Com a popularidade em queda a dois meses do primeiro turno das eleições presidenciais, depois de ser considerada a sensação da política na França, a candidata socialista Ségolène Royal reagiu. Finalmente, apresentou seu programa de governo publicamente pela televisão e convocou para sua campanha os dois pesos-pesados que derrotou na prévia interna do partido: o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius e o ex-ministro das Finanças Dominique Strauss-Kahn.
Em novembro, Ségolène tinha uma pequena vantagem, dentro da margem de erro das pesquisas, sobre o candidato da direita, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, com cerca de um terço do eleitorado. Uma série de gafes e acusações de falta de conteúdo programático minaram essa vantagem. Em entrevista armada por um programa humorístico, ela admitiu a possibilidade de independência da Córsega, a ilha onde nasceu Napoleão Bonaparte.
As últimas pesquisas indicam uma vitória de Sarkozy no segundo turno com vantagem de dez pontos percentuais.
Ségolène foi escolhida como novidade por ser a primeira mulher com chance real de chegar à Presidência da França. Era a candidato do PS para vencer, apesar das acusações de inconsistência ideológica.
De repente, ressurgiu para o PS a Síndrome de 2002, quando o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin fez uma campanha muito centrista e perdeu a vaga no segundo turno para o neofascista Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, obrigando a esquerda a tapar o nariz e reeleger o presidente Jacques Chirac, abalado por diversas denúncias de corrupção.
Como fala de "uma nova França de pequisa e inovação", moderna, Ségolène, em seu estilo de fazer política, recebeu 135 mil sugestões em seu website para o programa de governo. Ela apresentou 100 propostas políticas, do aumento do salário mínimo para 1.500 euros a empréstimos sem juros de até 10 mil euros para jovens de 18 anos, salário-desemprego de 90% do último contracheque, aumento de 5% para as pensões mais baixas, estatização e fusão da Electricité de France e Gaz de France, penalizar empresas que distribuem dividendos em vez de reinvestir os lucros, aumentar em 10% os investimentos públicos em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, e reduzir o número de alunos por sala de aula nos bairros carentes.
Seus críticos dizem que ela apresentou uma lista de medidas de distribuição da renda que exigem um gasto extra estimado em 35 bilhões de euros sem se preocupar em aumentar a criação da riqueza, apesar de declarar "insustentável" a atual dívida pública francesa, de 65% do PIB.
Ségolène deu claramente uma guinada à esquerda. Talvez a explicação esteja no sistema eleitoral francês, onde há segundo turno se nenhum candidato conquistar a metade dos votos válidos tanto em eleições presidenciais como parlamentares. No segundo turno, a polarização é entre direita e esquerda mas os candidatos buscam o centro para conquistar o eleitorado flutuante, sem posição política definida, que é quem decide as eleições.
Antes, no primeiro turno, o candidato precisa assegurar a lealdade de sua base de apoio, o que faltou a Jospin em 21 de abril de 2002. "Meu programa não é socialista", admitiu o então primeiro-ministro, provocando uma revoada de aliados para candidatos radicais como os trotskistas ou até mesmo a extrema direita, que promete proteção ao trabalhador francês.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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