As guerras assimétricas entre grandes potências e forças não-convencionais devem se multiplicar, e os Exércitos Nacionais, treinados para o combate convencional, não estão preparadas para enfrentá-las, adverte o especialista francês Gérard Chaliand. Em entrevista ao jornal Le Monde, ele aponta o Iraque como modelo para os conflitos armados do século 21.
"A guerrilha e o terrorismo ocuparão um espaço cada vez maior porque são as únicas técnicas disponíveis para que os fracos resistam aos fortes", declarou Chaliand. "Estes conflitos assimétricos ou guerras irregulares enviam uma mensagem: indicam que os mais fortes podem ser derrotados. A condição, para os fracos, é estarem dispostos a pagar o preço. Nesta ótica, o Iraque e o Afeganistão são exemplos encorajadores para os insurgentes que lutam contra tropas ocidentais."
Para Chaliand, o grande erro dos Estados Unidos no Iraque é quanto à natureza da guerra: "As insurreições dos últimos 60 anos começaram com poucos homens, poucas armas e pouco dinheiro. Toda a ciência de um movimento insurrecional consiste em procurar, ao longo do tempo, transformar progressivamente sua fraqueza em força."
No Iraque, acrescenta o pesquisador, a insurgência nasceu da máquina do Estado da ditadura de Saddam Hussein, que a ocupação americana jogou na clandestinidade, com "seus agentes secretos, fedayns e tropas de elite como a Guarda Republicana Especial. A insurreição dispõe de uma reserva de combatentes, de armas, de dinheiro e de informação", analisa Chaliand.
Outro aspecto importante é que as opiniões públicas dos países democráticos não suportam perdas elevadas em guerra. Os guerrilheiros, especialmente de países com altas taxas de natalidade, podem não ganhar militarmente mas acuam o inimigo sempre que possível e apostam numa longa guerra de atrito para desgastá-lo.
As Forças Armadas modernas podem escapar de radares e atingir alvos a longa distância com mísseis teleguiados e bombas inteligentes. Mas na guerrilha urbana, o mais imprevisível dos ambientes para um estrategista, a capacidade de se misturar à população local dá uma enorme vantagem aos rebeldes. Afinal, as guerras irregulares são travadas em terra e geralmente no ambiente escolhido pelas forças não-governamentais.
De que vale toda a tecnologia diante de um inimigo invisível e disposto a morrer para cumprir sua missão.
O combate da guerrilha se baseia na surpresa e na mobilidade, na capacidade de atacar ferozmente e de recuar para evitar uma exposição prolongada diante de uma força maior. As matanças, os cadáveres destroçados, as casas arrasadas, a propriedade destruída alimentam a raiva que se soma às injustiças históricas que provocaram o conflito. Essas guerras assimétricas tendem a ser longas e de difícil solução
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Criei um link pra esta postagem no meu blog. Imagino quando for a vez do Brasil de ser tomado de vez (pois já vem sendo tomado aos poucos), quem teria coragem de reagir... Axé.
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