A República do Chile, espremida entre a Cordilheira dos
Andes e o Oceano Pacífico, é um dos dois únicos países da América do Sul, ao
lado do Equador, que não têm fronteira com o Brasil. Como tem ilhas na Oceania e reivindica parte da Antártida, é um país de três continentes.
Seu território se estende por 4.300 km. O Norte é desértico.
O Deserto do Atacama é o lugar mais seco do mundo. Ao sul do Centro, de clima
temperado, onde mora a maior parte da população, vêm a região dos lagos e as
geleiras da Patagônia.
A largura média é de apenas 175 km, de um mínimo de 90 km no
paralelo 32º S a 445 km no Estreito de Magalhães, onde o português Fernão de
Magalhães entrou em 20 de outubro de 1520 para descobrir ao Oceano Pacífico.
O Chile tem 756 mil km2, um pouco mais do que a área do Rio
Grande do Sul, Paraná e São Paulo juntos. São 6.435 km de costa e 6.339 km de fronteiras terrestres, com o
Peru ao norte, Bolívia a nordeste e Argentina a leste, além da Passagem de
Drake ao sul e do Oceano Pacífico, a oeste.
O arquipélago de João Fernandes, onde teria sobrevivido o
náufrago que inspirou o livro Robinson
Crusoé, do inglês Daniel Dafoe, as Ilhas Desventuradas, as Ilhas Sala e
Gomes, e a Ilha de Páscoa também pertencem ao Chile.
O país ainda reivindica uma área de 1,250 milhão de km2 da Antártida. Por isso,
no imaginário nacional, o Chile é um país tricontinental (América, Antártida e
Oceania).
Como a Cordilheira dos Andes é uma formação geológica
relativamente recente, de 200 milhões de anos, o Chile é sujeito a terremotos e
vulcões. O terremoto de 1960 foi o maior da História.
CURIOSIDADES
O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger,
articulador do golpe militar de 1973, dizia que “o Chile é uma adaga apontada
para o coração da Antártida”, numa paródia de um antigo dito popular do
nacionalismo japonês segundo a qual “a Coreia é uma adaga apontada para o
coração do Japão”.
O ex-vice-presidente nos governos Fernando Henrique Cardoso,
Marco Maciel, alto e magro, era chamado jocosamente de “mapa do Chile”.
NOME
A origem da palavra Chile é desconhecida. Para Agustín de
Zárate e Jerónimo de Vivar seria uma variação da palavra quechua chiri, que significa frio. Antonio Herrera y Tordesillas e Vicente
Carvallo Goyeneche afirmam que deriva de Chille,
nome de um afluente do Rio Aconcágua.
Diego Rosales entende que viria do nome de um cacique do
tribo picunche, Tili, que governava o
mesmo vale quando os incas chegaram ao Chile, antes da conquista espanhola. Miguel
Luis Amunátegui acredita que venha do aimará chilli, que significa onde a terra acaba.
De acordo com Miguel de Olivares e o Abade Molina, é uma
onamatopeia dos índios mapuches imitando o canto de um pássaro chamado trile. E
Ricardo Latcham atribuiu a palavra aos índios mitimaes. Eles viviam de uma
região onde havia um rio batizado com este nome e foram levados para o Chile
pelos incas.
POPULAÇÃO
Com 16,3 milhões de habitantes de acordo com a revisão do
Censo de 2012, o Chile é o 63º maior país do mundo em população. Tem a 128ª
taxa de crescimento populacional (0,86%).
A fertilidade é de 1,85 filho por mulher; 64% das chilenas
usam métodos anticoncepcionais.
A expectativa de vida é de 78 anos. Tudo isso faz do Chile
uma sociedade em processo de envelhecimento. A idade média da população hoje é
de 33 anos.
Cerca de 89% se declararam brancos ou mestiços e 11% ou
1,843 milhão afirmaram pertencer a um dos nove grupos étnicos reconhecidos pela
lei chilena.
Mais de 80% dos índios são mapuches, seguidos de aimaras,
diaguitas, quechuas, kolas, rapanuis, atacamenhos, kawéskares e yagánes. Não há
mais índios geneticamente puros.
Como a colonização não implantou monoculturas de exportação,
praticamente não houve tráfico de escravos para o Chile.
Uma ampla maioria de 89% vive em cidades, com destaque para
a capital, Santiago, com mais de 6 milhões de habitantes.
IMIGRAÇÃO
Durante os séculos 16 e 17, a maioria dos imgrantes era de
espanhóis das regiões de Castela e da Extremadura. No século 18, chegaram
bascos, além de franceses e britânicos interessados no contrabando. No início
do século 19, os escravos de origem africana eram apenas 1,5%.
No século 19, houve importantes fluxos migratórios europeus,
de alemães, britânicos, croatas, franceses, holandeses, irlandeses e italianos,
que ajudaram a região dos lagos e o Sul do Chile.
Atualmente a maior imigração vem dos países vizinhos. De
2004 até setembro de 2010, houve um aumento de 50% para 365.459 imigrantes
atraídos pelo crescimento econômico chileno, com destaque para o Peru
(136.819), Argentina (61.563), Bolívia (24.917), Equador (19.784) e Colômbia
(14.029).
SAÚDE
Os gastos com saúde representam 8% do produto interno bruto.
Há um médico e 2,1 leitos hospitalares para cada mil habitantes.
Nas cidades, 99% têm acesso a água potável e 98% vivem em
casas ligadas à rede de esgotos. Nas zonas rurais, esses índices caem para 75%
e 83%, respectivamente.
A incidência do HIV é estimada em 0,4%.
Quase 30% dos adultos são obesos. Só 0,5% até 5 anos estavam
abaixo do peso em 2008.
EDUCAÇÃO
O sistema educacional tem uma tradição de qualidade que vem
do século 19, quando foi implantado com base em modelos da França e da
Alemanha.
Os gastos com educação representam 4,2% do PIB. O índice de
alfabetização é de 98,6%. Em média, cada chileno estuda durante 15 anos.
O ensino fundamental dura oito anos. É gratuito e
obrigatório. O ensino médio exige mais três anos. Escolas privadas dirigidas
por religiosos ou grupos étnicos (alemãs, francesas, italianas, israelitas,
entre outras) com mensalidades caras estão no topo da pirâmide educacional.
A Universidade do Chile, fundada em 1738, é a maior do país.
Tem campi hoje em Santiago, Arica,
Talca e Temuco. As Universidades Católicas de Santiago e de Valparaíso, a
Universidade do Norte, em Antofagasta, e a Universidade de Concepción, também
são importantes.
Nos últimos anos, articulou-se um movimento estudantil de
protesto contra o modelo educacional imposto pela ditadura militar, com ênfase
na escola privada. O movimento estudantil cobra nas ruas de Santiago e das
principais cidades uma educação gratuita e universal.
IDIOMA
Mais de 99% falam espanhol. O alemão, o francês, o inglês e
o italiano são falados por imigrantes e seus descendentes.
RELIGIÃO
A Igreja Católica está separada do Estado desde 1925. Nos
últimos anos, perdeu fiéis, sobretudo para as igrejas evangélicas pentecostais,
mas ainda é dominante.
No Censo de 2012, 67% dos chilenos disseram ser católicos,
16,4% protestantes e 12,5% não religiosos.
POLÍTICA
O presidente é eleito diretamente para um mandato de quatro
anos sem direito à reeleição na eleição seguinte. O Congresso bicameral é
formado pela Câmara, de 120 deputados, e o Senado, de 48 cadeiras. O voto é facultativo.
O atual presidente é o engenheiro, economista e empresário
Sebastián Piñera, um dos homens mais ricos do Chile. Em 2010, ele se tornou o
primeiro candidato de direita a chegar ao poder desde o fim da ditadura do
general Augusto Pinochet (1973-90) e o primeiro direitista a vencer uma eleição
presidencial desde Jorge Alessandri, em 1958.
Vinte e quatro anos depois das eleições que marcaram o fim
da ditadura, a Nova Maioria reproduz mais ou menos a Concertación de 16 partidos de oposição de centro-esquerda organizada
em 1988 para derrotar o general Pinochet num plebiscito e acabar com a
ditadura.
ELEIÇÕES 2013
Na eleição presidencial de 17 novembro de 2013, a Nova
Maioria apoia a candidatura favorita da ex-presidente Michelle Bachelet, do
Partido Socialista. Nas eleições parlamentares de 2009, a coligação obteve
43,45% dos votos populares, elegendo 58 deputados e 17 senadores.
A Aliança é uma coalizão de direita formada pelo partido
Renovação Nacional, de Piñera, e a União Democrática Independente,
originalmente para apoiar o sim à ditadura em 1988. Com 41,6% dos votos, a
direita elegeu 54 deputados e 19 senadores em 2009.
Sua candidata a presidente em novembro é a ex-ministra do
Trabalho Evelyn Matthei, da UDI, filha do general-brigadeiro Fernando Matthei, comandante
da Força Aérea e membro da junta militar de 1978 a 1990. O pai de Bachelet,
Alberto Bachelet, que também era
brigadeiro, foi preso pela ditadura e morreu num quartel da Aeronáutica
em 1974.
A eleição mostra como o fantasma da ditadura ainda está
vivo.
Há um total de nove candidatos, como o independente Marco
Ominami, que teve mais de 20% dos votos em 2009, mas as duas principais
candidatas são as únicas com chances reais de chegar ao Palácio de La Moneda.
Em 22 de outubro, uma pesquisa dava 36% para Bachelet e 22%
para Matthei, o que levaria a eleição presidencial para o segundo turno,
previsto para 15 de dezembro de 2013. Pela lei eleitoral chilena, o mais votado
precisa de pelo menos 40% dos votos para ganhar no primeiro turno.
ECONOMIA
Com produto interno bruto de US$ 268 bilhões em 2012, de
acordo com dados oficiais do Banco Central, o Chile é 37º país mais rico do
mundo. A renda per capita, de US$ 16.135 por ano, é a maior da América Latina.
O Chile é classificado pelo Banco Mundial como um país em desenvolvimento
de alta renda, com índice de desenvolvimento humano “muito alto”, o 40º do
mundo e o maior da América Latina.
As maiores críticas são à desigualdade social, ao elevado
custo de vida, à desindustrialização e aos problemas ambientais, o lado
perverso do neoliberalismo econômico imposto a ferro e fogo pela ditadura de
Pinochet. Cerca de 15% dos chilenos vivem na pobreza.
A desigualdade de gênero entre homens e mulheres também é
maior do que em outros países latino-americanos.
Desde a redemocratização, em 1990, os governos democráticos
investiram em educação e proteção ambiental, assim como na igualdade entre os
gêneros. Em novembro, duas mulheres disputam a Presidência do Chile.
MINERAÇÃO
Sem uma agricultura forte nem metais preciosos, o Chile era
uma das colônias espanholas na América mais pobres. Ergueu sua economia sobre a
mineração de cobre, ferro, molibdênio e nitratos.
Em Desenvolvimento e
Dependência da América Latina, o então sociólogo Fernando Henrique Cardoso
observou que a única maneira de promover a industrialização a partir da
mineração é taxando pesadamente os minérios para financiar o desenvolvimento
industrial.
Caso contrário, um dia as minas se esgotam. A riqueza se
vai. Fica apenas a terra arrasada, como aconteceu na Bolívia, que tinha uma
montanha de prata, o Cerro Rico de Potosí.
INTERVENÇÃO
Quando o mercado de nitratos caiu, durante a Primeira Guerra
Mundial (1914-18), e depois com a Grande Depressão (1929-39), a economia
chilena sentiu duramente o impacto e deu uma guinada para um modelo com maior
intervenção estatal, especialmente nos governos esquerdistas de Pedro Aguirre
(1938-41) e Salvador Allende (1970-73).
Sob Allende, bancos, mineradoras e outras empresas foram
estatizadas. No primeiro momento, houve queda da inflação e crescimento. Logo o
governo foi incapaz de arrecadar dinheiro suficiente para o programa
socialista, que foi amplamente boicotado com greves e locautes até o golpe de
11 de setembro de 1973.
NEOLIBERALISMO
Depois do golpe, o general Pinochet impôs um neoliberalismo
radical na linha da Escola de Chicago, onde se destacava Milton Friedman.
Com sindicatos duramente reprimidos, privatizações, cortes
nos gastos públicos e em direitos sociais, o Chile abriu sua economia ao capital
estrangeiro e acabou se transformando no único tigre sul-americano, numa referência aos países de alto crescimento
da Ásia na época (Cingapura, Coreia do Sul, Indonésia, Malásia, Tailândia e
Taiwan).
CRESCIMENTO
De 1991-97, o Chile cresceu em média 7,7% ao ano. Com a
crise asiática de 1997-98, houve uma reversão nos fluxos de capital, que fugiram
dos mercados emergentes em busca de segurança nos países ricos.
O crescimento acelerado foi retomado no século 21. De 2003 a
2012, a expansão ficou na média de 5% ao ano, apesar de uma pequena recessão em
2009 por causa da crise financeira internacional de 2008-9, iniciada desta vez
nos países ricos.
ABERTURA
Em sua abertura econômica, o Chile fez acordos comerciais com
58 países que representam 60% da população mundial, inclusive com a União
Europeia, os EUA, a China, a Coreia do Sul e o Mercosul.
Em 2010, o Chile se tornou o primeiro membro pleno da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), um clube de
países industrializados, da América do Sul, o segundo da América Latina e o
terceiro do Hemisfério Sul. É um reconhecimento pelo desenvolvimento econômico,
social e político nas últimas décadas.
COMÉRCIO EXTERIOR
Em 2012, as exportações chilenas, 75% concentradas em produtos primários como cobre, frutas,
pescados, vinhos, papel e celulose, chegaram a US$ 83,7 bilhões, 31,23% do PIB.
Só o cobre é responsável por 19% da arrecadação do governo.
Os maiores compradores de produtos chilenos em 2012 foram
China (23,9%), EUA (12,2%), Japão (5,8%) e Brasil (5,5%).
As importações ficaram em US$ 70,2 bilhões, com destaque
para petróleo e derivados, equipamentos elétricos e de telecomunicações,
máquinas industriais, veículos e gás natural.
Os maiores vendedores para o Chile em 2012 foram EUA
(21,9%), China (18,2%), Argentina (6,7%) e Brasil (6,5%).
INVESTIMENTO
O investimento externo direto superou os US$ 30 bilhões em
2012, um recorde, de acordo com o Banco Mundial.
POUPANÇA
A taxa de poupança interna é de 21,4% do PIB.
DÍVIDA
A dívida pública está em apenas 10,10% do PIB e a dívida
externa, de US$ 102 bilhões, em 38% do PIB.
MINERAÇÃO
A extração de ferro começou há 12 mil na região do
Antofagasta. A mineração é uma atividade econômica importante em 13 das 15
regiões do Chile e a principal em Antofagasta, Atacama e Tarapacá.
O principal produto é o cobre. O Chile é o maior produtor
mundial. Tem 28% das reservas e abastece 36% do mercado. O cobre responde por
30% das exportações chilenas; em 1970, eram 60%.
A exploração de outros minerais, como ferro, molibdênio,
nitrato, ouro e prata também é importante. O Chile tem 39% das reservas de
lítio da América do Sul e 42% da produção mundial. Esse elemento é um insumo
importante na fabricação das baterias que tornarão viável o carro elétrico, ou
não. A maior parte das reservas está na Bolívia.
AGRICULTURA
Apesar do clima favorável e da abundância de água, a
concentração da terra nas mãos de empresas familiares atrasadas tornou a
agricultura um dos setores menos eficientes da economia chilena.
Com um sexto da mão de obra, a agricultura gera menos de 10%
do PIB chileno. As principais colheitas são cereais, especialmente trigo,
seguido de uvas, batatas, milho, maçãs, pêssegos, peras, feijão, arroz e frutas
de clima subtropical ou temperado como cerejas e figos.
INDÚSTRIA
Só um sétimo da população economicamente ativa está
empregada na indústria no Chile, responsável por um sexto do PIB. As fábricas
se concentram nos grandes centros urbanos, principalmente em Santiago,
Valparaíso e Concepción.
As principais industrias são de alimentos, com destaque para
a pesca, produtos químicos, eletrodomésticos, petroquímica, papel e celulose,
têxteis, roupas, ferro e aço, e material de construção.
ENERGIA
As usinas termelétricas a gás, carvão ou petróleo geram
64,4% da energia elétrica do Chile, e as hiedrelétricas 34,8%.
Em 2011, o Chile produziu só 6 mil barris de petróleo por
dia. Em 2009, importou o equivalente a 197 mil barris por dia. As reservas de
petróleo comprovadas são de 150 milhões de barris.
TRANSPORTES
O Chile tem 481 aeroportos, sendo 90 com pistas
pavimentadas, 7.082 quilômetros de ferrovias e 77.764 km de estradas de rodagem.
A Rodovia Pan-Americana liga o país de Arica, no extremo
norte, a Porto Montt, na Patagônia.
A marinha mercante chilena tem 42 navios. O país tem sete
portos marítimos grandes.
TELECOMUNICAÇÕES
O Chile tem a mais avança infraestrutura de telecomunicações
da América Latina. Em 2011, tinha 3,366 milhões de linhas de telefonia fixa
instaladas e 22,4 milhões de números de telefones celulares ativos.
Em 2009, 7 milhões de chilenos estavam ligados à Internet,
cerca de 45% da população.
O país tem uma rede estatal de TV, a Televisión Nacional de
Chile, várias emissoras de TV privadas e cerca de 250 rádios.
GEOLOGIA
Se a geografia molda a história, o Chile se estende ao longa
da Cordilheira dos Andes, que o limita, isola e o abala em frequentes
terremotos, alguns fortíssimos.
A formação geológica da cordilheira começa há 200 milhões de
anos, no início do Período Jurássico, que vai até 145 milhões de anos atrás, no
meio da Era Mesozoica, a Era dos Répteis. Quando a placa tectônica Nazca se
chocou e entrou embaixo da placa Sul-Americana, as montanhas se formaram.
Na Era Cenozoica, a Era dos Mamíferos, iniciada há 65
milhões de anos, a intensa atividade sísmica e vulcânica trouxe das profundezas
da Terra o cobre, o ferro, o manganês, o molibdênio e a prata que fazem a
riqueza mineral do Chile.
Os Andes atingiram sua altura máxima há 2,6 milhões de anos.
Durante a última Era Glacial, iniciada na mesma época, os picos da cordilheira
eram cobertos de grandes massas de gelo, que derretaram parcialmente formando
os lagos do Centro-Sul há 17 mil anos, no fim da última glaciação.
TERREMOTOS
Erguido sobre solo geológico recente, espremido entre o
maior de todos os oceanos e a maior cadeira de montanhas fora da África, o
Chile está no círculo de fogo da orla
do Oceano Pacífico, região dos terremotos mais violentos da História.
No Chile, os tremores são causados pela movimentação da
placa Nazca embaixo da placa Sul-Americana. Desde a fundação de Santiago, em
1541, pelo menos 10 terremotos registraram 8 graus ou mais na escala Richter.
O Terremoto de Chillán, de 7,8 graus na escala abertura de
Richter, ocorrido em 24 de janeiro de 1939, foi o mais mortífero, com 5.648
mortes confirmadas. Metade das 3,5 mil casas da cidade foram destruídas. Em
Concepción, uma das principais cidades chilenas, 95% das construções foram
abaladas.
O Terremoto de Valdívia, em 22 de maio de 1960, é
considerado o mais forte da História, com 9,5 graus na escala aberta de
Richter. Pelo menos 1.655 pessoas morreram e 2 milhões foram atingidas. O
maremoto chegou ao Havaí e ao Japão, que criou um sistema de alerta para tsunames.
A escala Richter tem base logarítmica e mede a amplitude da
oscilação da crosta terrestre. Cada ponto significa um tremor dez vezes mais
forte. Na véspera, Concepción tinha sido abalada por um tremor de 7,5 graus. O
de Valdívia foi cem vezes mais forte.
Nos últimos anos, o terremoto mais violento no Chile foi o
que abalou a região de Cauquenes, Talcahuano, Constitución e Concepción, em 27
de fevereiro de 2010.
Com 8,8 graus na escala Richter, foi o segundo maior da
História do Chile e o 13º do mundo, matando pelo menos 525 pessoas e
danificando 500 mil casas. O maior estrago foi causado por um maremoto que
chegou 35 minutos depois sem alerta das autoridades chilenas.
São João Batista, o único povoado do arquipélago de João
Fernandes, não foi abalado pelo terremoto, mas foi arrasado pelas tsunames. O Centro de Alerta de Tsunames
do Oceano Pacífico, instalado depois do terremoto chileno de 1960, emitiu
alertas para 53 países.
PRÉ-HISTÓRIA
O primeiro assentamento humano comprovado na América, de 18.500
anos atrás, foi descoberto em 1975 em Monte Verde, perto da cidade de Porto
Montt, na região dos lagos do Sul do Chile.
Contraria a hipótese anterior de que um pequeno grupo humano
haveria cruzado o Estreito de Bering, que separa a Rússia do Alasca, num
momento de glaciação, com uma ponte de gelo ligando a América à Ásia, há cerca
de 13 mil anos, no fim do período Paleolítico Superior (35000-10000 antes de
Cristo).
A ciência ainda acredita que o homem tenha chegado à América
via Estreito de Bering, mas a descoberta em Monte Verde fortaleceu a tese do
povoamento mais antigo, entre 48000 e 21000 AC.
Na Ilha de Páscoa, desenvolveu-se a misteriosa e avançada
cultura rapanui, que produziu magníficas esculturas gigantes em pedra, entrou
em declínio provavelmente numa crise ecológica e quase foi extinta no século
19.
IMPÉRIO INCA
O português Fernão de Magalhães foi o primeiro europeu a
avistar o Chile ao atravessar o estreito que hoje leva seu nome, em outubro de
1520, para entrar no Oceano Pacífico na primeira viagem de circunavegação da
Terra.
Quando os espanhóis chegaram, o Império Inca dominava o
Norte do Chile, e os índios mapuches habitavam o Centro e o Sul do país. Pelo
menos 500 mil índios habitavam o que hoje é o Chile.
PRIMEIRA EXPEDIÇÃO
A conquista do Chile começa em 3 de julho de 1535, quando
Diego Almagro, um oficial do conquistador do Peru, Francisco Pizarro, saiu de
Cuzco, percorrendo o Caminho Inca até o Lago Titicaca, a caminho do Outro Peru,
o primeiro nome do Chile.
A expedição custou meio milhão de pesos de ouro. Almagro
entrou pela Bolívia e passou pelas províncias argentinas de Jujuy, Salta e
Catamarca, atravessando a Cordilheira dos Andes para chegar ao Chile. Evitou a
rota pelo Deserto de Atacama por medo de falta de água para os cavalos.
Em 23 de junho de 1536, Almagro e seus homens chegaram ao pé
da cordilheira, que cruzaram pelo hoje chamado Passo de São Francisco. Depois
de cavalgar três dias, chegou ao vale do Rio Copiapó uma vanguarda de cavalaria
com 20 homens.
Logo atrás, vinham 240 espanhois, 1,5 mil índios yanaconas,
150 escravos africanos e 112 cavalos. Pelo menos 10 espanhóis, centenas de
índios e 170 cavalos morreram na travessia.
RENEGADOS
Já estavam no Outro Peru dois renegados por Pizarro, Gonzalo
Calvo de Barrientos e Antón Cerrada, na verdade os dois primeiros espanhóis a
chegar ao que hoje é o Chile. Calvo de Barrientos se tornou fiel aliado de
Almagro.
Além dos desafios naturais, Almagro teve de enfrentar os
índios mapuches, que nunca tinham visto cavalos e tomaram os cavaleiros por
centauros.
Sem encontrar ouro nem uma civilização avançada, Almagro
decidiu voltar ao Peru, desta vez pelo deserto, que se mostrou quase tão
implacável quanto a cordilheira, com dias tórridos e noites geladas,
hostilidade dos índios, escassez de água e de alimentos.
CONQUISTA
O Chile seria conquistado quatro anos mais tarde. Depois da
morte de Diego Almagro, Pizarro mandou Pedro de Valdívia tomar e colonizar a
região. Em 12 de fevereiro de 1541, Valdívia fundou Santiago, capital da
capitania-geral do Chile ou Reino da Nova Extremadura, subordinado ao
Vice-Reino do Peru.
Nas próximas duas décadas, os colonos viveram em condições
precárias, sob constante ameaça dos índios, que resistiram à tentativa de
escravizá-los. Em 1553, um levante liderado pelo cacique Lautaro capturou e
matou Valdívia.
Os mapuches ou araucanos, também chamados de apaches da
América Latina, só seriam submetidos ao Estado chileno nos anos 1880s.
PIRATARIA
Antes do fim do século 16, piratas ingleses como Francis
Drake e Thomas Cavendish saquearam a costa do Chile como parte de uma guerra de
atrito do nascente Império Britânico para abrir as colônias do Novo Mundo ao
comércio internacional.
Sem grandes riquezas naturais, os colonos chilenos se
voltaram para uma agricultura de subsistência, com cereais, frutas, legumes e
criação de animais. No fim do século 16, havia apenas 5 mil espanhóis em toda a
colônia, que era deficitária e dependia de subsídios da Coroa.
IGREJA
A cruz e a espada comandaram o processo de evangelização que
foi a colonização espanhola do Novo Mundo. A Igreja Católica mandava em todos os
aspectos da vida civil e o capitão-general representava o Império. O Vice-Reino
do Peru controlava o comércio. Em tese, era possível recorrer ao vice-rei no
Peru e ao rei da Espanha; na prática, muito difícil.
Monopólio da Igreja Católica, a educação ajudava a reforçar
as diferenças de classe. Em 1758, foi aberta a Universidade Real e Pontifícia
de São Felipe, em Santiago, mas a imprensa só chegou ao Chile pouco antes da
independência, em 1818.
No fim do período colonial, a população era de cerca de 500
mil pessoas, excluindo os índios não assimilados, sendo 300 mil mestiços, 150
mil crioulos (descendentes de
europeus nascidos na América), 20 mil europeus e 15 mil negros.
ILUMINISMO
No fim do século 18, as ideias liberais da Época das Luzes
levaram à independência dos EUA e à Revolução Francesa. A promessa de
liberdade, igualdade e fraternidade chegou às colônias europeias na América.
A primeira tentativa séria de revolta pela independência do
Chile foi a Conspiração dos Três Antônios, em 1780, inspirada pela Declaração
de Independência dos EUA, em 1776, e a revolta do inca Túpac Amaru II, no Peru, em 1780.
CONSPIRAÇÃO
Os franceses Antonio Berney e Antonio Gramusset, e o crioulo José Antonio de Rojas,
pretendiam acabar com o domínio colonial espanhol e proclamar a república,
estabelecer um governo colegiado controlado pelo Senado, com sufrágio
universal, inclusive para os índios, abolição da escravatura e da pena de morte,
fim das hierarquias sociais, redistribuição da terra em lotes iguais e
exportação da revolução.
Essas propostas são anteriores à Constituição dos EUA, de
1787, e à Revolução Francesa, de 1789.
Gramusset perdeu uma valisa com os planos revolucionários,
que caíram nas mãos da polícia. A Real Audiência do Chile emitiu ordens de
prisão em 1º de janeiro de 1781.
Berney e Gramusset foram enviados a Lima e um anos depois à
Espanha para julgamento. O navio naufragou na costa de Portugal, matando a
maioria dos passageiros e tripulantes, inclusive Berney. Gramusset sobreviveu,
mas não se recuperou, morrendo três meses depois.
Rojas escapou da prisão por ser membro da elite. Sua segunda
prisão, em 1809, acelerou a queda do governo de Francisco Antonio García
Carrasco e ajudou a campanha pela independência.
GUERRAS NAPOLEÔNICAS
Como no caso do resto da América Espanhola, a independência
veio depois que Napoleão Bonaparte, da França, invadiu a Península Ibéria em
1808, tomando Portugal e Espanha.
A Primeira Junta Nacional de Governo foi criada em 18 de
setembro de 1810, festejado como Dia da Independência, para administrar a
Capitania-Geral do Chile e defender a colônia espanhola depois de captura do
rei Fernando VII por Napoleão. O militar mais antigo era Mateo de Toro y Zamba.
Aos 82 anos, ele assumiu a presidência da junta.
Mesmo que o objetivo inicial fosse defender a colônia
espanhola, foi o início de um processo que culminaria com a independência, em
12 de fevereiro de 1818.
PÁTRIA VELHA
Durante três anos, até 1813, o governo de Lima exerceu pouco
controle sobre a capitania. As restrições ao comércio foram relaxadas. Foram
tomadas medidas para abolir a escravidão. Surgiu o primeiro jornal. A educação
foi incentivada.
Os crioulos
estavam divididos entre a lealdade à Coroa espanhola e a autodeterminação. José
Miguel Carrera e seus irmãos inflamavam a campanha pela independência.
Com a vitória dos exércitos da Grã-Bretanha, Espanha e
Portugal sobre a França na Batalha de Toulouse, em 10 de abril de 1814, no fim
da Guerra Peninsular (1808-14), a Coroa espanhola restaurada tenta retomar o
controle sobre as colônias americanas.
Na Batalha de Rancágua, em 1º e 2 de outubro de 1814, a
Espanha reassume a supremacia sobre o Chile. Acaba o período conhecido na
História do Chile como Pátria Velha. Derrotados, Carrera, seus irmãos e outros
patriotas, como Bernardo O’Higgins, fogem para a Argentina.
LIBERTADORES
Com a ajuda do
governo revolucionário de Buenos Aires e do general José de San Martín,
libertador da Argentina, do Chile e do Peru, eles organizaram uma força que
libertou o Chile e atacou o Peru pelo mar.
Em janeiro de 1817, San Martin e O’Higgins iniciaram a
travessia dos Andes. Com mais de 4 mil homens, cavalaria e artilharia subiram
até 4 mil metros de altitudes para cruzar a cordilheira por várias rotas. Eles
se reencontraram em Curimón em 8 de fevereiro.
INDEPENDÊNCIA
Ao vencer a Batalha de Chacabuco, em 12 de fevereiro de
1817, abriram caminho para Santiago. O’Higgins foi proclamado diretor supremo
do Chile.
A independência só foi proclamada um ano depois, em 12 de
fevereiro de 1818. O combate final em território chileno foi a Batalha de
Maipu, em 5 de abril de 1818. A Espanha conservou a ilha de Chiloé até 1826.
Antes mesmo de consolidar a independência, O’Higgins começou
a criar a Marinha do Chile. No fim de 1818, começava uma varredura na costa
chilena para expulsar os navios espanhóis.
DITADURA
Vencidos os espanhóis, houve uma divisão entre O’Higgins e
os irmãos Carrera. Dois foram executados em Mendoza, na Argentina, em 1818, e
José Miguel teve o mesmo destino em 1821. O’Higgins virou um ditador.
A elite nacional assumiu o controle das instituições do
poder colonial, a lei, a Igreja, a família, a Justiça e manteve a exclusão
social. Depois da vitória do exército chileno-argentino no Peru, em 1821, e a
expulsão dos espanhóis do Chile, em 1822, aumentou a oposição a O’Higgins.
O ditador tentou dar mais poder político à oligarquia. Não
adiantou. Safras ruins e agitação generalizada o obrigaram a renunciar em 1823.
Começava um período de anarquia e instabilidade política. Mas a Constituição de
1823 foi a primeira a abolir a escravidão na América Latina.
ANARQUIA
De 1823 a 1830, o Chile teve 30 governos e uma série de
conflitos entre a oligarquia e o Exército, federalistas e unitários,
autoritários e liberais. O caos políico, a desordem e a anarquia fortaleceram
os setores mais autoritários da oligarquia.
Em 1829, com o apoio do Exército, os autoritários instalaram
uma junta de governo que nomeou José Tomás de Ovalle como presidente
provisório. O poder de fato estava com Diego Portales, que mandava como um
ditador.
CONSERVADORISMO
Durante os próximos 32 anos, de 1830 a 1961, os
conservadores teriam a hegemonia da política chilena. A Constituição de 1833
vigorou até 1925.
Com esse acordo nacional, várias facções conservadoras se
uniram. O nacionalismo saiu fortalecido da guerra contra a Confederação Peruano-Boliviana
(1836-39), formada quando o ditador boliviano Andrés Santa Cruz tomou o Peru.
Os chilenos e os peruanos derrotaram a confederação na
Batalha de Yungay, em 20 de janeiro de 1839. A Confederação Peruano-Boliviana
foi dissolvida. O presidente peruano Agustín Gamarra tentou conquistar a
Bolívia, mas morreu em combate em 1841. A Bolívia e o Peru entraram em novo
período de anarquia e conflito social.
A descoberta de ouro na Califórnia, em 1848, e na Ausrália,
em 1853, alimentou o comércio no Oceano Pacífico, aumentando a demanda por
produtos chilenos. Depois de décadas de conflito pós-independência, a
prosperidade ajudaria a consolidar a paz social.
LIBERALISMO
O período de 1861-91 é conhecido na História do Chile como a
República Liberal. Depois de uma fracassada insurreição de radicais em 1859,
vários grupos se organizaram para tentar chegar ao poder pelo voto.
GUERRA DO PACÍFICO
A Guerra do Pacífico (1879-83) estourou depois que o Chile
reclamou do mau tratamento de chilenos nas minas de nitrato de Antofagasta, na
época uma província costeira da Bolívia. Confiando num pacto de defesa secreto firmado
com o Peru em 1873, a Bolívia rejeitou as exigências chilenas.
O Chile desembarcou em Antofagasta em 14 de fevereiro de 1879.
Em 5 de abril, declarou guerra a ambos os vizinhos, iniciando formalmente a
Guerra do Pacífico, maior conflito armado da História do país.
O resultado foi um conflito feroz. Superior
tecnologicamente, o Chile destruiu a Marinha do Peru e ocupou não só
Antofagasta, mas também as províncias chilenas de Árica, Tacna e Tarapacá. Num
ataque de surpresa ao porto de Callao, os chilenos tomaram Lima e impuseram
suas condições para a paz.
Com a derrota, a Bolívia perdeu sua saída para o mar, que
reivindica até hoje, sem sucesso. O Chile oferece um corredor para o escoamento
dos produtos bolivianos sem cobrança de tarifas, mas se nega a discutir a
soberania do território conquistado no século 19.
CONSTITUIÇÃO
Nos anos 1880s, os índios mapuches foram finalmente
submetidos ao governo chileno. Uma nova Constituição foi aprovada em 1883,
quando o país estava debilitado economicamente pela guerra.
O presidente José Manuel Balmaceda (1886-91) tentou
confiscar parte da renda das minas de nitrato para equilibrar as contas
públicas. Parte da oligarquia se rebelou e Balmaceda caiu depois de uma breve
guerra civil.
Com o fim da República Liberal, o Chile adota o regime
parlamentarista. A oligarquia só precisaria ganhar eleições para controlar o
poder político. Começou uma era de lutas entre facções.
ESQUERDA
Nesse período, de 1891 a 1920, a classe trabalhadora e a
classe média urbana emergem como atores políticos em toda a América Latina.
Nascem os sindicatos e os partidos radicais, anarquistas e socialistas.
O Partido Socialista chileno surge em 1901. Em 1912, os
mineiros formam o Partido Socialista Operário, que, em 1922, se torna Partido
Comunista.
Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-18), a queda nas
vendas de nitrato e a inflação geraram insatisfação das classes baixas, que
elegeram, em 1920, o presidente reformista Arturo Alessandri Palma.
REFORMAS
Quando o Congresso bloqueou suas iniciativas, em 1924, os
militares pressionaram os parlamentares a reformar a Constituição. Alessandri
renunciou, mas os militares lhe devolveram o poder.
Uma nova Constituição, reestabelecendo o presidencialismo,
separando a Igreja do Estado, criando leis trabalhistas e a previdência social,
entrou em vigor em 1925. Valeu até o golpe de 1973.
De 1924 a 1931, o Chile teve 21 gabinetes ministeriais
diferentes, 21 governos. Sob a ditadura militar de Carlos Ibañez del Campo
(1927-31), houve uma tentativa de industrializar o país, estatizar as minas de
nitrato e melhorar a educação, sem tocar no poder da oligarquia.
Com a Grande Depressão (1929-39), os preços das exportações
desabaram. O Chile teve de importar menos. Ficou mais pobre. A economia interna
passou a produzir menos.
REPÚBLICA SOCIALISTA
Como nada dava certo, a oligarquia tradicional voltou ao
poder brevemente, de julho de 1931 a junho de 1932, com Juan Esteban Montero
Rodríguez.
O poder passou então para uma aliança cívico-militar que
implantou uma república socialista de curta duração: junho a setembro de 1932.
Suas leis seriam usadas nas estatizações do governo socialista de Salvador
Allende (1970-73).
No fim de 1932, novas eleições devolveram o poder a
Alessandri Palma. Seu segundo mandato (1932-38) foi caracterizado pelo retorno
à normalidade institucional e das oligarquias ao poder.
REPÚBLICA RADICAL
O descontentamento popular e das classes médias levou à
vitória dos radicais Pedro Aguirre Cerda (1938-41) e Juan Antonio Ríos
(1942-46).
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Chile acompanhou os EUA
declarando guerra à Alemanha, à Itália e ao Japão em 1942, mas suas forças não
entraram em combate.
Em 1946, o radical Gabriel González Videla foi eleito com o
apoio do Partido Comunista. Com a Guerra Fria, o PC foi proibido pela chamada
Lei Maldita, em 1948.
Em 1952, o ditador Carlos Ibáñez voltou ao poder com apoio popular,
perdido pela adoção de políticas econômicas liberais para estimular o
crescimento econômico.
CRISE DO PÓS-GUERRA
Como a maior parte da América Latina, o Chile se beneficiara
da Segunda Guerra Mundial exportando produtos primários e semi-industrializados
para a Europa e os EUA. Com o fim da Guerra da Coreia, em 1953, houve uma crise
na segunda metade dos anos 1950s.
Em 1958, o direitista Jorge Alessandri foi eleito com apenas
31,6% dos votos, precisando da ratificação do Congresso. Seu governo foi
abalado pelo Terremoto de Valdívia, em 22 de maio de 1960. Com 9,5 graus na
escala Richter, é o mais forte medido até hoje.
O tremor matou pelo menos 1.655 pessoas no Chile e provocou
um maremoto que chegou ao Havaí e ao Japão, mas não impediu a realização da
Copa de 1962, vencida pelo Brasil.
POLÍTICA TRIPOLAR
No governo Alessandri, começou uma reforma agrária e, na
política, se consolidaram três polos: a direita, a Democracia Cristã,
centrista, e a Unidade Popular, aliança de socialistas e comunistas, à esquerda.
Com 56% contra 39% para o socialista Salvador Allende
Gossens, o democrata-cristão Eduardo Frei Montalva foi eleito em 4 de setembro
de 1964, prometendo uma “revolução em liberdade”, o aprofundamento da reforma
agrária e a estatização do cobre.
ELEIÇÃO DE ALLENDE
Em 1970, Allende foi eleito com o apoio dos partidos Socialista
e Comunista, coligados na Unidade Popular, com apenas 36,6% dos votos, um
percentual menor do que obtivera em 1964.
Allende foi o primeiro marxista a chegar ao poder pelo voto
no Ocidente em eleições democráticas em pleno Estado de Direito.
O assessor para Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger,
acusou o eleitorado chileno de “irresponsável”. Logo iniciou a articulação
golpista com o apoio de empresas transnacionais americanas e da direita
chilena.
NIXON CONSPIRA
Primeiro, o governo Nixon tentou barrar a confirmação da
vitória de Allende no Congresso, que elegeria o segundo colocado, o
ex-presidente Jorge Alessandri. Ele renunciaria e haveria nova eleição em que a
direita apoiaria o ex-presidente Eduardo Frei. Mas a DC e a UP chegaram a um
acordo.
A segunda opção de Nixon e Kissinger era gerar instabilidade
política para pressionar as Forças Armadas a intervir e impedir a posse de
Allende. Cabia ao general Roberto Viaux sequestrar o comandando do Exército,
general René Schneider.
O sequestro fracassou. O general foi baleado e levado por
seu motorista para o hospital, onde morreu em 25 de outubro. Na véspera, o
Congresso confirmou a eleição de Allende, que tomou posse em 4 de novembro de
1970 com um mandato de seis anos.
SOCIALISMO CHILENO
Na busca da “via chilena para o socialismo”, o governo
Allende prometia:
• estatizar os “setores-chaves“ da economia, inclusive bancos
e mineradoras;
• acelerar a reforma agrária;
• congelar os preços;
• aumento de salários financiados com emissão de moeda; e
• reforma constitucional para criar um parlamento
unicameral.
Era uma tentativa de adotar medidas socialistas como a
estatização e a distribuição da riqueza para estimular a economia. Quando uma
empresa parava de produzir, o Estado podia intervir.
A nacionalização das minas foi aprovada por unanimidade. Em
discurso na Assembleia-Geral da ONU em 1972, Allende disse que as mineradoras
americanas Anaconda e Kennecott tinham ganho US$ 4 bilhões no Chile nas décadas
anteriores, justificando assim o fato de não receberam indenizações e ainda
ficarem devendo.
CRISE ECONÔMICA
Os problemas econômicos começaram a aparecer no fim de 1971:
• déficit orçamentário de 9,8% do PIB;
• aumento de 124% no crédito do setor público;
• queda das reservas cambiais em moedas fortes para US$ 394
milhões, o que levou o governo a parar de pagar os juros da dívida externa;
• déficit comercial de US$ 90 milhões com a queda nos preços
do cobre;
• queda na atividade empresarial por causa do congelamento
de preços e aumento de salários;
• queda nos salários reais de 11,3% em 1972 e 38,6% em 1973;
• uma hiperinflação que chegou a 606% ao ano em 1973;
• uma dívida externa que aumentou para US$ 253 milhões;
• e aparecimento de um mercado negro por causa do
desabastecimento.
PANELAÇOS
Os panelaços começam em 1º de dezembro de 1971, organizados
pelo grupo Poder Feminino. Eram os únicos protestos não sufocados pelos
movimentos sociais da UP.
Em geral, grupos de mulheres se encontravam ao anoitecer no
Centro de Santiago, marchavam com panelas fazias e batiam panelas entre 20h e
21h. Com o tempo, começou a haver confrontos entre partidários e adversários do
governo socialista.
VISITA DE FIDEL
No fim de 1971, Fidel Castro visitou o Chile por três
semanas e manifestou dúvidas quanto à possibilidade de sucesso da via pacífica
para o socialismo.
Com greves e locautes parando o país, e conflitos de rua
cada vez mais frequentes, o total de mortos no governo Allende chegou a 100. O
presidente, defensor de uma “revolução democrática”, perdeu o apoio do PS,
favorável a um levante armado para manter o poder.
ELEIÇÕES PARLAMENTARES
Nas eleições parlamentares de março de 1973, a oposição
obteve 54,3% dos votos e a UP, 43,5%. Allende tentou se aproximar da DC, mas
foi barrado pela ala mais radical do PS. A DC acabaria se aliando à direita e
aos militares conservadores no golpe.
Em 29 de junho de 1973, o 2º Regimento Blindado iniciou uma
rebelião militar e tentou tomar o Palácio de la Moneda. O ministro da Defesa,
general Carlos Prats, colocou sua vida em risco para obter a rendição dos
sublevados. Pelo menos 22 pessoas foram mortas e 32 saíram feridas.
SALVAÇÃO NACIONAL
Em 7 de agosto, Allende convocou um Gabinete de Salvação
Nacional, com os comandantes militares e os ministros da Defesa, de Obras
Públicas e Transportes, da Fazenda, e de Terras e Colonização. O objetivo era
acabar com a greve dos caminhoneiros, que acusavam o governo de violar os acordos
feitos em paralisações anteriores.
A greve dos transportes causou desabastecimento até a queda
do governo. Em 6 de setembro, o presidente admitiu que só havia farinha de
trigo para três ou quatro dias.
CONSPIRAÇÃO
O general Augusto Pinochet foi nomeado comandante do
Exército em 23 de agosto. Em 7 de setembro, o almirante José Toribio Merino,
principal articulador golpista da Marinha, mandou recados secretos a Pinochet e
ao brigadeiro Gustavo Leigh para colocar suas forças em prontidão para as 6h de
11 de setembro.
Allende avisou Pinochet em 9 de setembro que pretendia
convocar um plebiscito sobre reformas constitucionais rejeitadas pelo
Congresso, levando o general a aderir ao golpe.
GOLPE
Em 10 de setembro de 1973, uma esquadra zarpou para
participar de manobras navais internacionais. Voltou a Valparaíso na madrugada do
dia 11 e iniciou o golpe. Por telefone, Allende foi avisado que os fuzileiros
navais tinham tomado a cidade.
O presidente estava na residência presidencial de Tomás
Moro. Pediu para se comunicar com Pinochet e Leigh, que não foram localizados.
Às 7h, Allende chegou a La Moneda em seu Fiat 125 armado com um fuzil AK-47,
presente de Fidel, acompanhado do Grupo de Amigos Pessoais, que tinha duas metralhadoras
e três lançadores de granadas.
ULTIMATO
Uma rádio tomada pelos golpistas deu um ultimato: Allende
deveria renunciar e entregar o poder imediatamente a uma junta militar formada
pelos comandantes do Exército, da Marinha, da Aéronáutica e dos Carabineiros, a
polícia militar chilena, que tem status
de uma quarta força armada. Caso contrário, o palácio presidencial seria
atacado por terra e ar.
Allende rejeitou até mesmo uma proposta para sair do país.
Se aceitasse, alguns golpistas, inclusive Pinochet, planejavam derrubar o avião.
Às 9h55, os tanques cercaram o palácio.
ÚLTIMO DISCURSO
Às 10h15, pela Rádio Magallanes, uma das poucas ainda
favoráveis ao governo, Allende fez seu último pronunciamento à nação:
“Seguramente, esta é a última oportunidade em que poderei me dirigir a vocês. A
Força Aérea bombardeou as torres das rádios Portales e Corporación.
“Minhas palavras não tem amargura e, sim, decepção, e serão
um castigo moral para os que traíram o juramento que fizeram… soldados do
Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autonomeou
[comandante da Marinha], mais o Sr. Mendoza, general rasteiro que ainda ontem
manifestava fidelidade e lealdade ao governo, também se nomeou diretor-geral
dos Carabineiros.
“Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: eu
não vou renunciar! Colocado num trânsito histórico, pagarei com a vida minha
lealdade ao povo. E lhes digo que tenho certeza de que a semente que plantamos
na consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser secada
definitivamente.”
Depois de se dirigir aos trabalhadores e às mulheres do
Chile, Allende concluiu: “Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no
seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo, onde a traição
pretende se impor. Sigam vocês sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo
se abrirão as grandes alamedas por onde passa o homem livre para construir uma
sociedade melhor.
“Viva Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
“Estas são minhas últimas palavras. Tenho certeza de que meu
sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que pelo menos haverá uma lição
moral que castigará a covardia e a traição.”
BOMBARDEIO AO PALÁCIO
Às 10h30, os tanques abriram fogo. A Força Aérea do Chile
bombardeou o palácio presidencial de La Moneda com caças-bombardeiros às 11h52.
Mesmo arrasado, o palácio não se rendeu.
Quando o general Javier Palacios, que comandava o assalto,
mandou um grupo de soldados derrubar o portão e invadir La Moneda, Allende
decidiu se render e depor as armas, mas não se entregar.
Conforme depoimento de um de seus médicos, Patricio Guijón,
o primeiro presidente marxista eleito pelo povo na América Latina se matou com
o AK-47 dado por Fidel. Colocou o canon a boca e disparou de baixo para cima.
MATANÇA
Allende se suicidou para não ser preso pelos golpistas. A
matança começou no palácio e seguiu no Estádio Nacional de Santiago, para onde
foram levados os presos políticos. Lá, foi torturado e assassinado Víctor Jara,
um dos músicos mais populares do país na época, uma espécie de Chico Buarque
chileno.
Pelo menos 2.279 chilenos foram mortos e 1.248 desapareceram
depois de presos pela ditadura do general Pinochet. Dezenas de milhares foram
presos, 28 mil torturados e cerca
de 200 mil fugiram do país.
A Colonia Dignidad, fundada em 1961 por Paul Schäffer, um
enfermeiro do Exército nazista que fugia de acusações de abuso sexual,
tornou-se um centro de detenção e tortura.
EX-MINISTROS ASSASSINADOS
O general Carlos Prats, ex-comandante do Exército, foi
assassinado no exílio em Buenos Aires por um carro-bomba da ditadura militar
chilena em 30 de setembro de 1974.
Mais escandalosa ainda foi a morte do ex-chanceler e
ex-ministro da Defesa de Allende Orlando Letelier, exilado em Washington, em 21
de setembro de 1976, num atentado com carro-bomba. O ex-chefe da Dina, a
polícia secreta de Pinochet, Manuel Contreras, foi condenado para dar uma
satisfação aos EUA.
Até mesmo o assassinato do ex-primeiro-ministro sueco Olof
Palme, em Estocolmo, em 28 de fevereiro de 1986, nunca totalmente esclarecido, foi
atribuído a Roberto Thieme, ex-dirigente do grupo militar fascista chileno Patria y Libertad. A Suécia recebeu
vários exilados latino-americanos que fizeram campanha contra as ditaduras de
seus países.
ATENTADO CONTRA PINOCHET
Em 7 de setembro de 1986, Pinochet sobreviveu a um atentado
cometido pela Frente Patriótica Manuel Rodríguez, um dos grupos armados que
surgiram na resistência à ditadura.
Cinco guarda-costas morreram. O ditador e o neto sobreviveram
por causa da blindagem reforçada do carro onde estavam.
GUINADA ECONÔMICA
Depois do golpe, Pinochet chamou economistas neoliberais
discípulos da Faculdade de Economia da Universidade de Chicago para reverter as
estatizações e outras medidas do governo socialista. As mineradoras dos EUA
foram indenizadas em US$ 250 milhões.
Os Chicago Boys entraram
no governo e levaram seu guru, Milton Friedman, para uma reunião de 45 minutos
com o ditador. Friedman sugeriu um tratamento mais lento ou uma terapia de
choque: corte de 20% nos gastos públicos, demissão de 30% dos funcionários
públicos, aumento do imposto sobre valor agregado, privatização das empresas
estatais e liquidação do sistema de poupança e empréstimo para financiar a casa
própria.
TERAPIA DE CHOQUE
Pinochet optou pela terapia de choque O impacto inicial foi
duro. Em 1974, a inflação chegou a 746%. O PIB caiu 12%, o desemprego subiu
para 16%. A situação começou a melhorar em 1977, mas o índice de desemprego
aumentou para cerca de 20% por causa das demissões de funcionários públicos e
das estatais privatizadas.
O “milagre econômico chileno”, como chamou Friedman, durou
até 1982, quando o Chile foi atingido pela recessão mundial iniciada em 1980,
depois do choque do petróleo causado pela vitória da Revolução Islâmica no Irã,
e pela crise da dívida da América Latina.
CANAL DE BEAGLE
Em 1978, as ditaduras militares da Argentina e do Chile, que
cooperavam na Operação Condor para perseguir dissidentes políticos, quase foram
à guerra por causa das ilhas Nova, Picton e Lennox, no Canal de Beagle, no
extremo sul do continente.
Um laudo arbitral emitido no ano anterior pelo Reino Unido
dava direito de navegação aos dois países e a maior parte das ilhas e dos
direitos oceânicos decorrentes ao Chile.
A junta militar argentina rejeitou a arbitragem. Em 22 de
dezembro de 1978, a Argentina estava disposta a ocupar as ilhas quando a
mediação do papa João Paulo II evitou a guerra, levando ao Tratado de Paz e
Amizade, de 29 de novembro de 1984.
Durante a Guerra das Malvinas, de abril a junho de 1982, Pinochet
apoiou claramente o Reino Unido, dando apoio logístico e de inteligência ao
governo Margaret Thatcher.
REDEMOCRATIZAÇÃO
Em 11 de março de 1981, entrou em vigor uma nova
Constituição aprovada por 67,5% dos eleitores em 11 de setembro de 1980,
lançando as bases para o retorno à democracia.
Depois de oito anos, a ditadura lançaria um candidato único,
mas, em plebiscito realizado em 5 de outubro de 1988, 55% rejeitaram a
continuação no poder do general Pinochet. O ditador ainda teve 40% dos votos. Estava
aberto o caminho para o retorno à democracia.
As primeiras eleições democráticas foram realizadas em 14 de
dezembro de 1989. Em 11 de março de 1990, o democrata-cristão Patricio Aylwin (1990-94)
assumia a Presidência como substituto do general Pinochet, que manteve o
comando do Exército do Chile por mais oito anos, até 11 de março de 1998.
PRISÃO DE PINOCHET
Quando foi ao Reino Unido pela primeira sem imunidade
diplomática, Pinochet foi preso, em 16 de outubro de 1998, ao fazer tratamento
numa clínica de Londres, por força de um mandado internacional emitido pelo
juiz espanhol Baltasar Garzón por crimes contra a humanidade cometidos pela
ditadura.
O Chile, na época presidido por Eduardo Frei Ruiz-Tagle
(1994-2000), exigiu sua repatriação imediata, alegando ofensa ao país, mas a
Comissão de Juízes da Câmara dos Lordes, formada por cinco juízes, que atua como
supremo tribunal do Reino Unido, negou em novembro que Pinochet tivesse
imunidade diplomática.
Como a mulher de um dos lordes juízes era ativista da
Anistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos que acusava
Pinochet, o caso foi submetido a um segundo julgamento.
SEM IMUNIDADE
Em 24 de março de 1999, a Câmara dos Lordes decidiu que o
ex-ditador não tinha imunidade. Mas nem o Chile queria ver seu ex-presidente
sendo julgado no exterior nem o governo direitista espanhol de José María Aznar
queria recebê-lo.
A solução foi acertada numa conferência de cúpula
europeu-latino-americana realizada no Rio de Janeiro em 29 e 30 de junho de
1999. Como Pinochet era diabétido e hipertenso, alegou-se que o ex-ditador
estava velho e doente demais para ser processado e entender o que estava se
passando.
PACIENTE INGLÊS
Por decisão do ministro do Interior britânico, Jack Straw,
em 5 de janeiro de 2000, o general foi submetido a exames médicos. Com base nos
resultados, em 2 de março, Straw resolveu libertar Pinochet, que estava sendo
chamado no Chile de Paciente Inglês,
nome de um filme de sucesso recente.
No dia seguinte, o mais arquetípico ditador sul-americano
desembarcou no Chile. Na pista do aeroporto, levantou-se da cadeiras de rodas,
num gesto de desafio para mostrar que estava bem e saudou os partidários que o
aguardavam em triunfo.
RÉU DEMENTE
De volta ao Chile, Pinochet foi alvo de mais de 300 queixas
e vários processos por violações de direitos humanos, tráfico de armas e
corrupção. Em julho de 2001, um atestado de debilidade mental o livrou das
acusações. Essa decisão foi anulada em 28 de maio de 2004 pelo Tribunal de
Recursos de Santiago.
Aos processos sobre direitos humanos, somou-se o do Caso
Riggs, entre outros escândalos, como exportação de armas para a Croácia quando
estava proibidopor sanções internacionais. O general teria US$ 28 milhões numa
conta secreta no Banco Riggs, conhecido por lavagem de dinheiro.
Pinochet morreu em 10 de dezembro de 2006 de um ataque
cardíaco sem pagar pelos crimes cometidos.
PRESIDENTES SOCIALISTAS
Em 2000, Ricardo Lagos tornou-se o primeiro presidente
socialista desde Allende. Com políticas muito diferentes da “via chilena para o
socialismo”, Lagos fechou acordos de livre comércio com os EUA e a União Europeia
para integrar plenamente o Chile na globalização capitalista.
Lagos foi sucedido em 2006 pela também também socialista
Michelle Bachelet, a primeira mulher a presidir o Chile. Seu pai foi preso pela
ditadura e morreu na prisão. Ela chegou a ser presa e torturada na notória
Villa Grimaldi, em 1975, foi para o exílio e voltou depois da anistia de 1978,
que beneficiou especialmente os assassinos e torturados da ditadura.
Apesar da crise internacional, Bachelet (2010-14) terminou o
governo com 84% de popularidade. Em 14 de setembro de 2010, Bachelet se tornou
secretária-geral adjunta da ONU e diretora-executiva da ONU Mulheres, cargo que
deixou em março de 2013 para concorrer novamente à Presidência em novembro de
2013.
DIREITA NO PODER
Com a divisão na Concertación e a falta de um candidato
forte, o empresário Sebastián Piñera venceu o ex-presidente Eduardo Frei
Ruiz-Tagle no segundo turno, em 17 de janeiro de 2010. Foi a primeira vitória
de um direitista desde Jorge Allessandri, em 1958.
Um dos homens mais ricos do Chile, com fortuna estimada em
US$ 2,4 bilhões, Piñera é grande acionista da companhia aérea LAN e dono do
clube de futebol mais popular do país, o Colo-Colo.
ESQUERDA VOLVER
Com propostas para reduzir a desigualdade social herdada da era Pinochet, Michelle Bachelet foi reeleita presidente do Chile no segundo turno, em 15 de dezembro de 2013, com 62% dos votos contra 38% dados à candidata direitista, Evelyn Matthei.
ESQUERDA VOLVER
Com propostas para reduzir a desigualdade social herdada da era Pinochet, Michelle Bachelet foi reeleita presidente do Chile no segundo turno, em 15 de dezembro de 2013, com 62% dos votos contra 38% dados à candidata direitista, Evelyn Matthei.
RESGATE DOS MINEIROS
Um dos momentos marcantes do governo Piñera foi o resgate de
33 mineiros soterrados vivos no subsolo a 720 metros de profundidade depois de
um acidente na Mina São José, situada a 30 km a noroeste da cidade de Copiapó,
em 5 de agosto de 2010.
Em 22 de agosto, os mineiros foram localizados com vida.
Começou uma operação de resgate. Depois de 33 dias de perfuração, a sonda
chegou a 623 metros de profundidade. Um primeiro furo foi feito para permitir a
passagem de ar e alimentos.
Aos 10 minutos da madrugada de 13 de outubro de 2010, o
primeiro mineiro foi resgatado com vida e em seguida todos os seus colegas, a
um custo total estimado em US$ 10 a 20 milhões.
O maior e mais bem-sucedido resgate de mineiros da História
foi um espetáculo de televisão assistido por pelo menos 1 bilhão de pessoas no
mundo inteiro, sendo superado apenas pelo funeral do rei do pop Michael
Jackson. Foi também uma demonstração da capacidade técnica e do grau de
desenvolvimento do Chile, alguns diriam ao lado do descaso com os trabalhadores
e da falta de fiscalização das empresas.
RELAÇÕES COM O BRASIL
O último baile da monarquia, o Baile da Ilha Fiscal, em 9 de
novembro de 1889, foi uma homenagem aos oficiais do navio chileno Almirante
Cochrane, que visitava o Brasil.
Muitos brasileiros foram exilados no Chile durante o governo
socialista de Salvador Allende, entre eles José Serra, Fernando Gabeira e César
Maia. Gabeira conta no livro O que é isso
companheiro a busca de refúgio em embaixadas e as fugas espetaculares
depois do golpe.
O governo do general Emilio Garrastazu Médici foi acusado de
conspirar abertamente, ao lado da Embaixada dos EUA, para derrubar o governo
constitucional de Salvador Allende.
Pinochet veio ao Brasil em 1974. O deputado Francisco Pinto
foi cassado por criticar a visita e denunciar os crimes da ditadura militar
chilena.
Os governos militares e os aparelhos repressivos do Brasil,
Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai se associaram nos anos 1970s na
Operação Condor para sequestrar, prender e até matar dissidentes refugiados em
outros países da região.
Depois do assassinato do ex-chanceler chileno Orlando
Letelier, em Washington, e das mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e
João Goulart, e do ex-governador Carlos Lacerda, num momento de endurecimento
das ditaduras do Cone Sul, o ex-governador Leonel Brizola decidiu sair do
Uruguai e ir para a Europa e os EUA.
Em 1996, o Chile entrou no Mercosul como membro associado.
Faz parte da zona de livre comércio, mas não da união aduaneira, já que pratica
tarifas externas inferiores às do bloco.
CULTURA
A cultura do Chile reproduz a mestiçagem de seu povo, com
predomínio da cultura importada da Espanha, que suplantou a acumulou a cultura
nativa e foi influenciada pela imigração europeia a partir do século 19 e mais
recentemente dos Estados Unidos e da Ásia.
LITERATURA
Na literatura, especialmente na poesia, os chilenos
desenvolveram seu maior talento artístico. Dois poetas chilenos, Gabriela
Mistral, em 1945, e Pablo Neruda, em 1971. O crítico Harold Bloom coloca Neruda
entre os 26 escritores mais importantes da literatura ocidental.
Nicanor Parra e Vicente Huidobro também foram poetas
importantes no século 20. No fim do século passado, os romances de Isabel
Allende fizeram sucesso de público e de crítica na América Latina, nos EUA e na
Europa.
PINTURA
Artistas europeus como José Gil de Castro e Mauricio
Rugendas foram os primeiros a pintar o Chile. A Academia de Pintura, fundada em
1849, estimula o aparecimento de artistas como Pedro Lira, Alberto Valenzuela e
Juan Francisco González.
Entre os contemporâneos, destacam-se Roberto Matta, o
“último surrealista”, e o hiperrealista Claudio Bravo, o mais importante dos
últimos anos.
CINEMA
O primeiro filme totalmente filmado no Chile foi o
documentário Exercício Geral do Corpo de
Bombeiros, apresentado pela primeira em Valparaíso em 26 de maio de 1902. Norte e Sul, de 1934, foi o primeiro
filme sonoro chileno.
Stefan vs. Kramer
(2012) e Sexo com Amor (2003) são os
maiores sucessos de bilheteria do cinema chileno. Raúl Ruiz é o cineasta mais
famoso.
O diretor Miguel Littín, que fez documentários sobre a
ditadura, foi indicado duas vezes para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Claudio Miranda ganhou o Oscar de melhor fotografia em 2013 por A Vida de Pi.
MÚSICA
O músico chileno de maior destaque foi o pianista clássico
Claudio Arrau, considerado um dos melhores do século 20, um especialista em
Beethoven, Brahms, Chopin, Debussy, Liszt e Schumann.
Na música popular, houve um importante movimento de resgate
de canções e ritmos tradicionais nos anos 60 e 70, a Nova Canção Chilena, com
destaque para os irmãos Violeta e Ángel Parra, Víctor Jara, morto pela ditadura
logo após o golpe, e grupos como Illapu e Inti-Illimani, que fizeram a Canção do Poder Popular para a campanha
eleitoral de Allende, em 1970.
Mais recentemente, destacam-se Lucho Gatica, Antonio Prieto
e Los Ángeles Negros. O Festival Internacional da Canção de Viña del Mar,
realizado desde 1960, é um dos mais importantes da América Latina.
CULINÁRIA
A cozinha chilena mescla as tradições indígenas com a culura
transplantada da Espanha. Mistura ingredientes da América, como o milho, a
batata, a cebola e o tomate com as carnes de gado, porco, frango ou cordeiro,
animais trazidos da Europa, além dos peixes e frutos do mar disponíveis no seu
extenso litoral.
O Chile é hoje grande produtor e exportador de salmão criado
em cativeiro.
Entre os pratos típicos nacionais estão os assados; os anticuchos (espetinhos de carne de gado
e cebola temperados com sal grosso e assados na brasa, acompanhados de pão); as
cazuelas de carne, frango ou pescados, a carbonada
(um cozido carnes, abóbora, batata, milho, alho, pimentão, oregano, tomilho
salsa e cebola engrossado até ficar espesso); o charquicán, um guisado de charque; o curanto (uma mistura de carne, mariscos, batatas, vagens de feijão
e de ervila, e grandes folhas de uma planta chamda pangue ou nalca,
substituíveis por folhas de repolho, cozidos numa panela de prisão durante
pouco menos de uma hora); as empanadas (pastéis de forno) de pinhão e os
pastéis de milho.
O vinho é a principal bebida alcoólica e um importante
produto de exportação do Chile, que desenvolveu cepas de alta qualidade das
uvas Cabernet Sauvignon, Carménère, Chardonnay, Merlot e Sauvignon Blanc. Em 2010,
o Chile era o 5º exportador e o 8º maior produtor mundial de vinho.
ESPORTE
Os índios mapuches praticavam esportes chamados palín, comparado ao hóquei, e linao, semelhante ao rúgbi. No interior
do país, o favorito é o rodeio chileno, declarado esporte nacional em 1962.
O Chile participa dos Jogos Olímpicos desde a primeira
olimpíada da era moderna, em Atenas, em 1896, quando foi representado por Luis
Subercaseaux. Ele competiu no atletismo, nas provas de 100, 400 e 800 metros,
registra o Comitê Olímpico do Chile. Sua família diz que ele também disputou
provas no ciclismo.
Só em Atenas, em 2004, o Chile ganhou suas duas únicas
medalha de ouro, com os tenistas
Fernando González e Nicolás Massú, no torneio de duplas masculinas e Massú no
torneio individual masculino. Ao todo até hoje, o Chile conquistou duas
medalhas de ouro, sete de prata e quatro de bronze.
Apesar dos 18 centros de esqui ao longo da cordilheira,
alguns famosos como o Vale Nevado, o Chile jamais ganhou medalhas nas
olimpíadas de inverno.
TÊNIS
Em 1937, a tenista Anita Lizana venceu o Torneio Aberto dos
EUA e foi considerada a maior do mundo, tornando-se a primeira ibero-americana
a ganhar um torneio do Grand Slam.
Marcelo Ríos chegaria ao 1º lugar no ranking da Associação
de Tenistas Profissionais em 1998, depois de chegar à final do Aberto da
Austrália.
HIPISMO
No hipismo, Alberto Larraguibel e o cavalo Huaso bateram o
recorde mundial de 2,47 metros em salto alto em Viña del Mar, em 1949. É o
único recorde mundial de um esportista chileno e um dos mais antigos de
qualquer esporte.
GINÁSTICA
Na ginástica, Tomás González foi o primeiro chileno a ganhar
medalhas em Jogos Pan-Americanos e Copas do Mundo. É considerado o melhor
atleta de alto rendimento da História do Chile.
HÓQUEI
O Chile sediou o Campeonato Mundial de Hóquei sobre Patins
Feminimo em 2006 e foi campeão derrotando a Espanha na final.
VELA
No iatismo, o destaque é Alberto González, o atleta chileno
com mais medalhas pan-americanas: três de ouro, duas de prata e uma de bronze.
MOTO
No motociclismo, Carlo de Gavardo foi duas vezes campeão
mundial e o primeiro motociclista chileno a correr o Rali Paris-Dakar.
Francisco López foi campeão latino-americano de motocross em 1989 e de
supercross em 1998.
FUTEBOL
Os imigrantes ingleses levaram o futebol para o Chile no fim
do século 19 e logo se tornou o esporte favorito.
Entre os grandes craques do futebol chileno estão Raúl Toro,
Leonel Sánchez, Jorge Toro, Marcelo Salas, Elías Figueroa, um dos maiores
jogadores do Internacional de Porto Alegre, Carlos Caszely, Iván Zamorano,
Roberto Rojas e Alexis Sánchez.
Os meia-armador Valdivia, do Palmeiras, o volante Charles Aránguiz, do Internacional, e o atacante Eduardo Vargas, que jogou pelo Grêmio Porto-Alegrense, estão na atual seleção chilena, classificada para a Copa com o terceiro lugar nas
eliminatórias da América do Sul.
A seleção chilena jamais ganhou a Copa América. Participou
de oito Copas do Mundo (1930, 1950, 1961, 1966, 1974, 1982, 1998 e 2010). Sua
melhor colocação foi em 1962, quando sediou a competição e ficou em terceiro
lugar depois de perder para o Brasil por 4-2 na semifinal com grande atuação de
Garrincha, o craque da Copa.
CHILE 1962
O Chile ganhou de 3-1 da Suíça na estreia, em Santiago, em
30 de maio de 1962. Venceu a Itália por 2-0 em 2 de junho, mas perdeu para a
Alemanha, também por 2-0, ficando em segundo lugar no grupo.
Nas quartas-de-finais, em 10 de junho, bateu a poderosa
União Soviética por 2-1. A semifinal com o Brasil foi disputada em 13 de junho,
em Santiago. Garrincha fez 2-0. Jorge Toro, o craque chileno, descontou de falta.
Vavá fez mais dois no segundo tempo. Leonel Sánchez descontou de pênalti.
A partida foi tensa e nervosa. Garrincha foi expulso ao dar
um chute de brincadeira, sem força, na bunda de seu marcador. Como não havia
suspensão automática, não foi proibido de jogar a final, mas, na Copa em que
levou o Brasil nas costas, como Diego Maradona faria com a Argentina em 1986,
Garrincha teve uma atuação discreta na final.
BRASIL BICAMPEÃO
O Brasil jogou a primeira fase no Estádio Sausalito, em Viña
del Mar. Bateu o México na estreia por 2-0 com gols de Zagalo e Pelé, em 30 de
maio.
No segundo jogo, em 2 de junho, empatou em 0-0 com a
Tcheco-Eslováquia. Pelé saiu machucado com uma lesão muscular que o tirou da
Copa.
VITÓRIA DRAMÁTICA
A partida contra a Espanha, em 6 de junho, talvez tenha sido
a mais importante. Uma derrota poderia eliminar o Brasil.
A Espanha saiu na frente com gol de Adelardo aos 35 min,
teve a chance de fazer o segundo em dupla defesa milagrosa de Gilmar e o juiz
não marcou um pênalti porque Nílton Santos malandramente deu um passo para fora
da área.
Num jogo de ritmo alucinante, quando tudo parecia perdido
Garrincha acabou com o jogo e Amarildo, o Possesso,
substituto de Pelé, marcou os dois gols da vitória histórica de 6 de junho aos
27 e 41 minutos do segundo.
TIRA-TEIMA
O próximo adversário era a Inglaterra, única seleção que não
perdera para o Brasil na campanha vitoriosa de 1958 na Suécia.
Em 1962, a Inglaterra foi segunda no Grupo 4, eliminando a
Argentina no saldo de gols depois de perder da Hungria por 2-1, ganhar da
Argentina por 3-1 e empatar com a Bulgária em 0-0.
Em 10 de junho, Garrincha abriu o placar de cabeça aos 31. Também
de cabeça, Gerald Hitchens empatou para a Inglaterra aos 38 min. Vavá desempatou,
de cabeça, pegando rebote de uma falta batida pelo Mané aos 8 min do segundo
tempo Garrincha liquidou com um chute forte e cruzado de direita aos 14 min.
FINAL EM SANTIAGO
Depois da derrota para o Brasil por 4-2 na semifinal, o
Chile bateu a Iugoslávia por 1-0 para ficar em terceiro lugar.
Na final, Josef Masopust abriu o placar para a
Tcheco-Eslováquia aos 14 min do primeiro tempo. Amarildo empatou dois minutos
depois ao chutar para o gol uma bola em que o excelente goleiro tcheco Viliam Schrojf
falhou ao esperar um cruzamento.
O Brasil passou à frente quando Amarildo correu pela
esquerda e cruzou para Zito, livre, testar para baixo na cara do gol aos 24
minutos do segundo tempo. Aos 32 minutos do segundo tempo, Schrojf falhou de
novo, largando uma bola erguida sobre a área por Djalma Santos nos pés de Vavá,
que fez 3-1.
FRANÇA 1998
Na Copa de 1998, o Brasil ganhou do Chile por 4-1 no Parque
dos Príncipes, em Paris. Aos 11 minutos, o capitão Dunga bateu falta e César
Sampaio fez um gol de cabeça. O mesmo César Sampaio fez o segundo pegando
rebote de uma falta cobrada por Roberto Carlos. Ronaldo fez 3-0 em pênalti
batido por ele mesmo.
No segundo tempo, Marcelo Salas descontou para o Chile e
Ronaldo faz 4-1, placar final, numa trama com César Sampaio e Rivaldo.
ÁFRICA DO SUL 2010
Brasil e Chile voltaram a se defrontar nas oitavas-de-final
da Copa de 2010, na África do Sul, no Estádio Ellis Park, em Joanesburgo, em 28
de junho. Juan e Luís Fabiano, no primeiro tempo, e Robinho, no segundo,
marcaram numa vitória fácil, talvez a mais fácil do Brasil na Copa de 2010.
RETROSPECTO
Brasil e Chile já se enfrentaram 66 vezes desde o primeiro
jogo, empatado em 1-1, em Buenos Aires, na Copa América de 1916. Foram 46
vitórias do Brasil, 13 empates e 7 vitórias do Chile.
O Brasil marcou 154 gols e sofreu 57. A maior derrota do Brasil foi por 4-0 em 3 de julho de 1987, na Copa América, em Córdoba, quando Carlos Alberto Silva era o técnico brasileiro e Raí o craque do time.
O Brasil marcou 154 gols e sofreu 57. A maior derrota do Brasil foi por 4-0 em 3 de julho de 1987, na Copa América, em Córdoba, quando Carlos Alberto Silva era o técnico brasileiro e Raí o craque do time.
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