mundo. É um dos lugares mais corruptos, insensíveis e ineficientes sob o sol. É um dos países mais caros do mundo e dos que menos dão valor ao dinheiro. É sujo, barulhento, ostentatório, indiferente, desonesto e vulgar. Em resumo é um dos lugares mais desagradáveis do planeta!”

Para o poeta, jornalista e ativista Ken Saro-Wiwa, preso e enforcado pelo último ditador, “o maior pecado nesta Terra é não pensar. É a falta de pensamento que reduziu a África à mendicância, fome, pobreza e doença. O fracasso em usar a imaginação criativa reduziu os africanos ao estado de mímicos e consumidores de produtos da imaginação dos outros.”

LAGOS
A antiga capital da Nigéria tem fama de ser uma das piores cidades do mundo, superpovoada, caótica e suja, com esgoto correndo a céu aberto.

A primeira visita a Lagos é um impacto, conta o jornalista americano Blaine Harden em África – despachos de um continente frágil, onde lembra quando ficou preso num engarrafamento com todos parados a buzinando a seu redor em cima de uma ponte: “Sob o tráfego, a lagoa: um estuário fétido de lixo, carcaças de automóveis e esgotos não tratados. À frente, na margem esquerda, grandes montes de entulho de obras respingados por restos de carros, crianças descalças e um cartaz explicando como a cerveja Guilder ‘Faz você se sentir realmente bem’.”

Na ponte engarrafada, os negócios não paravam: “Um exército de adolescentes de pernas finas, sem sapato e sem camisa, correm em meio ao tráfego batendo nas janelas dos carros para vender panos de prato, chaves de fenda, pastilhas para tosse, sapatos para bebês, meias, telefones, lagostas vivas, tapetes para chuveiro e quatro tipos diferentes de veneno para rato. Velhos cegos desviam dos carros com a ajuda de crianças para mendigar de carro em carro.”

ESPORTE
No período pré-colonial, a luta era o esporte que dava status e prestígio. Durante o período colonial, os britânicos introduziram o futebol, o boxe, o atletismo e o tênis, praticados nas escolas, nas empresas, pelas Forças Armadas e pelos funcionários civis do Império Britânico.

A Nigéria participa dos Jogos Olímpicos desde 1952, destacando-se principal em boxe e atletismo. O boxeador Richard Ihetu, o Tigre Dick, foi campeão mundial nas categorias peso médio e meio-pesado.

No fim do século 20, o basquete se tornou um esporte popular na Nigéria com o sucesso do nigeriano Hakim Olajuwon na NBA (Associação Nacional de Basquete dos EUA), em que foi duas vezes campeão e líder do Houston Rockets.

FUTEBOL
O futebol é uma obsessão nacional na Nigéria. A seleção nacional, as Super Águias, sob a liderança de craques como Nwanko Kanu e Jay-Jay Ococha, disputou as Copas do Mundo de 1994, 1998 e 2002, e foi campeã olímpica em 1996, vencendo o Brasil na semifinal e a Argentina na final. Foi a maior vitória do futebol nigeriano.

Na época, Pelé comentou que estava chegando a vez de um país africano ganhar uma Copa do Mundo.

Em 1994, a Nigéria chegou ao quinto lugar no ranking da FIFA, a melhor posição ocupada até hoje por uma seleção africana.

A seleção feminina de futebol também costuma se classificar regularmente para as Copas do Mundo.

Quando a seleção da Nigéria foi eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 2010, o presidente proibiu-a de participar de torneio internacionais por um período de dois anos. Sob pressão da FIFA, que não aceita interferências políticas no futebol, recuou.

A Nigéria veio à Copa das Confederações no Brasil em 2013 como campeã da Copa da África de 2013, que já havia ganho em 1980 e 1994. Não passou da primeira fase.

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