Sob pressão das ruas e do Poder Judiciário, o presidente do Egito, Mohamed Mursi, aparentemente abriu mão de parte dos poderes que se auto-outorgara na quinta-feira passada e aceitou submeter seus decretos à apreciação da Justiça, mas manteve a garantia de que a Assembleia Constituinte não poderia ser dissolvida antes de concluir seu trabalho, informa o jornal The New York Times.
Outros meios de comunicação deram interpretação diferente, sem ver nenhum recuo, e a oposição liberal certamente não ficou satisfeita.
Hoje, o presidente recebeu um grupo de juízes do Conselho Superior da Magistratura e concordou em rever o decreto constitucional. Os processos contra os agentes acusados por 852 mortes durante a revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak não serão reabertos, a não ser que haja novos indícios.
A Irmandade Muçulmana, o mais antigo grupo fundamentalista muçulmano do mundo, que patrocinou a candidatura Mursi, cancelou uma manifestação em apoio ao presidente marcada para amanhã para evitar novos conflitos de rua.
O primeiro presidente eleito democraticamente em 6 mil anos de História do Egito alegou que estava apenas protegendo a revolução de elementos ligados ao antigo regime. Sua jogada, no fim da semana em que mediara a trégua entre Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) na Faixa de Gaza, assustou quem teme a islamização do Egito.
Como aconteceu no Irã, onde a revolução derrubou o Xá em 1979 com greves no setor de petróleo mas os aiatolás tomaram o poder como instituição mais organizada do país, há um conflito entre islamitas e liberais sobre o futuro da revolução egípcia.
Num canetaço, Mursi se avocou mais poderes do que teve o ditador Hosni Mubarak durante seus 30 anos de reinado. A juventude que saiu às ruas para derrubá-lo voltou a ocupar a Praça da Libertação, no Centro do Cairo, em defesa dos ideiais revolucionários. Não quer que o Egito vire uma república islâmica. Ainda não é certo que aceite o recuo parcial do presidente.
A tentativa de Mursi de se colocar acima da lei não deu certo desta vez, mas a luta pelo poder entre islamitas e liberais vai continuar. O futuro da revolução, como ela vai se institucionalizar, ainda é incerto. É preciso esperar a nova Constituição.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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