A reeleição do presidente Barack Obama e a manutenção do status quo no Congresso antecipam mais impasses entre a Casa Branca e o Capitólio para tentar reduzir o déficit orçamentário dos Estados Unidos, que passa de US$ 1 trilhão por ano há quatro anos. Mas a derrota numa eleição que a oposição considerava ganha por causa da crise econômica vai provocar um profundo exame de consciência no Partido Republicano.
O primeiro desafio do presidente reeleito será conseguir o que não conseguiu no primeiro mandato: chegar a um acordo com a oposição que inclua cortes nos gastos públicos e aumentos de impostos para o país não cair no "abismo fiscal". Os republicanos preferem cortar programas sociais a aumentar o imposto de renda para os mais ricos.
Como não houve acordo, em janeiro de 2013, devem expirar os cortes de impostos da era George W. Bush e entram em vigor reduções automáticas nos gastos do governo. Isto ameaça tirar bruscamente US$ 600 bilhões de circulação da economia americana. A queda no produto interno bruto dos EUA poderia chegar a quatro pontos percentuais, do baixo crescimento anual de 2% para uma contração de 2% ao ano.
Obama ganhou do ex-governador Mitt Romney no voto popular e no Colégio Eleitoral que vai confirmar sua reeleição em 17 de dezembro de 2012, mas não foi uma vitória suficientemente expressiva para romper o impasse com a oposição, majoritária na Câmara.
Ao todo, o presidente recebeu 60.460.212 votos contra 57.674.292 para o adversário. Venceu em todos os chamados estados-pêndulo, que podem ir para qualquer lado. Conquistou 332 delegados contra 206 para Romney.
Em Ohio, o estado decisivo mais uma vez, a vitória do presidente se deve muito a ter salvado a General Motors e a Chrysler da falência. Vários republicanos se opuseram, inclusive Romney, alegando que o governo dos EUA não deve fabricar automóveis.
A falência da GM e da Chrysler provavelmente arrastaria também a Ford. Os EUA ficariam sem fábricas de automóveis, com a exceção das japonesas, europeias e sul-coreanas. Ohio, Michigan, Pensilvânia, Virgínia e Virgínia Ocidental são estados do chamado cinturão, centro de uma indústria siderúrgica que encolheu nas últimas décadas.
Sem a indústria automobilística, as fábricas de autopeças desapareceriam.
Depois de US$ 6 bilhões em despesas de campanha, dezenas de eleições primárias, quatro debates na televisão e mais anúncios do que qualquer pessoa possa assistir, observa o jornal The New York Times, os dois grandes partidos dos EUA ficaram no mesmo lugar. A correlação de forças em Washington não mudou.
O Partido Democrata manteve o controle do Senado, de 100 cadeiras, com maioria de 53, e a oposição republicana a maioria na Câmara com 234 cadeiras contra 192 democratas. Nove vagas ainda estão em disputa.
Como a Câmara representa ao povo, cabe aos deputados aprovar toda e qualquer despesa pública. O presidente da Câmara, o deputado republicano John Boehner, declara estar aberto a acordos, mas acaba de rejeitar em entrevista coletiva qualquer possibilidade de aumentar as alíquotas de impostos para os mais ricos, alegando que isso prejudicaria a economia e reduziria o PIB dos EUA.
A Bolsa de Nova York fechou um dia com queda de 2,4% em 12.932,73 pontos, o menor nível em três meses, diante do impasse político que impede um ajuste das contas públicas. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o petróleo caiu abaixo de US$ 85 por barril.
Se o presidente conseguiu a reeleição ao apresentar seu adversário como um representante das elites que trabalha para proteger os ricos, os republicanos da Câmara não entenderam por que o partido perdeu a Casa Branca mais uma vez e não aumentou sua representação no Senado. Por causa do radicalismo de direita.
Na oposição ao presidente negro, com claros tons racistas, oposição foi para a direita, ignorando questões que preocupam o américano médio. Ela nega o aquecimento global, rejeita o aborto e o casamento gay, exige mais gastos militares para garantir a supremacia americana e não aceita qualquer aumento de impostos.
O movimento Festa do Chá foi o grande derrotado ontem nos EUA. Quase todos os candidatos ao Senado com o apoio do grupo perderam, assim como Romney e seu vice, Paul Ryan, que não ganharam nem em seus próprios estados. Na Câmara, a maioria dos novos deputados republicanos eleitos em 2010 se reelegeu. Esta é a ala radical. Há quem acredite que no segundo mandato será mais equilibrada e aberta ao consenso
Mas, no primeiro momento, a derrota não arrefeceu o ânimo dos conservadores americanos. Nas redes sociais, o grito é: "A guerra continua".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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