A República da Coreia ocupa a metade sul, 45% do total, mas
reivindica todo o território da Península Coreana e de suas 3,5 mil ilhas,
dividido desde o fim da Segunda Guerra Mundial, depois de uma longa história de
intervenções de seus poderosos vizinhos, a China, a Rússia e o Japão.
A Coreia do Norte, talvez a última ditadura stalinista,
parou no tempo e no espaço. Vive em crise permanente desde o fim de sua aliada
e patrocinadora União Soviética, em 1991.
Já a Coreia do Sul talvez tenha sido o único país do mundo a
vencer o subdesenvolvimento no século 20. Entrou pobre. Era pobre até os anos
1960s. É hoje o 15º país mais rico do mundo. Suas indústrias de aço, naval, eletroeletrônica,
automobilística estão entre as melhores do mundo.
Uma zona desmilitarizada de 4 quilômetros divide as duas
Coreias mais ou menos ao longo do Paralelo 38º Norte.
GEOGRAFIA
Geologicamente, a Coreia do Sul é formada por rochas do
período pré-cambriano, com 540 milhões de anos. Com 100 mil km2, é o 109º país do
mundo em área.
É país montanhoso, sulcado por pequenos vales, com estreitas
planícies costeiras. O pico mais alto é um vulcão extinto, o Monte Halla
(1.950m), situado na ilha de Cheju.
A Coreia do Sul fica no Leste da Ásia. É cercada pela Coreia
do Norte ao norte, pelo Mar do Japão a leste, pelo Mar da China Meridional ao
sul e pelo Mar Amarelo a oeste. O
país se considera uma ponte entre a Ásia continental e o Japão, que na menor
distância fica a 206 km da Coreia.
A pouca profundidade do Mar Amarelo e a costa recortada
fazem com que Incheon, o porto de Seul, tenha uma das mares mais altas do
mundo, com uma variação de 9 metros.
POPULAÇÃO
A população sul-coreana é estimada em 50 milhões de
habitantes (o dobro da norte-coreana), sendo 97,1% coreanos, 2% japoneses, 0,1%
chineses da etnia han e 0,1% americanos. A capital, Seul, tem 10 milhões de
habitantes.
No início do século 20, a população era estimada em 5
milhões, com Seul como maior
cidade com 250 mil habitantes. Depois da ocupação japonesa, em 1910, era de
13.313.017. Em 1920, a população da Coreia era de 17 milhões, inclusive 400 mil
japoneses. O último censo sob o domínio do Japão, em 1942, registrou 26,36
milhões, dizem James Hoare e Susan Pares no livro Korea: the classic introduction.
Com a divisão do país no fim da Segunda Guerra Mundial, em
1945, dois terços dos coreanos ficaram no Sul. O Censo de 1949 contou mais de
20 milhões de sul-coreanos.
ECONOMIA
PIB: US$ 1,222 trilhão (15º do mundo, membro do G-20)
Renda per capita: US$ 25 mil
IDH: 12º do mundo
Desemprego: 3,8% (2012)
Com o país arrasado pela Guerra da Coreia, os EUA deram uma
ajuda de US$ 2,1 bilhões de 1953 a 1960. A Coreia do Sul era um dos países mais
pobres do mundo, mas o presidente Syngman Rhee estava mais preocupado com segurança
do que desenvolvimento. O milagre começaria em seguida.
A Coreia do Sul cresceu em média 9,1% ao ano de 1961 a 1993,
tornando-se um dos tigres asiáticos. Quando
o milagre econômico sul-coreano ou “milagre econômico do Rio Han” começou, em
1961, a renda per capita do país, de US$ 87, era inferior à de Gana, na África;
hoje, está em US$ 25 mil.
DESENVOLVIMENTO
Em 1962, o produto interno bruto foi de US$ 2,3 bilhões;
hoje, é 500 vezes maior. Uma série de planos de desenvolvimento estimulou
primeiro o setor têxtil e as manufaturas leves.
Nos anos 1970s, a ênfase passou para a indústrias pesada,
ferro e aço, e química. Numa terceira etapa, o foco mudou para automóveis,
eletroeletrônicos e informática. A indústria responde por 40% do PIB.
Desde 1986, a Coreia do Sul gera saldos comerciais
expressivos. Em 2010, era o sexto maior exportador e o décimo maior importador
mundial.
MARCAS
Hoje, importantes marcas coreanas, como Samsung, LG, Daewoo
e Hyundai conquistaram o mundo e são sinônimos de excelência. A Samsung, líder mundial em telefones
celulares inteligentes, é hoje a maior empresa eletroeletr
AGRICULTURA
Menos de um quarto do solo é arável. A cultura mais
importante é o arroz. Também é importante a produção de frutas e legumes,
especialmente couves e repolhos.
O ginseng é um importante produto de exportação, apesar da
pequena escala. Também são importantes a criação de gado bovino e de porcos, e
a produção de laticínios, além da pesca, fontes de proteínas sobretudo para
consumo interno.
SERVIÇOS
Cerca de 20% da mão de obra trabalham no setor de serviços,
que responde por 57% do PIB. O turismo é uma atividade importante por causa das
belezas naturais, dos templos budistas e atrações históricas.
A Coreia do Sul foi um dos poucos países ricos que conseguiram
evitar a contração do PIB anual durante a Grande Recessão de 2008-9. Mas chegou
a ter três trimestres consecutivos de recuo do PIB, o que caracteriza recessão.
DESACELERAÇÃO
Sob o impacto da crise internacional, o crescimento, elevado
desde 1961, caiu para 2,3% em 2008 e 0,2% em 2009, no auge da crise.
Com um programa de estímulo com 75% dos recursos focados na
transição para uma economia mais verde e mais sustentável, a expansão subiu
para 6,2% em 2010, mas caiu para 3,6% em 2011, 2,1% em 2012 e 2,8% em 2013.
EDUCAÇÃO
A educação é o segredo do sucesso financeiro e social na
Coreia do Sul. A competição é feroz. Os sul-coreanos disputam os primeiros
lugares nas olimpíadas de ciências e de matemática.
O país praticamente universalizou o ensino médio: 99% dados
sul-coreanos completaram o ensino médio. É uma educação abrangente, de altíssima
qualidade. Cerca de 25% dos sul-coreanos tocam um instrumento musical.
A Coreia do Sul é pioneira na edição de livros-texto
digitais, que começaram a ser distribuídos gratuitamente em todas as escolas
primárias e secundárias do país em 2013.
HISTÓRIA
A ocupação da Península Coreana começou há 700 mil anos.
O mito fundador da sociedade coreana é a criação do reino de
Chosun Antigo, no Norte da península, em 3 de outubro de 2333 antes de Cristo,
por Tangun, que seria filho de Hwanung, príncipe de um reino celestial, com uma
ursa transformada em mulher.
A ursa e uma tigresa, querendo virar mulheres, pediram ajuda
aos deuses. Só a ursa seguiu rigorosamente as instruções: comer um ramo de
artemísia e 20 dentes de alho.
As modernas interpretações do mito sugerem que Tangun foi herói
local ou um estranho vindo do exterior que dominou os povos do Norte da
Península Coreana. O culto aos ursos indica uma influência cultural da Sibéria,
onde havia ritos semelhantes.
As mais antigas evidências arqueológicas indicam a presença
de agricultores seminômades em toda a península por volta de 1500 AC.
É provável que a maioria dos coreanos descenda de migrantes
vindos da Ásia Central que chegaram à Manchúria entre 1000-800 AC e de lá teriam
descido para a Península Coreana.
A capital de Chosun era Liaoning. Por volta de 400 AC, foi
transferida para Pyongyang, a atual capital da Coreia do Norte. No Sul da
península, o reino de Jin surgiu por volta de 300 AC.
TRÊS REINOS
Uma invasão chinesa durante a dinastia Han em 108 AC destruiu
o reino de Chosun Antigo, dando início ao período dos Três Reinos, unificados
em 676 DC, depois que Sila subjugou Paekje em 660 e Koguryo em 668.
Durante o período dos três reinos, o budismo, o
confucionismo, a escrita ideogrâmica e vários outros elementos da cultura
chinesa chegaram à Coreia, onde foram adotados com adaptações.
O reino de Sila usou a estrutura de governo confucionista
sem desmantelar totalmente o sistema antigo. O confucionismo coexistiu com a
aristocracia tribal e uma classe guerreira. O budismo coreano incorporou as
divindades locais.
Por volta de 890, o reino de Sila estava à beira do colapso.
Com a ascensão de Koguryo e Paekche, esses Três Reinos Tardios brigam entre si
e são palco de revoltas domésticas. Surgem cidades amuralhadas controladas por
nobres locais relutantes em ceder o poder.
PERÍODO KORYO
Numa dessas rebeliões, um militar chamado Wang Kon foi
proclamado rei Taejo, do Novo Koguryo, que ele rebatizou como Koryo, com
capital em Songak, hoje Kaesong, na Coreia do Norte. Em 934, Wang Kon tomou
Paekche Tardio e, no ano seguinte, Sila, dando ao rei o mais alto cargo e
casando com uma mulher do clã real local para legitimar seu governo.
O Período Koryo (918-1392) foi o primeiro em que a península
foi unificada sob o mesmo governo. Alguns autores comparam seu esplendor com o
da Dinastia Sung, que dominava a China na época.
A fabricação de papel e a imprensa de tipos móveis, que os
coreanos alegam ter inventado em 1234, foram desenvolvidas na Coreia no período
Koryo muito antes da Europa, onde a imprensa seria inventada por Gutenberg em
1455.
Mas a corte vivia em luta permanente com nobres poderosos, sob
ameaça de ataques de piratas do Japão e do Império Chinês. Com a chegada da
horda mongol liderada por Gêngis Khan à China, no início do século 13, a Coreia
foi ocupada e envolvida numa fracassada tentativa mongol de invadir o Japão.
DINASTIA YI
O reino de Koryo acabou na transição do domínio mongol para
a Dinastia Ming, na China, quando um dos generais, Yi Song Eye, enviado pelos
mongóis para combater os chineses, abandonou a campanha, recuou suas forças
para o Sul do Rio Yalu, derrubou o rei e instalou a Dinastia Yi (1392-1910), a
mais longa da História da Coreia.
A Dinastia Yi ou Dinastia Chosun (nome pelo qual a Coreia
era conhecida até 1897) é vista como uma era de continuidade, uma era de
esplêndido isolamento em que o “reino eremita” era feliz, até que a intervenção
estrangeira acabou com sua tranquilidade.
REFORMAS
O rei Yi Taejo, como ficou conhecido pela História, construiu
uma nova capital junto ao Rio Han, Seul, capital da Coreia unificada de 1394 a
1945. Até 1900, a cidade se parecia com a antiga Seul de Yii Taejo. Ainda hoje
restam palácios, templos, santuários, muros e portões.
Houve uma reforma agrária para distribuir terras públicas a
servidores do Estado, o que ajudou a minar o poder da antiga aristocracia. Uma
reforma administrativa reforçou o confucionismo e o modelo do funcionalismo
público chinês, baseado em exames e meritocracia.
ELITE
Como o neoconfucionismo era a base do sistema, o estudo de
textos de Confúcio e seus intérpretes era a chave para passar. Logo, a elite
começou a dominar o acesso ao serviço público. O poder dos mosteiros budistas
foi reduzido. Assim como a Igreja Católica na Europa, tinham muita terra e
muita riqueza.
A sociedade coreana tinha uma classe dominante, yangban. O povo era formado por
agricultores, artesãos e mercado. Entre eles, havia uma classe média de
médicos, intérpretes, militares e funcionários públicos.
Na metade do século 15, surgiu o alfabeto coreano, rangul, gerando com o uso uma reação à
literatura chinesa para resgatar formas nativas da Coreia como a poesia sijo.
GUERRA DE IMJIN
Em 1592, o Japão invadiu a península para atacar a China e
iniciou a Guerra de Imjin, que durou seis anos. Os japoneses tomaram Seul e Pyongyang, mas sofreram várias
derrotas no mar.
Após uma breve trégua em 1596, houve uma segunda invasão
japonesa em 1597. Com um impasse no campo de batalha, os japoneses se retiraram
em 1598. Nessa guerra, foram usados os chamados navios-tarturuga, com uma
cobertura metálica no tombadilho, o que os tornou os primeiros navios do mundo
com cobertura metálica.
A paz com o Japão foi restabelecida em 1606, quando o
xogunato Tokugawa consolidava seu poder e iniciava uma era de isolamento
internacional que servia os interesses da Coreia de se manter distante do
vizinho guerreiro.
A guerra com o Japão enfraqueceu a Dinastia Ming na China,
levando à conquista de Beijim pelos manchus da Dinastia Qing, que governaram o
país de 1644 até o fim do Império Chinês, em 1911.
CATOLICISMO
O catolicismo chegou à Coreia no século 16, quando os
jesuítas estavam ligados à corte chinesa em Beijim. No fim do século 18,
começou a ser perseguido como uma influência indesejável que se opunha ao
confucionismo.
No fim do século 19, a Coreia firmou acordos com o Império
Britânico, a França e a Alemanha para tentar se proteger de seus vizinhos
poderosos, sem sucesso.
Em 1882, a China invadiu Seul a pretexto de proteger
cidadãos japoneses com base num tratado assinado com o Japão em 1871 e dominou
a Coreia até 1894.
GUERRA SINO-JAPONESA
Na visão do nacionalismo japonês, “a Coreia é uma adaga
apontada para o coração do Japão”. O domínio chinês sobre a Coreia era uma
grande ameaça a seus interesses. Em julho de 1894, sem uma declaração formal de
guerra, o Japão atacou a frota chinesa.
Era o início da Guerra Sino–Japonesa (1894-95), que marca o
fim de séculos de hegemonia da China no Leste da Ásia. No fim da guerra, o
Japão toma Taiwan, começando a construir um império e mantém o controle sobre a
Coreia.
Uma série de reformas políticas sob o pretexto de modernizar
a administração da Coreia serviu na prática para consolidar o domínio japonês.
Em outubro de 1895, a rainha, que liderava a oposição aos japoneses, foi
assassinada. Houve revoltas, duramente reprimidas pelo Japão. O rei se refugiou
na Embaixada da Rússia, aumentando o sentimento antijaponês.
GUERRA DO PACÍFICO
A consolidação das possessões da Rússia na Sibéria e o Leste
da Ásia aumentou a tensão com o Japão na região da Mandchúria, especialmente
depois do fim da Guerra dos Boxers, na China, em 1900.
Como a Rússia se negou a ceder suas posições na Mandchúria
depois de um acordo anglo-japonês de 1902, o Japão decidiu atacar antes da
conclusão da Ferrovia Transiberiana. Em 8 de fevereiro de 1904, começa a Guerra
do Pacífico.
A primeira grande guerra do sangrento século 20 vai até 5 de
setembro de 1905. Era a primeira derrota de um exército branco europeu para não
europeus desde que o Império Otomano cercara e fora repelido de Viena em 1684.
ANEXAÇÃO
Uma das consequência da guerra russo-japonesa foi o Tratado
de Proteção Japão-Coreia, de 17 de novembro de 1905, que consolidava a
dominação japonesa e foi causa de suicídio de vários altos funcionários
coreanos.
Com a dissolução do Exército da Coreia, em 1907, vários
ex-militares organizaram ataques contra as forças de ocupação. Em 1908, houve
1.451 incidentes envolvendo 70 mil pessoas.
O Tratado de Anexação acabou, em 29 de agosto de 1910, com a
independência da Coreia. O governo e todas as organizações políticas foram
dissolvidas. Em novembro de 1910, o Japão anunciou o fim da resistência.
OCUPAÇÃO
A ocupação japonesa não fez qualquer concessão à cultura ou
à tradição de independência da Coreia. Estava imbuída de um direito divino
devido ao mito de que a família imperial do Japão tem origem divina.
De 1910 a 1919, o Japão consolidou o controle criando uma
poderosa máquina burocrática dirigida por um governador-geral, sempre militar.
Ao todo, sete governadores-gerais japoneses mandaram na Coreia até 1945. Para
se proteger, criaram uma grande força policial. Nos anos 1930s, havia um
policial japonês para cada 400 coreanos.
Em janeiro de 1919, depois do fim da Primeira Guerra
Mundial, os coreanos tentaram articular um movimento pela independência baseada
no conceito de autodeterminação
dos povos defendido pelos Estados Unidos na Conferência de Paz de Versalhes.
Foi rápida e duramente reprimido pelos japoneses.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Com a ocupação da Mandchúria em 1931 e da criação do
Estado-fantoche japonês de Manchukuo, e do Leste da China pelo Japão em 1937,
iniciando na prática a Segunda Guerra Mundial na Ásia, a situação coreana
piorou ainda mais.
A economia do país foi voltada para o esforço de guerra
japonês. Os estudantes foram pressionados a se alistar como voluntários e os
coreanos em geral a participar de rituais xintoístas como prova de lealdade ao
imperador do Japão. Todos os jornais em coreano foram fechados.
Quando a guerra acabou, os coreanos foram libertados do
imperialismo japonês por exércitos estrangeiros. Stalin declarou guerra ao
Japão em 9 de agosto de 1945, quando os americanos jogaram a segunda bomba
atômica, em Nagasake, A União Soviética logo ocupou algumas ilhas disputadas
com o Japão e o Norte da Península Coreana.
DIVISÃO
A divisão da Coreia foi mais fruto da tensão crescente entre
os EUA e a URSS no início da Guerra Fria do que de qualquer preocupação das
superpotências com a península. Foi decidida na Conferência de Potsdam, na
Alemanha, em julho e agosto de 1945, anulando a promessa de independência da
Coreia feita na Declaração do Cairo, em 1943.
Em 14 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou
duas resoluções pedindo a independência da Coreia, a retirada das forças de
ocupação e a realização de eleições livres. Mas as eleições de 10 de maio de
1948 foram realizadas somente no Sul.
Em 15 de agosto de 1948, três anos depois do fim da guerra,
a República da Coreia se tornou independente sob a presidência de Syngman Rhee,
reivindicando a soberania sobre toda a península. Em 9 de setembro de 1948,
nasce a República Popular Democrática da Coreia, também com ambições de
governar o país inteiro, sob a liderança do camarada Kim Il Sung, hoje presidente eterno.
Antes do fim da guerra, os conservadores eram maioria no
Sul, predominantemente agrícola, enquanto a mineração e a indústria se concentravam
no Norte. De 1945 a 1948, houve uma grande migração para o sul do paralelo 38º
N. Até o início da Guerra da Coreia, em 25 de junho de 1950, cerca de 750 mil
pessoas fugiram para a Coreia do Sul.
AUTORITARISMO
A Coreia do Sul nasceu com um Estado forte e autoritário,
com grande poder da polícia e da burocracia. Diante da tensão crescente com o
Norte comunista , a oposição era considerada traição.
Em 1949, o partido comunista e todas as outras organizações
esquerdistas foram proibidas. No início de 1950, 30 mil supostos comunistas
estavam presos e outros 300 mil esquerdistas inscritos em programas de
reeducação.
A URSS retirou suas forças da Coreia em 1948 e os EUA em
1949, deixando a Coreia do Sul desprotegida.
GUERRA DA COREIA
Como os EUA não intervieram na China para evitar a vitória
da revolução comunista liderada por Mao Tsé-tung em 1º de outubro de 1949,
criou-se uma expectativa de que não se meteriam na Coreia.
Em abril de 1950, o ditador soviético Josef Stalin autorizou
Kim Il Sung a invadir o Sul, se Mao concordasse em enviar reforços em caso de
necessidade. Kim encontrou Mao em maio de 1950. O líder comunista chinês temia
a intervenção americana, mas concordou. A China dependia da ajuda econômica e
militar soviética e Mao precisava se mostrar um aliado confiável.
Em 25 de junho de 1950, uma invasão de forças do Norte, que
acusou o Sul de atacar primeiro, marcou o início da Guerra da Coreia. Seul caiu
três dias depois. As forças norte-coreanas tomaram quase toda a Coreia do Sul.
OS EUA decidiram reagir para proteger o Japão e conter a expansão do comunismo
na Ásia depois da vitória da revolução chinesa.
AVAL DA ONU
Como a URSS estava boicotando o Conselho de Segurança da ONU
em protesto contra a não admissão da China comunista (Taiwan ocupava a cadeira
da China na ONU), os EUA conseguiram aprovar uma resolução autorizando o uso da
força para reunificar a Península Coreana. Até hoje, os cerca de 28,5 mil
soldados americanos estacionados na Coreia do Sul têm esse mandato.
Os EUA contribuíram com 88% dos 341 mil soldados da força
internacional, composta por 16 países (da América do Sul, só a Colômbia). Seul
foi retomada em 25 de setembro de 1950.
Uma contra-ofensiva não só expulsou os invasores
norte-coreanos. Em 30 de setembro, o general Douglas MacArthur, comandante
militar americano, recebeu autorização do secretário da Defesa dos EUA, George
Marshall, para ir além do paralelo 38º N. Suas forças chegaram perto do Rio
Yalu, junto à fronteira com a China, que interveio na Guerra da Coreia.
INTERVENÇÃO CHINESA
Em 19 de outubro de 1950, o Exército da China cruzou o Rio
Yalu para impedir a reunificação da Península Coreana e um possível
alastramento da guerra para território chinês, já que um dos objetivos
declarados pelo general MacArthur era combater o comunismo.
A intervenção chinesa forçou os americanos a recuarem para
baixo do paralelo 38º N. Dentro da Guerra da Coreia, houve uma guerra entre a
China os EUA, que a China venceu ao atingir seu objetivo político de empurrar
americanos e aliados para o Sul do paralelo 38º N, restaurando o status quo
anterior à guerra.
Em 11 de abril de 1951, o presidente Harry Truman demitiu o
general MacArthur. Ele invadira o Norte na expectativa de que a China não
interviria. Quis tomar para si a decisão de usar armas nucleares e ameaçou
arrasar a China, se ela não se rendesse.
Depois de dois anos de um impasse no campo de batalha, um
armistício foi assinado em 27 de julho de 1953 pondo fim às hostilidades. Até
hoje não houve um acordo de paz na última fronteira quente da Guerra Fria, que
a Coreia do Norte insiste em negociar com os EUA, alegando que o regime
sul-coreano é um fantoche de Washington.
MORTES
De acordo com o Departamento da Defesa dos EUA, 44.692
americanos, 551.498 sul-coreanos, cerca de 400 mil chineses e 290 mil
norte-coreanos morreram na Guerra da Coreia. O total de mortos ficaria em torno
de 1,25 milhão, sem considerar massacres como o de 100 mil civis suspeitos de
simpatizar com o comunismo na Coreia do Sul e de pelo menos 500 mil civis
executados pela Coreia do Norte. Isso elevaria o total para cerca de 2,5
milhões.
Depois da guerra, cerca de 100 mil norte-coreanos foram executados
pelo regime, afirma Stephane Courtois em O
Livro Negro do Comunismo. O historiador americano Rudolph Rummel estima em mais
de um milhão as mortes em campos de concentração e de trabalhos forçados entre
1945 e 1987. De 24,5 milhões de norte-coreanos, entre 240 mil e 3,5 milhões
teriam morrido de fome desde o fim da URSS, em 1991.
DITADURA
Eleito indiretamente pela Assembleia Nacional em 1948 como
primeiro presidente da Coreia do Sul, Syngman Rhee tinha presidido um governo
coreano formado no exílio em Xangai, na China, em 1919. Era doutor pela
Universidade de Princeton, nos EUA, algo muito valorizado na Coreia.
A guerra fortaleceu suas tendências autoritárias. Seu
governo aprovou uma Lei de Segurança Nacional, perseguiu comunistas e foi
acusado de vários massacres. Quando perdeu apoio da Assembleia Nacional, em
1952, ordenou prisões em massa de oposicionistas e conseguiu aprovar uma emenda
pela eleição presidencial direta, que ganhou com 74% dos votos.
Em 1960, aos 84 anos, Rhee foi reeleito mais uma vez, agora
com 90% dos votos. Uma onda de protestos estudantis contra a fraude eleitoral
chamada de Revolução de Abril obrigou-o a renunciar em 26 de abril de 1960
depois de um massacre no porto de Masan. Rhee fugiu para o exílio no Havaí,
onde morreu em 1965. O período democrático foi curto.
GOLPES
Em 16 de maio de 1961, um golpe militar levou ao poder o
general Park Chung Hee e colocou o país sob lei marcial. Seus 18 anos de
governo foram marcados por protestos e repressão.
Depois do expurgo do líder oposicionista Kim Young Sam da
Assembleia Nacional, em 1979, houve nova onda de protestos violentos. Park foi
assassinado pelo diretor da KCIA (Agência Central de Inteligência da Coreia),
Kim Jae Kyu. Pela Constituição, assumiu a presidência o primeiro-ministro Choi
Kyu Hah
O comandante do Exército, Chun Doo Hwan, assumiu o controle
da investigação sobre o assassinato de Park. Ele deu um golpe em dezembro de
1979. Em abril de 1980, virou diretor-geral da KCIA e reprimiu duramente uma
revolta na cidade de Kwangju. Pelo menos 140 pessoas foram mortas. Em 1º de
setembro de 1980, virou ditador da Coreia do Sul.
Seu governo foi marcado por um escândalo financeiro que
derrubou meio ministério e por uma tentativa de assassinato cometida pelo
serviço secreto da Coreia do Norte em 1983 na Birmânia. Dezessete sul-coreanos
da comitiva presidencial, inclusive vários ministros, e quatro birmaneses foram
mortos.
DEMOCRATIZAÇÃO
Nova onda de protestos em que estudantes enfrentaram a
polícia vestida com uma farda que lembrava o Império do Mal dos filmes da série
Guerra nas Estrelas levou finalmente à democratização da Coreia do Sul.
Em dezembro de 1987, foi eleito o general Roh Tae Woo. Sua
posse, em fevereiro de 1988, foi a primeira transição de governo democrática da
História da Coreia do Sul.
Chun foi condenado à morte em 1996 pelo Massacre de Kwangju,
mas sua pena foi comutada para prisão perpétua. Ele entregou todos os seus bens
e viveu durante anos num mosteiro budista.
PRESIDENTE CIVIL
O primeiro presidente civil em mais de 30 anos foi Kim Young
Sam, um dos principais adversários dos governos militares, tomou posse em fevereiro
de 1993 com a determinação reduzir a influência das Forças Armadas.
Kim afastou milhares de militares, burocratas e empresários
ligados ao antigo regime, libertou milhares de presos políticos e lançou uma
grande campanha contra a corrupção.
No governo Kim Young Sam, seus dois antecessores, Chun Doo Hwan
e Roh Tae Woo, foram presos e processados por corrupção, pelo golpe de 1979 e
pelo Massacre de Kwangju.
Chun foi condenado à pena de morte, comutada em prisão
perpétua, e Roh pegou 22 anos e meio, reduzidos para 17 anos. Nove altos executivos
de grandes conglomeradores (chaebol) também foram condenados por pagar
propinas. Roh chegou a acumular uma fortuna de US$ 650 milhões.
CRISE ASIÁTICA
Com a persistência da corrupção, até o filho de Kim foi preso
por suborno e evasão fiscal. A crise asiática de 1997, quando a Coreia do Sul
tinha apenas US$ 30 bilhões em reservas e suas empresas estavam altamente
endividadas, derrubou por um momento o milagre econômico sul-coreano.
Com o país falido, em dezembro de 1997, foi eleito
presidente o eterno candidato da oposição, Kim Dae Jung, que chegara a ser
condenado à morte nos governos militares.
Kim Dae Jung se decidou primeiro a combater a crise
financeira e sanear os bancos sul-coreanos, e depois à aproximação com a Coreia
do Norte.
APROXIMAÇÃO
Sua política do “brilho do sol” permitiu reencontros de
famílias separadas desde a Guerra da Coreia. De 13 a 15 de junho de 2000, ele
se encontrou com o então líder norte-coreano, Kim Jong Il, na primeira reunião de cúpula das duas Coreias.
Sem poder se candidatar à reeleição, Kim Dae Jung entregue o
poder em 2003 a Roh Moo Hyun, um advogado defensor dos direitos humanos que
logo foi envolvido num escândalo financeiro sobre o financiamento de campanhas
eleitorais.
Roh chegou a ser afastado num processo de impeachment, em
março de 2004. Voltou dois meses depois, quando o Supremo Tribunal anulou o
impeachment.
Em 19 de dezembro de 2007, o prefeito conservador de Seul, Lee
Myung Bak, do Grande Partido Nacional, bateu o candidato de Roh. O
ex-presidente, investigado por corrupção, cometeu suicídio pulando em um abismo
em maio de 2009.
Um dos homens mais ricos da Coreia, Lee nasceu no Japão
durante a guerra. Sua família naufragou na volta, em 1946, e ficou na miséria.
Ele trabalhou até como lixeiro para financiar seus estudos e foi preso em 1964
por protestar contra o reatamento de relações com o Japão, antes de entrar para
a Hyundai, onde fez carreira até se tornar diretor-presidente.
TENSÃO
No poder, adotou uma política mais dura em relação à Coreia
do Norte, que fez seus primeiros testes nucleares em 2006 e 2009 (e um terceiro
em 2013).
Em março de 2010, um torpedo do Norte afundou um navio da
Marinha da Coreia do Sul, matando 46 marinheiros.
Em novembro de 2010, a artilharia norte-coreana bombardeou a
ilha de Yeongpyeong, matando pelo menos dois civis e dois militares. Lee pediu
desculpas por não ter evitado o ataque e prometeu responder a novos ataques com
a força.
MULHER NO PODER
Com um novo nome, Partido da Nova Fronteira, os
conservadores derrotaram os liberais e mantiveram o poder em dezembro de 2012,
com a eleição de Park Geun Hye, filha do ditador Park Chung Hee, pai do milagre
econômico sul-coreano, assassinado em 1979.
É a primeira mulher a governar a Coreia do Sul. Enfrenta, do
outro lado do paralelo 38º N Kim Jong Un, neto do fundador da Coreia do Norte,
o Grande Líder Kim Il Sung.
AMEAÇAS
Para se firmar como líder da ditadura comunista da Coreia do
Norte, um dos países mais fechados do mundo, Kim Jong Un fez testes de mísseis
e, em fevereiro de 2013, o terceiro teste nuclear do país, que teria hoje de
duas a seis bombas atômicas.
Diante de manobras militares conjuntas realizadas anualmente
pelos EUA e a Coreia do Sul, em março de 2013, o regime stalinista
norte-coreano ameaçou atacar os EUA e seus aliados, inclusive a Coreia do Sul e
o Japão.
CHANTAGEM NUCLEAR
Desde que perdeu o patrocinador com o fim da URSS em 1991, a
Coreia do Norte enfrenta sérios problemas de falta de comida e de energia. Faz uma
chantagem nuclear com os EUA, ameaçando fazer a bomba atômica se não receber
grandes ajudas em energia e alimentos.
Em 1994, o ex-presidente americano Jimmy Carter foi a
Pyongyang e negociou pessoalmente com o veterano líder Kim Il Sung, veterano da
Segunda Guerra Mundial, pouco antes de sua morte. Um acordo foi fechado pelo
então presidente Bill Clinton para que a Coreia do Norte desarmasse seu
programa nuclear.
Até hoje, o regime comunista norte-coreano violou 34 acordos
e fez três testes nucleares, enquanto acredita-se que milhões de pessoas tenham
morrido de fome.
IMPASSE
Este impasse permanente se mantém na Península Coreana
porque a ninguém interessa aparentemente o colapso da Coreia do Norte. Para o
regime comunista chinês, maior aliado e fiador, “a Coreia do Norte é a nossa
Alemanha Oriental”. Como depois da queda do Muro de Berlim, a Alemanha Oriental
acabou e também a URSS, o regime chinês não quer ser o único comunista no Leste
da Ásia.
A China também sabe que o colapso da Coreia do Norte criaria
forte instabilidade na região, prejudicando a economia.
A Coreia do Sul, observando o que aconteceu na reunificação
da Alemanha, quando a Alemanha Ocidental era a terceira maior economia do mundo
e enfrentou sérias dificuldades para integrar o Leste, teme os elevados custos
de reabsorver uma Coreia do Norte em colapso. Gostaria que o Norte realizasse
reformas econômicas no estilo chinês para se recuperar antes de uma possível
reunificação.
Os EUA lutam contra a proliferação nuclear e o medo de que o
Japão, onde os americanos jogaram duas bombas atômicas, resolva fazer armas
nucleares para se preparar para enfrentar a ameaça da Coreia do Norte e uma
China cada vez mais poderosa e assertiva.
RELAÇÕES COM O BRASIL
Os primeiros registros de imigrantes coreanos no Brasil
datam de 1918. Mais coreanos chegaram nos anos 1950s, fugindo da Guerra da
Coreia. A onda migratória mais forte começa em 23 de fevereiro de 1963.
Atualmente, estima-se em 50 mil o total de coreanos e
descendentes no Brasil. Cerca de 92% se concentram no estado de São Paulo; 90%
moram e trabalham na capital paulista. Cerca de 80% trabalham em lojas e
confecções de moda feminina, especialmente no bairro do Bom Retiro.
RELIGIÃO
No Censo de 2007, quase a metade da população não declarou professor
nenhuma religião; 29,2% se apresentaram como católicos (18,3% protestantes e
10,9% católicos) e 22,8% como budistas. Mas há uma grande espiritualidade na
cultura coreana.
A liberdade religiosa é garantida pela Constituição, que não
estabelece religião oficial. Houve conflitos entre budistas e confucionistas no
início da Dinastia Yi, no fim do século 14, por causa do declínio do budismo, e
entre confucionistas e cristãos nos séculos 18 e 19.
CULTURA
A cultura da Coreia foi fortemente influenciada pela China a
partir da introdução do budismo, em 372, do confucionismo e do alfabeto chinês.
A cultura chinesa trouxe a pintura em aquarela e nanquim, a cerâmica, a
porcelana, a caligrafia, a literatura e as artes cênicas, como a dança e o
teatro.
Com a industrialização, a urbanização e a globalização, é
forte agora a influência da cultura popular ocidental.
ARQUITETURA
A arquitetura tradicional, também de origem chinesa, busca a
harmonia com a natureza. O país tem nove sítios declarados patrimônio histórico
da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência
e Cultura).
A arquitetura ocidental chegou no fim do século 19. Com a
ocupação japonesa de 1910-45, vários prédios foram erguidos pelo invasor e
depois derrubados por causa da revolta contra o Japão.
CULINÁRIA
A cozinha tradicional coreana se baseia no arroz, nas
massas, no tofu, nos peixes e nas carnes. Toda refeição é acompanhada de arroz pequenos
pratos como os banchan e por uma
conserva de repolho fermentado apimentada chamada kimche.
A carne de cachorro é muito popular na Coreia. Pode ser
apreciada em vários restaurantes.
ESPORTE
A arte marcial Tae Kwondo foi transformada numa espécie de
esporte nacional pela ditadura militar dos anos 1950s e 1960s como uma maneira
de afirmar a identidade nacional da Coreia do Sul. Desde 2000, é um esporte
olímpico.
A Coreia do Sul organizou a Olimpíada de Seul, em 1988, e
dividiu a Copa do Mundo de 2002 com o Japão.
O ex-jogador de basquete americano Dennis Rodman é o mais
novo amigo de infância do ditador norte-coreano Kim Jong Un. Foi duas vezes
visitá-lo em Pyongyang em 2013.
FUTEBOL
O futebol é o esporte mais popular; 41% dos sul-coreanos se
declaram fãs. O beisebol ocupa o segundo lugar, com 25% das preferências.
A seleção sul-coreana vai a todas as Copas do Mundo desde
1986. Em 2002, tornou-se a primeira equipe da Ásia a chegar a uma semifinal,
quando foi eliminada pela Alemanha. Acabou em quarto lugar, com uma ajuda dos
juízes que anularam gols legítimos dos adversários nos jogos contra a Espanha e
a Itália.
Em 2010, a Coreia do Sul foi eliminada pelo Uruguai nas
oitavas de final.
Na Olimpíada de Londres, em 2012, a Coreia do Sul ficou com
a medalha de bronze no futebol.
2 comentários:
É muito interessante a história do Coréia do Sul, especialmente como conseguiram a proeza de transformar um país pobre de tudo nos anos 50 em um país top de linha, o Brasil deveria seguir o exemplo....
O segredo é investir em educação.
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