sexta-feira, 13 de junho de 2014

Holanda é antigo império que virou liberal e progressista

O Reino dos Países Baixos, mais conhecido aqui como Holanda, o nome latino, é um país do Noroeste da Europa formado por 12 províncias, entre elas a Holanda do Norte e a Holanda do Sul, daí o nome, que significa floresta densa, e seis ilhas da região do Mar do Caribe, as Antilhas Holandesas: Aruba, Bonaire, Curaçao, Saba, Santo Estácio e São Martinho.

Apesar de pequeno, é uma potência comercial, um país moderno, cosmopolita e liberal, ousado em políticas sociais como a eutanásia, a legalização da prostituição, e a descriminalização do consumo e posse de pequenas quantidades de drogas leves (maconha e haxixe).

A Holanda tem 41,5 mil quilômetros quadrados. Cerca de 6,5 mil km2 são terras conquistadas do mar, lagos e pântanos desde a Idade Média, com um sistema de drenagem, diques e moinhos de vento, um dos principais símbolos do país, ao lado dos tamancos e dos chapéus de laço das camponesas. Ainda hoje, mil moinhos de vento tradicionais coexistem com bombeamento a diesel ou eletricidade. Alguns foram tombados pela Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura (Unesco).

Cerca de 25% do território e 21% da população ficam abaixo do nível do mar. O ponto mais alto da Holanda tem 323 metros. Com apenas 0,008% das terras do planeta, é um dos maiores exportadores agrícolas.

A oeste e norte, a Holanda é cercada pelo Mar do Norte; a leste, pela Alemanha; e ao sul, pela Bélgica. É um país baixo e plano, com grandes extensões cobertas por lagos, rios e canais.

A capital oficial do país e seu principal centro comercial e financeiro é Amsterdã, onde fica o palácio real, uma cidade construída sobre a água. O Parlamento e a sede do governo ficam em Haia.

A cidade também sedia vários tribunais internacionais: a Corte Internacional de Justiça (o tribunal das Nações Unidas), a Corte Internacional de Arbitragem, o Tribunal Penal Internacional, o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia e o Tribunal Especial para o Líbano.

POPULAÇÃO
Com 16,8 milhões de habitantes, a Holanda é um dos países de maior densidade populacional, 404 habitantes por km2, superado apenas por Cingapura, Vaticano e Malta, que são muito pequenos, Bangladesh, Taiwan e a Coreia do Sul.

Cerca de 80,7% dos habitantes são brancos holandeses, 5% cidadãos de outros países europeus, 2,4% indonésios, 2,2% turcos, 2% marroquinos, 2% surinameses e 0,8% afrocaribenhos. Os holandeses são o povo mais alto da Europa, talvez graças a uma dieta com muito cálcio por causa de seu famoso rebanho leiteiro e ao elevado consumo de produtos lácteos.

POLÍTICA
A Holanda é uma monarquia constitucional desde 1848. Em 30 de abril de 2013, Willem-Alexander, casado com uma princesa argentina, foi coroado rei.

O chefe de governo é o primeiro-ministro, quase sempre o líder do partido majoritário no Congresso bicameral, formado por uma Câmara com 150 deputados eleitos diretamente pelo povo e o Senado, com 75 cadeiras, eleito indiretamente, que atua apenas como câmara revisora.

No momento, o primeiro-ministro é Mark Rutte, do direitista Partido Popular pela Liberdade e a Democracia, que conquistou 41 dos 150 deputados da Câmara nas eleições de 2012 e fez aliança com o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, livrando-se do Apelo Democrata-Cristão e do ultradireitista Partido da Liberdade, que o apoiaram no seu primeiro governo, formado em 2010.

Como todos os governos costumam ser de coalizão, o país criou uma tradição de acordos políticos e formação de consensus, um pouco abalada no século 21 pelo surgimento de partidos de extrema direita contrários à imigração.

INTOLERÂNCIA
Dias antes das eleições de 2002, numa ruptura da longa história de tolerância da Holanda, o neofascista Pim Fortuyn, líder da Lista Pim Fortuyn, foi assassinado a tiros.

Em 2004, o Partido da Liberdade, liderado por Geert Wilders, que ficou em terceiro lugar nas eleições, mas em 2014 teve um desempenho aquém do esperado nas eleições para o Parlamento Europeu, em que a ultradireita nacionalista e antieuropeia venceu as eleições na França, no Reino Unido e na Dinamarca.

Também em 2004, o cineasta Theo van Gogh, bisneto do irmão do pintor, que fizera um documentário sobre a opressão da mulher nas sociedades muçulmanas, foi morto por um extremista muçulmano.

ECONOMIA
Com o produto interno bruto de US$ 800 bilhões de dólares (estimativa do FMI para 2013), a Holanda é o 18º país mais rico do mundo, membro do Grupo dos Vinte (G-20). A renda média por habitante de US$ 47,62 mil por ano.

A Holanda, fundadora a Comunidade Europeia e da Zona do Euro, tem uma economia moderna, próspera e aberta, fortemente dependente do comércio exterior, com exportações de US$ 556 bilhões e importações de US$ 490 bilhões em 2012. Roterdã é o maior porto da Europa e o 10º do mundo.

Desde o século 16, a navegação, a pesca, a agricultura, o comércio e o setor financeiro são setores importantes da economia holandesa.

De 1996 a 2000, o país cresceu 4% ao ano, acima da média europeia, e adotou o euro como moeda. Depois de um crescimento menor no início do século 21, a economia avançou 3,4% em 2006 e 3,9% em 2007. Os maiores parceiros comerciais são Alemanha (26,3%), a Bélgica (14,1%), a França (8,8%) e o Reino Unido (8%).

Sob o impacto da crise financeira internacional de 2008-9, a economia encolheu 3,5% em 2009, teve crescimento fraco durante dois anos e voltou a entrar em recessão em 2012, caindo 0,5%, por causa da crise das dívidas públicas dos países da periferia da Zona do Euro (Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha).

O desemprego estava em 8,7% em julho de 2013. Sob pressão da Comissão Europeia para cumprir as metas de equilíbrio fiscal, o governo terá de cortar gastos e aumentar impostos. A previsão de crescimento para 2014 foi reduzida para 0,5%, com alta do desemprego para 9,25%.

HISTÓRIA
As terras baixas onde hoje fica a Holanda registram a presença seres humanos há pelo menos 370 mil anos. Eram habitadas por tribos celtas e germânicas quando foram conquistadas pelos romanos na época de Caio Júlio César, em 55 antes de Cristo.

Com o fim do Império Romano do Ocidente, no século 5 da era cristã, a região ficou sob o controle de três tribos germânicas: os frísios, no Norte; os saxões, no Nordeste; e os francos, Centro-Sul.

Os francos se tornaram cristãos com a conversão do rei Clovis I, em 496, e assim o cristianismo chegou ao que hoje é a Holanda.

SACRO IMPÉRIO
Quando Carlos Magno fundou o Sacro Império Romano-Germânico, no ano 800, a atual Holanda fazia parte. Com o fim do Império Carolíngio, em 888, seu território foi dividido em pequenos condados, um deles chamado Holanda. Nos séculos 9 e 10, a região foi atacada várias vezes pelos vikings da Escandinávia.

Em 1433, Felipe o Bom, Duque da Borgonha, hoje uma região da França, tomou a Baixa Lotaríngia e a rebatizou como Terras Baixas da Borgonha.

Em 1477, o casamento de Maria da Borgonha com Maximiliano da Áustria uniu o país à Dinastia dos Habsburgo. Quando casamentos dinásticos deixaram o país sob o controle da Espanha, os reis Carlos V e Felipe II reprimiram o protestantismo, levando à Revolta Holandesa e à independência.

INDEPENDÊNCIA
Em 1568, Guilherme, o Taciturno, da Dinastia de Orange, liderou a revolta das províncias protestantes do Norte contra os espanhóis, que tinham organizado uma visitação da Inquisição. Foi uma das primeiras revoluções liberais da História. A Revolta Holandesa abriu o país ao comércio e trouxe uma era de grande prosperidade.

A República Unida da Holanda foi proclamada em 1579. Em 1581, declarou independência da Espanha. A Revolta Holandesa ou guerra da independência vai até 1648, quando a Paz da Vestfália, negociada no fim da Guerra dos Trinta Anos (1618-48), reconhece a independência do país. Na Holanda, é chamada de Guerra dos 80 Anos.

Em 1602, a Companhia Holandesa das Índias Orientais tornou-se a primeira empresa com ações vendidas em bolsas de valores. Precisava de capital para financiar a expansão colonial.

TULIPAMANIA
A tulipa é a flor nacional e já foi mania na Holanda a ponto de ter criado uma bolha especulativa que estourou em 1637.

A flor foi introduzida na Europa por um embaixador do Império Otomano que enviou bulbos e sementes para Amsterdã e Antuérpia em 1554. Logo se tornou um luxo cobiçado pela burguesia comercial ascendente.

Em 1636, a tulipa era o quarto produto de exportação da Holanda, depois de gin, arenque e queijo. No auge da Tulipamania, em 1637, um bulbo chegou a custar 4,5 mil florins, cerca de 15 vezes a renda anual de um artesão qualificado, que era de cerca de 300 florins. Até que alguém disse o óbvio, que era apenas uma flor – e a bolha estourou.

AMÉRICA
As primeiras fortificações e assentamentos holandeses na América foram instalados na Amazônia nos anos 1590s. Em 1624, eles compraram a ilha de Manhattan dos índios por US$ 24 e fundaram ali a Nova Amsterdã.

Com a queda do Brasil Holandês, em 1654, os judeus fugiram para Nova Amsterdã. Em 1664, o Forte Amsterdã foi tomado pelos ingleses na Segunda Guerra Anglo-Holandesa (1665-67).

Durante a Terceira Guerra Anglo-Holandesa (1672-74), os holandeses retomaram a cidade em julho de 1673. Com o Tratado de Westminster, em novembro de 1674, a cidade foi devolvida aos ingleses, que a rebatizaram como Nova York. Em compensação, a Holanda ficou com o Suriname.

INVASÕES
No século 17, quando era a maior potência marítima e comercial, a Holanda invadiu duas vezes o Nordeste brasileiro, a Bahia (1624-25) e Pernambuco (1630-54). Era o período do Domínio Espanhol (1580-1640), quando o rei da Espanha governou Portugal na chamada União Ibérica, e a Holanda estava em guerra com a Espanha e depois com a Inglaterra.

Em 9 de maio de 1624, cerca de 3,4 mil holandeses liderados por Jacob Willekens tomaram Salvador, a capital colonial, sem encontrar grande resistência, mas não conseguiram manter a conquista.

Menos de um ano depois, em 27 de março de 1625, uma esquadra de mais de 50 navios espanhóis e portugueses sob o comando do almirante espanhol Fradique de Toledo y Osorio contra-atacou os holandeses. Depois de uma batalha de 35 dias, os holandeses se renderam em 1º de maio, no Convento do Carmo, em Salvador, transformado em quartel-general da resistência brasileira.

Ao desembarcar ao norte de Olinda, onde hoje fica o Forte de Pau Amarelo, em 1630, os holandeses foram guiados por um judeu. A República Holandesa era liberal e tolerante, enquanto a colônia portuguesa tinha recebido uma visitação do Santo Ofício em 1590-91 e os judeus temiam a perseguição pela Igreja Católica.

Com o ciclo do açúcar, Pernambuco era a mais rica das províncias ultramarinhas portuguesas. Na época, o açúcar era a mercadoria mais importante do mercado internacional e o Brasil o maior produtor, posição mantida até hoje. Era o melhor negócio da colônia; o segundo era o tráfico de escravos.

NASSAU
O Brasil Holandês chegou a ocupar uma grande extensão da costa, do Norte da Bahia ao Maranhão durante o governo do conde alemão João Maurício de Nassau (1637-44), príncipe do pequeno Principado de Nassau-Siegen, parte do Sacro Império Romano-Germânico.

Com a ajuda de um famoso arquiteto holandês, Pieter Post, nasceu desenvolveu o Recife ampliando para uma nova ilha onde construiu a Cidade Maurícia, ligada ao Recife antigo por uma ponte.

Como os nativos se recusavam a usá-la, Nassau inventou que haveria um boi voador do outro lado. Chegou a construir um mecanismo para fingir que um boi voava.

Nassau também instaurou câmaras municipais, modernizou a infraestrutura de transportes do Recife, criou o Jardim Botânico, o Museu de História Natural e o Zoológico.

Seus gastos excessivos alarmaram os acionistas da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Sem total liberdade para fazer o que quisesse, Nassau voltou à Europa em julho de 1644.

A derrota do Brasil Holandês foi essencial para a integração nacional, argumenta o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, autor de vários livros sobre a invasão holandesa, como Nassau: governador do Brasil Holandês, O Negócio do Brasil  e Olinda Restaurada. Naquela época, o Brasil estava no Nordeste.

Se não estourasse a Primeira Guerra Anglo-Holandesa (1652-54), talvez a Insurreição Pernambucana não tivesse o mesmo sucesso no cerco e assalto final ao Recife, na Batalha dos Guararapes.

Os holandeses levaram a tecnologia de produção do açúcar de cana para o Caribe. A segunda metade do século 17 foi a Idade de Ouro da Holanda.

O Museu Naval, em Amsterdã, e o museu Casa de Maurício de Nassau, em Haia,  têm bons acervos sobre o Brasil Holandês.

IDADE DE OURO
O século 17 é também a época do pintor Rembrandt van Rijn, do filósofo e jurista Hugo Grotius, um dos pais do direito internacional, do filósofo Baruch Spinoza. Dois grandes filósofos, o francês René Descartes, pai do racionalismo, e inglês John Locke, pai do liberalismo, moraram na Holanda.

Em 1795, a França invade a Holanda. É proclamada a República Bátava. Em 1810, Napoleão anexa a Holanda à França.

Depois da derrota de Napoleão e do Congresso de Viena (1815), que restaura as monarquias derrubadas nas guerras napoleônicas, nasce o Reino dos Países Baixos (Bélgica, Holanda e Luxemburgo). A Bélgica se separa em 1830; o Grão-Ducado de Luxemburgo, em 1890.

COLÔNIA DO CABO
Em 1652, holandeses a caminho das Índias Orientais naufragaram numa tempestade perto do Cabo das Tormentas, que um rei de Portugal rebatizara como Cabo da Boa Esperança, mas os marinheiros conheciam pelo antigo nome. Numa baía, o capitão Jan van Riebeeck fundou a Colônia do Cabo, inicialmente apenas um ponto de apoio para os navios da Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Aos calvinistas holandeses, depois se juntaram os huguenotes franceses perseguidos por Luís XIV. Seus descendentes, conhecidos como africâneres, criaram o regime do apartheid, que segregou a maioria negra na África do Sul até a eleição de Nelson Mandela, em 1994.

A partir de 1691, a Cia. nomeou um governador para a Colônia do Cabo, tomada pelos britânicos em 1806, durante as guerras napoleônicas, quando a França, inimiga da Grã-Bretanha, dominava a Holanda.

OURO
Depois de descoberta do ouro no Rio Orange por Erasmus Jacobs, em 1867, o Império Britânico anexou a Província do Transvaal em 1887. Os bôeres (agricultores, em holandês), os colonos descendentes de holandes e huguenotes se revoltaram e reconquistaram sua independência na Primeira Guerra dos Bôeres (1880-81).

Na Segunda Guerra dos Bôeres, o Império Britânico prevaleceu e impôs seu domínio sobre todo o país, conquistando definitivamente o Estado Livre de Orange e a Província do Transvall. Nessa guerra, os britânicos internaram os bôeres no interior do país em campos de concentração. Para o império, os bôeres tinham se transformado na “tribo branca da África”, tinham se brutalizado e se tornado inferiors aos europeus.

Em 1910, o Transvaal e o Estado Livre de Orange se juntaram à Colônia do Cabo na União Sul-Africana. A colonização holandesa sobreviveu na cultura africâner até a democratização da África do Sul, em 1994.

GUERRAS
A Holanda ficou neutra na Primeira Guerra Mundial. Na Segunda Guerra Mundial, é ocupada pela Alemanha em 10 de maio de 1940. Mais de 100 mil judeus foram presos e enviados para campos de concentração nazistas na Alemanha, na Polônia e na Tcheco-Eslováquia.

O Diário de Anne Frank, um dos maiores símbolos da luta da inocência contra o nazismo, foi escrito no sótão camuflado de uma casa de Amsterdã hoje transformada em museu.

Em 8 de dezembro de 1941, um dia depois do ataque japonês aos EUA em Pearl Harbor, a Holanda declarou guerra ao Japão. A invasão das Índias Orientais holandesas, a atual Indonésia, começou em janeiro de 1942. Depois da Batalha do Mar de Java, em 27 de fevereiro, os japoneses tomaram as principais ilhas. O Japão precisava com urgência do petróleo que os EUA lhe negavam desde agosto.

Durante a ocupação japonesa, dos 80 mil europeus internados em campos de concentração, 14,8 mil foram mortos, assim como 12,5 mil dos 34 mil prisioneiros de guerra.

PÓS-GUERRA
No pós-guerra, a Indonésia declarou independência em 17 de agosto de 1945, dois dias depois da rendição do Japão e a conquistou em dezembro de 1949. O Suriname declarou independência em 1975.

Em 1948, forma-se o Benelux, uma área de livre comércio reunindo Bélgica, Holanda e Luxemburgo, precursor da Comunidade Econômica Europeia, que seria fundada em 1957 por esses três países, Alemanha Ocidental, França e Itália.

DOENÇA HOLANDESA
Em 1959, a descoberta de uma grande jazida de gás natural aumentou muito as exportações da Holanda, valorizando a moeda nacional, o florim, o que levou a um declínio do setor industrial. Daí nasceu a expressão “doença holandesa”, quando a exportação de produtos primários sobrevaloriza a moeda causando problemas econômicos.

RELAÇÕES COM O BRASIL
A história das relações bilaterais é marcada pelas duas invasões ao Brasil no tempo em que a Holanda era a maior potência mundial.

Numa visão militar, o conflito terminou com a vitória brasileira na Batalha dos Guararapes e a libertação do Recife. No livro O Negócio do Brasil, o historiador Evaldo Cabral de Mello ensina que a guerra entre Holanda e Portugal só terminou depois de uma guerra maritime de 1657-61 e de dois acordos de paz, em 1661 e 1669, em que os holandeses reconheceram a soberania portuguesa sobre o Nordeste em troca de concessões financeiras e comerciais.

Pelo Tratado de Londres, de 1661, Portugal deveria pagou 4 milhões de cruzados durante 16 anos pelo Nordeste. No Tratado de Haia, de 1669, a indenização foi reduzida para 2,5 milhões de cruzados a serem pagos em 20 anos.

Além do Brasil e da Nova Amsterdã, tomada pelos ingleses e rebatizada como Nova York, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais ficou com a Costa do Ouro e o Suriname. Mas não sobreviveu. Faliu no início dos anos 1670s.

INTEGRIDADE TERRITORIAL
“A primeira fronteira do Brasil não foi o Prata ou a Amazônia. Foi aí que nossa integridade territorial correu maior perigo. Por lamentável que tivesse sido, a perda do Rio Grande do Sul não teria comprometido a unidade nacional, como não o fez a independência do Uruguai, mas a consolidação do Brasil holandês estilhaçaria a América portuguesa”, argumenta Cabral de Mello.

Sem a restauração da coroa portuguesa, em 1640, a Espanha teria cedido o Nordeste à Holanda como o fez no papel na Paz da Vestfália, em 1648.

A reconquista do Nordeste é um dos momentos fundadores da nação brasileira e de seu mito fundador de que o país foi construído por três raças: brancos europeus e brasileiros, negros e índios.

Se o Nordeste pertencesse à Holanda, alega o historiador, provavelmente teria sido invadido pelo Império Britânico durante as guerras napoleônicas, como aconteceu com a Colônia do Cabo, no Sul da África.

IDIOMA
O holandês, uma língua germânica igual ao flamengo falado em Flandres, no Norte da Bélgica, é a língua oficial do país. A maioria dos holandeses fala pelo menos uma língua estrangeira.

Além da Bélgica, o holandês também é falado nas Antilhas Holandesas e nas ex-colônias, no Suriname e na Indonésia. O africâner, idioma dos brancos sul-africanos, derivou do holandês.

RELIGIÃO
A Reforma Protestante e a influência calvinista foram essenciais na formação histórica e cultural da Holanda. Hoje é um dos países mais secularistas do mundo. Menos de 20% dos holandeses vão à igreja regularmente.

Cerca de 28% são protestantes e 24% católicos . Os muçulmanos são 800 mil, quase 5% da população, 250 mil budistas e 200 mil hindus.

EDUCAÇÃO
A educação é compulsória dos 4 aos 16 anos, e semicompulsória de 16 a 18 anos. Quando passam de ano, as crianças costumam pendurar o mochila da escola com uma bandeira nacional do lado de fora da janela.

CULTURA
A Holanda tem mais de mil museus. Amsterdã, onde há 42, guarda 206 quadros de Vincent van Gogh e 22 de Rembrandt.

Os Rembrandts estão no Museu Nacional, ao lado de outros mestre da escola clássica holandesa, como Johanes Vermeer, Jan Steen, Jacob van Ruysdal. Nos séculos 19 e 20, destacam-se Van Gogh, Piet Mondrian e M. C. Escher.

Talvez o maior escritor holandês seja o filósofo Desidério Erasmo, o Erasmo de Rodertã, autor de O Elogio da Loucura, lançado em 1511, que a superstição, os abusos e a corrupção na Igreja Católica, que nunca abandonou. Ele é considerado o maior intelectual do Renascimento no Norte da Europa.

Crítico da Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero em 1517, Erasmo lançou as bases da tolerância e advertiu para o risco das guerras religiosas que assolariam a Europa por mais de cem anos. Chegou a ser acusado por bispos católicos de “botar o ovo” para a Reforma da Igreja.

DIREITO INTERNACIONAL
Outro intelectual holandês de inestimável importância histórica foi o filósofo e jurista Hugo Grotius, considerado o pai do direito internacional. Menino-prodígio, aos 16 anos, Grotius publicou seu primeiro livro e foi nomeado advogado.

Grotius iniciou seus estudos sobre direito internacional depois da captura do navio português Santa Catarina onde hoje é Cingapura por um capitão holandês, em 1603, sob a alegação de que a Espanha e Portugal estavam em guerra com a Holanda. A própria Companhia Holandesa das Índias Orientais foi contra a captura.

LIVRE NAVEGAÇÃO
Em 1609, no livro Liberdade dos Mares, Grotius formulou o princípio de que os mares eram territórios internacionais e deveriam ser abertos à navegação e ao comércio. A Inglaterra contestou.

No fim da discussão, ficou estabelecido que o mar territorial de cada país seria limitado à distância de um tiro de canhão, na época menos de 5 km.

Em 1651, a Inglaterra aprovou a Lei da Navegação, proibindo a entrada no país de mercadorias que chegassem em navios ingleses. Isso levou à Primeira Guerra Anglo-Holandesa (1652-54).

LEIS DE GUERRA
Diante da Guerra dos Trinta Anos (1618-48), Grotius defendeu a necessidade de leis para regulamentar os conflitos armados entre países: “Totalmente convencido de que há uma lei comum entre as nações que é válida para a guerra e durante a guerra, tenho várias razões de peso para escrever sobre o assunto. Através do mundo cristão, observei uma falta de contenção em relação à guerra da qual mesmo as raças mais bárbaras deveriam se envergonhas; observei que os homens correm para as armas pelas menores causas, ou mesmo nenhuma causa, e que, quando se recorre às armas, não há mais respeito por nenhuma lei, divina ou humana; é como se, de acordo com um decreto geral, um frenesi permitisse cometer todos os crimes.”

No livro Sobre a Lei da Guerra e da Paz, em três volumes, Grotius apresenta seus conceitos sobre guerra e direito natural no primeiro volume, considerando a guerra justificável em alguns casos, como autodefesa, para reparar uma injustiça ou como punição, no segundo. No terceiro, ele discute as regras para a conduta na guerra depois de iniciada.

Seus argumentos e os de Francisco de Vitória foram as bases para a teoria da guerra justa, hoje substituída pela legitimidade da guerra.

Em 1º de abril de 2001, a Holanda aprovou o casamento de pessoas do mesmo sexo.

CULINÁRIA
A cozinha holandesa se baseia nos abundantes recursos pesqueiros e agrícolas do país, com grande destaque para leite e laticínios. A carne e as batatas são pratos de resistência. O consumo de peixe é elevado, até mesmo de arenque cru.

Um prato típico é a panqueca holandesa. Os queijos Edam e Gouda são variedades holandesas.

ESPORTE
Cerca de 4,5 milhões de pessoas estão associadas aos 35 mil clubes esportivos do país. O ciclismo é uma mania nacional, como meio de transporte e esporte. A Holanda tem 15 mil km de ciclovias e duas bicicletas para cada carro.

A Holanda participa das Olimpíadas desde 1900. Em 1928, organizou os Jogos de Amsterdã.

O iatismo, o hóquei na grama, o esqui, o vôlei e o tênis são muito populares. O holandês Richard Kraijcek, campeão de Wimbledon em 1996, foi o único a derrotar Pete Sampras no torneio em sua melhor fase.

FUTEBOL TOTAL
O esporte favorito dos holandeses é de longe o futebol. Três vezes vice-campeã do mundo, a Holanda é uma das grandes seleções que jamais conseguiu um título mundial. Foi campeã da Europa em 1988.

A Laranja Mecânica, apelido da seleção holandesa de 1974, é ao lado da Hungria de Ferenc Puskas uma das grandes seleções que fizeram História e são mais conhecidas do que as seleções alemãs que as derrotaram.

Sob a liderança do capitão Johan Cruijff, a seleção dirigida pelo técnico Rinus Michels lançou o “futebol total”, pressionando os adversários no campo todo sem guardar posição e se lançado rapidamente ao ataque. Na mesma época, o Ajax, de Amsterdã, foi três vezes campeão europeu (1971, 1972 e 1973) e campeão mundial de clubes em 1972 e 1995, derrotando o Grêmio nos pênaltis na última vez.

Na seleção campeã europeia, os destaques foram Ruud Gullit, Marco van Basten e Frank Rijkaard. Na equipe atual os destaque são Wesly Sneijder (fala-se como o alemão Schneider) e Arjen Robben.

Brasil x Holanda já é um clássico em Copas do Mundo. O Brasil perdeu a semifinal para a Holanda de Cruijff em 1974 por 2-0. Ganhou de 3-2 nas quartas de finais em 1994. Depois de 1-1 no tempo normal, venceu nos pênaltis em 1998. Em 2010, o Brasil saiu na frente com gol de Robinho, mas a Holanda virou o jogo com dois gols de Sneijder e eliminou o Brasil.

Em 2011, a Holanda chegou a liderar o ranking da Fifa.

Nenhum comentário: