Os Estados Unidos estão exigindo a demissão do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, chefe do governo que pediu ontem aos americanos que façam bombardeios aéreos para conter uma ofensiva da milícia terrorista sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Há pouco o presidente Barack Obama declarou que os EUA estão preparados para lançar ataques contra alvos específicos no Iraque. Ele anunciou o envio de 300 assessores militares ao país, mas não anunciou nenhuma ação imediata e deixou claro que não está entrando numa nova guerra.
Na visão do Pentágono, Maliki é um dos responsáveis pela situação atual ao discriminar a minoria sunita, que mandava no Iraque há séculos e estava no poder durante a ditadura de Saddam Hussein.
Vários oficiais militares leais a Saddam teriam se associado ao EIIL. Isso explicaria a rapidez com que os rebeldes tomaram Mossul, a segunda maior cidade do país, e Tikrit, terra natal do ditador deposto e morto pela invasão americana, em 2003.
Sem uma verdadeira reconciliação entre os árabes das duas correntes do islamismo, a unidade do Iraque está ameaçada. Na sua conta no Twitter, o jornalista americano Jon Lee Anderson já considera inevitável a desintegração do país entre curdos, sunitas e xiitas.
Ao tomar Kirkuk com sua milícia peshmerga, os curdos reforçaram sua autonomia no Norte do Iraque. Mas a oposição da Turquia e de outros países vizinhos com minorias curdas pode dificultar a independência do Curdistão, uma promessa do fim da Primeira Guerra Mundial.
Em 1916, no Acordo Sykes-Picot, os impérios Britânico e Francês começaram a redesenhar o mapa do Oriente Médio, antecipando a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.
Uma das promessas do pós-guerra era criar uma pátria para o povo curdo, hoje em dia a maior nação do mundo sem um Estado nacional. Mas, em 1920, o subsecretário de Estado para o Oriente Médio, Winston Churchill, decidiu juntar a província curda de Kirkuk, rica em petróleo, às de Bagdá e Bássora para criar o Iraque na expectativa de que seria um país suficientemente grande e forte para conter o Irã.
O EIIL, em suas declarações públicas, afirma a determinação de acabar com essa ordem imposta pelas potências ocidentais. Anderson acredita que ela não funciona mais no Iraque sem o tirano deposto pelos EUA, enquanto na Síria o ditador Bachar Assad consegue se sustentar com uma guerra civil brutal.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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