terça-feira, 24 de junho de 2014

Camarões: culturalmente diverso, pobre e sob ditadura

A República de Camarões, situada no Oeste da África, na região do Golfo da Guiné, é um dos países de maior diversidade etnolinguística do mundo, com 230 povos que falam cerca de 250 línguas e dialetos.

Com 475.442 km2, é quase duas vezes maior do que o estado de São Paulo. É cercado pelo Golfo da Guiné, onde tem 402 km de costa, e a Nigéria, a oeste; pelo Chade e a República Centro-Africana, a leste; e pela República Democrática do Congo, a Guiné Equatorial e o Gabão, ao sul.

Só 13% das terras são aráveis. O ponto mais alto do país é o Monte Camarões, com 4.095 metros, que entrou em erupção no ano 2000. É o vulcão mais ativo da África Ocidental.

A atividade vulcânica por vezes solta gases venenosos dos lagos Nyos e Monoum na atmosfera. Em 1986, cerca de 1,7 mil pessoas morreram numa dessas erupções.

POPULAÇÃO
Camarões tem 23,1 milhões de habitantes. Mais da metade (52% em 2011) vive em cidades. As maiores são Duala (2,45 milhões) e a capital, Iaundê (2,432 milhões).

Cerca de 40% são cristãos, 20% muçulmanos e outros 40% seguem religiões africanas. A taxa de crescimento populacional é de 2,6% ao ano. Cada mulher tem, em média, 4,8 filhos.

SAÚDE
Os gastos com saúde somam 5,2% do produto interno bruto. Há 0,08 médico e 1,3 leito hospitalar para cada mil habitantes. Em 2012, a incidência de HIV/aids era de 4,5%.

A população sofre com doenças transmitidas pela água, como diarreia, esquissostomose, hepatite e tifo; doenças transmitidas por mosquitos, como malária, dengue e febre amarela; e problemas ambientais como desmatamento, superexploração de terras férteis, desertificação, caça de espécies ameaçada e pesca excessiva. Cerca de 10,3% dos camaroneses eram obesos em 2008.

EDUCAÇÃO
O analfabetismo atinge 28,7% da população acima de 15 anos, 35,2% das mulheres e 21,7% dos homens.

O gasto com educação equivale a apenas 3,2% do PIB. Cada camaronês estuda em média durante 10 anos.

POLÍTICA
A República de Camarões é um país unitário com duas câmaras legislativas, o Senado, com 100 cadeiras, e a Assembleia Nacional, com 180 deputados, que raramente derrubam ou alteram os projetos propostos pelo presidente.

O presidente tem poderes amplos e unilaterais para criar e administrar agências governamentais, comandar as Forças Armadas, negociar e ratificar tratados e acordos internacionais, e declarar estado de emergência. Indica o primeiro-ministro e os governadores das províncias.

Há eleições presidenciais há cada sete anos, mas o atual presidente, Paul Biya, está no poder desde 1982. Até dezembro de 1990, o único partido legal era a Reunião Democrática do Povo Camaronês (RDPC). Sob pressão, Biya autorizou a existência de mais de um partido a partir das eleições de 1992, que venceu com 40% dos votos.

A oposição denunciou fraude nas eleições de 1997, 2004 e 2001, vencidas por Biya por amplas margens.

CORRUPÇÃO
A corrupção é generalizada em todos os níveis de governo. Em 1997, foram criadas auditorias anticorrupção nos 29 ministérios, mas só 25% funcionaram efetivamente.

No ranking da Transparência Internacional, uma organização não governamental dedicada a combater a corrupção, Camarões está perto do fim da fila dos países honestos. É o 144º entre 176 países.

O Poder Judiciário está submetido ao Ministério da Justiça. O presidente nomeia todos os juízes. As forças de segurança são acusadas por organizações de defesa dos direitos humanos de torturar suspeitos de crimes, minorias étnicas, homossexuais e ativistas políticos.

ECONOMIA
Com petróleo e boas condições agrícolas, Camarões é uma das economias baseadas no setor primário mais bem-sucedidas da África negra ou subsaariana. Mas não superou problemas crônicos do subdesenvolvimento como renda per capita baixa e estagnada, má distribuição da riqueza, corrupção endêmica e um ambiente de negócios precário.


Camarões é um país rico em alumínio, ferro, ouro, urânio, níquel e manganês. Desde 1980, o petróleo é o principal produto de exportação.

Os subsídios a energia e alimentos causam déficits orçamentários, que em 2013 ficaram em 4,3% do PIB. A dívida pública é de 16,7% do PIB.

Desde os anos 1990s, o governo desenvolve programas com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para aumentar a eficiência na agricultura, aumentar o investimento, estimular o comércio. O FMI pressiona por reformas, inclusive aumento da transparência nas contas públicas, privatização e combate à pobreza.

Em 2013, o produto interno bruto foi de US$ 28 bilhões, estima o FMI, o que faz de Camarões o 98º país mais rico do mundo, logo atrás do Paraguai e da Costa do Marfim. A renda média por habitante ficou em US$ 1.212.

O crescimento em 2013 foi de 4,6%, depois de 4,6% em 2012 e 4,1% em 2011. A produção industrial cresceu 4,1%. O consumo doméstico representou dois terços do PIB. A inflação foi de 2,6% e a taxa básica de juros ficou em 4,25%.

A taxa de poupança foi de 21,3%. A carga fiscal é de 18,3%. O desemprego é estimado em 30%, e a população abaixo da linha de pobreza em 48%.

A agricultura contribuiu em 2013 com 20,6% do PIB, a indústria com 27,3% e os serviços com 52,1%.

Camarões teve um déficit em conta corrente de US$ 1,461 bilhão em 2013. As exportações somaram US$ 6 bilhões, com destaque para petróleo e derivados, madeira, cacau, alumínio, café e algodão.

Os maiores importadores de produtos camaroneses foram China (15,2%), Holanda (9,7%), Índia (8,6%), Portugal (8,1%), Itália (6%), EUA (5,5%) e França (4%).

As importações totalizaram US$ 6,795 bilhões em 2013, com predominância de máquinas, equipamentos elétricos, combustíveis e alimentos. Os maiores fornecedores dessas importações foram China (18,7%), França (14,9%), Nigéria (12,3%), Bélgica (5,2%), EUA (4,4%) e Índia (4,2%).

ENERGIA
As usinas hidrelétricas são responsáveis por 72,2% da energia elétrica e as termelétricas por 27,8%.

TELECOMUNICAÇÕES
Em 2012, Camarões tinha 737,4 mil telefones fixos e 13,1 milhões de celulares ativos. Em 2009, os usuários de Internet eram 750 mil.

TRANSPORTE
Camarões tem 33 aeroportos, sendo 11 com pistas pavimentadas, 1.245 km de estradas de ferro e 51.350 de estradas de rodagem.

PRÉ-HISTÓRIA
O território de Camarões foi ocupado inicialmente durante o período neolítico (10000-2000AC). A região era habitada por pigmeus quando chegaram as migrações dos bantos, dois mil anos atrás.

A cultura Sao se desenvolveu à margem do Lago Chade por volta de 500 DC, sendo superada pela cultura Karem e o império Borno, que o sucedeu.

RIO DOS CAMARÕES
Os portugueses chegaram na foz do que chamaram de Rio dos Camarões em 1472. Logo, a região se tornou um entreposto comercial importante. Só foi colonizada em 1884, pela Alemanha, quando a Revolução Industrial na Europa exigia um suprimento regular de matérias-primas. Os alemães batizaram o território de Kamerun.

No fim da Primeira Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha, o território foi dividido entre os impérios Britânico e Francês.

INDEPENDÊNCIA
A União Popular de Camarões (UPC) nasce em 1948 para lutar pela independência. Quando o governo colonial francês a declarou ilegal, em 1955, foi para a clandestinidade e adotou a luta armada. A independência da França foi proclamada em 1º de janeiro de 1960. O setor britânico foi anexado em 1º de outubro de 1961.

O primeiro presidente camaronês, Ahmadou Ahidjo, instaurou em 1966 um regime de partido único, a União Nacional Camaronesa (UNC), e usou a guerra contra a UPC para ampliar seus poderes mesmo depois da vitória, em 1971.

Em 1972, Ahidjo aboliu a federação, transformando o país na República Unida de Camarões. Ele ficou no poder até 4 de novembro de 1982, quando foi substituído pelo primeiro-ministro Paul Biya, que preside o país até hoje.

BAKASSI
As negociações com a Nigéria sobre a disputa territorial pela península de Bakassi começaram em 1999. Os dois países concordaram em levar o litígio à Corte Internacional de Justiça da ONU. Em 2002, o tribunal internacional decidiu a favor de Camarões.

Insatisfeita com a sentença, a Nigéria ocupou militarmente a região. Em junho de 2006, o governo nigeriano aceitou a decisão e iniciou a retirada. O Senado rejeitou o acordo, mas o Poder Executivo manteve a retirada, concluída em agosto de 2008.

Desde então, mais de 100 mil nigerianos que viviam da pesca saíram da península por se sentirem discriminados em Camarões.

ESPORTE
Os esportes tradicionais são luta e canoagem. Uma corrida anual de 40 km no Monte Camarões atrai corredores do mundo inteiro. Por causa de suas montanhas, Camarões é um dos poucos países tropicais que disputa as olimpíadas de inverno.

Hoje o futebol é de longe o esporte mais popular.

COPAS DO MUNDO
Camarões foi campeão da África em 1984 e participou no Brasil de sua sétima Copa do Mundo (1982, 1990, 1994, 1998, 2002, 2010 e 2014).

Em 1982, empataram em 0-0 com o Peru e a Polônia, e em 1-1 com a campeã Itália, sendo eliminados na primeira fase, sem derrota.

Em 1990, Camarões tornou-se o primeiro país africano a chegar às quartas de finais de uma Copa do Mundo. Estreou com uma surpreendente vitória por 1-0 sobre a então campeã Argentina. Depois, venceu a Romênia por 2-1, mas perdeu para a União Soviética por 0-4. Foi o primeiro país campeão de um grupo com saldo de gols negativo.

Nas oitavas de finais, o veterano atacante camaronês Roger Miller aproveitou uma brincadeira do folclórico goleiro colombiano Higuita, tomou-lhe a bola e ganhou o jogo: Camarões 2-1 Colômbia. Outro jogo dramático foi a próxima partida, contra a Inglaterra, que teve naquela Copa seu melhor desempenho depois da vitória em casa em 1966, ficando em quarto lugar.

David Platt abriu o placar para a Inglaterra no primeiro tempo. Camarões virou o jogo depois do intervalo com Emmanuel Kundé e Engène Ekéké. Gary Linecker empatou de pênalti aos 38min do segundo tempo e decidiu a classificação, também de pênalti, aos 15 min da prorrogação. Por 3-2, Camarões perdia uma batalha épica na história das Copas. Nunca mais foi tão longe.

Em 1994, Camarões caiu no grupo do Brasil, que chegaria ao tetra. Depois de empatar em 2-2 na estreia, perdeu de 3-0 para o Brasil, com gols de Romário, Marcio Santos e Bebeto, e de 6-1 para a Rússia. Aos 42 anos, Miller tornou-se o jogador mais velho a marcar numa Copa do Mundo.

A partir de 1998, a Copa passou a ter 32 seleções e seis países africanos. Depois de empates em 1-1 com o Chile e a Áustria, Camarões caiu fora ao levar 3-0 da Itália.

Em 2002, Camarões empatou em 1-1 com a Irlanda, ganhou de 1-0 da Arábia Saudita e foi eliminado ao perder para a Alemanha por 2-0.

Em 2010, foram três derrotas, 1-0 para o Japão, 2-1 para a Dinamarca e 2-1 para a Holanda.

O mesmo aconteceu em 2014, quando Camarões volta para casa depois de perder de 1-0 para o México, 4-0 para a Croácia e 4-1 para o Brasil.  

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