segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Perón criou a Aliança Anticomunista Argentina

Quando o ex-presidente argentino Raúl Alfonsín (1983-89) depôs perante o juiz que investiga os assassinatos, seqüestros e desaparecimentos de pessoas cometidos pela Aliança Anticomunista Argentina (AAA), declarou que a famigerada Triple A entrou em ação no governo que precedeu ao de María Estela Martínez de Perón (1974-76), a Isabelita. 

O governo anterior foi o terceiro do general Juan Domingo Perón, de sua vitória eleitoral em setembro de 1973 e posse em 12 de outubro até sua morte em 1º de julho de 1974.

Em 25 de setembro de 1973, Perón festejava sua vitória quando seu amigo pessoal José Rucci, diretor da Confederação Geral do Trabalho (CGT), foi metralhado pelo Montoneros, grupo guerrilheiro da Juventude Peronista de extrema esquerda. Naquele dia o general Perón teria decidido criar uma força paramilitar para enfrentar sua própria "juventude maravilhosa".

Perón argumentou que os catalães usavam esse ardil no século 11 e que o general Miguel Primo de Rivera fez o mesmo no golpe de 1923 para se tornar ditador da Espanha por sete anos. No exílio em Madri, o caudilho portenho teve contato com franquistas como o coronel Enrique Herrera Marín, que lhe mostrou projetos de repressão política da Guerra Civil Espanhola (1936-39).

"Essa era mais ou menos a estrutura do que poucos meses depois conheceríamos como a Triple A", explica Marcelo Larraguy em seu livro sobre o ministro do Bem-Estar Social de Isabelita, José López Rega, El Brujo, acusado de ser o principal dirigente da organização paramilitar.

A Triple A teria sido criada numa reunião privada realizada antes da posse, com o presidente provisório, Raúl Lastiri; o secretário-geral do Partido Justicialista (peronista), senador Humberto Martiarena; os ministros, os governadores e seus vices. Não faltou ninguém.

Naquela reunião sigilosa realizada em 1º de outubro de 1973 na residência oficial do presidente da Argentina em Olivos, Perón alegou ter chegado a hora de "acabar com os marxistas infiltrados para evitar que destruam o Movimento Nacional Peronista". Um documento reservado ordenava a todos os militantes "participar ativamente nas ações planejadas para levar adianta esta luta".

Os assassinatos de militantes esquerdistas começaram em seguida. Três dias depois, um militante da Juventude Peronista, Nemesio Aquino, foi fuzilado em General Pacheco.

Apesar dos desmentidos do general, os crimes da Triple A começaram antes da posse de Perón, continuaram durante seu terceiro governo e foram muito além dele: "Muitas vezes me sugerem que criemos um esquadrão da morte como o brasileiro, ou uma organização policial para fazer guerrilha contra a guerrilha. Penso que isso não é possível nem conveniente", afirmou o caudilho em dezembro de 1973. Sabia que a Triple A estava em atividade há três meses.

Em 29 de janeiro de 1974, a AAA divulgou uma lista de alvos. Quando uma repórter do jornal El Mundo, ligado ao trotskista Exército Revolucionário do Povo (ERP), perguntou ao general que medidas seriam tomadas para combater os atentados terroristas de direita que tinham matado 12 pessoas, Perón virou-se para um ajudante e foi imperativo: "Tome os dados necessários para que o Ministério da Justiça inicie uma ação contra esta senhorita!"

Durante o breve terceiro governo do general Perón, a Triple A matou pelo menos 15 pessoas. No governo de Isabelita e depois do golpe, o total de mortos chegaria perto de mil.

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