Os conflitos sectários entre curdos, sunitas e xiitas são hoje a principal causa de morte no Iraque, superando os atentados da rede terrorista Al Caeda, e combatê-los será uma tarefa "assustadora". Isto deixa as autoridades iraquianas "sob forte pressão para conseguir a reconciliação nacional" dentro de um ano e meio, afirma um documento dos serviços de informações dos Estados Unidos divulgado ontem. O presidente George W. Bush recebeu uma cópia na quinta-feira.
Do relatório de 90 páginas, 'Prospectos para a Estabilidade no Iraque: Um Caminho de Desafios à Frente', foi divulgado um sumário de apenas nove. A Estimativa Nacional de Inteligência não conclui se o Iraque está ou não em guerra civil, sugerindo que a situação é mais complexa. "Há xiitas atacando xiitas, ataques de insurgentes sunitas e da Al Caeda contra as forças da coalizão e criminalidade generalizada motivada pela violência".
Mas admite que há "um enrijecimento das idendades étnico-sectárias, uma grande mudança no caráter da violência, a mobilização étnico-sectária e migrações internas forçadas".
Se os xiitas, que estão no poder depois de séculos de dominação sunita, sentem-se inseguros e desconfiam da incapacidade dos EUA para conter a violência, comenta o relatório, "muitos árabes sunitas continuam não querendo aceitar seu status de minoria, acreditam que o governo central é ilegítimo e incompetente, e estão convencidos de que a dominação xiita vai aumentar a influência do Irã de uma maneira que levará à erosão do caráter árabe do Estado e aumentará a repressão aos sunitas".
No Norte, os curdos tentam assumir o controle da cidade de Kirkuk. Se a violência sectária entre sunitas e xiitas se agravar, os curdos podem partir para a autonomia, o que perturba a Turquia, o Irã e a Síria, que têm populações curdas significativas. Uma declaração de independência do Curdistão provavelmente provocaria uma invasão turca.
Uma advertência importante é que os EUA evitem uma retirada rápida. Agravaria ainda mais a situação. "A capacidade militar da coalizão, inclusive a quantidade de tropas, recursos e operações, continua sendo um elemento essencial para estabilizar o Iraque".
Sem os EUA, a situação seria muito pior. Mas sem conter a violência sectária, a tendência é piorar ainda mais.
A Síria e o Irã são acusados de apoiar os rebeldes iraquianos: "O letal apoio iraniano a grupos seletos de militantes xiitas claramente intensifica o conflito no Iraque. A Síria continua a oferecer refúgio para exilados baathistas [partidários de Saddam Hussein] e a não tomar medidas adequadas para conter a infiltração de jihadistas no Iraque".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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