quinta-feira, 19 de junho de 2014

Portugal construiu o primeiro império global

A República Portuguesa, mais conhecida como Portugal, é um país unitário situado no extremo sudoeste da Europa, no oeste da Península Ibérica, cercado pela Espanha a norte e leste, e pelo Oceano Atlântico a sul e oeste. O nome vem de Portus Cale, nome de um porto romano próximo da cidade do Porto.

O território português é habitado desde a Pré-História. Fez parte do Império Romano, foi tomado por povos germânicos e depois pela invasão dos mouros à Península Ibérica, em 711.

O Reino de Portugal nasce durante a Reconquista e trava uma luta histórica com a Espanha pela independência. A partir do século 15, Portugal se volta para o Atlântico e cria um império com possessões na Europa, África, América e Ásia.

O Império Português foi o primeiro império global da história e o mais longo dos impérios europeus da era moderna. Durou da conquista de Ceuta, no Marrocos, em 1415, até a devolução de Macau à China, em 1999.

Desde a independência do Brasil, em 1822, Portugal perdeu sua importância internacional e entrou em decadência. Depois da queda da monarquia em 1910, virou uma ditadura de 1926 até a Revolução dos Cravos, em 1974, que levou à independência das colônias africanas e do Timor Leste, em 1975.

Um novo país democrático entrou para a Comunidade Europeia em 1986 e passou por um período de grande modernização e desenvolvimento que acabou com a crise internacional de 2008-9.

Em 2011, Portugal pediu um empréstimo de emergência de 78 bilhões de euros à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. Em troca, o governo foi obrigado a adotar políticas duras de cortes de gastos e aumentos de impostos que elevaram o desemprego para 18%. Só em 2014, a situação se normalizou e Portugal parou de depender de ajuda externa. A desocupação caiu para 13,6%.

GEOGRAFIA
Com 92 mil quilômetros quadrados, Portugal é um pouco maior do que os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo juntos. Enquanto a costa norte é fria e rochosa, a região do Algarve, no Sul, é quente e fértil.

A Serra da Estrela, entre os vales dos rios Tejo e Mondego, é o ponto mais alto de Portugal continental, com 1.993 metros. A Montanha do Pico, nos Açores, tem 2.351 m.

Os arquipélagos dos Açores e da Madeira são territórios ultramarinos portugueses.

POLÍTICA
Portugal é um Estado unitário, regido pela Constituição de 1976. É uma república parlamentarista com um parlamento unicameral, a Assembleia da República, com 230 cadeiras.

O presidente é eleito diretamente para um mandato de cinco anos, podendo ser reeleito uma vez. Os mandatos parlamentares são de quatro anos.

O atual presidente é Anibal Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro de 1985 a 1995 que cumpre o segundo mandato de cinco anos até 2016.

O primeiro-ministro é o conservador Pedro Passos Coelho, do Partido Social-Democrata, desde 21 de junho de 2011.

ECONOMIA
O FMI estimou o produto interno bruto de Portugal em 2013 em US$ 220 bilhões. A renda per capita ficou em US$ 20.774. O país é o 46º no ranking de desenvolvimento humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Os serviços (68%) respondem pela maior parte do produto interno bruto português, seguidos pela indústria (28%). A agricultura representa menos de 3% e emprega 12% da força de trabalho. O turismo contribui com 11%.

HISTÓRIA ECONÔMICA
Portugal foi um dos países mais ricos do mundo durante o período áureo da expansão colonial, da superação do Cabo da Boa Esperança, em 1488, à morte do rei Dom Sebastião numa batalha na África, em 1578, e na primeira metade do século 18 por causa do ouro das Minas Gerais.

Como essa riqueza não foi investida para promover a industrialização nos séculos 19 e 20, Portugal se tornou um dos países mais pobres da Europa. Só se recuperou economicamente depois de entrar para a Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia, em 1986, mas ainda é o país mais pobre da Europa Ocidental.

Portugal se beneficiou muito com os fundos estruturais para desenvolvimento das áreas mais pobres da Europa, mas depois de apresentar um dos índices de crescimento mais altos da UE anos anos 1990s praticamente não cresceu no século 20.

UNIÃO MONETÁRIA
Portugal aderiu ao euro desde a introdução da moeda comum europeia, em 1999, abandonando o escudo. Pela primeira vez em séculos, o país teve moeda forte, juros baixos e câmbio estável, mas usou essa nova riqueza mais para consumo do que para investimentos e modernização tecnológica.

Em 2007, a revista inglesa The Economist descreveu Portugal como o “novo homem doente da Europa”. Foi um dos países que mais sofreram com a Grande Recessão de 2008-9 e a crise das dívidas públicas da Zona do Euro. Isso obrigou o país a tomar empréstimos de emergência de 78 bilhões de euros (US$ 116 bilhões) da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O desemprego subiu para 18%.

POPULAÇÃO
Portugal tem 10,59 milhões de habitantes. O Instituto Nacional de Estatística adota a política de não fazer perguntas sobre raça e etnia nos censos do país.

Estima-se que mais de 90% dos moradores sejam portugueses étnicos. Há também brasileiros, chineses, angolanos, moçambicanos, timorenses e cabo-verdianos das ex-colônias e seus descendentes.

IDIOMA
A língua oficial é o português, adotado em 1290 por decreto de Dom Dinis (1279-1325), o rei poeta. Com 230 milhões de falantes nativos, é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira no Ocidente.

O português é chamado de língua de Camões, em homenagem ao poeta que cantou em Os Lusíadas a saga da expansão colonial marítima. No soneto Língua Portuguesa, o poeta Olavo Bilac a chamou de “última flor do Lácio”, a região da Itália onde fica Roma, por ser uma língua neolatina, mas o romeno é mais recente.

O português também é a língua oficial no Brasil, em Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique e de São Tomé e Príncipe. É língua oficial, ao lado de outros idiomas, na Guiné Equatorial, em Macau, e no Timor Leste, além de ser falada na antiga Índia portuguesa.

Em 17 de julho de 1996, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe fundaram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Lusofonia.  Em 2002, depois de conquistar a independência, o Timor Leste aderiu ao grupo.

RELIGIÃO
A Constituição Portuguesa garante a liberdade religiosa. O país não tem religião oficial. Mas a concordata assinada com o Vaticano em 2004 garante os direitos dos católicos e da Igreja Católica no país.

No Censo de 2001, 84,6% dos portugueses se declararam católicos. Uma pesquisa encomendada pela Igreja Católica na mesma época indicou que só 18,7% do total dos portugueses são católicos praticantes e que 10,3% costumam tomar a comunhão.

Cerca da metade dos casamentos são católicos, automaticamente reconhecidos pela legislação. A lei portuguesa também reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Há algumas igrejas protestantes evangélicas neopentecostalistas como no Brasil. As Testemunhas de Jeová tem 50 mil seguidores.

Em 5 de dezembro de 1496, o rei Dom Manuel I expulsou os judeus que se negaram a se converter ao cristianismo. Houve um massacre de judeus em Lisboa em 1506 com 2 a 4 mil mortes. Foi um dos mais violentos na época.

Há ainda uma minoria de uns 15 mil muçulmanos.

PRÉ-HISTÓRIA
Os primeiros vestígios humanos na Península Ibérica são do Homem de Neanderthal há 24,5 mil anos. Há 5,5 mil anos, surgiu uma cultura mesolítica. A cultura neolítica veio da Andaluzia, trazendo a agricultura e a cerâmica.

Os celtas chegam à região pelos Montes Pirineus no Neolítico, por volta do ano 1000 AC e dão origem a povos como os lusos.

HISTÓRIA
A região era visitada por comerciantes fenícios e cartagineses. Depois da Segunda Guerra Púnica (218-201 AC) entre Roma e Cartago, os romanos dominaram o litoral leste e sudeste da Península Ibérica.

Sob a liderança de Viriato, os lusos resistiram a uma invasão romana, mas seu líder foi assassinado em 139 AC.

IMPÉRIO ROMANO
No século 1 AC, a Lusitânia foi conquistada por Caio Júlio César e Otávio César Augusto, e anexada ao Império Romano. Os romanos cruzaram o Rio Douro e tomaram a Galícia em 19 AC.

O cristianismo chegou no século 3, durante o período romano.

INVASÕES BÁRBARAS
Com a declínio do Império Romano, a partir de 409 o território é ocupado por povos germânicos como os vândalos. Em 415, os visigodos entram na península para expulsar os invasores a pedido dos romanos e lá ficam.

INVASÃO MUÇULMANA
Em 711, os mouros chefiados por Tarik ibn-Ziad invadiram a Europa pelo Estreito de Gibraltar, venceram as forças do rei Rodrigo na Batalha de Guadalete, que marca o fim do domínio dos visigodos na Península Ibérica, em 31 de julho do mesmo ano.

O exército islâmico de árabes e bérberes do Norte da África avançou até ser contido pelo Duque Odo da Aquitânia em 721, na Batalha de Toulouse, e por Carlos Martel, fundador do Império Carolíngio, em Poitiers, no Sul da França, na época chamada Gália, em 732.

Para manter o controle sobre a Península Ibérica, os mouros fundaram então o Império de Al-Andaluz na Península Ibérica. Os cristãos refugiaram-se no Norte, no reino de Astúrias. No auge, no século 10, Al-Andaluz teve 10 milhões de habitantes.

RECONQUISTA
A Reconquista começa em 718, quando Pelágio, rei dos visigodos, contra-ataca os muçulmanos. Em 722, na Batalha de Covadonga, os cristãos têm a primeira vitória desde a invasão muçulmana à Península Ibérica.

Em 868, é criado o Condado Portucalense, na região entre os rios Douro e Tejo onde séculos antes houve uma colônia romana chamada Portus Cale.

Mais tarde, para conter o movimento da nobreza local pela independência, Afonso VI, de Leão, entregou o governo do Condado da Galiza, que incluía Portucale, ao Conde Raimundo de Borgonha. Como ele fracassou na luta contra os mouros, Afonso VI decidiu entregar a região em 1096 ao Conde Dom Henrique, que refundou o Condado Portucalense.

INDEPENDÊNCIA
Com sua morte, em 1112, ascende ao trono seu filho Dom Afonso Henriques, que declara em 1139 a independência, reconhecida no Tratado de Zamora (1143), e amplia o Reino de Portugal conquistando Santarém, Lisboa, Palmela e Évora.

Por 240 anos, os descendentes de Dom Afonso I (1143-85) governaram Portugal. Seu filho, Dom Sancho I (1185-1211), tomou Silves, no Algarve, a cidade mais a oeste do Império al-Andaluz, em 1189, mas um exército muçulmano vindo da África recuperou Silves e a maioria das terras ao Sul do Tejo, em 1191.

Dom Afonso II (1211-23) se juntou a Castela para derrotar os mouros com a ajuda dos cruzados na Batalha de Navas de Tolosa, em 1212, e em Alcácer do Sal em 1217. No reinado de Sancho II (1123-46), o Alentejo e a maior parte do Algarve foram reconquistados.

Numa guerra civil que durou dois anos, Sancho II foi derrubado por seu irmão Afonso III (1248-79), que conseguiu uma ordem papal para isso. Ele concluiu a conquista do Algarve, transferiu a capital de Coimbra para Lisboa e permitiu pela primeira vez a participação dos comuns nas Cortes.

Sob Dom Dinis (1279-1325), Portugal se aproximou do resto da Europa. Aumentou o comércio e passou a participar mais das feiras. Ele fundou a Universidade de Coimbra, em 1290, e tornou o português a língua oficial.

Em 1317, Dom Dinis contratou o almirante genovês Emmanuelle Pessagno para construir a Marinha de Portugal.

Afonso IV (1325-57) se juntou a Castela para enfrentar os mouros na Batalha do Rio Salado. Em 1355, ordenou o assassinato de Inês de Castro, amante de seu sucessor, Pedro I (1357-67), também conhecido como o Justo, o Justiceiro ou o Cruel.

DONA INÊS DE CASTRO
Dona Inês de Castro é uma das personagens trágicas da História de Portugal. Era filha do mordomo-mor do rei Dom Afonso XI, de Castela, e descendente direta de Sancho I, de Aragão. Seu pai era neto ilegítimo de Sancho IV, de Castela.

Quando Constança Manuel se casou com o Infante Dom Pedro, herdeiro do trono de Portugal, em 1340, quem chamou a atenção foi uma das aias, sua prima Inês de Castro. Foi por ela que o Infante se apaixonou e com quem teve uma relação considerada escandalosa pelos rígidos padrões da moral cristã na época.

Depois da morte de Constança, em 1345, ao dar à luz o futuro Fernando I, Pedro e Inês de Castro passaram a viver juntos e tiveram quatro filhos, o que provocou o escândalo.

O casal foi para o Norte de Portugal. Na volta, instalou-se no Paço de Santa Clara, moradia de reis, príncipes e suas esposas legítimas. Correu um boato na corte de que Pedro e Inês tinham se casado em segredo.

RAINHA POST-MORTEM
Sob pressão dos nobres da corte portuguesa, temerosos da influência dos irmãos Castro e do reino de Castela, Dom Afonso IV decidiu matar a galega.

Em 7 de janeiro de 1355, aproveitando a ausência de Dom Pedro, durante uma caçada, o rei foi com Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros até o Paço de Santa Clara, onde eles mataram Dona Inês de Castro.

Dom Pedro se revoltou contra o pai, mas a rainha-mãe Dona Beatriz negociou a paz entre eles em agosto de 1355.

Quando se tornou rei, em 1357, Dom Pedro I desenterrou a amada e declarou que tinha se casado com Dona Inês de Castro em 1354. É o caso inédito de uma rainha coroada depois da morte.

Conta a lenda que as lágrimas derramadas teriam criado a Fonte dos Amores na Quinta das Lágrimas, em Coimbra.

DESAFIO
Depois da reconquista do território português ocupado pelos mouros, concluída em 1249, a independência do novo reino seria desafiada por Castela na crise da sucessão de Dom Fernando I (1367-83), de Portugal, que não deixou herdeiros ao morrer, em 1383, e tinha uma filha casada com o rei castelhano.

Sob risco de anexação pela coroa rival, a burguesia comerciante de Lisboa e do Porto se rebelou e coroou Dom João I (1385-1433), Mestre da Ordem Militar de Avis e filho bastardo de Dom Pedro I, pai de Dom Fernando I, para defender seus interesses. Isso levou à Batalha de Aljubarrota, em 1385.

GUERRA CONTRA CASTELA
Era fim de tarde de 14 de agosto de 1385, quando o Exército de Portugal, reforçado por arqueiros ingleses, sob o comando de D. João I, enfrentou o Exército liderado por D. João I, de Castela, no campo de São Jorge, perto da vila de Aljubarrota, entre Leiria e Alcobaça, no centro de Portugal.

Com a derrota dos castelhanos, acabou a crise sucessória de 1383-83. D. João I se tornou-se o primeiro rei da Dinastia de Avis, que governaria Portugal no seu período de maior glória.

ALIANÇA COM A INGLATERRA
A aliança entre Inglaterra e Portugal, a mais antiga aliança do mundo entre dois países independentes, a princípio contra Castela e a França, seria consolidada em 1386 pelo Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com Dª Filipa de Lancastre, filha de João de Gante (John de Gaunt), Duque de Lancastre, e neta do rei Eduardo III da Inglaterra.

A Batalha de Aljubarrota foi uma das grandes batalhas campais da Idade Média e uma das mais decisivas da história de Portugal. Para celebrar a vitória em Aljubarrota, o rei mandou construir o Mosteiro da Batalha. A paz com Castela só viria em 1411 com o Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.

Com a vitória, Portugal se consolidou como reino independente, definindo suas fronteiras com Castela e Leão, e abriu caminho para o período mais importante da História de Portugal, a era dos descobrimentos.

VENTRE DO IMPÉRIO
Dona Filipa de Lancastre, que o poeta Fernando Pessoa chamou de “divino ventre do império” e “madrinha de Portugal”, teve oito filhos com Dom João I antes de morrer de peste bubônica em 19 de julho de 1415.

Quatro dias depois de sua morte, com mais de 200 embarcações, 50 mil soldados e 30 mil marinheiros, partiu a expedição para a conquista de Ceuta, no Marrocos, “a porta de entrada e a chave de todo o comércio africano”, nas palavras de Dom João I.

Era o início do império. Com pouco mais de 20 anos, o infante Dom Henrique não só convenceu o pai a tomar Ceuta como organizou a frota de guerra e foi nomeado comandante do território conquistado.

ERA DAS NAVEGAÇÕES
Duarte I (1433-38) sucedeu o pai, mas o mais famoso dos oito filhos de D. João I foi o infante Dom Henrique, o Navegador, Duque de Viseu.

Nomeado governador do Algarve (do árabe Al Gharb, que significa O Poente, era o fim do Império Andaluz), o Infante se mudou em 1419 para Sagres, na ponta sudoeste de Portugal, onde fundou uma escola de navegação para conquistar o mundo.

O promontório sagrado para gregos e romanos, batizado de Sagres pelos lusos, tinha sido descrito pelo geógrago grego Ptolomeu como o finnis terra, o fim do mundo conhecido pelos europeus: “um lugar ermo, de beleza trágica, onde a terra se despede num cabo nu e pedregoso para mergulhar no oceano temível cheio de mistérios. Não por acaso, Sagres tinha sido ocupado por um templo de druidas, os sacerdotes celtas”, conta o jornalista e historiador Eduardo Bueno em A Viagem do Descobrimento.

ORDEM DE CRISTO
Em maio de 1420, Dom João I nomeou o infante como grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros de Cristo, que substituiu a Ordem dos Cavaleiros do Templo, os templários, extinta pelo papa Clemente V em 1314.

Por dois séculos, as caravelas portugueses estamparam nas suas velas a cruz da Ordem de Cristo, uma sociedade secreta que ajudou a financiar a aventura da expansão marítima europeia.

TRÁFICO NEGREIRO
O Infante foi também um dos “padroeiros da saga escravocrata dos europeus”, afirma Eduardo Bueno.

Em 19 de dezembro de 1442, o papa Eugênio IV assinou uma bula papal renovada em junho de 1452 por Nicolau V dando a Portugal o monopólio do comércio com a África e autorização para “fazer a guerra contra os infiéis, tirar-lhes as terras e escravizá-los”.

Como a aventura exploratória custava muito caro, só quando os navios portugueses começaram a levar os primeiros escravos a Portugal, em 1444, a expansão ultramarina começou a dar lucro, sustenta Bueno.

A missão da empreitada colonial era dilatar a fé e o império, como observou Camões em Os Lusíadas, o poema épico da saga das grandes navegações portuguesas. Custava muito dinheiro. O tráfico de escravos ajudaria a pagar a conta e a fornecer mão de obra para as colônias.

MADEIRA E AÇORES
Por volta de 1425, começa a colonização do arquipélago da Madeira. Em 1427, os navegadores portugueses descobriram o arquipélago dos Açores. Ambos eram desabitados e logo foram povoados por portugueses.

O modelo de colonização da Madeira e dos Açores, baseado em capitanias hereditárias e nas sesmarias, seria usado no Brasil. Os açorianos seriam pioneiros na colonização do Rio Grande do Sul, onde fundaram Porto Alegre, e do litoral de Santa Catarina.

CABO NÃO
Na costa da África, o primeiro obstáculo seria passar do Cabo Não, que indicaria o fim do mundo. Alexandro Magno de Castilho afirmou que seria o Cabo Chaunar ou Nante, situado na costa sul do Marrocos. De acordo com Eduardo Bueno, pode ser o Cabo Juby, no Marrocos ou o Cabo Drâa, um pouco mais ao norte, também no Marrocos.

Em 1417, uma frota enviada pelo Infante dobrou o Cabo Não. O próximo desafio à navegação na costa africana passou a ser o Bojador.

CABO BOJADOR
O grande obstáculo, que exigiu 15 expedições para ser superado foi o Cabo Bojador, conhecido como o Cabo do Medo. Fica hoje no Saara Ocidental, um território ocupado militarmente pelo Marrocos. É uma região de mar raso. A 5 km da costa, a profundidade era de uns 2 m e havia recifes de coral.

Em 1434, Gil Eanes afastou-se para o alto mar e dobrou o Cabo Bojador. Com um novo tipo de navio, a caravela, as grandes navegações ganharam um impulso. Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco, hoje na Mauritânia, em 1441. Dinis Dias encontrou o Rio Senegal em 1444 e o Cabo Verde em 1445.

CARAVELA
Pequenos barcos usados pelos árabes em rios e junto ao litoral do Mar Mediterrâneo, as caravelas foram adaptadas pelos português para navegação em alto mar.

Depois do Bojador, os ventos alísios sopravam do nordeste, dificultando as viagens de volta para Portugal. Com velas latinas, panos triangulares de borda rígida capazes de gerar uma força propulsora na direção oposta à do vento, criaram uma nova caravela.

Um caravela de velas latinas com 20 metros de comprimento pesava cerca de 20 toneladas. Isso lhe dava grande velocidade e facilidade de manobra. Foi uma grande obra do engenho lusitano. Abriu uma nova era na história da navegação e deu grande impulso à indústria naval portuguesa.

“Em 1508, mais de 300 mestres trabalhavam na Ribeira das Naus, em Lisboa. Um século depois, esse estaleiro fabricava 800 navios de 500 toneladas por ano. Cada um consumia 2,2 mil paus de sobro e 1,8 mil de pinho”, escreve Eduardo Bueno.

O comércio ajudou a dar nomes ao litoral da África: Costa do Ouro, Costa do Marfim, Costa da Pimenta e Costa dos Escravos.

CASTELO DA MINA
Ao ser aclamado soberano, em 1481, Dom João II estabeleceu como meta chegar à Índia e mandou construir a Fortaleza de São Jorge da Mina, o Castelo da Mina, perto de onde hoje fica Acra, a capital de Gana, na época Costa do Ouro.

Era para ser “a primeira pedra da Igreja Oriental” que converteria os infiéis. Virou o primeiro grande entreposto de escravos da era moderna. Os primeiros escravos enviados ao Brasil, em 1533, vieram de lá.

Em seguida, começou a colonização das ilhas de São Tomé, Príncipe e Fernando Pó, localizadas no Golfo da Guiné, a uns 100 km da costa do Gabão. Como era uma zona insalubre, o rei mandou judeus e degredados.

ESCRAVIDÃO
A partir do Castelo da Mina e da ilha de São Tomé, os portugueses iniciaram um rendoso tráfico de escravos que duraria três séculos e ajudaria a financiar a expansão colonial. Cerca de 4 milhões de escravos chegaram vivos ao Brasil em 12 mil viagens.

Como observa o historiador Luiz Felipe de Alencastro, em O Trato dos Viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul, “a colonização portuguesa, fundada no escravismo, deu lugar a um espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada em Angola”.

Em 1625, os holandeses tomaram o Castelo da Mina e o dominaram até 1872.

CAMINHO DAS ÍNDIAS
Em 1474, o médico e astrônomo florentino Paolo Toscanelli enviou uma carta a Portugal afirmando que havia uma rota muito mais curta para a Índia do que a que Portugal estava explorando. Toscanelli imaginava que a Ásia estivesse a uns 3,6 mil km a oeste das Ilhas Canárias.

Em 1477, chegou a Portugal o navegante genovês Cristóvão Colombo, que viajou para a Fortaleza da Mina. Na África, Colombo se envolveu com o tráfico de escravos, conheceu um geógrafo da frota de Diogo Cão e a tese de Toscanelli de que seria possível chegar à Índia navegando rumo ao Ocidente.

Colombo tentou convencer Dom João II em 1484, mas os astrônomos do reino o consideraram sua proposta irrealizável. Portugal queria chegar à Índia por outro caminho.

FIM DA ÁFRICA
Em agosto de 1482, Diogo Cão partiu com a missão de atingir o Sul da África. Descobriu o Rio Congo. Continuou rumo ao sul até chegar ao Cabo do Lobo, hoje Cabo de Santa Maria, em Angola, e concluiu que a África acabava ali.

Ao voltar a Lisboa, deu a notícia a Dom João II. No outono de 1485, Diogo Cão zarpou de novo, desta vez com a missão de chegar ao Oceano Índico. Ao passar pelo Cabo do Lobo, percebeu o erro. Humilhado, voltou para Portugal e caiu em desgraça.

O rei indicou então Bartolomeu Dias, funcionário da Fortaleza da Mina com grande experiência de navegação no Golfo da Guiné, com suas calmarias e correntes contrárias.

CABO DAS TORMENTAS
Dias partiu de Lisboa em agosto de 1487 com duas caravelas de 50 toneladas e uma nau carregada de mantimentos – usada pela primeira vez na história das navegação.

Em outubro de 1487, passou do limite atingido por Diogo Cão. Nessa altura, o litoral da África é desértico. Nos últimos dias de 1487, uma tempestade terrível se abateu sobre a frota portuguesa, afastando-a da costa.

Quando a tormenta passou, duas semanas depois, Bartolomeu Dias navegou para o Oriente sem encontrar terra. Decidiu então tomar rumo norte. Em 3 de fevereiro de 1488, desembarcou na Baía de Mossel, a 370 quilômetros do Cabo. Ele navegou mais 500 km para o leste, tentando chegar ao Oceano Índico. Diante de um motim da tripulação, decidiu voltar.

Ao passar pela ponta sul da África, Dias deu-lhe o nome de Cabo das Tormentas, rebatizado por Dom João II, de Portugal, como Cabo da Boa Esperança, embora os marinheiros ainda usassem o nome antigo.

Estava aberto o caminho para a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama, em 1498, e para o século de ouro de História de Portugal.

DESCOBERTA DA AMÉRICA
Colombo se mudou para a Espanha e ganhou apoio da rainha Isabel para seu projeto de chegar às Índias viajando para o Ocidente. Ele saiu de Palos em 3 de agosto e chegou a Guanahani, rebatizada como São Salvador, hoje parte Ilhas Bahamas, em 12 de outubro de 1492.

Na volta, em 4 de março de 1493, Colombo foi obrigado a aportar em Lisboa para consertar suas duas caravelas, Pinta e Niña, e revelou sua descoberta a Dom João II, que ficou indignado alegando que aquelas terras lhe pertenciam.

TRATADO DE TORDESILHAS
A indignação do rei de Portugal quase levou o país à guerra com a Espanha. Com intermediação do papa Alexandre VI (Alexandre Bórgia), em 7 de junho de 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas. Todas as terras situadas a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam a Portugal.

Dom João II morreu em 1495 deixando o reino endividado, sem conseguir chegar às Índias. Seu cunhado Manuel I (1495-1521) assumiu o trono.

PERSEGUIÇÃO AOS JUDEUS
Sob pressão dos “reis católicos” da Espanha, Fernando e Isabel, seus primos e rivais, Dom Manuel decretou a conversão ou a expulsão dos judeus de Portugal em 10 meses até outubro de 1497.

Em 1506, 2 a 4 mil “cristãos novos” foram massacrados em Lisboa. Depois, D. Manuel prometeu proteger os marranos e autorizou sua emigração para a Holanda, para onde eles levaram a experiência portuguesa no comércio, na navegação e indústria naval, ajudando a criar um rival poderoso.

VASCO DA GAMA
Bartolomeu Dias começou a organizar uma nova viagem à Índia. Quando as caravelas São Gabriel e São Rafael ficaram prontas, Dom Manuel entregou o comando da frota ao fidalgo Vasco da Gama, que considerava mais preparado para desempenhar as funções comerciais, diplomáticas e militares da missão.

Vasco da Gama partiu de Lisboa com quatro navios e 170 homens em 8 de julho de 1497.  Ao se afastar da África para fugir das calmarias do Golfo da Guiné, onde os navios andavam um nó (1,9 km/h) e as velas de iluminação derretiam sob o calor tropical, a frota de Vasco da Gama teria notado a presença de aves e plantas aquáticas, indicações de que haveria uma terra próxima. Em 22 de agosto, seus homens avistaram “aves que pareciam estar indo para a terra”.

Depois de uma batalha contra o mar, Gama dobrou o Cabo da Boa Esperança em 18 de novembro de 1497.

LEÃO DAS TEMPESTADES
A expedição chegou a Sofala, hoje em Moçambique, em 14 de março de 1498. Os portugueses foram recebidos com desconfiança em Sofala e Mombaça, hoje o principal porto do Quênia, mas o sultão de Melinde lhes emprestou um piloto árabe que conhecia a rota da costa oriental da África até a Índia.

O poeta, navegador e cartógrafo Ahmed ibn Mahjid, nascido onde hoje ficam os Emirados Árabes Unidos, escreveu o Livros sobre os Princípios da Náutica e as Regras. Considerado o maior navegador árabe, era conhecido como Leão das Tempestades. Vasco da Gama o chamava de “um grande tesouro”.

IMPERIALISMO
A chegada de Vasco da Gama à Índia, em 22 de maio de 1498, é um dos marcos do início da dominação europeia sobre o resto do mundo. Ele voltou a Lisboa em 10 de julho de 1499 com a notícia e conversou com Pedro Álvares Cabral.

Dom Manuel I acrescentou ao título de rei de Portugal e dos Algarves o de Senhor da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia.

DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Até hoje se discute se foi por  acaso ou se Cabral tinha informações sobre a existência de terras passada por Vasco da Gama, mas decidiu manter segredo.

Com 10 naus e três caravelas, a frota de Cabral era a maior e mais poderosa que Portugal jamais organizara. Levava 1,5 mil homens, 2,5% da população de Lisboa na época.

Ninguém desconhecia os riscos da aventura. Um ditado da época dizia: “Se queres aprender a orar, faça-te ao mar.” A maioria dos homens a bordo deixou um testamento. Dois terços deles jamais voltariam. Mais tarde, o poeta Fernando Pessoa diria que o mar é salgado porque “são lágrimas de Portugal”.

DESAPARECIMENTO
Duas semanas depois da partida, adiada de um domingo festivo, 8 de março de 1500, para o dia seguinte por causa do vento, a nau de Vasco de Ataíde desapareceu, em 23 de março, com cerca de 150 homens, sem qualquer motivo extraordinário, conforme o relato da Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei comunicando a descoberta da Ilha de Vera Cruz, o primeiro nome do Brasil.

Depois de dez dias de calmarias, a frota de Cabral cruzou o Equador em 9 de abril. Seguindo as instruções de Vasco da Gama rumou para o sudoeste fazendo a “volta do mar” para se afastar da costa da África.

PORTO SEGURO
Dois dias depois do Domingo de Páscoa, perto dos recifes de Abrolhos, apareceram sargaços flutuantes. Na tarde do dia seguinte, 22 de abril de 1500 pelo calendário da época, a armada de Cabral ancorou diante do Monte Pascoal, que fica perto de Caraívas, no Sul da Bahia.

Cabral levou 44 dias para atravessar o Atlântico e chegar a Porto Seguro, na Bahia. Desde o século 9, mapas europeus incluíam uma ilha mítica e verdejante chamada Brasil do outro lado do oceano. A esquadra evitou os recifes e seguiu rumo norte até ancorar na Baía de Cabrália, ao norte de Porto Seguro.

PARDOS, NUS E SEM VERGONHA
Quando chegaram à terra num bote com homens dos três continentes conhecidos, que falavam várias línguas, não conseguiram se comunicar com os nativos, “pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas”. Eram os tupiniquins.

A nau de mantimentos foi mandada de volta para Lisboa sob o comando de Gaspar de Lemos, com a carta de Caminha e as primeiras toras de pau-brasil enviadas à Europa. Dois degredados ficaram no Brasil e cinco marinheiros desertaram, preferindo ficar no novo mundo.

TORMENTA NO CABO
Ao seguir viagem rumo à Índia, a frota enfrentou em 23 de maio de 1500 uma tempestade perto do Cabo da Boa Esperança. Cinco navios, com mais de 380 homens desapareceram, inclusive a caravela de Bartolomeu Dias, o primeiro europeu a dobrar o que ele chamou de Cabo das Tormentas.

Um dos heróis de Os Lusíadas, nas palavras de Camões, Dias tornou-se vítima do cabo que descobrira.

GUERRA EM CALICUTE
Em 13 de setembro, seis meses e quatro dias depois de sair de Lisboa, a reduzida esquadra cabralina finalmente chegou a Calicute, na Índia. Os portugueses ganharam o direito de construir uma feitoria no porto da cidade.

Em 16 de dezembro de 1500, cerca de 300 árabes e indianos atacaram a feitoria. Mais de 50 portugueses morreram, inclusive Caminha. Durante dois dias, Cabral bombardeou Calicute, matando muita gente e causando grandes danos. Acabou instalando a feitoria em outra cidade.

TERRA DE SANTA CRUZ
Quando voltaram a Portugal um ano depois do descobrimento, Cabral e seus capitães chamariam o Brasil de Terra de Santa Cruz. Logo o nome mudaria para Brasil por causa da abundância da árvore que dava um pigmento vermelho e da mítica “ilha do Brasil”.

Ao chegar à foz do Rio do Ouro, no atual Senegal, a frota de Cabral encontrou outra, enviada por Dom Manuel  para explorar as terras que Cabral descobrira. A bordo, estava o navegador florentino Américo Vespuccio.

NOVO MUNDO
A Primeira Expedição Exploradora batizou os acidentes geográficos da costa brasileira com os nomes dos santos do dia. Em 1º de novembro de 1501, chegou à Baía de Todos os Santos. Em 1º de janeiro de 1502, batizou o Rio de Janeiro. Em 6 de janeiro, descobriu a Angra dos Reis.

Com base em informações desta expedição, foi produzido o primeiro mapa do Novo Mundo, confirmando que, ao contrário do que pensara, Colombo não chegara às Índias, descobrira um novo continente, batizado de América em homenagem a Américo Vespuccio.

VOLTA AO MUNDO
O interesse maior da coroa portuguesa estava nas riquezas da Ásia. Nos primeiros 30 anos, o Brasil mereceu pouca atenção. Foi alvo fácil de piratas e corsários.

Em 1513, os portugueses chegariam a Macau, na China. Em 1520-21, a frota de Fernão de Magalhães deu a primeira volta ao mundo, a serviço da Espanha. Ele morreu nas Filipinas, mas seus companheiros completaram a viagem. Em 1543, os portugueses desembarcaram em Nagasake, no Japão.

Um grande herói português dessa época foi Afonso de Albuquerque, conhecido como o Grande, César do Oriente, Leão dos Mares, o Terrível e Marte Português.

ESTADO DA ÍNDIA
Segundo governador do Estado da Índia, considerado um gênio militar, Albuquerque tentou fechar todas as passagens navais para o Oceano Índico, o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico, o Atlântico e o Pacífico, construindo uma série de fortalezas para fechar o Índico para os portugueses.

Como governador, com uma força nunca superior a 4 mil homens, estabeleceu a capital do Estado da Índia em Goa, tomada em 1510; conquistou Málaca, o porto mais oriental do Índico em 1511; chegou às Ilhas Molucas, conhecidas como as “ilhas das especiarias”, em 1512; dominou o Estreito de Ormuz, entrada do Golfo Pérsico,  em 1515; e manteve contatos diplomáticos com reinos na Índia, Etiópia, Pérsia, Sião e China.

Vice-rei e Duque de Goa, Afonso de Albuquerque foi o segundo europeu a fundar uma cidade na Ásia, depois de Alexandre, o  Grande (353-323 AC). Durante dois séculos e meio, de 1505 a 1752, o Estado da Índia administrou todas as possessões do Império Português no Oceano Índico, de Moçambique, na África, a Macau e o Timor. Só em 1752, Moçambique passou a ter seu próprio governo.

Em 1961, o Exército da Índia invadiu Goa e tomou que restava da Índia portuguesa.

CONTRABANDO
Enquanto a Carreira da Índia se mostrava extremamente onerosa, aumentava o contrabando no Brasil. A França, por exemplo, não aceitava a divisão do mundo entre Portugal e Espanha no Tratado de Tordesilhas. O litoral do Brasil era seu alvo.

Em 1530, veio a primeira expedição colonizadora, de Martim Afonso de Souza, que fundou São Vicente, o primeiro povoado brasileiro, em 1532.

No mesmo ano, uma frota portuguesa descobriu no navio francês Peregrina, no porto de Málaga, 15 mil toras de pau-brasil, 3 mil peles de onça, 600 papagaios, 1,8 tonelada de algodão, óleos medicinais, pimenta, sementes e amostras minerais. O navio passara quatro meses no Brasil e tomara uma feitoria portuguesa em Igaraçu, junto à ilha de Itamaracá, em Pernambuco, retomada por Pero Lopes de Souza.

INQUISIÇÃO
A frota que capturou o Peregrina levava para Roma o bispo Dom Martinho, que seria embaixador junto à Santa Sé e trataria da instalar a Inquisição em Portugal. O rei Dom João III (1521-57) era casado com Catarina, filha de Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, o imperador mais poderoso da Europa, que sonhava em criar uma monarquia universal. Não conseguiu resistir à pressão da Espanha.

O tribunal Santo Ofício chegou a Portugal em 1536. O primeiro Auto da Fé foi realizado em 1540. No mesmo ano, é fundada a Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas, um dos principais braços da Igreja Católica no movimento contra a Reforma da Igreja, a Contrarreforma, fundamental na colonização da América espanhola e portuguesa.

Logo os jesuítas controlariam a educação em Portugal e seriam importantes na colonização do Novo Mundo pelos impérios português e espanhol.

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
Para combater o contrabando, houve três expedições de Cristóvão Jacques, em 1516, 1521 e 1527, antes da expedição colonizadora de 1530-32.

Em 1534, Dom João III resolveu colonizar o Brasil no mesmo modelo usado na Madeira e nos Açores: capitanias hereditárias e sesmarias. Era a primeira vez que os europeus tentavam transplantar sua cultura para o Novo Mundo.

O Brasil foi dividido em 15 capitanias hereditárias. As quatro capitanias mais ao norte, da Paraíba do Norte ao Amazonas, não foram ocupadas por seus donatários no século 16.

Entre os donatários, sete eram da pequena nobreza de Portugal. Tinham se destacado nas campanhas na África e na Índia. Quatro eram altos funcionários da corte e um era um capitão da confiança de Martim Afonso de Souza. Não tinham, na maioria, nem recursos nem capital para colonizar áreas tão vastas, mesmo com os enormes privilégios concedidos pela coroa portuguesa.

Só Pernambuco e São Vicente prosperaram. O donatário da Bahia de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, foi atacado pelos índios tupinambás e refugiou-se na vizinha capitania de Porto Seguro.

Ao voltar, o donatário e os colonos naufragaram diante da Ilha de Itaparica, em 1547. Os sobreviventes foram capturados, mortos e devorados pelos índios.

GOVERNO GERAL
Diante do fracasso do modelo de capitanias e da ameaça cada vez maior dos franceses, D. João III criou um governo central para a colônia e nomeou Tomé de Souza primeiro governador-geral do Brasil.

Em 29 de março de 1549, ele chegou à Baía de Todos os Santos, ancorou no Porto da Barra, e fundou a cidade de Salvador, capital colonial do Brasil até 1763, quando o Brasil foi elevado a Vice-Reino e a capital transferida para o Rio de Janeiro.

FRANÇA ANTÁRTICA
Com cerca de 600 homens, duas naus e uma naveta de mantimentos, Nicolas Durand de Villegagnon entrou na Baía de Guanabara em 10 de novembro de 1555 e criou a França Antártica, uma tentativa de estabelecer uma colônia permanente. Foi de certa forma a primeira crise internacional do Brasil.

Os franceses chegaram na Ilha de Lage, onde tentaram armar uma fortificação para defender a entrada da baía, mas foram impedidos pela maré. Fundaram o Forte Coligny, na Ilha de Serigipe, e se instalaram na Praia do Flamengo, entre a foz do Rio da Carioca e o Outeiro da Glória, onde pretendiam fundar a Henriville, em homenagem ao rei Henrique III, da França.

Com reforços da capitania de São Vicente, o terceiro governador-geral do Brasil, Men de Sá, abriu fogo contra os franceses em 15 de março de 1560. No dia seguinte, o forte foi tomado.

Os franceses remanescentes se refugiaram com tribos indígenas e foram alvo de uma campanha de Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral, numa guerra que foi de 1565 a 1567.

Nessa guerra, Estácio fundou o Rio de Janeiro em 1º de março de 1565 no Morro Cara de Cão, um pequeno morro que fica na frente do Pão de Açúcar, onde está a Fortaleza de São João, guarnecendo a entrada da baía.

DECLÍNIO
O marco do início da decadência de Portugal é a morte do jovem rei Dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1578, junto com boa parte da nobreza. Sobe ao trono o rei-cardeal Dom Henrique, que morre dois anos depois abrindo uma crise sucessória.

Dom João III foi sucedido pelo neto, Dom Sebastião (1557-78), que na época tinha apenas 3 anos da idade. Religioso fanático, desde criança seria obcecado em realizar uma cruzada no Marrocos. Ele visitou Ceuta e Tânger em 1574 e preparou uma grande expedição. Partiu em julho de 1578.

Na Batalha de Três Reis, perto de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578, o exército de Dom Sebastião foi destruído. Cerca de 15 mil portugueses foram capturados. Oito mil portugueses morreram em combate, inclusive o jovem rei, que não deixou descendentes.

SEBASTIANISMO
Era o fim do século de ouro de Portugal. O povo português não aceitava a morte do jovem rei. Até hoje, em todo o antigo Império Português, há uma série de mitos em torno de uma possível volta triunfante do rei morto, o sebastianismo.

Em Lençóis, no Maranhão, havia uma lenda que dizia que nas noites de lua cheia um touro albino corria por suas dunas brancas. Se um arqueiro conseguisse alvejar aquele touro entre os dois chifres e matá-lo, a esquadra de Dom Sebastião ressurgiria do mar. O Maranhão guarda muito da herança colonial portuguesa. Mas quase não foi assim.

DOMÍNIO ESPANHOL
Em 1580, como Dom Sebastião não deixara descendentes, a coroa portuguesa foi reivindicada por Felipe II, rei da Espanha, dando início à monarquia dualista, à União Ibérica. Até 1640, três reis espanhóis reinaram sobre Portugal e Espanha sem unificar os dois reinos.

Durante o Domínio Espanhol, os bandeirantes e pioneiros aproveitaram para ir muito além do Meridiano de Tordesilhas, ampliando o Brasil para o Oeste com a conquista do Mato Grosso, do Pantanal, da Amazônia e do Rio Grande do Sul.

Outra consequência foi o envolvimento de Portugal em guerras com a França e na Guerra dos Oitenta Anos entre a Espanha e a Holanda, o que levou às duas invasões holandeses no Nordeste do Brasil, em Salvador (1624-25) e em Pernambuco (1630-54). Antes houve a invasão da França ao Maranhão.

FRANÇA EQUINOCIAL
Os franceses fizeram uma segunda tentativa de se estabelecer em território brasileiro no Maranhão, de 1594 a 1615.

Em 1594, Jacques Riffault montou uma feitoria na Ilha de São Luís. Henrique IV mandou Daniel de la Touche em missão de reconhecimento, mas morreu antes de lançar a nova empreitada colonial. Coube à rainha Maria de Médici, regente durante a minoridade de Luís XIII, dar a carta régia para o estabelecimento da França Equinocial.

Com três navios e 500 colonos, Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, saiu do porto de Cancale em março de 1612. Para facilitar sua defesa, os colonos franceses fundaram um povoado chamado de São Luís em homenagem a Luís XIII (1610-43).

Em 8 de setembro de 1612, os frades rezaram a primeira missa e começou a construção do Forte São Luís onde hoje fica o Palácio dos Leões, na Baía de São Marcos. É a única capital brasileira fundada por estrangeiros, já que a tentativa de estabelecimento da França Antártida no Rio de Janeiro pelos franceses não é reconhecida como fundação.

Em sua extensão máxima, a França Equinocial ia do litoral do Maranhão até o norte do estado do Tocantins, inclusive quase todo o leste do Pará e boa parte do Amapá. Em 1613, os franceses foram os primeiros a chegar à foz do Rio Araguaia, na região do Bico do Papagaio.

Os portugueses organizaram uma força na capitania de Pernambuco e, em 4 de novembro de 1615, os franceses se renderam.

INVASÃO HOLANDESAS
Na guerra com a Holanda, Portugal perdeu na Ásia, empatou na África e ganhou no Brasil. Foi obrigado a pagar uma grande indenização para garantir seus direitos sobre o Nordeste.

No século 17, quando era a maior potência marítima e comercial, a Holanda invadiu duas vezes o Nordeste brasileiro, a Bahia (1624-25) e Pernambuco (1630-54). Era o período do Domínio Espanhol (1580-1640), quando o rei da Espanha governou Portugal, e a Holanda estava em guerra com a Espanha e depois com a Inglaterra.

INVASÃO À BAHIA
Em 9 de maio de 1624, cerca de 3,4 mil holandeses liderados por Jacob Willekens tomaram Salvador, a capital colonial do Brasil, sem encontrar grande resistência, mas não conseguiram manter a conquista.

Menos de um ano depois, em 27 de março de 1625, uma esquadra de mais de 50 navios espanhóis e portugueses sob o comando do almirante espanhol Fradique de Toledo y Osorio chegou a Salvador. Depois de 35 dias de batalha, os holandeses se renderam em 1º de maio, no Convento do Carmo, transformado em quartel-general da resistência brasileira.

INVASÃO A PERNAMBUCO
Ao desembarcar ao norte de Olinda, onde hoje fica o Forte de Pau Amarelo, em 1630, os holandeses foram guiados por um judeu. A República Holandesa era liberal e tolerante, enquanto a colônia portuguesa tinha recebido uma visitação do Santo Ofício em 1590-91 e os judeus temiam a perseguição pela Igreja Católica.

Com o ciclo do açúcar, Pernambuco era a mais rica das províncias ultramarinas portuguesas. Na época, o açúcar era a mercadoria mais importante do mercado internacional e o Brasil o maior produtor, posição mantida até hoje. Era o melhor negócio da colônia; o segundo era o tráfico de escravos.

NASSAU
O Brasil Holandês chegou a ocupar uma grande extensão da costa, do Norte da Bahia ao Maranhão durante o governo do conde alemão João Maurício de Nassau (1637-44), príncipe do pequeno Principado de Nassau-Siegen, parte do Sacro Império Romano-Germânico.

Com a ajuda de um famoso arquiteto holandês, Pieter Post, Nassau desenvolveu o Recife ampliando-o para uma nova ilha onde construiu a Cidade Maurícia, ligada ao Recife antigo por uma ponte.

Como os nativos se recusavam a usá-la, Nassau inventou que haveria um boi voador do outro lado. Chegou a construir um mecanismo para fingir que um boi voava.

Nassau também instaurou câmaras municipais, modernizou a infraestrutura de transportes do Recife, criou o Jardim Botânico, o Museu de História Natural e o Zoológico.

Seus gastos excessivos alarmaram os acionistas da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Sem total liberdade para fazer o que quisesse, Nassau embarcou no porto de Cabedelo e voltou à Europa em julho de 1644.

INTEGRIDADE TERRITORIAL
A derrota do Brasil Holandês foi essencial para a integração nacional, argumenta o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, autor de vários livros sobre a invasão holandesa, como Nassau: governador do Brasil Holandês, O Negócio do Brasil e Olinda Restaurada. Naquela época, o Brasil estava no Nordeste.

Se não estourasse a Primeira Guerra Anglo-Holandesa (1652-54), talvez a Insurreição Pernambucana não tivesse o mesmo sucesso no cerco e assalto final ao Recife, na Batalha dos Guararapes.

Numa visão militar, o conflito terminou com a vitória brasileira na Batalha dos Guararapes e a libertação do Recife. Em O Negócio do Brasil, o historiador Evaldo Cabral de Mello ensina que a guerra entre Holanda e Portugal só terminou depois de uma guerra marítima de 1657-61 e de dois acordos de paz, em 1661 e 1669, em que os holandeses reconheceram a soberania portuguesa sobre o Nordeste em troca de concessões financeiras e comerciais.

Pelo Tratado de Londres, de 1661, Portugal deveria pagar 4 milhões de cruzados durante 16 anos pelo Nordeste. No Tratado de Haia, de 1669, a indenização foi reduzida para 2,5 milhões de cruzados a serem pagos em 20 anos.

Além do Brasil e da Nova Amsterdã, tomada pelos ingleses e rebatizada como Nova York, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais ficou com a Costa do Ouro e o Suriname. Mas não sobreviveu. Faliu no início dos 1670s.

Os holandeses levaram a tecnologia de produção do açúcar de cana para o Caribe. A segunda metade do século 17 foi a Idade de Ouro da Holanda.

RESTAURAÇÃO
Depois de duas revoltas fracassadas, em 1634 e 1637, em 1640, uma conspiração urdida pelo primeiro-ministro francês Armand-Jean du Plessis, Cardeal e Duque de Richelieu, levou a uma revolução nacionalista em Portugal, a Revolta de Lisboa, em 1º de dezembro de 1640.

Com a Restauração, Dom João, Duque de Bragança, neto da duquesa Catarina, sobrinha de Dom João III, foi coroado como Dom João IV (1640-56). Foi o primeiro rei da Dinastia de Bragança, que governou Portugal até a queda da monarquia, em 1910, e deu os dois imperadores do Brasil

O golpe que restaurou a independência de Portugal deflagrou uma guerra com a Espanha que só acabou com a assinatura de um tratado de paz em 1668, em Lisboa. Em troca, Portugal cedeu Ceuta, até hoje uma colônia espanhola.

Dom João IV foi sucedido por Afonso VI, que selou a paz com a Espanha e a Holanda. Durante o reinado de seu sucessor, Pedro II (1683-1706), foi descoberto o ouro do Brasil, que daria grande riqueza a Portugal.

CICLO DO OURO
Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, em 1693, o fim do século 17 e a primeira metade do século 18 foram um período de grande prosperidade de Portugal e da colônia, tanto que Portugal chegou a cogitar a transferência da capital do Império para o Brasil.

Em 1728, foram descobertos diamantes. A coroa ficava com um quinto da renda do comércio de metais e pedras preciosas, garantindo as finanças do reinado de Dom João V (1706-50), sucedido por seu filho, Dom José (1750-77).

As cidades históricas de Minas são testemunhas desse passado de riqueza.

TERREMOTO DE LISBOA
Um terremoto de grandes proporções seguido de um maremoto arrasou Lisboa em 1º de novembro de 1755, durante o governo do Marquês do Pombal. Mais de 10 mil pessoas morreram, quase metade da população da capital portuguesa.

A magnitude é estimada hoje em até 9 graus na escala Richter, o que o tornaria o terremoto tão violento quanto o Terremoto de Fukushima, que atingiu o Nordeste do Japão em 11 de março de 2011.

Minutos depois do tremor de terra, ondas gigantes de 6 a 10 metros de altura varreram a cidade, alagando o porto e o centro de Lisboa. Nas áreas não alagadas pelas tsunames, o fogo de alastrou. Os incêndios duraram 5 dias.

MARQUÊS DO POMBAL
O mais famoso e discutido dos primeiros-ministros portugueses, o Marquês do Pombal, governou Portugal de 1750-77, no reinado de Dom José. Foi o exemplo português do chamado despotismo esclarecido, que combinava o absolutismo monárquico com o racionalismo iluminista.

Sebastião José de Carvalho e Melo promoveu várias reformas. Acabou com a escravidão em Portugal continental, com a Inquisição e a perseguição a judeus e cristãos novos, perseguiu os jesuítas e os expulsou do Império Português em 1757, levando o papa a extinguir a Companhia de Jesus em 1773.

Ao expulsar os jesuítas, Pombal destruiu o sistema educacional português.

Com a morte de Dom José, em 1777, sobe ao trono sua filha Maria I (1777-1816), conhecida como a Rainha Louca. Até 1786, ela dividiu o trono com o tio e marido, Dom Pedro III. Sua morte e a do príncipe herdeiro, Dom José, Duque de Bragança, teriam contribuído para a loucura da rainha, agravada durante a Revolução Francesa e seu período de terror, que abalaram as monarquias europeias.

Ao contrário da imperatriz Catarina II, da Rússia, que vacinou os filhos contra a varíola, Dona Maria I não imunizou o herdeiro do trono.

RAINHA LOUCA
O primeiro ato de Maria I foi demitir o Marquês do Pombal e expulsá-lo de Portugal. Durante a Revolução Francesa (1789-99), ela deu asilo a vários aristocratas franceses.

Em 5 de janeiro de 1785, Maria I baixou um alvará proibindo a atividade industrial no Brasil, com exceção de panos grossos para uso de escravos e trabalhadores, atrasando o desenvolvimento do país.

No seu reinado, foi descoberta a Inconfidência Mineira (1789), o que levou ao processo e execução de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em 21 de abril de 1792, como conta o historiador britânico Kenneth Maxwell em A Devassa da Devassa.

Católica fervorosa, conhecida como Maria Pia ou Piedosa, quando ladrões entraram numa igreja e espalharam hóstias pelo chão, a Rainha Louca decretou nove dias de luto e acompanhou a pé no chão de vela na mão uma procissão de penitência que percorreu Lisboa.

Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de 1792, Dona Maria I foi obrigada a deixar o filho, o príncipe-regente Dom João, assumir os negócios do Estado.

INVASÕES NAPOLEÔNICAS
Por não apoiar o Bloqueio Continental imposto por Napoleão contra a Grã-Bretanha, Portugal entra em guerra com a França. Em 19 de novembro de 1807, a França invade Portugal. O general Jean Junot toma Lisboa em 30 de novembro.

Sob proteção da Marinha Real britânica, a corte portuguesa foge para o Brasil semanas antes, em 13 de novembro de 1807, instala a capital do império no Rio de Janeiro em 1808 e abre os portos do país ao comércio com os países amigos, principalmente a Grã-Bretanha, que sofria com o Bloqueio Continental decretado por Napoleão na Europa.

Maria I teria sido obrigada a embarcar à força. Muito religiosa, temia estar indo para o inferno. Alheia à crise, foi quem se manteve mais calma na hora da fuga, chegando a dizer: “Não corram tanto. Vão pensar que estamos a fugir.”

Em 1º de agosto de 1808, o Duque de Wellington inicia a luta pela segunda restauração de Portugal e da Espanha. O termo guerrilha foi usado pela primeira vez na Guerra Peninsular para descrever a tática da resistência espanhola de lançar ataques de surpresa e recuar para escapar à reação do inimigo mais poderoso.

REINO UNIDO
A vinda da família real representou na prática a independência do Brasil, já que a capital ficava aqui. O Rio de Janeiro foi a única cidade ao Sul do Equador a comandar um império que se estendia por quatro continentes: África, América, Ásia e Europa, com a restauração de Portugal após a derrota final de Napoleão na Batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815.

Em 1815, depois do Congresso de Viena, que restaurou as monarquias europeias, o Brasil era elevado a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Mas Dom João VI (1816-26) não mostrava interesse em voltar para Lisboa.

REVOLUÇÃO DO PORTO
Em 1817, o comandante britânico William Beresford, que chefiava o Exército de Portugal, reprimiu em Lisboa uma conspiração liderada pelo general Gomes Freire de Andrade, que foi executado.

Quando Beresford veio ao Brasil, em março de 1820, tentar convencer Dom João VI a voltar, estourou uma revolução constitucionalista no Porto, em 24 de agosto. Ao voltar a Lisboa, Beresford foi impedido de desembarcar. Uma Assembleia Constituinte aprovou uma Constituição liberal, forçando a volta da família real.

A Revolução do Porto obrigou Dom João VI a voltar para Lisboa em 25 de abril de 1821, deixando o filho Pedro como regente do reino. Sua mulher, Carlota Joaquina, e seu filho Miguel se recusaram a jurar a nova Constituição.

Como a corte portuguesa não aceitava o status do Brasil como reino, Dom Pedro foi pressionado a voltar para Lisboa, mas preferiu declarar a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Com a independência, o Império Português se enfraqueceu definitivamente.

IRMÃOS EM GUERRA
Dom Miguel, irmão de Dom Pedro I, tentou dar um golpe em 1824 e reinstaurar o absolutismo, mas fracassou e fugiu para o exílio em Viena.

Quando Dom Pedro I abdicou ao trono do Brasil, em 1831, e voltou para a Europa para assumir o trono como Dom Pedro IV, de Portugal, teve de enfrentar o irmão, que se rendeu em Évora em maio de 1834.

Dom Pedro IV morreu meses depois, em setembro de 1834, deixando sua filha Dona Maria II (1834-53) como rainha. Seu governo foi marcado por uma série de revoltas e conflitos entre liberais (setembristas) e absolutistas (cartistas, defensores da Constituição outorgada por Dom Pedro IV) como a Revolução de Setembro (1836), a Belenzada (1836), a Maria da Fonte ou Revolução do Minho (1846) e a Guerra da Patuleia (1846-47).

As causas foram a miséria da maior parte do povo, a dependência em relação à Inglaterra, a concentração do poder político e econômico numa burguesia pequena e predominantemente rural, o caráter antidemocrático da Constituição e a revolução de 1836 na Espanha.

Depois de uma rebelião militar em 1º de maio de 1851, começa o período da Regeneração, consolidado pelo Ato Adicional de 1852, que reformou a Constituição outorgada por Dom Pedro IV em 1826.

Maria II foi sucedida por Pedro V (1853-61) e este por seu irmão Luís (1861-89).

PARTILHA DA ÁFRICA
Quando a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra por volta de 1750 chegou ao resto da Europa, no século 19, houve um novo surto imperialista em busca das matérias-primas do resto do mundo. Isso levou à Conferência de Berlim (1884-85), que na prática dividiu a África entre as potências coloniais europeias.

Portugal convocou a conferência para defender seus direitos no continente, cada vez mais explorado por outras potências europeias, inclusive a uma faixa do território africano unindo Angola e Moçambique apresentado no chamado Mapa Cor-de-Rosa.

A Alemanha e a França concordaram, em 1886, com a reivindicação portuguesa, rejeitada pelo Império Britânico, que temia isolamento de suas colônias no Sul da África.

Portugal iniciou então uma campanha de conquista e pacificação dos territórios pretendidos, já que a colonização da África portuguesa se limitava a portos e entrepostos costeiros. A Conferência de Berlim exigia a “ocupação efetiva”.

ULTIMATO BRITÂNICO
Em 1887, Portugal tentou fechar o Rio Zambeze à navegação e reclamou o vale do Rio Niassa. O primeiro-ministro britânico, Robert Gascoyne Cecil, Lorde Salisbury, recusou-se a reconhecer o direito dos portugueses, considerando os territórios em disputa “não ocupados com forças suficientes para manter a ordem, proteger os estrangeiros e controlar os nativos”.

A pretensão portuguesa atrapalhava o megaprojeto britânico de construir uma estrada de ferro transafricana ligando a Cidade do Cabo ao Cairo, promovido por Cecil Rhodes, empresário do imperialismo que instalou a Rodésia do Norte (hoje Zâmbia) e a Rodésia do Sul (Zimbábue) nos territórios reivindicados por Lisboa.

Em 11 de janeiro de 1890, o governo britânico deu um ultimato para Portugal retirar suas forças do território entre as colônias de Angola e Moçambique, hoje parte da Zâmbia, do Zimbábue e do Maláui. Caso contrário, seriam alvo de ataque.

Lorde Salisbury rejeitou o pedido português de arbitragem. Sob coação, Portugal cedeu no Tratado Anglo-Britânico de 1891, abrindo mão dos territórios num dos momentos mais humilhantes da longa aliança entre os dois países.

A humilhação desgraçou o reinado de Carlos  I (1889-1908), marcado por problemas econômicos e crises políticas. Para enfrentar uma série de greves e revoltas, Carlos nomeou João Franco primeiro-ministro em 1906 e lhe deu poderes ditatoriais.

REPÚBLICA
Com a ditadura e as denúncias de corrupção e extravagâncias da corte, o rei e seu filho mais velho, Luís Felipe, foram assassinados a tiros por anarquistas nas ruas de Lisboa em 1º de fevereiro de 1908.

Aos 18 anos, o filho mais novo de Carlos ascende ao trono como Manuel II (1908-10), que tenta formar um governo com o apoio dos dois principais partidos, renegadores e progressistas. Mas seus líderes não apareceram no encontro marcado.

A vitória dos republicanos nas eleições gerais de 10 de agosto de 1910 selou a sorte da monarquia. Em 5 de outubro de 1910, o palácio é bombardeado e o rei Dom Manuel II parte para o exílio. A república é instaurada.

Em 1915-17 e 1925-26, Portugal teve um presidente nascido no Brasil, Bernardino Luís Machado.

DITADURA
Depois de anos de greves, conflitos trabalhistas, levantes, agitação social, assassinatos políticos e crises financeiras, problemas que se aprofundaram durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18), o Exército tomou o poder num golpe em 1926.

O regime militar nomeou em 1928 para ministro das Finanças um professor da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar, promovido a primeiro-ministro em 1932.

SALAZARISMO
Em 1933, Salazar implantou o Estado Novo, um regime autoritário de caráter fascista, com censura, polícia política, partido único e sindicatos atrelados ao Estado.

Portugal apoiou o general Francisco Franco contra os republicanos na Guerra Civil Espanhola (1936-39), mas ficou neutro na Segunda Guerra Mundial, apesar de simpatizar com o Eixo.

Na Guerra Fria, foi um dos fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar antissoviética liderada pelos Estados Unidos, em 1949, mas só aderiu às Nações Unidas em 1955.

Afastado por motivo de doença em 1968, Salazar foi substituído pelo primeiro-ministro Marcelo Caetano, ex-ministro das Colônias, que legalizou alguns partidos de oposição, mas não conseguiu acabar com as guerras coloniais nem vencer a crise econômica.

Portugal crescera de 5% a 7% de 1960 até a crise deflagrada pelo embargo à venda de petróleo árabe ao Ocidente, em 1973, que ajudou a acabar com a ditadura.

GUERRAS COLONIAIS
A recusa da ditadura portuguesa de negociar a independência das últimas colônias levou a revoltas em Angola (1961), Guiné-Bissau (1963) e Moçambique (1964).

Quando um dos mais importantes oficiais generais das Forças Armadas de Portugal, general António de Spínola declarou que uma solução militar era insustentável, em seu livro Portugal e o Futuro, foi afastado. Seria o primeiro presidente pós-ditadura.

REVOLUÇÃO DOS CRAVOS
O decorrente mal-estar entre os jovens oficiais e a crise econômica levaram à Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. A resistência foi mínima, mas houve quatro mortes em Lisboa.

Durante um ano e meio, houve um período de grande agitação social, política e militar conhecido como “processo revolucionário em curso”, com greves, manifestações, ocupações, governos provisórios, nacionalizações e confrontos armados.

O general Spínola renunciou em setembro de 1974, e o Movimento das Forças Armadas assumiu diretamente o poder, sob forte influência do Partido Comunista Português. O governo estatizou bancos e fábricas, e promoveu a reforma agrária. Mais de 500 mil pessoas fogem de Portugal.

Esse período termina com o golpe de 25 de novembro de 1975, uma tentativa de setores radicais de esquerda de tomar o poder abortada pelo general Ramalho Eanes, que se tornaria em 1976 o primeiro presidente de Portugal eleito pelo sufrágio universal.

Em 1975, Portugal concede independência a suas colônias africanas, que entram em guerras civis, e ao Timor Leste, que é ocupado pela Indonésia no contexto da Guerra Fria até 1999. Os EUA temiam que virasse uma Cuba do Sudeste Asiático.

No segundo aniversário da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1976, entra em vigor a Constituição democrática, que foi reformada sete vezes.

COMUNIDADE EUROPEIA
Com a democratização, a Grécia, a Espanha e Portugal entraram para a Comunidade Europeia nos anos 1980s, o que completou o processo de modernização desses países, levando a um novo surto de desenvolvimento.

Portugal entra em 1º de janeiro de 1986 e se beneficia dos fundos estruturais disponíveis para desenvolver as regiões mais atrasadas da Comunidade. Os avanços em saúde, educação, telecomunicações e infraestrutura foram notórios.

Em 1999, Portugal fez parte do primeiro grupo de países que adotou o euro como moeda comum. Também em 1999, devolveu Macau à China, terminando assim com a saga colonial iniciada com a conquista de Ceuta, no Marrocos, em 1415. Era o fim do Império Português.

CRISE DO EURO
Portugal fez parte do primeiro grupo de países da União Europeia a adotar o euro como moeda, em 1999, abandonando o escudo. Pela primeira vez em séculos, tinha moeda forte e juros baixos. Mas a economia praticamente não cresceu no século 20.

Com a crise financeira internacional agravada pelo colapso do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, a economia entrou em recessão.

Em 2010, o desemprego chegou a 10%. Os esforços do governo socialista para estimular a economia desnudaram os problemas do déficit orçamentário e da dívida pública. Os juros cobrados pelo mercado para refinanciar a dívida portuguesa dispararam. As agências de avaliação de risco rebaixaram a nota de crédito da dívida soberana do país para “lixo”.

Em março de 2011, o primeiro-ministro socialista José Sócrates apresentou à Assembleia da República o quarto pacote de corte de gastos e aumento de impostos em um ano, rejeitado pela oposição. Sócrates renunciou.

Em maio de 2011, o governo interino de Sócrates, à espera de eleições antecipadas, fechou um acordo com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para receber 78 bilhões de euros (US$ 116 bilhões) em empréstimos de emergência.

A esquerda foi derrotada nas eleições de 2011. Desde então, o primeiro-ministro é o conservador Pedro Passos Coelho. O desemprego chegou a 18% e só no segundo trimestre de 2013 a Zona do Euro começou a dar sinais de recuperação.

CULINÁRIA
A culinária portuguesa é rica e variada, com vários tipos de carnes, aves, peixes e frutos do mar, vinhos, azeite de oliva, cereais, pães, legumes, queijos, embutidos, sopas, pastéis e doces.

É parecida com a chamada dieta mediterrânea (Espanha, Itália e Grécia), considerada uma das mais saudáveis do mundo, com a vantagem de acrescentar produtos do Oceano Atlântico. E incorpora muitas plantas exclusivas da América, como o tomate, a batata, a cebola e o feijão.

O prato típico da cozinha portuguesa é o bacalhau pescado no Atlântico Norte seco e salgado, e dessalgado para se transformar em pratos saborosos como os bacalhau à Brás, à Gomes de Sá, à portuguesa, com natas, ao murro, entre outros. Os portugueses começaram a desenvolver seu talento para a navegação para pescá-lo no século 14.

Outros pratos portugueses importantes são a dobradinha à moda do Porto, as espetadas da Madeira, o leitão assado à moda de Bairrada, os rojões de Aveiro e do Minho, a carne de porco à alentejana e a caldeirada.

Há ainda uma ampla variedade de frutos do mar como o carabineiro, uma espécie de camarão que se come com cabeça e tudo.

Os doces portugueses são famosos, especialmente os feitos com gema de ovo, receitas de um tempo em que a clara era usada para engomar as roupas de padres e freiras, como os ovos moles de Aveiro, os pastéis de Santa Clara e o toucinho do céu, além dos pastéis de Belém, da siricaia e do pão-de-ló.

Portugal é grande produtor de vinhos, sobretudo nas regiões do Alentejo, do Douro e do Dão, e de vinhos doces especiais licorosos, como o vinho do Porto e o vinho da Madeira.

Foram os portugueses que levaram a laranja do Oriente Médio para a Europa durante as Cruzadas. O comércio de especiarias do Oriente Médio (cravo, canela, noz-moscada e pimenta-do-reino) impulsionou a era das grandes navegações. Os portugueses levaram a pimenta-malagueta de Goa, na Índia, para a Europa. Também trouxeram o chá para o Ocidente.

A cozinha de Portugal teve forte influência no Brasil e chegou até o Japão, para onde a receita da tempura foi levada por missionários portugueses no século 16.

EDUCAÇÃO
O ensino é obrigatório em Portugal dos 6 aos 12 anos de idade. Mais de 93% dos portugueses são alfabetizados, mas o sistema educacional sofreu muito com a expulsão dos jesuítas do Império pelo Marquês do Pombal, em 1757. Só no século 20 os mesmos níveis de escolaridade foram atingidos.

Portugal fundou sua primeira universidade em Coimbra, em 1290. É uma das mais antigas do mundo. Hoje em dia, o país tem cerca de 380 mil universitários, mas só 18% dos portugueses têm curso superior. Isto reduz a competividade da economia lusitana no mundo globalizado.

Ao contrário da Irlanda, outro país abalado pela crise das dívidas públicas, a economia de Portugal não tem a produtividade e a sofisticação tecnológica necessárias para ser um país rico.

A Universidade do Porto é a maior do país, com 31 mil estudantes, e sua Faculdade de Engenharia é a maior da Europa.

CULTURA
Portugal desenvolveu uma cultura única baseada na tradição cristã com forte influência da invasão moura à Península Ibérica e das culturas com que entrou em contato, como disse Camões, por causa “daqueles reis que foram dilatando a fé e o Império, e as terras viciosas da África e da Ásia andaram devastando”.

As portugueses assimilaram novas culturas e se miscigenaram com outros povos, como constata Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala. Camões já revelava em Os Lusíadas a atração dos portugueses por mulheres não europeias. O pênis foi um dos grandes instrumentos da colonização portuguesa.

LITERATURA
A literatura portuguesa, uma das mais importantes da civilização ocidental, começou como poesia oral dos trovadores da Idade Média. O poeta e escritor Gil Vicente (1465-1536) foi um dos pioneiros.

O maior nome da literatura portuguesa é o poeta e aventureiro Luís de Camões (1524-80). No poema épico Os Lusíadas, sob a inspiração da Eneida, de Virgílio, Camões narrou a saga da expansão colonial marítima, concentrando-se na viagem de Vasco da Gama à Índia, em 1498.

A poesia moderna está enraizada nos estilos neoclássico e contemporâneo, como se vê na obra de Fernando Pessoa (1888-1935), com seus heterônimos, cada um com sua poesia característica: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares.

O crítico Harold Bloom comparou Pessoa ao grande poeta americano Walt Whitman e o incluiu entre os 26 maiores escritores da civilização ocidental.

Outros autores portugueses importantes foram Almeida Garrett, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Florbela Espanca, António Lobo Antunes, Alexandre Herculano, Miguel Torga e, mais recentemente, José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 com o Memorial do Convento.

MÚSICA
A música tradicional portuguesa tem instrumentos típicos como o cavaquinho, a gaita de foles, o acordeão, os tambores e a guitarra portuguesa, que teve em Carlos Paredes seu maior mestre.

Do folclore, vieram danças tradicionais como o vira do Minho, os pauliteiros de Miranda, o corridinho do Algarve e o bailinho da Madeira.

O estilo de música popular mais conhecido de Portugal é o fado. Sua maior intérprete foi Amália Rodrigues.

Na segunda metade do século 20, surgiram nomes como Fausto, Sérgio Godinho, Zeca Afonso e o grupo Madredeus, que combina música clássica, a música tradicional portuguesa e a música popular contemporânea.

A música clássica portuguesa atingiu o auge no século 17 com as escolas de Évora e Santa Cruz de Coimbra.

ARQUITETURA
O Castelo de São Jorge, erguido onde os visigodos tinham um forte no século 5 que os mouros transformaram numa cidadela islâmica, o alcácer, é um símbolo de Portugal em três eras.

Sua captura na Reconquista, em 1147, exigiu três dias de cerco. Quando a capital foi transferida de Coimbra para Lisboa, em 1255, o castelo virou Paço Real, palácio de bispos e albergue de nobres.

O estilo românico predominou na arquitetura portuguesa até o século 13, quando surgem monumentos em estilo gótico como o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, ou Mosteiro da Batalha, construído de 1386 a 1517 para festejar a vitória na Batalha de Aljubarrota, que consolidou a independência de Portugal.

O Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, foi erguido para celebrar a viagem de Vasco da Gama à Índia, financiado em grande parte pelos lucros do comércio de especiarias. Resistiu ao terremoto de 1755. Lá, estão enterrados grandes heróis da pátria, como os reis Dom Manuel I, Dom João III e Dom Sebastião, e os escritores Luís de Camões, Alexandre Herculano e Fernando Pessoa.

ESPORTE
Portugal participa das olimpíadas desde os Jogos de 1912 e ganhou quatro medalhas de ouro no atletismo, com os maratonistas Carlos Lopes (1984) e Rosa Mota (1988), a fundista Fernanda Ribeiro nos 10 mil metros (1996) e Nélson Évora no salto triplo (2008).

Entre os esportes importantes em Portugal, estão atletismo, canoagem, ciclismo, equitação, esgrima, futebol, hóquei, iatismo, judô, rúgbi, surfe, tênis e tiro ao alvo.

FUTEBOL
O esporte mais popular e mais praticado em Portugal é o futebol. A seleção portuguesa disputa as eliminatórias da Copa do Mundo desde 1934, mas só chegou ao torneio em 1966, 1986, 2002, 2006 e 2010.

Na sua melhor classificação, Portugal ficou em 3º lugar na Copa da Inglaterra, em 1966, quando eliminou o Brasil na primeira fase e perdeu para a campeã Inglaterra na semifinal por 2-1.

Em 2006, foi 4º colocado na Copa da Alemanha, em 2006, perdendo para a França por 1-0 na semifinal e por 3-1 para a Alemanha na disputa do 3º lugar.

Em 2010, Brasil e Portugal empataram em 0-0 na fase de grupos. Portugal foi eliminado pela Espanha por 1-0 nas oitavas de final.

Em 2004, sob o comando de Luiz Felipe Scolari, Portugal foi vice-campeão da Copa da Europa de seleções, perdendo na final por 1-0 para a Grécia.

CRAQUES
O ex-jogador Eusébio, goleador da Copa do Mundo de 1966, nascido em Lourenço Marques quando Moçambique era colônia, é considerado o maior craque da história do futebol português. Agora, está sendo ameaçado por Cristiano Ronaldo, nascido na Ilha da Madeira, hoje o jogador mais bem pago do mundo. Ganha uns 17 milhões de euros por ano.

Outros grandes ídolos do futebol português foram o lisboeta Luís Figo, eleito melhor da Europa em 2000 e melhor do mundo em 2001, um dos poucos, como Ronaldo Fenômeno, que jogaram no Barcelona e no Real Madrid; e o açoriano Pedro Pauleta, maior goleador da seleção, que ultrapassou Eusébio, mas já tem Cristiano Ronaldo em sua cola.

Outra estrela do futebol português é o técnico José Mourinho, duas vezes campeão da Liga dos Campeões da Europa, pelo Chelsea, de Londres, em 2004, e pelo Internazionale, de Milão, em 2010, hoje de volta ao Chelsea. Nas duas ocasiões, ganhou o campeonato nacional, a taça nacional, a maior competição de clubes europeia e o mundial interclubes.

CLUBES
O Benfica, de Lisboa, clube com mais sócios do mundo segundo o Guinness, 235 mil, foi 32 vezes campeão de Portugal e bicampeão da Europa, em 1961 e 1962, quando o time de Eusébio perdeu o mundial interclubes para o Santos de Pelé por 3-2 no Maracanã e 5-2 no Estádio da Luz, numa das partidas mais espetaculares do Rei.

O Porto tem 27 campeonatos portugueses, foi duas vezes campeão da Europa (1987 e 2004), duas da Liga Europa e duas vezes campeão mundial de clubes (1987 e 2004).

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